Essentia 2: Sob o Peso das Ruínas

Essentia 2: Sob o Peso das Ruínas

Onde a Paz se Fez Cinza

...Há onze anos, em uma noite que parecia ser como qualquer outra, Sora Fujimoto, com 15 anos, estava jantando com sua família. Era uma cena simples, mas cheia de vida e amor: seu pai e sua mãe riam um do outro e trocavam histórias, e seu irmão mais velho, Kota, de 16 anos, se inclinava em direção a Sora, comentando algo que os fazia rir. O aroma da comida ainda pairava pelo ar, enquanto conversavam sobre assuntos triviais, mergulhados em uma bolha de felicidade que parecia impenetrável....

...O jantar chegou ao fim, e Kota, sempre enérgico e de espírito brincalhão, sugeriu a Sora: "Vamos lá fora pegar umas frutas antes de dormir." A mãe deles lançou um olhar preocupado, mas carinhoso, dizendo para tomarem cuidado. Os dois irmãos assentiram com sorrisos antes de sair para a noite fresca....

...Assim que se afastaram um pouco da casa, Kota olhou para Sora, com um sorriso travesso surgindo nos lábios. Sem aviso, ele gritou: "Quem chegar por último é a mulher do padre!" e disparou pela trilha escura, os passos rápidos e leves na grama molhada. Sora se espantou com a súbita corrida do irmão e, por um momento, hesitou, percebendo que tinha sido pego de surpresa....

...Mas ele sorriu e, com o coração disparado, respondeu: "Me espera!" e correu atrás de Kota, seus risos ecoando na quietude da noite, as vozes misturadas com o som de seus passos. O ar parecia frio e vibrante ao redor deles, mas nada importava mais do que aquela simples corrida, aquele momento em que Sora tentava alcançar o irmão mais velho, sem saber que aquela noite seria uma das últimas lembranças puras que guardaria....

...Eles riam, tropeçavam, e trocavam provocações. Mas, naquela mesma noite, uma sombra já estava se aproximando. A guerra que mudaria tudo estava à porta, e a felicidade deles seria brutalmente arrancada. Mais tarde, aquelas memórias se tornariam amargas para Sora, que as revisitaria inúmeras vezes, perdido entre lembranças e a dor da perda. O garoto alegre se transformaria, assombrado pela dor, pela vingança contra o imperador e alguns Vitalis, e, acima de tudo, pela sombra da depressão....

...Os irmãos Sora e Kota, com as camisas repletas de frutinhas, caminhavam de volta para casa, os passos leves e descontraídos enquanto conversavam e riam. Kota, que tinha conseguido mais frutas, provocava Sora com um sorriso de vitória, e Sora ria em resposta, achando graça. Eles já imaginavam o rosto feliz da mãe ao ver as frutas, e a certeza disso preenchia o ar entre eles....

...Enquanto se aproximavam da casa, Sora comentou, com um brilho nos olhos: "Mamãe vai ficar tão feliz que conseguimos pegar várias frutas hoje." Kota, ainda sorrindo, assentiu: "Com certeza." Mas, ao erguer o olhar, algo quebrou sua expressão de leveza. Ele notou um brilho intenso no céu, e, em um instante, compreendeu o que aquilo significava....

..."Kota!" Ele gritou o nome do irmão, os olhos arregalados. Num reflexo rápido, agarrou Sora pelo braço e o puxou com força, afastando-o da casa. O brilho transformou-se em uma rajada de poder, um golpe devastador de Essentia, que desceu sobre a casa como um raio de fúria....

...O impacto foi imediato. Uma explosão feroz abalou o chão, engolindo a pequena casa e todos os sonhos que ela abrigava. A onda de choque jogou Sora e Kota para longe, como se fossem folhas ao vento, arrancando-lhes o fôlego e mergulhando-os na inconsciência. A explosão consumiu tudo o que tocou — as paredes, o teto, cada móvel, e, no instante mais cruel, os pais dos garotos, que foram varridos pelas chamas, transformados em cinzas quase que instantaneamente....

...No chão, entre destroços e escombros, Sora e Kota jaziam inconscientes, envoltos na escuridão de uma noite que começara em risos, mas agora só conhecia silêncio e destruição....

...Sora abriu os olhos lentamente, piscando para clarear a visão em meio ao que parecia ser uma cena de pesadelo. A primeira coisa que viu foi o rosto do irmão, Kota, que o balançava gentilmente, com os olhos vermelhos de preocupação e alívio. “Você está vivo... que bom." murmurou Kota, tentando sorrir, mas havia uma sombra de tristeza em sua expressão....

