Fragmentos de Dor e Coragem

O dia arrastava-se como todos os outros. O relógio na parede marcava as horas com uma lentidão cruel, enquanto André permanecia imóvel no sofá da sala, encarando o vazio. A casa estava mergulhada em silêncio, um silêncio tão pesado que parecia gritar.

Ele segurava o porta-retratos da mãe entre as mãos, os dedos deslizando pelo vidro como se pudessem alcançar o passado. Era uma foto de um aniversário, um momento de felicidade que parecia pertencer a outra vida. Os olhos dele estavam marejados, mas ele se recusava a chorar. Choros já não vinham mais com a mesma frequência, apenas a dor constante e insuportável.

Foi então que o som da campainha quebrou a monotonia. Ele franziu o cenho, surpreso. Não esperava ninguém e, sinceramente, preferia que continuasse assim. Após um momento de hesitação, levantou-se com passos pesados. Quando abriu a porta, sentiu o coração dar um salto desconfortável.

Lá estava Geovana.

Ela parecia diferente, vulnerável, como se carregasse o peso do mundo nos ombros. O cabelo preso em um coque apressado, o rosto marcado por uma expressão que misturava arrependimento e esperança.

— André... — começou ela, a voz trêmula.

Ele permaneceu imóvel, a mão ainda na maçaneta. A visão dela trouxe uma avalanche de emoções: raiva, tristeza, frustração... e uma pontada de algo que ele não queria admitir, talvez uma saudade reprimida.

— O que você está fazendo aqui? — perguntou, a voz baixa e seca.

Geovana deu um passo à frente, tentando diminuir a distância entre eles.

— Eu precisava te ver. Precisava falar com você.

Ele soltou um riso curto, sem humor.

— Falar o quê, Geovana? Já não disse tudo o que precisava quando me traiu?

Ela pareceu encolher sob o peso das palavras dele, mas insistiu.

— Eu cometi um erro... um erro enorme. E eu sinto tanto. Você não faz ideia do quanto eu me arrependo.

André estreitou os olhos, a mandíbula tensionada.

— Arrependimento? Você só está arrependida porque foi pega. Se eu não tivesse descoberto, teria continuado com ele, não é?

As palavras saíram afiadas como lâminas, e ele sabia disso. Geovana fechou os olhos por um momento, respirando fundo como se tentasse conter as lágrimas.

— Não é assim... — sussurrou ela. — Eu estava perdida, confusa. Eu errei, mas nunca deixei de te amar.

O coração de André apertou, mas ele não deixou transparecer. A última coisa que queria era parecer fraco diante dela.

— Amor? — rebateu, com uma ironia amarga. — Se isso é amor, prefiro nunca mais sentir.

Ela avançou outro passo, os olhos cheios de desespero.

— Por favor, André. Me dê uma chance. Eu posso mudar. Eu posso consertar tudo isso.

Ele deu um passo atrás, aumentando novamente a distância entre eles.

— Não há conserto, Geovana. Não depois do que você fez. Você destruiu a confiança que tínhamos, e sem confiança não há nada.

Geovana começou a chorar, as lágrimas escorrendo pelo rosto.

— Eu sei que te magoei, mas ainda acredito que podemos ser felizes juntos.

André balançou a cabeça, sentindo o peso de cada palavra.

— Eu não posso ser feliz com alguém que me destruiu por dentro. Sai da minha casa, Geovana. Acabou.

Ela hesitou, como se quisesse dizer algo mais, mas a firmeza na voz dele a impediu. Com um último olhar carregado de arrependimento, virou-se e foi embora.

Quando André fechou a porta, apoiou-se nela, sentindo como se toda a energia tivesse sido sugada de seu corpo. A conversa havia terminado, mas a dor continuava lá, como uma ferida que ele sabia que levaria muito tempo para cicatrizar.

Dentro da casa, o silêncio voltou, agora ainda mais opressor.

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Atualizado até capítulo 51

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