...Capítulo Dez...
...***...
Os acontecimentos daquela noite fizeram Aveline mergulhar em um mar de emoções confusas. Seus pensamentos embaralhavam-se, tentando em vão compreender os mistérios de seu destino.
Ao encarar as esmeraldas que fitavam a sua frente, encontrando um conforto que lhe era estranho àquela altura. Havia sinceridade ali, e um calor reconfortante que desejava acreditar ser a proteção tão buscada.
Ela ainda tremia quando os dedos de Louis gentilmente roçaram sua face, em um toque suave como uma carícia que amenizava as feridas da alma. De forma quase imperceptível, o rapaz começou a deslizar o polegar pela borda do véu que ocultava seu semblante.
Quando o tecido começou a se erguer, Aveline prendeu a respiração. Porém, os olhos de esmeralda de Louis jamais exibiram malícia, apenas a mais pura concentração em conduzir aquele momento com zelo. Lentamente, os dedos ágeis de Louis moveram-se até desfazer o último nó, permitindo que o fino tecido se dissolve-se entre eles. Sua visão foi mergulhando na penumbra de madeixas douradas que o rapaz agora revelava.
Com a mesma delicadeza, Louis libertou os fios que se emaranhavam no rosto de Aveline. Seus olhos pareciam querer memorizar cada traço, não para si, mas para devolvê-la a si mesma. Ele sorriu.
"Case-se comigo, Aveline."
Casar-se? A torrente de emoções quase arrastou Aveline consigo.
O peito se apertou diante da proposta inesperada, fazendo-a lembrar de outros tempos. Fora preparada desde criança para aquela vida, e agora que finalmente escapara de seu destino, um novo caminho surgia?
Sua mente fervilhou em dúvidas e incertezas. Se os últimos dias ensinaram algo, era a nunca se entregar à mercê de alguém outra vez. Incrivelmente, Louis protagonizava ambos os extremos de sua jornada até o presente momento.
Involuntariamente, Aveline contraiu os dedos com força, buscando em seu próprio corpo um sentido de proteção.
Louis percebeu o tremor que ainda assolava o corpo de Aveline. Soltou o aperto com extremo carinho, sem querer causar mais tensão.
Seu sorriso era sereno e compreensivo, sem sombra da cobiça que a princesa temia.
"Peço desculpas, fui precipitado." Riu, em tom amistoso. "Fique à vontade para refletir sobre minha oferta."
Levantou-se com calma, não querendo perturbá-la ainda mais. Foi quando notou o prato de comida intocado sobre a mesa.
“Vi que não tocou na refeição. Precisa se alimentar para recuperar as forças.” se virou “Por favor, tente comer um pouco antes de dormir. Sei que os últimos dias foram difíceis, mas cuide de si mesma.“
Aveline ainda o observou com cautela, buscando em seu semblante qualquer indício de malícia ou maldade. Antes de se retirar, lançou um olhar bondoso na direção dela.
“Boa noite, Aveline.”
...***...
O Duque de Ashton bateu com força os punhos na mesa do trono, fazendo o rei Isaac estremecer.
"Como ousa dizer que não esperava por isso, quando sua inépcia colocou minha família no ridículo diante de toda a corte?!" gritou o nobre. "Já servi sua casa por gerações, e assim me pagam?"
Isaac tentou conter a raiva do duque, compreendendo sua dignidade ferida.
"De fato, foi um grave erro de meu governo permitir tal afronta em meu reino. Já mandei meus melhores caçadores seguirem os rastros daqueles bárbaros."
"Caçadores?! Deveria ter mobilizado seu exército todo em sua busca! Agora esses malditos correm soltos pela terra, arruinando a honra da família! Isto é uma humilhação sem tamanho! Mas quem mais sofre com isso é você, Albert!"
Virou-se para o jovem, que permanecia impassível em suas vestes de noivo. Seus olhos outrora orgulhosos agora refletiam apenas vazio.
"E você, meu filho, sofrendo a pior desonra! Derrotado em duelo na frente de todos!"
Sem mais conseguir se conter, deu as costas e abandonou a sala a passos tempestuosos. Albert finalmente se manifestou com fraqueza:
"Peço perdão pelo seu descontrole, Majestade. Sabe como é o gênio de meu pai..."
Soltou uma breve risada irônica, olhando para as roupas de casamento que usava.Todo o luxo e pompa que ostentara apenas horas atrás se desmanchava em toalhas de despeito. Sentiu vontade de arrancá-las de si, mas não teve forças para tal. Limitou-se a andar vagamente, a mente emaranhada em pensamentos sombrios sobre sua jornada improvável. Tudo que sempre desejara fora orgulhar seu pai e linhagem. Agora, aos olhos da Corte inteira, virara motivo de chacotas e olhares de dó. Sentia-se menor do que nunca.
Sempre soube que seu destino seria selado em prol da ambição política de seu pai. Por isso, não depositava muitas esperanças no dia em que ele o levou à corte real para conhecer sua noiva. Quando avistou a pequena figura se aproximar, envolta em ricas sedas, imaginou tratar-se de mais uma menina mimada. Mas seus olhos revelavam uma doce melancolia, escondida sob a fachada aristocrática. Aveline fez uma breve mesura, sem erguer o rosto. Algo em sua timidez cativou Albert. Nos anos seguintes, sempre que podia, buscava Aveline nos jardins do castelo. Adorava vê-la sorrir.
Agora, depois da humilhação, tudo que lhe restava era o amargo gosto da mágoa e da saudade daquela que roubara seu coração ainda criança, sem que percebesse.
"Pareço um triste palhaço, não? Mal saí do ninho e já perdi minha honra em batalha. Meu avô deve estar se revirando no túmulo."
Isaac fitou o jovem Lorde com pesar. Sabia que grande parte da culpa também era sua por não proteger o reino adequadamente.
"Não, sou eu que deve pedir perdão!" interrompeu com remorso. " O coloquei numa situação impensável. Diga-me como posso reparar tal ofensa?"
Um fraco sorriso surgiu nos lábios de Albert.
"Apenas traga minha Aveline de volta.”
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Atualizado até capítulo 43
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