APARÊNCIA DOS PERSONAGENS
Alexandra Sunlight ( Alex) A alma que possui o corpo de Nott.
Nott Blackthorn
Thomas Blackthorn
Diana Morrigan
No jantar, eu estava morrendo de fome. Ah, é tão bom estar viva de novo. Vou parar de reclamar deste corpo. Sério!
A grande sala de jantar estava suavemente iluminada por candelabros de ouro, em pontos estratégicos, cujas velas tremeluziam à medida que a brisa da noite sussurrava pelas frestas das janelas francesas com cortinas pesadas. As paredes ao nosso redor eram vermelhas, com padrões pretos, e havia um lustre magnífico de cristal acima de nós.
Diana estava sentada ao lado direito de Thomas. Eu me sentei à esquerda, no único lugar que tinha o outro prato. Havia uma tensão solene, um silêncio incômodo. Thomas arqueou a sobrancelha, parecendo atordoado por algum motivo ao me ver sentar ao lado dele.
Ao redor da mesa de mogno escuro e retangular, outras seis cadeiras estofadas em veludo vermelho convidavam os convidados inexistentes a se acomodarem. Só então notei que na outra cabeceira havia um prato; acho que Nott sentava ali para não comer perto deles. Agora já era.
Diana estava usando um vestido vermelho da era vitoriana, magnífico. Exalava uma aura de elegância e poder com seu tecido de cetim rubi, que refletia discretamente a luz. O corpete justo era adornado com intrincadas rendas negras ao longo do decote, contornando o colo com um toque de mistério. Seu cabelo estava solto! Meu coração estava uma bagunça.
— Você está vermelha, Nott? Aconteceu alguma coisa? — perguntou Thomas.
Meu Deus, que mulher magnífica! Como diabos esse homem olha para a criança que eu ocupei ao invés dela, que nitidamente tem sentimentos por ele?
— Só estou com um pouco de calor — respondi, tentando soar fria.
Thomas estava focado em mim, enquanto Diana me lançou um sorriso como se toda a vestimenta fosse proposital para me deixar desnorteada. Toma, linda, pegue meu pobre coração e o pise com seus saltos.
Mesmo que a visão dela me fizesse sentir estar num sonho… Que mulher linda! Se eu estivesse no meu corpo antigo... seríamos um casal lésbico de mulheres magníficas, com certeza.
Thomas a estudou então, seguindo meu olhar.
— Você está muito linda, Diana — elogiou, mas pareceu proposital para provocar alguma reação em Nott. Quer causar ciúmes... Quando essa mulher que ocupei o corpo te odeia, meu filho? Ah, cresça!
— A esposa de Satã tem bom gosto para vestidos — comentei.
Diana riu, e Thomas pareceu desnorteado por um instante.
— Pena que não posso dizer o mesmo de você, Nott — provocou ela.
— Qual a ocasião? Você geralmente não se veste assim — perguntou Thomas.
— Nada — murmurou ela por um momento. — Só vi o vestido mofando no guarda-roupa e pareceu desperdício não usá-lo.
Diana suspirou. Se ela não se veste assim geralmente... Será que foi por minha causa? Será que... Não. O mundo não gira ao seu redor, Alex. Calma aí, coração. Ela não se arrumou linda assim para nós.
As mangas bufantes caíam suavemente nos ombros lindos dela, afinando-se até os pulsos em um acabamento de renda delicada. Suas mãos eram lindas, com dedos esguios e graciosamente grandes. A saia ampla e volumosa, sustentada por camadas de anáguas, se abria em cascatas de babados que desciam até o chão, criando uma silhueta dramática e majestosa. Ao redor da cintura, uma faixa de cetim se enlaçava em um laço delicado nas costas, arrematando o conjunto com um toque de sofisticação clássica.
Não é que eu não goste de roupas femininas; eu não gosto em mim. Mas posso apreciar muito na mulher de quem gosto.