...Sora, ainda desorientado, sentiu um nó no peito. “E a mamãe? E o papai?” Sua voz tremia, cheia de uma incerteza que ele não queria enfrentar. Kota desviou o olhar, incapaz de sustentar o peso da pergunta nos olhos de Sora. Ele havia procurado desesperadamente pelos pais antes de acordar o irmão, mas só encontrara destroços e cinzas onde a casa e os sonhos de sua família haviam estado....

...O silêncio de Kota era ensurdecedor para Sora, que repetiu, a voz se quebrando, “Kota...? E a mamãe? E o papai?” Ele sabia que algo estava errado, mas seu coração se recusava a aceitar. Finalmente, Kota respirou fundo, os lábios trêmulos enquanto olhava para o chão. “Eles...” tentou falar, mas as palavras se enroscavam na garganta, carregadas de uma dor avassaladora. “Eles morreram…”...

...O mundo de Sora parou. Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, enquanto ele balbuciava, quase sem voz: “É m-mentira, né?” Ele queria acreditar que tudo aquilo era um engano, uma ilusão terrível que logo desapareceria. Kota não teve forças para responder, apenas envolveu o irmão em um abraço apertado, e Sora sentiu o peso do corpo dele tremer em silêncio....

...Ali, entre os escombros e a devastação, os dois irmãos se abraçaram, compartilhando um luto esmagador e uma dor que palavras não poderiam descrever. Sora finalmente sussurrou, quase num soluço: “Não é mentira...” E, com isso, a realidade o alcançou por completo, quebrando seu coração e deixando uma ferida profunda que jamais se fecharia....

...Após a devastação, Kota tomou uma decisão silenciosa e solene: ele protegeria Sora a qualquer custo. Precisavam sair dali, se afastar do lugar que agora só trazia lembranças dolorosas e o perigo da guerra. Sem saber exatamente para onde ir, Kota disse a Sora que talvez encontrassem um lugar seguro, longe dos confrontos. Com o coração despedaçado, os dois começaram a andar, com Kota tentando aliviar a tristeza do irmão, inventando piadas ou contando histórias que lembravam suas brincadeiras de infância. Às vezes conseguia arrancar um sorriso, quase imperceptível, de Sora; em outras, o olhar do irmão permanecia perdido, vazio....

...Nos dias seguintes, viveram em um ritmo improvisado e de incertezas. Tomavam banho em rios que encontravam pelo caminho, sobreviviam comendo frutas que colhiam, e, quando a noite caía, dormiam no abrigo improvisado de uma caverna — ou, possivelmente, um buraco causado por algum poder devastador que atingira aquela área. Ali, isolados e vulneráveis, passaram vários dias....

...Numa dessas noites, enquanto uma pequena fogueira os aquecia, Kota e Sora estavam deitados no chão, olhando para o fogo. O estalo das chamas era o único som que quebrava o silêncio da noite. Sora, abraçado aos próprios joelhos, olhou para o irmão e murmurou com uma voz trêmula: “Kota…”...

...Kota virou-se para ele, vendo o olhar abatido de Sora refletido pelas chamas. Sora suspirou, a voz embargada. “Eu sinto falta da mamãe… e do papai…”...

...Kota sentiu o peito apertar. Ele também sentia a dor da perda como uma faca, mas tentava esconder para parecer forte. Ele respirou fundo e colocou uma mão no ombro de Sora. “Eu também sinto, Sora... todos os dias. Mas... enquanto a gente mantiver eles aqui” — ele apontou para o coração de Sora — “e aqui” — tocou levemente a cabeça dele, como um gesto carinhoso — “eles ainda vão estar com a gente.”...

...Sora olhou para baixo, as lágrimas ameaçando cair, mas as palavras de Kota trouxeram um leve consolo. Ele sorriu, um sorriso fraco, mas verdadeiro, e então fechou os olhos, segurando a mão de Kota com firmeza. Mesmo no meio da dor, ele sabia que não estava sozinho. Kota, segurando a mão do irmão, jurou para si mesmo, mais uma vez, que não o deixaria sofrer sozinho....

...O dia amanheceu novamente com a rotina familiar que agora se tornara para Sora e Kota: a busca por comida, água e um lugar para se lavar. As caminhadas eram longas e cansativas, mas algo em Sora parecia um pouco mais leve, como se a dor de perder os pais estivesse começando a dar lugar à aceitação, ou talvez ao medo do que viria a seguir. Com os passos pesados, os dois seguiram em frente, ainda em busca do tal "lugar seguro" que parecia cada vez mais distante. Mas, com o espírito resistente de Kota e a presença silenciosa de Sora, continuaram sua jornada....

