O silêncio parecia mais pesado do que nunca. Após a saída de Geovana, André permaneceu encostado na porta por alguns minutos, os olhos fixos no chão. A mente dele era um turbilhão de pensamentos, misturando lembranças de momentos felizes com a amargura do presente. Ele não conseguia decidir o que era pior: o arrependimento que ela havia trazido ou a saudade que ele lutava tanto para ignorar.
André se afastou da porta, com os passos lentos e inseguros. Voltou para o sofá, onde o porta-retratos ainda estava. Pegou a foto novamente, como se procurasse ali alguma resposta para os conflitos que o atormentavam.
— O que eu faço, mãe? — murmurou, a voz rouca e quase inaudível.
Era a primeira vez em meses que ele falava algo em voz alta. Desde a perda dela, era como se as palavras não encontrassem mais um propósito. Agora, a visita de Geovana parecia ter trazido à tona emoções que ele preferia manter enterradas.
A noite chegou, mas o sono não. André se mexia na cama, incapaz de encontrar paz. As palavras de Geovana ecoavam na mente dele como um disco arranhado: "Eu ainda acredito que podemos ser felizes juntos."
Mas como? Como reconstruir algo que parecia tão destruído? E, mais importante, ele queria tentar?
Decidiu levantar. A casa, mergulhada na escuridão, refletia o vazio que ele sentia por dentro. Foi até a cozinha, abriu a geladeira apenas para fechá-la novamente. Nada parecia capaz de preencher o buraco que havia dentro dele.
Pegou o celular sobre a mesa. Tinha mensagens de amigos que ele havia ignorado nos últimos dias, mas nenhuma delas parecia importante. Sua mente estava presa em Geovana e na traição que destruíra o pouco de estabilidade emocional que ele ainda tinha após a morte da mãe.
Antes que percebesse, ele digitou o número dela. Não clicou em ligar, mas ficou encarando a tela por minutos. A dúvida consumia cada fibra do seu ser: ela realmente merecia outra chance? E ele, merecia passar por tudo aquilo de novo?
Sem coragem de ligar, deixou o celular de lado. Era mais fácil deixar o passado onde estava, mesmo que isso significasse carregar as feridas por mais tempo.
Pela janela, os primeiros raios de sol começaram a surgir. Mais uma noite sem dormir, mais um dia para enfrentar as próprias sombras.
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Capítulo 4 - Laços Inesperados
Naquela manhã, André decidiu sair de casa. A sensação de claustrofobia, alimentada pela visita de Geovana, parecia sufocá-lo. Pegou um casaco e foi para o parque que sua mãe costumava frequentar. Era um lugar calmo, com árvores imponentes e trilhas cercadas por flores. Lá, ele sempre encontrava um pouco de paz.
Sentou-se em um banco afastado, observando as pessoas que passavam: crianças correndo, casais conversando, idosos caminhando lado a lado. Parecia um contraste cruel com a solidão que ele sentia.
— André? É você? — chamou uma voz feminina.
Ele levantou os olhos e viu uma mulher que parecia familiar, mas ele não conseguia lembrar de onde. Ela tinha um sorriso tímido, mas seus olhos revelavam empatia.
— Desculpe, você é...? — perguntou, tentando não soar rude.
— Bianca. Estudamos juntos na faculdade. Não lembra de mim? — Ela riu, cruzando os braços enquanto o observava.
A memória veio como um flash. Bianca era uma colega de turma, conhecida por ser reservada, mas incrivelmente gentil. Ele não a via há anos.
— Claro, Bianca! Quanto tempo. — Ele forçou um sorriso, tentando parecer mais animado do que realmente estava.
— Posso me sentar? — perguntou ela, apontando para o banco.
André assentiu. Ela se sentou ao lado dele, colocando uma bolsa no colo.
— Você parece... diferente. Está tudo bem? — perguntou Bianca, a voz suave.
A pergunta pegou André de surpresa. Ele não esperava que alguém notasse tão rapidamente o peso que carregava. Havia algo no tom dela que o desarmava, como se ela realmente se importasse.
— Digamos que não estou no meu melhor momento. — Ele deu de ombros, tentando minimizar a situação.
Bianca ficou em silêncio por um momento, como se ponderasse se deveria insistir. Então, falou:
— Eu sei como é. Perdi minha irmã há dois anos. Não é a mesma coisa, eu sei, mas... perder alguém que amamos nunca é fácil.
As palavras dela tocaram algo dentro de André. Pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu que alguém entendia, pelo menos um pouco, o que ele estava enfrentando.
— Sinto muito pela sua irmã. — Ele olhou para ela, sentindo-se mais à vontade. — Eu perdi minha mãe há alguns meses. E, bem... tem outras coisas também. Parece que tudo desmoronou de uma vez só.
Bianca assentiu, os olhos cheios de compaixão.
— Eu também tive essa sensação. Mas, sabe, às vezes as pessoas certas aparecem quando mais precisamos. Não para resolver nossos problemas, mas para nos lembrar que não estamos sozinhos.
André não respondeu, mas aquelas palavras ficaram ecoando na mente dele. Talvez, só talvez, Bianca pudesse ser o começo de algo novo. Ou, no mínimo, uma companhia para os dias difíceis que ele sabia que ainda enfrentaria.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
🥀S.Sabrina🥰
verdade mulher 🥲
2024-12-29
2
amanda🌹
tadinho ele tá destruído😔, já odiei essa tal de Geovana 😒😶
2024-12-29
2