— Quero um vestido bonito e caro como o da esposa de Satã — consegui dizer, como forma de elogiar, sem perder a essência do que Nott diria.
— Certo. Eu compro um para você... — respondeu Thomas, rendido.
A mesa estava coberta por uma toalha de linho bordada, impecavelmente esticada, com bordas finas de renda. No centro, um arranjo de flores frescas — crisântemos brancos e rosas cor-de-rosa — exalava um aroma delicado, completando o cenário.
Pratos de porcelana fina, com detalhes dourados e desenhos florais, estavam cuidadosamente alinhados. Uma equipe serviu o primeiro prato: uma sopa cremosa de abóbora, espessa e dourada, com um toque de noz-moscada que preenchia o ar com seu perfume reconfortante. Ao lado, um pequeno prato de pão caseiro, ainda quente, cortado em fatias grossas e douradas.
Comecei a comer desesperadamente, mas senti um olhar pesado sobre mim.
— Você está com muita fome, não está? O suficiente para não sentir repulsa em jantar conosco? O diabo e sua amante? Implorar para o médico bonito te salvar do seu marido monstruoso... — sondou Thomas, me estudando com seus olhos azuis, maldosos.
Será que ele está irritado porque o médico era bonito e eu o chamei de "diabo"?
— Acho que é normal ter fome depois de um dia inteiro sem comer — Diana tomou a palavra, composta e convincente. — Talvez devêssemos deixá-la sem comer o dia todo, para aprender a jantar conosco sem trocar farpas...
— É isso, então? Vou ter que deixá-la sem comida o dia todo para termos um jantar pacífico todas as noites? — exigiu Thomas, com uma expressão sombria.
Terminei de engolir a sopa e beber o vinho. O estudei com um olhar firme.
— Se você ousar fazer isso… nunca mais olharei na sua cara — respondi, inabalável.
Comida é sagrada para mim.
Não vou me esfomear. Essa parte de "greve de fome" do disfarce da Nott? Eu me recuso. Olhei para Diana, que me repreendia com os olhos. Ignorei-a. Eu passei fome quando criança porque meu pai preferia comprar bebida em vez de comida. Não vou fazer isso aqui, e dane-se se ele desconfiar ou não.
O prato principal chegou: um assado de carne com uma crosta dourada e suculenta, rodeado por batatas assadas, cenouras salteadas e cebolas caramelizadas, tudo banhado em um molho espesso e aromático, de um tom marrom profundo. O cheiro invadiu o ambiente, misturando-se ao da manteiga derretida que envolvia os vegetais. Salivei e comecei a comer assim que o ajudante serviu. Deus, isso é muito bom. A carne é tão macia, desmancha na boca.
Para acompanhar, vinhos tintos e brancos foram servidos em taças de cristal, com reflexos brilhando sob a luz das velas. Em silêncio, os pratos foram retirados e substituídos por sobremesas: torta de maçã quente com crosta crocante e recheio suave, seguida por uma deliciosa mousse de chocolate decorada com chantilly e pedaços de frutas vermelhas.
— Eu amo ser rica! — deixei escapar sem pensar.
Thomas me estudou por um momento.
— Isso tudo é seu — disse ele, num tom inquieto. — Aproveite.
Cada refeição era uma celebração de sofisticação e prazer. Quase engasguei com a torta de maçã.
— Eu queria dizer que sou grata por você ter me tirado da sarjeta. Mas isso não muda o fato de que eu não gosto de você. No entanto, agradeço por sempre ter comida aqui. Isso é bom!
— Não vou te deixar passar fome! Você que se nega a comer... — Ele parecia formular a frase com dificuldade. — Bem, pode comer tudo o que quiser… desde que desça do seu aposento e venha comer comigo.
— Já que essa é a condição para não passar fome, eu aceito — respondi, dando de ombros. Agora, cheia, estou um tanto pesada, meu estômago estufado. — Boa noite, Satã e esposa de Satã — despedi-me dos dois.
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Atualizado até capítulo 36
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