A Presença da Outra.

Os dias se arrastavam na mansão de Rodrigo, e a atmosfera que antes parecia cheia de promessas agora estava impregnada de uma tensão palpável. Julha tentava se ajustar à nova realidade, mas as marcas da violência de Rodrigo ainda estavam frescas em sua memória, e sua luta interna tornava-se cada vez mais difícil. A solidão a envolvia como uma névoa espessa, e a cada dia que passava, ela se sentia mais distante da mulher que um dia fora.

Foi em uma manhã ensolarada que Rodrigo trouxe uma nova mulher para casa. Julha estava na cozinha, preparando o café da manhã, quando ouviu o som de risadas que ecoavam pelo corredor. Aquelas risadas eram diferentes das que ela costumava ouvir; eram alegres, despreocupadas e, de alguma forma, carregadas de uma intimidade que a fez sentir um frio na espinha. A curiosidade e o medo a impulsionaram a se aproximar.

Quando entrou na sala, Julha ficou paralisada. A nova mulher, Catarina, era tudo o que Julha não era: confiante, ousada e com um sorriso que parecia iluminar o ambiente. Seu cabelo escuro e cabelos cacheados caíam em ondas sobre os ombros, e a forma como Rodrigo a olhava — com um brilho de adoração que Julha nunca havia visto antes — fez seu coração afundar em um mar de insegurança.

“Julha, venha conhecer Catarina”, disse Rodrigo, como se não tivesse percebido o impacto que aquela introdução teve sobre ela. O tom dele era casual, como se estivesse apresentando uma amiga, mas para Julha, aquele momento era uma declaração de guerra. Ela sorriu nervosamente, tentando esconder as ondas de sentimento que a invadiam, mas o desprezo que percebia nos olhos de Catarina era inegável.

“Oi, Julha! Ouvi tanto sobre você”, disse Catarina, com um sorriso que parecia mais um desafio do que uma saudação. A maneira como a outra mulher a olhou a fazia sentir-se exposta e vulnerável. Em um instante, Julha se viu mergulhada em uma competição dolorosa que não escolheu, e a sensação de inadequação tomou conta dela como uma maré avassaladora.

Catarina, com seu jeito provocante, começou a se mover pela casa, como se já tivesse o direito de estar ali. Ela não se preocupava em esconder o quanto estava à vontade, e cada movimento seu parecia uma provocação silenciosa. Enquanto Rodrigo a observava com admiração, Julha se sentia como uma sombra, invisível em meio a toda aquela luz.

Nos dias seguintes, a presença de Catarina se tornava cada vez mais constante. Ela aparecia em jantares, em passeios pelo jardim e até mesmo nos momentos em que Rodrigo tentava ser gentil com Julha. Cada interação era uma lembrança dolorosa de que Julha não era mais a única mulher na vida dele. A relação deles, que antes era marcada por sorrisos e promessas, agora se tornava uma batalha silenciosa.

Julha tentava se manter firme, mas cada sorriso de Catarina, cada toque casual que Rodrigo lhe dava, a fazia se sentir menor, mais insignificante. A confiança que havia tentado construir após a violência de Rodrigo se desvanecia a cada dia, e a solidão tornava-se uma companheira constante. As paredes da mansão a aprisionavam, e a dor da rejeição a seguia como uma sombra.

Em uma tarde, enquanto tentava se distrair com um livro, Julha ouviu risos vindos do jardim. Curiosa, ela se aproximou da janela e viu Rodrigo e Catarina juntos, brincando entre as flores. O modo como Rodrigo olhava para Catarina, com um brilho nos olhos que ela não havia visto desde que chegara, a fez sentir como se o chão tivesse se aberto sob seus pés. A felicidade deles era uma faca afiada, cortando mais fundo em sua alma.

A cena a fez sentir um turbilhão de emoções: raiva, tristeza e uma profunda insegurança. Em vez de se sentir como a mulher que havia conquistado o coração de Rodrigo, ela se via como uma intrusa em sua própria vida. O desprezo de Catarina era quase palpável, e cada olhar que trocavam era uma batalha silenciosa que Julha estava perdendo.

Depois de um tempo, a tensão se tornou insuportável. Durante um jantar, Catarina, em um gesto provocador, comentou sobre a beleza de Julha, mas suas palavras eram recheadas de sarcasmo. “Julha realmente sabe como se vestir. Um dia quem sabe ela pode nos ensinar a todas”, disse Catarina, olhando para Rodrigo com um sorriso malicioso. As palavras dela eram venenosas, e o olhar que Rodrigo lançou a Julha era de desconforto, uma mistura de culpa e desdém.

Julha forçou um sorriso, mas as lágrimas começaram a se formar em seus olhos. A dor da comparação a consumia, e o desprezo de Catarina intensificava sua sensação de inadequação. “O que eu estou fazendo aqui?” pensou, enquanto o peso da solidão se tornava cada vez mais opressivo. O que deveria ser um lar agora era um campo de batalha onde ela lutava contra um inimigo que não podia ver.

As noites tornaram-se ainda mais difíceis. Julha se deitava em sua cama, ouvindo as risadas de Rodrigo e Catarina do outro lado da casa, e a dor em seu coração se transformava em um grito silencioso. Ela se sentia invisível, como se sua presença não fosse mais necessária. A jovem que uma vez sonhara em ser agora se tornava uma memória distante, e a vida que havia imaginado estava se desvanecendo.

Em meio a todo o caos, Julha começou a perceber que precisava encontrar uma maneira de recuperar sua voz, de afirmar sua identidade em um mundo que parecia estar desmoronando ao seu redor. A presença de Catarina não era apenas um desafio; era um chamado para a resistência. E, mesmo que o caminho fosse doloroso, ela sabia que precisava lutar para não se perder completamente.

A competição que antes a deixava paralisada agora se transformava em um motor de determinação. Julha se recusava a ser apenas uma sombra na vida de Rodrigo. Ela precisava descobrir quem era, além do que ele esperava dela. E, enquanto a presença de Catarina a desafiava a cada dia, uma centelha de resistência começava a brilhar dentro dela. A batalha pela sua identidade estava apenas começando, e Julha estava disposta a lutar, não apenas por amor, mas por si mesma.

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