...Capítulo Cinco...
...***...
O longo retorno para suas terras já se aproximava do fim. Através da janela da carruagem, Louis observava distantes as belas paisagens de Relish desaparecendo pela estrada de terra batida, à medida que seguiam em direção ao cais, onde o navio o aguardava para zarpar de volta para sua terra natal.
Mais do que cansado fisicamente pela viagem, o jovem príncipe sentia o coração pesado, a mente perdida em pensamentos que não conseguia afastar. Revivia os bons momentos das últimas semanas na companhia da Aveline, sentindo um aperto ao imaginar a distância que em breve os separaria.
"Sinto que deixar estas terras não foi de seu agrado, filho" comentou o sábio Jacques, notando o semblante carregado do herdeiro.
Louis apenas desviou os olhos para a paisagem rodando pela janela, sem se dar ao trabalho de responder. Ambos sabiam muito bem o que de fato lhe entristecia tanto naquele momento.
"É natural sentir-se assim pela primeira pessoa que despertou seu coração. Mas saiba que a distância nem sempre significa o fim. Embora tenha tido sua primeira grande derrota hoje. Há maneiras de manter o afeto vivo mesmo quando separados."
O jovem príncipe parecia confuso.
"O que quer dizer?"
"Mas saiba que nem toda batalha é vencida com espadas. E as derrotas do coração forjam os homens mais fortes. Você ainda é jovem para entender. Mas quando amamos alguém, carregamos essa pessoa conosco para onde quer que formos."
Diante das palavras enigmáticas do pai, Louis apenas o olhou com uma expressão confusa, como quem ainda não compreendia muito bem o real significado por trás delas.
Voltou então a contemplar a paisagem que se despedia pela janela, novamente mergulhado em devaneios que tentavam ocultar a dor de um sentimento que partia distante, sem prever quando os caminhos poderiam se cruzar novamente.
Jacques observou-o com ternura, notando como a juventude ainda o impedia de enxergar além da solidão do momento presente. Mas em seu olhar experiente, conseguia vislumbrar um futuro de possibilidades que o aguardavam.
Com um sorriso calmo, permaneceu em silêncio, proporcionando apenas a companhia reconfortante de um pai que bem conhecia as agruras que marcam a transição para a idade adulta. Sabia que, mesmo sem entender agora, com o tempo as palavras adquiririam seu verdadeiro significado.
E foi assim, em comunhão silenciosa, que seguiram os minutos finais da viagem.
...***...
O coração de Aveline aos poucos se despedaçava novamente. Desde que avistara o pai atravessando a grande porta de seus aposentos, um mau pressentimento já crescia em seu peito.
Seu olhar carregava a mesma sombra daquela noite fatídica e de tantas outras, trazendo consigo apenas desgraças. Com passos largos, Isaac se aproximou da menina com uma expressão irada, diferente de qualquer outra que ela já presenciara.
"Você e sua fraqueza arruinaram tudo!" Gritou ele, agarrando os delicados braços da princesa com força desmedida. "O acordo com Prevence foi desfeito por sua culpa!"
"Peço perdão meu pai..." Suplicou Aveline em vão, enquanto Arthur tentava, nervoso, interferir.
"Não se meta, moleque!" Rosnou o rei, empurrando o filho para longe.
Aveline soluçou, sabendo o que viria a seguir. E não se enganou - um tapa certeiro explodiu em seu rosto, arrancando mais lágrimas.O violento tapa a fez perder o equilíbrio, caindo sobre os joelhos finos. Enquanto seu pai a encarava com um olhar repleto de desprezo e nojo. Em sua mente, Isaac associava a menina apenas ao fracasso de seus objetivos políticos. Raiva transbordava de seu ser ao se ver diante daquilo que a princesa representava: a ruína de seus planos.
Ao vê-la caída no chão, sentindo-se impotente diante daquela fraqueza, uma fúria nauseante cresceu em seu peito. Dando meia-volta, avançou decidido em direção a Aveline outra vez.
Foi quando Arthur, em um ato de coragem, colocou-se na frente da irmã com os braços estendidos, em uma tentativa muda de protegê-la da ira incontida do monarca. Seus olhos encaravam o pai com uma intensidade que Isaac não lhe era familiar. Havia em seu semblante um misto de coragem e ressentimento que o surpreendeu.
"Saia da minha frente!", sentindo a garganta queimar de ódio.
Arthur não se moveu um milímetro, permanecendo na posição de escudo sobre Aveline, que tremia agachada atrás de si. O rei rangeu os dentes, virando as costas em marcha furiosa.
"Pode defender essa inútil o quanto quiser, mas nada irá impedi-la de cumprir seu verdadeiro propósito. Ela casará-se com o filho mais novo do Duque de Ashton."
Arthur empalideceu. Aveline soluçou, agarrando-se à manga do irmão. Conhecia bem a crueldade do destino que o pai impunha, sendo vendida como peça de troca em um casamento político mais uma vez.
"Você não pode..." balbuciou Arthur, inconformado. "Ela é uma criança, pai! Não a use em seus jogos políticos."
"Se ela tivesse feito tudo como estava combinado, não precisaria tomar essa decisão. A única coisa que pedi foi que agradasse ao príncipe Louis" retrucou Isaac. "Mas nem isso foi capaz! O casamento deles traria grandes frutos, já que ele será o futuro rei de Provence. Aveline estragou tudo!"
"Não minta para si mesmo, pai! Sua preocupação jamais foram os súditos ou nosso bem-estar. Tudo o que importa são seus préstimos e status!"
Isaac riu com deboche diante da ousadia do filho.
"Para que servem os herdeiros senão como peças em acordos políticos? Vocês existem apenas para assegurar a linhagem real e os tratados que irão engrandecer nosso reino."
"Somos sangue do seu sangue, não suas marionetes!" rebateu o príncipe, sentindo a raiva crescer.
Mas então, uma sombra de mágoa, como que não esperada nem reconhecida por si mesmo, passou pelos olhos de Arthur. Baixando os braços em resignada proteção da irmã, o coração se partiu ao encarar a crua realidade em que viviam.
"Você virou um monstro... Tenho certeza de que, se estivesse viva, mamãe teria nojo de vê-lo agir assim."
Isaac estancou de súbito, virando-se devagar para os irmãos. Seu olhar faiscava de ódio puro.
"Sua mãe não está mais aqui para julgar meus atos" declarou ele com frieza.
Saiu enfurecido, deixando Aveline em lágrimas nos braços do irmão. Este afagou seus cabelos com tristeza, xingando interiormente a crueldade daquele que deveria protegê-la.
"Não se desespere, minha irmã. Lembra o que prometi à mamãe antes de ela partir?" dizia ele em tom bem-humorado, tentando reanimá-la.
Aveline assentiu, ainda ofegante pela emoção. Nunca esqueceria as palavras do irmão que sempre contava aquela história com orgulho.
"Prometi que sempre cuidaria de você. E que, no futuro, quando eu ascendesse ao trono, poderia ser livre para escolher seu destino."
"Mas e se o pai..."
"Shh, não pense nisso agora", interrompeu Arthur, afagando seus cabelos. "Enquanto eu viver, jamais permitirei que forcem você a nada."
O príncipe observou com carinho a irmã enxugar as lágrimas, o semblante aos poucos se tranquilizando. Ainda havia anos pela frente até que ele assumisse o poder. Apenas uma coisa importava naquele momento: Proteger Aveline, a única família que lhe restara no mundo.
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Atualizado até capítulo 51
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