Caminho de Liberdade.
O relógio marcava 6h00. Um novo dia começava, mas para Laura, de 17 anos, parecia mais um capítulo do mesmo pesadelo. Ela acordava antes do amanhecer, não por escolha, mas porque era obrigada a preparar o café da manhã para toda a família. Enquanto ela arrumava a mesa, os sons dos passos pesados de seu pai ecoavam no pequeno corredor.
— Até que enfim está fazendo algo que preste, garota inútil! — disse ele ao entrar na cozinha, lançando-lhe um olhar de desdém.
Laura não respondeu. Aprendera cedo que responder significava mais problemas. Continuou cortando o pão, seus dedos tremendo levemente. Quando terminou, serviu o café e colocou os pratos na mesa.
— Isso aqui tá frio, porra! Você é burra? Nem um café quente consegue fazer direito? — reclamou a mãe, despejando o líquido na pia com raiva.
Laura abaixou os olhos. Era sempre assim. Nada do que fazia era bom o suficiente. Seus irmãos gêmeos, Henrique e Marcelo, de 15 anos, apareceram logo depois, ambos com um sorriso debochado nos rostos.
— Aí, Laura, você devia usar uma máscara quando vem pra cozinha, sabia? — disse Henrique. — Só o cheiro de você já dá nojo.
Marcelo riu alto, pegando um pão e atirando na direção dela.
— Será que ela tá guardando os restos de comida na cara pra comer depois? Olha essa espinha nojenta!
O rosto de Laura corou de vergonha. Ela passou a mão instintivamente pela pele, tentando esconder as marcas.
— Vocês dois, deixem de frescura! — gritou a mãe. — Se bem que eles têm razão, né, Laura? Parece que você nunca toma banho direito. Que tipo de mulher vai querer casar com um traste feito você?
Laura sentiu as palavras como lâminas. Era sempre assim. Eles a atacavam juntos, como lobos ao redor de uma presa.
— Vai logo arrumar o quarto dos seus irmãos, sua vagabunda! — berrou o pai. — E nada de ficar choramingando pelos cantos, senão eu mesmo te dou uma lição.
Ela engoliu o nó na garganta e subiu as escadas, tentando ignorar o riso cruel de seus irmãos ecoando pela casa. Ao chegar no quarto deles, encontrou o chão coberto de roupas sujas e embalagens de salgadinhos. Era sempre um cenário de guerra, mas, mesmo assim, ela tinha que limpar.
Enquanto recolhia as peças de roupa, lágrimas silenciosas começaram a escorrer por seu rosto. Laura sentia um peso sufocante no peito, como se o ar da casa estivesse impregnado de ódio e desprezo. Ela nunca entendeu por que sua família a tratava assim. Seria por ser a mais velha? Por ser diferente deles?
— Chora mais, que o chão tá sujo! — Henrique apareceu na porta, segurando o celular para gravar.
— Olha só, pessoal, a babá chorona tá trabalhando duro pra gente! — Marcelo juntou-se ao irmão, gargalhando enquanto chutava uma pilha de roupas no chão.
— Saiam daqui! — Laura explodiu, a voz falhando entre soluços.
Mas sua tentativa de se impor só os incentivou ainda mais. Henrique pegou um travesseiro e o atirou nela com força, enquanto Marcelo jogava um sapato.
— Cala a boca, garota! Ou quer que a gente chame o papai? — ameaçou Henrique, sua voz gélida.
Laura recuou, encostando-se à parede. Sentiu a raiva crescer dentro dela, mas não sabia como liberá-la. Não tinha amigos na escola, não tinha ninguém para quem pudesse contar. A única coisa que a fazia aguentar era o desejo de, um dia, escapar daquela casa.
À noite, enquanto todos dormiam, Laura sentava-se na cama, olhando pela janela do pequeno quarto que dividia com os irmãos. Lá fora, a cidade parecia tranquila, as luzes das ruas piscando como estrelas. Ela se perguntava se existia um lugar onde poderia ser livre, onde pudesse existir sem ser pisoteada a cada passo.
"Um dia eu vou sair daqui", pensou, apertando os punhos. "E eles nunca mais vão me ver."
Mas até lá, ela precisava sobreviver. E, no fundo, Laura sabia que cada insulto, cada tapa e cada lágrima eram combustíveis para sua força. Ela só precisava aguentar mais um pouco.
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Atualizado até capítulo 30
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