...Depois de algum tempo, Sora está sentado numa cama simples, de lençóis limpos mas desgastados, em um quarto pequeno, com luz suave entrando pelas janelas. Rachel está de pé, encostada na parede oposta, olhando para ele com uma expressão pensativa e suave. Ela respira fundo antes de quebrar o silêncio....
...“Eu sinto muito pela sua perda.” diz Rachel, com a voz cheia de empatia....
...Sora baixa os olhos, a expressão sombria. “Tudo bem. Nem pude enterrar meus pais...” Ele hesita, a dor ainda muito viva. “Eles viraram cinzas nos destroços da casa... não sobrou nada, nem sangue, nem qualquer coisa que mostrasse que eles existiram.”...
...Rachel se aproxima, a compaixão evidente em seus olhos, e se senta ao lado dele na beirada da cama. Por um momento, o silêncio os envolve, ambos sentindo o peso das lembranças....
...“Eu entendo você.” diz ela suavemente. “Perdi meus pais quando ainda era uma criança. Depois disso, Darmam me encontrou... cuidou de mim.” Ela abaixa o olhar, como se estivesse revivendo uma cena distante....
...Sora a observa com atenção, notando o pesar em sua expressão. Rachel solta um suspiro e continua: “Nem sei como meus pais morreram. Só lembro de ver os corpos deles na rua... junto a vários outros.”...
...Uma tristeza profunda transparece no rosto de Rachel, e Sora percebe o quanto ela também carrega cicatrizes do passado. Ele sente uma conexão silenciosa com ela, um entendimento compartilhado. Rachel força um sorriso leve, quase tentando afastar as próprias memórias....
...“Mas, conhecendo Darmam... ele suprimiu minha dor.” murmura ela, com um olhar distante....
...Sora continua observando-a, percebendo a tristeza sutil que ela tenta esconder. Então, Rachel se levanta, dando-se um pequeno tempo para recompor. Ela esfrega as mãos, respirando fundo e com um tom mais leve....
...“Bom." diz ela, tentando trazer um pouco de ânimo. Ela bate levemente as próprias mãos, tentando animar o ambiente. “Estou com fome. Você vai querer comer alguma coisa?”...
...Sora responde baixo, quase sem ânimo. “Não.”...
...Ela o encara por um instante, e um leve sorriso travesso surge em seu rosto. Sem aviso, ela agarra o braço dele e o puxa com firmeza, o pegando de surpresa....
...“Vai comer sim.” diz Rachel, determinada, sem dar chance para ele recusar....
...Sora, um pouco surpreso, protesta de leve, mas permite que ela o leve. Rachel sorri satisfeita e o guia para fora do quarto, conduzindo-o em direção ao depósito de comida nas proximidades. Enquanto caminham, ele sente o peso de suas lembranças diminuindo, mesmo que só um pouco, graças à presença dela ao seu lado....
...Chegando ao depósito, Rachel começa a procurar entre as prateleiras, pegando algumas latas de comida que encontra e inspecionando cada uma com um olhar de quem já está acostumada a escolher as melhores opções, mesmo entre suprimentos simples. Com uma expressão determinada, ela abre as latas e divide o conteúdo em duas porções, entregando uma a Sora antes de se sentar ao lado dele em uma cadeira velha e um pouco instável....
...Enquanto eles comem, Rachel começa a falar de pequenas histórias que viveu nos treinos com outros soldados, colocando uma expressão exagerada e engraçada em cada detalhe para tentar arrancar algum sorriso dele. Ela faz uma careta ao lembrar de uma vez que, ao errar um movimento, quase caiu na lama na frente de todo mundo, e ri enquanto descreve o rosto dos companheiros de equipe que não conseguiram segurar o riso....
...Sora observa Rachel, deixando escapar um pequeno sorriso de canto de boca aqui e ali, quase sem perceber. Ele aprecia a tentativa dela de aliviar o peso que sente, mas seu olhar, mesmo quando ligeiramente iluminado, continua distante, perdido em pensamentos. A imagem dos rostos de sua família ainda vive forte em sua mente, e a dor de não tê-los mais o envolve como uma sombra. Cada risada que ela tenta provocar parece ser absorvida pelo vazio em seu coração, deixando nele apenas um eco tênue de felicidade que ele não consegue alcançar completamente....
...Rachel percebe o esforço de Sora em tentar corresponder, mesmo que o sorriso seja frágil. Ela mantém o humor leve, rindo com ele e até fazendo caretas para que ele sorria mais, mas seus olhos, em certos momentos, demonstram que ela entende a profundidade da dor que ele carrega. Ela respeita o silêncio dele, mas continua tentando puxá-lo de volta, na esperança de que, ao menos por alguns instantes, ele consiga esquecer a escuridão que o cerca....
