Capítulo 3

...Capítulo Três...

...***...

Enquanto Louis e seu pai, Jacques, caminhavam pelos corredores iluminados do castelo após o jantar, a atmosfera ainda vibrava com o eco das risadas e conversas dos convidados. Louis não conseguia tirar a mente de Aveline, e seu coração ainda pulsava rápido com a aventura no jardim.

Jacques observou o silêncio pensativo do filho e sorriu.

“Notei que você teve um olhar especial para a princesa durante o jantar,” comentou, com um tom brincalhão.

Louis corou instantaneamente, lembrando-se dos olhos de Aveline que iluminavam seu espírito.

“Eu… eu só estava prestando atenção,” respondeu, tentando parecer indiferente.

“Isaac fez a proposta de um acordo de casamento entre vocês,” continuou Jacques, mantendo um tom leve. “O que você acha dessa ideia?”

Louis parou, surpreso, como se tivesse ouvido um absurdo.

“Jamais me casaria assim!” exclamou, indignado. “Quero me casar por amor!”

Jacques olhou para o filho com um misto de surpresa e orgulho.

“É uma posição admirável. Mas não tem medo de perder Aveline? Afinal, ela pode se casar com outro.”

Louis hesitou, a pergunta cortando-o como uma lâmina. Ele mordeu o lábio, perdido em pensamentos, antes de balançar a cabeça.

“Se for assim… tudo bem,” respondeu, a voz mais baixa. “Mas eu não forçaria ninguém a se casar comigo.”

Jacques parou e olhou nos olhos de Louis, captando a seriedade de suas palavras.

“Você tem um bom coração, meu filho. E é importante lutar pelo que se deseja.”

Os dois continuaram a caminhar em silêncio. As palavras do pai ressoavam na mente de Louis, que mal conseguiu fechar os olhos naquele restante de noite. O coração pulsava descompassado, e a ansiedade o mantinha acordado, como se estivesse à beira de algo grandioso e desconhecido. Mas, à medida que os pensamentos se aglomeravam, um novo medo começou a se formar: a possibilidade de perder Aveline. Essa ideia o envolveu como uma sombra, intensificando sua inquietude e fazendo com que o desejo de estar ao seu lado se tornasse ainda mais urgente.

...***...

O sol já banhava as altas torres de pedra do castelo de Relish quando duas figuras se preparavam para seu combate matinal no pátio interno, sob os olhares atentos dos criados e guardas reunidos.

Arthur testou o peso e equilíbrio da espada de madeira em suas mãos, avaliando o companheiro do outro lado do pátio com olhos atentos. Embora três anos mais novo, Louis mostrava habilidade nata com a arma e aprendia rápido. Será um adversário digno, pensou Arthur.

O silêncio se espalhou pela platéia ansiosa quando um dos guardas ergueu os braços, declarando em voz alta o início do combate.

Num átimo, os jovens príncipes mergulharam em uma dança mortal de golpes e contragolpes. Apesar de sua desvantagem de tamanho e experiência, Louis demonstrava surpreendente agilidade e reflexos além de seus onze anos desviando e bloqueando cada investida de Arthur com precisa antecipação.

Por alguns instantes, os espectadores prenderam a respiração diante da incerteza do confronto. Mas aos poucos a destreza do herdeiro mais velho começou a prevalecer sobre a bravura do adversário. Com um golpe fulminante, Arthur desarmou a espada das mãos ágeis de Louis, fazendo-o voar longe pelo pátio. Num único movimento, apontou então sua própria arma de treino no pescoço do jovem príncipe, enquanto aplausos atronadores enchiam o local.

"Até que você não é tão ruim", disse Arthur, oferecendo uma mão para ajudá-lo a se levantar.

"Outra vez será diferente!"

Foi então que, entre a plateia animada, os olhos de Louis encontraram um brilho dourado que conhecia bem. Lá estava Aveline, aplaudindo com um orgulho genuíno ao irmão. Sentiu o rubor subir até suas orelhas ao ser pego de surpresa por sua presença. Será que ela também vira o seu duelo? O pensamento o enchia de timidez.

"Parabéns aos dois!" ela exclamou. "Arthur, o senhor Weber chegou e aguarda em sua sala de estudos."

Arthur apenas acenou em despedida antes de se afastar, deixando Louis subitamente ciente de que estava só com Aveline. Seu corpo parecia não obedecer às ordens do cérebro, paralisado diante da graciosa presença.

Foi quando ela aproximou-se, que Louis encontrou na gentileza de seus olhos coragem para falar. A respiração se perdeu em meio aos encantos dela, que agora pareciam tão próximos quanto o mais doce dos sonhos.

"Lamento que tenha presenciado minha derrota para seu irmão" disse timidamente, encostando com cuidado o cabo da espada no chão, ainda ofegante pela batalha.

"De forma alguma", respondeu Aveline com um sorriso delicado. "É sempre agradável ver meu irmão se divertindo entre seus afazeres. Geralmente, ele se encontra tão focado em suas lições que esquece de viver".

"Seu irmão é um guerreiro formidável", elogiou Louis, secando o suor do rosto com as mãos.

