—• Londres
Ethan valmont
No final da tarde, estava no meu escritório, revisando alguns contratos. Já era quase noite, e a luz que entrava pela janela começava a enfraquecer, criando um ambiente quase solene. Esse era o meu espaço, o único lugar onde eu podia ter algum controle sobre o caos ao redor. Mas, mesmo aqui, parecia que o inesperado me encontraria.
Uma batida tímida na porta.
Levantei o olhar. Era ela.
Mavis estava parada na entrada, um pouco sem jeito, o olhar se movendo do chão para mim, como se tentasse decidir se deveria ou não entrar. Pelo visto, a senhora Hamilton havia enviado minha nova funcionária diretamente para mim.
Mavis• Com licença, senhor — ela disse, um pouco hesitante. — Senhora Hamilton me pediu para trazer esses documentos.
Fiz um gesto para que ela entrasse. Mantive a postura impassível, enquanto ela se aproximava com um pouco mais de confiança, mas ainda visivelmente desconcertada.
Ethan• Obrigado, Mavis — respondi, estendendo a mão para pegar os papéis. A cada segundo que passava, sentia que a tensão entre nós aumentava, como se a presença dela naquele espaço estivesse mudando a própria energia ao redor.
Ela me entregou os documentos, mas hesitou, e percebi que seus olhos me observavam com curiosidade. Provavelmente, ela tentava entender como aquela figura distante da boate agora era seu chefe. Eu também não estava totalmente alheio a essa estranheza — a diferença entre a mulher risonha da noite anterior e a Mavis formal à minha frente era perturbadora, mas, ao mesmo tempo, intrigante.
Ethan• Parece que nos encontramos novamente, Mavis — comentei, mantendo um tom neutro.
Ela abriu um leve sorriso, tentando disfarçar o constrangimento.
Mavis• Eu… não sabia que era o senhor — respondeu, com uma sinceridade quase desarmante.
Por um momento, nossos olhares se encontraram, e eu vi aquela faísca de autenticidade que havia notado antes. Algo me dizia que trabalhar com ela não seria simples. E, estranhamente, pela primeira vez em muito tempo, isso não me incomodava tanto quanto deveria.
Ela permaneceu ali, como se estivesse reunindo coragem para dizer algo, ou talvez tentando entender a situação antes de seguir em frente. Mavis parecia tão deslocada quanto no bar, mas agora havia uma formalidade entre nós, um limite que, eu sabia, ambos sentiríamos em cada encontro.
Ethan•Sente-se, Mavis — disse, apontando para a cadeira à minha frente.
Ela hesitou por um instante, mas logo se sentou, ajeitando-se com uma certa tensão. Eu me inclinei ligeiramente para frente, curioso para ver até onde ela manteria aquela fachada formal que tentava adotar.
Ethan•Imagino que você tenha algumas perguntas sobre o trabalho… ou sobre mim — acrescentei, com um leve sorriso de canto, testando sua reação.
Ela abaixou os olhos por um segundo, claramente surpresa pela minha franqueza, mas logo os ergueu novamente, encarando-me com uma determinação inesperada.
Mavis•Vou ser sincera — ela disse, com um tom que misturava nervosismo e honestidade. — Não imaginei que… o senhor fosse… o mesmo homem que encontrei ontem. Não costumo encontrar meus chefes em… boates.
A sinceridade dela me pegou desprevenido, mas fiz questão de manter a compostura. Admirei, internamente, a coragem dela em ser direta.
Ethan• Nem sempre estou por lá — admiti, controlando meu tom para que soasse como uma confidência. — Mas devo confessar que também não esperava reencontrar você tão cedo, e principalmente aqui.
Ela riu, um riso contido, mas genuíno. E, por um segundo, foi como se aquele ambiente rígido, cheio de formalidades, se dissolvesse. Mavis tinha essa capacidade de transformar o clima, e eu me via, mais uma vez, vulnerável à naturalidade dela, como na noite anterior.
Mavis• Bem, acho que isso torna tudo… interessante, não é? — ela murmurou, com um sorriso leve.
Eu a observei por um instante, uma sensação de curiosidade que eu não conseguia reprimir. Ela era uma presença tão diferente das que eu estava acostumado a ter por perto. Sem perceber, meus olhos se demoraram um pouco mais nos dela, e o que eu vi foi um brilho que me lembrava da razão pela qual a tinha notado na primeira vez. Era uma mulher que parecia não carregar segredos — ou, pelo menos, não fingir ser alguém que não era.
Ethan• Concordo. Certamente interessante — respondi, com um tom suave, deixando que a palavra pairasse entre nós.
Ela me encarou por um momento, e algo me dizia que ela ainda estava tentando decifrar o que significava aquela conexão estranha, aquela linha tênue entre o inesperado e o familiar.
Mavis•Então… posso voltar ao trabalho? — perguntou, finalmente quebrando o silêncio.
Fiz um gesto afirmativo, observando-a levantar-se e caminhar em direção à porta. Mas antes que ela saísse, me permiti uma última observação.
Ethan• Mavis.
Ela parou, lançando-me um olhar questionador sobre o ombro.
Ethan•Seja como for… — disse, medindo minhas palavras — estou certo de que teremos dias interessantes pela frente.
Ela apenas assentiu, com um leve sorriso que sugeria que, embora estivesse incerta, talvez também estivesse curiosa. Quando a porta se fechou atrás dela, percebi que aquele trabalho não seria como os outros. E, no fundo, havia uma parte de mim que queria descobrir até onde aquela presença — tão singular e inesperada — poderia levar.
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Atualizado até capítulo 46
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