...Mesmo assim, enquanto ele mastiga, Sora sente o peso em seu peito. Ele olha para a comida sem realmente saborear, as lembranças de sua família misturando-se a cada garfada. Em sua mente, imagens de momentos felizes se alternam com a visão dos destroços de sua casa e o vazio que sentiu ao não encontrar nada de seus pais. Sua alma, ele sabe, está chorando em silêncio, e a presença de Rachel ao seu lado, embora reconfortante, ainda não é suficiente para aquecer o frio que sente por dentro....
...Rachel, percebendo isso, termina a refeição devagar, sem pressioná-lo mais. Ela apenas lhe oferece companhia, permitindo que ele sinta, ao menos, que não está completamente sozinho naquela dor, enquanto eles terminam de comer juntos no silêncio do armazém....
...Rachel é chamada por um dos soldados que passa pelo armazém, que fala algo em voz baixa, e ela acena para Sora antes de se afastar com ele. Sora observa a silhueta dela se distanciar, ficando agora sozinho no canto onde estavam sentados. Ele permanece ali em silêncio por alguns momentos, depois solta um suspiro longo e pesado, como se estivesse tentando aliviar um pouco da tensão que carrega....
...Ele estende as mãos na frente de si, observando-as fixamente, como se procurasse algo nelas que ainda não conseguia compreender. Com uma concentração profunda, ele cria um pequeno espelho de vidro. Ele observa seu reflexo no espelho por um instante, mas rapidamente o desfaz, desviando o olhar para uma pequena pedra que estava no chão, a poucos metros de onde está. Com uma expressão de determinação, ele respira fundo, se levanta, se aproxima da pedra e, estendendo a mão na direção dela, lança fragmentos de vidro com força, tentando acertá-la. Porém, o vidro se estilhaça ao tocar a superfície da pedra, sem deixar nem uma marca....
...Ele tenta de novo, desta vez focando ainda mais sua energia, mas o resultado é o mesmo. O vidro se quebra e não causa nem um arranhão. Ele insiste novamente, e de novo. Cada tentativa é frustrada, cada esforço parece inútil, e Sora começa a sentir um peso maior pressionando seu peito. Finalmente, ele para, sentindo o cansaço e a frustração tomando conta....
...Ele se ajoelha no chão, olhando para as mãos vazias. As lágrimas começam a brotar em seus olhos, e ele tenta contê-las, mas não consegue evitar que algumas escorram pelo rosto. Em voz baixa e trêmula, ele fala para si mesmo: "Cadê aquele garoto feliz e gentil?" Sua voz está carregada de dor e nostalgia, como se estivesse falando com uma versão de si mesmo que já não existe....
...Ele aperta as mãos, sentindo a frustração ferver em seu peito, e murmura: "Parece que já faz tanto tempo que perdi vocês... Eu nunca pensei... nem imaginei em perder vocês." Ele engole em seco, sentindo a garganta apertar. "Eu não sei como continuar..."...
...Por algum tempo, ele permanece ali, ajoelhado no chão, sem forças para levantar. A ausência de sua família pesa como um fardo insuportável, e a sensação de vazio dentro dele parece se tornar cada vez mais profunda....
...Eventualmente, ele retorna ao quarto, caminhando devagar, como se cada passo fosse pesado. Ao entrar, ele se senta na cama, encarando o nada, ainda sentindo a dor da falta de sentido que o consome. Ele sussurra, quase como se falasse com alguém que não está ali: "Eu sou forte mesmo, Kota?"...
...A pergunta ecoa no silêncio do quarto, como se buscasse uma resposta que ele sabe que não pode receber....
...Sora, ainda perturbado e reflexivo, é arrancado de seus pensamentos pelo som de muitos passos vindo do lado de fora. Ele se levanta da cama e sai do quarto, espiando para ver o que estava acontecendo. Logo à frente, ele vê Darmam e o exército retornando, alguns com ferimentos visíveis, outros com expressões exaustas. Darmam, ao notar Sora na porta, faz um aceno firme e ordena aos soldados: "Vão se organizar. Iremos novamente para a batalha em breve."...
...Darmam caminha até Sora, parando ao seu lado, e diz, com um tom grave e resignado: "Tivemos algumas perdas... mas conseguimos segurar um pouco o avanço." Ele suspira, virando o olhar para os soldados, que começavam a dispersar para se reorganizar. Após uma breve pausa, ele acrescenta, quase em um sussurro: "Espero que isso termine logo... quero estar com meus irmãos."...
...Sora observa o rosto cansado de Darmam, percebendo uma humanidade que raramente via nos líderes que conhecia. Sentindo-se curioso, ele pergunta: "Uma pergunta."...
...Darmam volta a atenção para ele, com um olhar que mistura curiosidade e paciência. "Sim?"...
...Sora hesita um pouco antes de perguntar: "Quantos anos você tem?"...
...Darmam solta uma leve risada e responde com naturalidade: "Dezessete anos."...