"Você também é", disse Aveline, fitando-o com admiração nos olhos.

Louis sentiu um calor subir pelo pescoço ao sorrir tímido diante do elogio. Um breve silêncio desceu entre eles enquanto os olhares se cruzavam, cúmplices. Seu coração ainda martelava furioso no peito, misturando a adrenalina da luta com a emoção de ter a princesa tão próxima. Havia tantas palavras presas em sua garganta, sonhos e anseios por aqueles encantos que o deixavam sem fôlego. Mas naquele instante, tudo o que conseguiu foi sorrir como um tolo.

O clima ameno que se formava entre eles se desfez de súbito. Por entre os presentes no pátio surgirá o Rei Isaac, que se aproximava a passos duros. Aveline se virou, pronta a cumprimentar afetuosamente o pai como de costume. Mas algo estranho reluzia nos olhos do monarca naquele dia.

Antes que a jovem princesa pudesse dizer alguma palavra, Isaac ergueu a mão e desferiu-lhe um tapa fortíssimo no rosto.

"Inútil!" Gritou ele com fúria. "Só serve para me envergonhar!"

O tapa ecoou estrondoso no pátio, fazendo Aveline cambalear. Ela sentiu o gosto de cobre na boca quando seus joelhos findaram a dura pedra.

Louis prendeu a respiração, paralisado de horror. Jamais vira tal brutalidade, muito menos direcionada à doce princesa. Seus instintos gritavam para correr em seu socorro, mas o medo da fúria real o mantinha estático. Aveline tremia, mãos trêmulas sobre o rosto em chamas.

“Peço perdão por ter que fazê-lo ver isso, jovem príncipe.” sibilou Isaac em tom gélido. “Ela precisa compreender seu devido lugar. Daqui em diante ficará em seus aposentos.”

Sua dama de companhia, Marion, correu em seus amparos, envolvendo carinhosamente o corpo trêmulo da princesa. Louis finalmente reagiu ao presente, virando-se com raiva contida para onde Isaac já não estava. Voltou sua atenção para, que Aveline permanecia abraçada a Marion, o rubor da face contrastando com as lágrimas que escorriam sem fim. Alguns servos observavam com olhares indiscretos, cochichando entre si. Ela se encolheu como se quisesse sumir dali, longe daquela exposição humilhante.

Louis odiou ver que ela precisava suportar as consequências do caráter tirano do próprio pai. Aveline não merecia tal tratamento, especialmente na frente de todos.

"Não se preocupe, princesa.", disse Marion, lançando um olhar que fulminava os curiosos, mandando que desviasse os olhos da cena.

Ajudou então Aveline a se levantar com delicadeza. Antes de partir, a princesa lançou um último olhar triste em direção a Louis.

E foi por aquele olhar, que Louis não conseguiu fechar os olhos naquela segunda noite seguida. Sua mente fervilhava relembrando os acontecimentos daquela manhã. Seu peito doía de uma forma estranha ao imaginar a tristeza de Aveline. Uma angústia incômoda o consumia por dentro, sem que soubesse explicar. Tudo o que queria era vê-la sorrindo novamente.

Virou-se na cama inquieto, tentando afastar as imagens que o atormentavam. Mas quanto mais se esforçava, mais nítidas elas ficavam. Sem se conter, foi em busca de notícias sobre a princesa. Precisava saber dela.

Caminhando silenciosamente pelos corredores, ouviu o som abafado de soluços vindos de trás de uma porta entreaberta. Lá estava ela, encolhida sobre o códice branco que era seu quarto, desfazendo-se em lágrimas contra o ombro da devota Marion.

O coração de Louis se partiu. Mas ele permaneceu escondido atrás da porta, sentindo-se mais impotente do que nunca. Apenas a presença da bondosa Marion lhe trazia algum alívio, enquanto ela acariciava os cabelos de Aveline gentilmente.

“Ele me odeia, senhorita Marion... Por que papai me odeia tanto?” perguntou entre lágrimas, a tristeza de seus olhos dilacerando o príncipe.

A dama afagava os longos cabelos dourados com carinho maternal, sem saber o que responder. Limitou-se a um suspiro pesaroso.

“Não posso falar sobre Sua Majestade, criança. Mas saiba que não tolero vê-la assim” declarou em tom baixo.

“Então por que tenho que sofrer desse jeito?”

Palavras que ecoaram em Louis também. Ele também se perguntava porque ela tinha que sofrer dessa forma, sendo uma alma tão gentil e bondosa.

Jamais conhecera uma pessoa com um coração tão doce quanto o de Aveline. Ela não merecia ser tratada com tanta dureza e indiferença, especialmente pelo próprio pai. Essa crueldade era injusta e desnecessária.

“Ele me odeia porque eu tirei a mamãe dele” continuou Aveline em um fraco sussurro.

Louis encarou o chão, sentindo o aperto da familiar no peito. Ele também conhecia aquela dor, embora em circunstâncias muito mais brandas. Tinha apenas memórias difusas dos oito felizes anos ao lado da mãe. Mas a história de Aveline era muito mais cruel, marcada pelo abandono precoce e toda a carga de culpa que o pai insistia em impingir.

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