Os dias na mansão de Rodrigo se arrastavam em uma rotina de incertezas e adaptações. Julha tentava encontrar seu lugar em meio à opulência e ao controle do novo ambiente. Embora a beleza do lugar a fascinasse, a sensação de estar em uma jaula dourada a acompanhava a cada passo. O aroma das flores no jardim parecia zombar de sua situação, e as risadas dos empregados, que antes a confortavam, agora se tornavam um lembrete doloroso de sua perda de liberdade.
Foi em uma manhã ensolarada que Rodrigo a convocou para uma conversa. Julha, nervosa, se preparou para o que poderia ser mais uma de suas interações. No entanto, ao entrar na sala, encontrou Rodrigo sentado em uma poltrona, com um olhar que misturava expectativa e autoridade. Ele a observava com um interesse que a fazia sentir-se exposta, como se estivesse sendo avaliada por um juiz.
“Julha, você precisa se adaptar ao meu estilo de vida”, disse ele, a voz firme, mas com um tom que soava quase sedutor. “A beleza que você possui deve ser realçada. Quero que você se vista de maneira que reflita não apenas quem você é, mas também o que você representa agora.”
As palavras dele a atingiram como um golpe. “O que eu represento agora?” pensou Julha, seu coração acelerando. Ela não era um objeto para ser moldado ou exibido; era uma pessoa, uma mulher com sonhos e anseios. Mas a expressão de Rodrigo deixava claro que essa não era uma escolha que ela poderia fazer.
“Eu contratei uma estilista para ajudá-la”, continuou ele, ignorando a confusão que se formava no rosto dela. “Quero que você esteja pronta para me acompanhar em alguns eventos sociais. Sua aparência será um reflexo de mim.”
Julha sentiu uma onda de revolta e desespero. “Mas eu não sou assim, Rodrigo. Não me sinto confortável vestindo roupas provocantes”, protestou, tentando manter a voz firme. O olhar dele, porém, se tornou mais intenso, e ela percebeu que qualquer resistência seria em vão.
“Julha, você precisa entender que a sua nova vida exige certos sacrifícios. Você é minha agora, e isso significa que deve se apresentar de acordo com o que eu desejo”, respondeu, a frieza em suas palavras cortando como uma faca. O coração dela afundou em desespero, enquanto a indignação se misturava com uma sensação de impotência.
Naquele momento, Julha percebeu que a mudança que Rodrigo pedia não era apenas externa; era uma transformação que ameaçava sua identidade. O que significava ser ela mesma em um mundo que parecia querer moldá-la em algo que não era? O medo a consumia, mas ela também sabia que não tinha escolha a não ser se submeter.
Na manhã seguinte, a estilista chegou. Uma mulher de aparência elegante, com um olhar afiado e uma confiança que Julha não conseguia entender. A estilista a avaliou de cima a baixo com um sorriso que parecia mais uma avaliação do que um cumprimento. “Vamos transformar você em uma verdadeira dama da alta sociedade”, disse a mulher, com um tom de entusiasmo que Julha não compartilhava.
As horas seguintes foram um turbilhão de tecidos, cores e estilos que Julha jamais imaginara usar. Peças ousadas e reveladoras eram apresentadas a ela, e cada nova roupa parecia empurrá-la mais para longe de quem realmente era. As saias curtas e os decotes profundos a deixavam cada vez mais desconfortável. “Isso não sou eu”, pensava, enquanto a estilista insistia em que as roupas realçavam sua beleza.
Julha se viu em frente ao espelho, o reflexo que a encarava era de uma mulher que não reconhecia. O cabelo loiro, agora estilizado em ondas sedutoras, emoldurava um rosto que parecia ter sido completamente transformado. A maquiagem realçava seus traços, mas a imagem que via à sua frente não refletia sua essência. Era como se ela tivesse se tornado uma máscara, uma caricatura da mulher que costumava ser.
“Você está deslumbrante”, disse a estilista, sem notar a angústia nos olhos de Julha. “Rodrigo vai ficar encantado.” O coração dela se apertou ao ouvir o nome dele. O que isso realmente significava? O que ele esperava dela agora?
No entanto, a visão de si mesma no espelho não saía de sua mente. Julha sentia-se como uma prisioneira, e a roupa que usava era a corrente que a prendia à nova vida que Rodrigo havia imposto. “Você deve se sentir poderosa, Julha”, dizia a estilista, mas o poder que ela sentia era uma ilusão. O que estava em jogo era sua liberdade, sua verdadeira identidade.
Quando finalmente encontrou Rodrigo naquela noite, ele a olhou com um brilho nos olhos que a deixou inquieta. “Você está maravilhosa”, ele disse, com um sorriso que parecia genuíno, mas que a fazia sentir-se vulnerável. “Essa é a mulher que eu quero ao meu lado.” As palavras dele a atingiram como uma onda gelada. A aprovação dele deveria ser um conforto, mas, ao invés disso, sentia-se cada vez mais perdida.
Conforme a noite avançava, o desconforto se transformou em um peso insuportável. Julha tentava se comportar como Rodrigo esperava, mas cada olhar e cada elogio apenas a lembravam da luta interna que enfrentava. Ela não era uma boneca para ser vestida e exibida; era uma mulher que havia sido arrancada de sua vida, e agora estava sendo moldada em algo que não queria ser.
Enquanto todos ao redor elogiavam sua aparência, Julha sentia sua verdadeira essência se esvaindo. O reflexo no espelho não era mais um símbolo de beleza, mas de submissão. E a cada elogio que recebia, um novo pedaço de seu eu se perdia, empurrando-a para um abismo de dúvidas sobre quem ela realmente era.
Naquela noite, Julha se retirou para seu quarto, sentando-se na beira da cama, exausta tanto física quanto emocionalmente. O vestido provocante que usava parecia um fardo, e o peso das expectativas de Rodrigo a pressionava como uma tempestade prestes a desabar. Ela olhou para o espelho mais uma vez, mas, ao invés de ver a mulher que Rodrigo queria que ela fosse, viu refletida a tristeza de uma jovem que apenas desejava voltar para casa.
O mundo que Rodrigo havia prometido era um pesadelo coberto de glamour, e a cada dia que passava, ela se perguntava se conseguiria encontrar uma maneira de se libertar daquela prisão, não apenas fisicamente, mas também da transformação que ameaçava apagar sua verdadeira identidade. A luta pela sua essência estava apenas começando, e Julha sabia que precisava lutar, não apenas por si mesma, mas por tudo o que havia perdido.
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Atualizado até capítulo 40
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