...Sora fica visivelmente surpreso, e a surpresa se traduz em seus olhos arregalados e na expressão atônita. Ele se dá conta de que alguém tão jovem estava liderando um exército em uma guerra brutal. Era impressionante e, ao mesmo tempo, perturbador. "E você fala comigo como se fosse um adulto experiente..." ele comenta, ainda surpreso....
...Darmam passa a mão pelo próprio cabelo, um gesto que revela uma certa descontração, e diz, com um sorriso leve: "Bom, eu não batalho diretamente contra os mais perigosos. Isso é algo que meu pai e meus irmãos mais velhos fazem. Mas, eu sou mais velho que você, não sou?"...
...Um sorriso surge no canto dos lábios de Sora, que olha para frente, inspirando-se com a determinação de Darmam. Ele levanta a mão lentamente, com um olhar focado e decidido, e, para sua surpresa, uma camada de vidro começa a se formar diante de sua palma. Darmam observa atentamente, os olhos acompanhando cada detalhe da criação. Ao ver o vidro formado, ele inclina a cabeça e, com um leve sorriso de aprovação, diz: "Meus parabéns. Estou orgulhoso."...
...Essas palavras ressoam profundamente em Sora. Ele sente um misto de surpresa e gratidão, e, pela primeira vez em muito tempo, um sentimento de esperança se acende em seu peito....
...Darmam nota o olhar de Sora fixo nos soldados feridos que tentavam se recompor após a última batalha. Com um tom grave e compreensivo, ele comenta: "É difícil." Sora levanta os olhos, encarando Darmam, que continua: "Nox. Eles não têm força o suficiente para derrotar os Vitalis. Se não pegarem um Vitalis de surpresa, as armas deles se tornam inúteis."...
...Sora mantém o olhar fixo nos feridos. A visão de homens e mulheres machucados, alguns mal conseguindo se manter em pé, outros sendo ajudados pelos colegas, o atinge profundamente. Ele sente uma determinação silenciosa crescendo dentro de si. Apertando os punhos, ele declara: "Eu vou ajudar vocês."...
...Darmam o observa com um olhar surpreso, mas logo um sorriso surge em seu rosto. É nesse momento que Rachel se aproxima, notando a expressão séria de Sora e o sorriso de Darmam. Sem esperar, Darmam olha para ela e afirma: "Sora está dentro." Rachel abre um sorriso contente, surpresa e, ao mesmo tempo, empolgada. "Sério?" ela pergunta, com entusiasmo no olhar....
...Antes que Sora possa responder, Darmam ergue a voz, ordenando aos soldados ao redor: "Quem estiver pronto, já vamos partir!" Ele então vira-se para Sora e acrescenta: "Tem algumas armaduras no depósito."...
...Sora, porém, balança a cabeça levemente. "Não precisa," responde, com um sorriso leve nos lábios. Darmam arqueia uma sobrancelha, insistindo: "É melhor com armadura."...
...Sora apenas sorri de volta, mostrando que não se deixaria convencer. Darmam solta um suspiro resignado, percebendo que discutir não adiantaria. Em pouco tempo, soldados começam a se reunir em torno dos cavalos, e Darmam monta com destreza em seu próprio cavalo. Ele olha para Sora com um ar decidido e grita: "Preparem um cavalo para o meu novo comandante!"...
...As palavras de Darmam pegam Sora de surpresa. Ele olha ao redor, tentando entender o que acabara de ouvir, mas então nota que Rachel, uma das comandantes de Darmam, já está montada em seu cavalo, pronta para partir. Quando um soldado traz um cavalo até Sora, ele hesita. Darmam, percebendo sua confusão, sorri e diz: "Para onde você acha que vai, novo comandante?"...
...Sora, ainda tentando processar, encara Darmam com um olhar de incerteza. Darmam apenas inclina a cabeça e aponta para o cavalo. "Suba."...
...Relutante, Sora finalmente monta, ajeitando-se na sela. "Tem certeza disso?" ele pergunta, ainda incerto....
...Darmam solta uma risada breve, mas sincera. "Você pode estar no início do controle de sua Essentia, mas é forte."...
...As palavras de Darmam ressoam em Sora. Ele abaixa os olhos por um momento, tocado pelo elogio, mas também triste, pois a frase o faz lembrar de Kota, que sempre o incentivava com palavras parecidas. Apesar da saudade que ainda aperta seu coração, ele sente um pouco de coragem se renovando dentro de si....
...Darmam ergue o punho, lançando um grito que ecoa pelo campo: "AVANTE!"...
...O som dos cascos e das armaduras vibram enquanto o exército se põe em marcha, e Sora, agora montado em seu próprio cavalo, se une ao grupo, sentindo-se parte de algo maior. Por mais difícil que o caminho pareça, ele está pronto para seguir em frente....
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Atualizado até capítulo 29
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