...Ao cair da noite, os dois chegaram a uma cidade que, como tantas outras que tinham visto antes, estava em ruínas. As ruas de pedra estavam quebradas, e sinais de destruição estavam por todo lado. Sora, com os olhos nublados pela tristeza e cansaço, olhou para Kota. “Kota... será que não existe um lugar seguro?”...

...Kota olhou ao redor, tentando manter a esperança em meio ao caos. “Não vamos pensar assim, Sora. Vamos continuar. Eu sei que existe algo, algum lugar. Só precisamos continuar tentando.”...

...Sora acenou lentamente, tentando acreditar nas palavras do irmão, e ambos seguiram em frente. A chuva começou a cair, fria e intensa, e logo eles se viram correndo, buscando um abrigo que não encontraram. O som da chuva pesada ecoava enquanto os dois se moviam pelas ruas escuras e desertas....

...Foi então que viram pessoas à frente. Uma criança de cabelos vermelhos, aparentemente assustada, estava atrás de um homem que parecia estar atacando outra pessoa. O homem, com um poder sinistro e cruel, desferiu um soco brutal, derrubando o corpo de sua vítima sem vida. A criança olhou para ele, chamando-o: “Pai…”...

...O homem se virou, seu olhar focado em Sora e Kota, e o tempo pareceu parar por um instante. Kota, instintivamente, fez um gesto para Sora ficar atrás dele, preparando-se para o pior. Ao seu redor, o cenário era desolador. Os corpos das vítimas de outras batalhas estavam espalhados pela rua, e a presença de morte era palpável....

...O homem, com um sorriso cruel, perguntou: “Vieram morrer também?”...

...Kota não respondeu. Ele estava concentrado, analisando a situação, mas o homem, sem esperar mais, rosnou: “Saiam daqui!” E com um movimento rápido, lançou um poder de cor vermelha, como sangue, diretamente na direção de Kota....

...Kota, com a calma de quem já vira o suficiente para entender o que estava acontecendo, levantou a mão. Um espelho de energia se formou diante dele, refletindo o poder do homem de volta. No entanto, a surpresa veio quando o poder atingiu o homem e não fez nenhum efeito. O homem apenas sorriu mais, como se aquilo fosse esperado....

...Kota olhou para o irmão e murmurou: “Ele é imune à própria Essentia…”...

...O homem rapidamente usou sua Essentia para criar uma barreira protetora ao redor da criança, e então, com um gesto, destruiu a barreira com um poder avassalador. Kota, em um movimento desesperado, fez o espelho quebrar em pedaços, lançando-os como lâminas afiadas em direção ao inimigo. Mas o homem reagiu rapidamente, criando uma parede de proteção com seu poder, absorvendo o golpe com facilidade. Então, com um movimento veloz, ele devolveu o golpe, lançando Kota para trás....

...Kota foi arremessado contra o chão, mas ainda tentou se levantar, desativando sua Essentia para evitar que o poder do inimigo causasse mais dano, tanto nele quanto em Sora. Quando o impacto foi finalizado, a tensão no ar aumentou, e foi possível ouvir o barulho distante de um exército se aproximando....

...A situação ficou ainda mais desesperadora. Sora, vendo que Kota não se mexia mais, percebeu o perigo iminente. O homem e a criança começaram a correr, provavelmente por causa do barulho da aproximação das tropas. Sora se aproximou rapidamente de seu irmão, com o coração acelerado, chamando por ele. “K-Kota, o quê foi?” Ele se ajoelhou ao lado de Kota, segurando-o com as mãos trêmulas. O som da chuva misturado ao barulho distante do exército fazia a cena parecer irreal....

...A mente de Sora se recusava a entender o que estava acontecendo. Ele olhou para o irmão, esperando algum sinal, uma respiração, um movimento qualquer. Mas, aos poucos, a verdade foi se instalando em seu coração. As lágrimas começaram a cair enquanto ele apertava Kota contra si, desesperado....

...Kota estava imóvel. E, com isso, Sora percebeu a realidade que ele temia: seu irmão estava morto....

...O mundo ao redor parecia desmoronar. A dor, o luto, a perda… tudo se misturava em um vazio profundo e esmagador. Sora, em um último ato de desespero, abraçou o irmão com toda a força que ainda tinha, tentando trazê-lo de volta, mas a morte de Kota era irrevogável....

