A luz do amanhecer invadia a sala, tingindo as paredes com tons dourados. André permaneceu sentado no sofá, os olhos cansados e a mente exausta. A foto de sua mãe ainda estava em suas mãos, e ele a fitava como se buscasse forças para enfrentar mais um dia.
Era segunda-feira, e a cidade começava a acordar. O som distante de carros e passos nas calçadas o lembrava que o mundo continuava a girar, mesmo que o dele parecesse ter parado. Pela primeira vez em semanas, André sentiu um pequeno impulso: precisava sair de casa. Não sabia exatamente por quê, mas sentia que ficar ali, preso naquele ciclo de solidão, o estava consumindo lentamente.
Ele tomou um banho rápido, vestiu uma camiseta simples e uma calça jeans. Olhou para o celular na mesa, hesitando novamente sobre ligar para Geovana, mas decidiu deixá-lo ali. Não queria carregar aquele peso consigo.
Saiu de casa e começou a caminhar sem rumo pelas ruas do bairro. O ar fresco da manhã parecia aliviar um pouco o peso em seu peito, mas não o suficiente para afastar os pensamentos. Cada passo o levava mais longe de casa, mas não de si mesmo.
Passou por uma cafeteria pequena, com mesas na calçada. O aroma de café fresco o atraiu, e ele resolveu parar. Pediu um café preto e sentou-se em uma das mesas, observando as pessoas que passavam. Era um gesto simples, mas ele mal se lembrava da última vez que havia feito algo tão mundano.
Enquanto tomava o café, uma voz feminina interrompeu seus pensamentos.
— André?
Ele levantou os olhos e encontrou Bianca, uma amiga de infância que ele não via há anos. Ela estava ali, sorrindo para ele, segurando um copo de chá gelado. O tempo havia mudado muita coisa, mas o sorriso dela permanecia o mesmo: acolhedor e sincero.
— Bianca? Quanto tempo! — disse ele, surpreso, enquanto se levantava para cumprimentá-la.
— Nem me fale. Achei que nunca mais te veria por aqui. Tudo bem com você? — perguntou, com um tom de preocupação que ele não esperava.
André hesitou antes de responder, mas algo no olhar dela o fez querer ser honesto.
— Já estive melhor, para ser sincero. Mas... e você? O que tem feito? — desviou, tentando mudar o foco da conversa.
Bianca puxou uma cadeira e se sentou ao lado dele, ignorando a tentativa de desviar o assunto.
— Podemos falar sobre mim depois. Quero saber o que está acontecendo com você. Sempre fomos amigos, lembra? — disse ela, sem rodeios.
Aquela simplicidade e franqueza o desconcertaram. Era raro encontrar alguém disposto a ouvir, sem julgamentos ou expectativas. André suspirou, sentindo uma pequena barreira se romper dentro dele.
— Acho que estou tentando entender quem sou agora... depois de tudo que aconteceu. Perdi minha mãe, e depois... bem, Geovana me traiu. É como se eu estivesse vivendo no automático desde então. — As palavras saíram com dificuldade, mas aliviavam um pouco o peso em seu peito.
Bianca ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo tudo o que ele dissera. Depois, colocou a mão sobre a dele, um gesto simples, mas cheio de significado.
— André, ninguém tem todas as respostas. Mas você não precisa enfrentá-las sozinho. Estou aqui, se precisar de alguém. E, pelo que conheço de você, sei que tem uma força que talvez nem tenha descoberto ainda.
Aquelas palavras ressoaram de uma forma que ele não esperava. Pela primeira vez em meses, André sentiu um pequeno vislumbre de esperança. Talvez, apenas talvez, ele pudesse começar a reconstruir algo. Não com Geovana, nem com qualquer outra pessoa no momento, mas com ele mesmo.
— Obrigado, Bianca. Acho que eu precisava ouvir isso — disse, oferecendo um pequeno sorriso.
Eles continuaram conversando por horas, relembrando momentos da infância e compartilhando histórias. E, naquele dia, sob o sol da manhã, André percebeu que, mesmo nos dias mais escuros, pequenas luzes podiam surgir para guiá-lo de volta ao caminho.
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Atualizado até capítulo 51
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