...Em meio à chuva e ao barulho do exército se aproximando, Sora se viu sozinho, sem saber o que fazer....

...O corpo de Sora estava tomado por uma luz suave, quase celestial, que brilhou intensamente por breves instantes, iluminando o cenário sombrio ao seu redor. As lágrimas caíam de seus olhos, misturando-se com a chuva que continuava a cair incessantemente, como se o próprio céu chorasse a dor que ele sentia. O exército se aproximava, formando um círculo em torno dele. Sora, com os olhos vermelhos e o coração em pedaços, fixava o olhar no que parecia ser o líder daquele exército....

...O líder, um homem de postura firme e olhar penetrante, observava Sora com uma expressão que mesclava curiosidade e admiração. Ele estendeu a mão, com uma aura de poder imensa ao seu redor, como se estivesse convidando Sora para algo grandioso....

...“Vejo um grande potencial em você.” disse o líder, sua voz profunda e calma, como se falasse de algo que já sabia de antemão. “Queria que se juntasse a mim.”...

...Sora, ainda com o rosto cheio de lágrimas e os olhos fixos no corpo imóvel de Kota, olhou para o líder, um misto de desconfiança e raiva queimando dentro de seu peito. Ele não queria se envolver com aquela guerra, não queria fazer parte de algo que tirou a vida de sua família. Sua voz saiu baixa, mas firme, carregada de dor. “Por que eu aceitaria?”...

...O líder não se incomodou com a pergunta, como se soubesse que viria. Ele falou com uma frieza calculada, sua expressão imutável. “Em meio à guerra, um lar, comida e paz são inexistentes… ah, não ser que se junte a mim.”...

...A resposta fez o coração de Sora apertar ainda mais. Ele sabia que o líder falava a verdade. No mundo que ele agora conhecia, a guerra parecia ser a única constante, e qualquer esperança de uma vida melhor parecia cada vez mais distante. Mas a ideia de se juntar a alguém que trazia ainda mais destruição para o mundo era algo que ele não podia aceitar sem questionar....

...“Paz...?” Sora perguntou, sua voz carregada de uma mistura de incredulidade e desespero. “Se eu aceitar, você irá me colocar em batalhas?”...

...O líder olhou para ele com um semblante sério, mas sem malícia. “Provavelmente." respondeu de forma direta, sem hesitar....

...Sora baixou a cabeça, o peso da perda de Kota, de sua infância, de tudo que ele conhecia, esmagando sua alma. Ele sabia que o líder realmente via algo nele, algo que talvez ele próprio ainda não compreendesse completamente. O que o futuro reservava para ele não era claro, mas uma coisa era certa: ele estava sendo forçado a fazer uma escolha que não desejava....

...Com uma expressão resoluta, Sora olhou para o corpo de Kota, agora em silêncio e vazio de vida. Ele se ajoelhou ao lado do irmão, com as lágrimas ainda caindo de seus olhos. Com um cuidado absoluto, colocou o corpo de Kota no chão, arrumando-o com a mesma ternura que teria dado em um momento de paz. Ele acariciou os cabelos de Kota pela última vez, a dor dilacerando seu coração....

...Com um suspiro pesado, Sora se levantou lentamente e olhou para o líder. “Só irei aceitar... se enterrar meu irmão.”...

...O líder permaneceu em silêncio por um momento, avaliando a seriedade nas palavras de Sora. Finalmente, ele acenou com a cabeça, como se cumprisse uma promessa já feita. “Que assim seja.”...

...Aos sinais do líder, os guardas se aproximaram e, com respeito, pegaram o corpo de Kota, levando-o para ser enterrado. Sora, com um olhar ainda perdido na figura do irmão, deu um último suspiro de alívio, sabendo que, ao menos, o corpo de Kota seria tratado com dignidade, algo que ele desejava mais do que qualquer outra coisa....

...Ele então subiu no cavalo ao lado do líder, sentindo a frieza da noite invadir seu corpo, mas não sua alma. O líder se colocou à frente, e juntos começaram a andar, os passos pesados ecoando na noite silenciosa. O destino que os aguardava era desconhecido, mas Sora sabia que ele não teria mais volta. Ao lado do líder e do exército, ele estava agora em um caminho que nunca escolheu, mas que foi forçado a trilhar....

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Comments

Ana Souza

Ana Souza

quais chorei com essa parte

2024-12-30

1

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