Capítulo 2

...Capítulo Dois...

...***...

Louis adentrou o grande salão como se estivesse em território desconhecido. As paredes de mármore pareciam se fechar a cada passo, cintilando sob o luar que filtrava pelos enormes vitrais, que guardavam o sorriso congelado das eras passadas. Ele se sentou à ponta da longa mesa, tentando amenizar o turbilhão que seu peito se tornara. Os talheres de prata faiscavam à luz de mil velas, aguardando sua sentença nas inexperientes mãos.

Como saborear a fartura de pratos sob seu temeroso olhar? Cada cor e aroma pareciam línguas estrangeiras prontas a traí-lo. Foi então que suas íris captaram, além da quilométrica madeira lustrada, um oásis em meio ao deserto de rostos sem nome.

Lá estava Aveline, rindo como o canto matutino de pássaros. Seu gracejo desprendia-se leve, enquanto o irmão Arthur parecia pendurá-la em cada sílaba, orgulhoso da graça que a natureza lhes dotara. Louis sentiu o gosto amargo da inveja correr-lhe a garganta, preso àquela mesa de condenados.

Então, focou-se no grupo real, onde os monarcas discutiam assuntos de estado. As mãos se animavam, denotando delicadas disputas políticas. Curioso, buscava desvendar os segredos daquela dinastia com quem trataria acordos.

Por vezes, o olhar de Aveline cruzava com o seu, puxando-o de volta como imãs. Embora cauteloso com o protocolo, sua graça o acalmava. Contudo, breves momentos depois, ela retornava à turma real, deixando-o novamente consciente de seu papel de forasteiro.

A noite seguia animada nos salões reais, mas para Louis, as horas pareciam congeladas. Preso à contemplação de Aveline do outro lado da mesa, mal provara bocado daquela fartura. Até que, subitamente, Aveline se levantou, pedindo licença de forma gentil, e Louis, impulsionado pela curiosidade, decidiu segui-la. Com o coração acelerado, ele se levantou discretamente, mirando a porta pela qual ela havia saído.

Ao atravessar o corredor iluminado, Louis perdeu-se em pensamentos sobre o que poderia dizer a Aveline. No entanto, assim que a visualizou à distância, percebeu que ela parecia estar se afastando rapidamente, até que, de repente, ela desapareceu.

Louis caminhou mais rápido, mas logo se viu parado, confuso, ao perceber que havia perdido completamente seu rastro. Foi então que, para seu espanto, sentiu um leve toque em seu ombro. Ele se virou para ver que Aveline estava atrás dele, sorrindo.

“Por que você está me seguindo?” ela perguntou.

Louis ficou paralisado, suas palavras se perderam em sua garganta. O que ele poderia dizer?

“Eu… eu só estava passeando por aí, sabe?”

Aveline riu, mas então o riso se transformou em um olhar de atenção.

“Escute!” sussurrou ela, erguendo a cabeça. Louis também ouviu – passos se aproximando do corredor.

Sem pensar duas vezes, eles se esquivaram rapidamente para detrás de uma tapeçaria pendurada na parede. O coração de Louis batia acelerado, e ele podia sentir a proximidade de Aveline ao seu lado. Estavam tão próximos que ele sentiu o cheiro leve de flores de seu cabelo.

Os passos dos guardas que faziam a ronda se afastaram, e o silêncio tomou conta do corredor. Aveline, sentindo a tensão diminuir, girou-se para Louis com um sorriso travesso no rosto. Sem pensar duas vezes, ela agarrou a mão dele, fazendo com que Louis corasse instantaneamente.

“Vamos!” disse, puxando-o para fora de detrás da tapeçaria.

Ao saírem do pátio principal, Aveline conduziu Louis até um jardim oculto, longe dos olhos curiosos dos adultos. Quando chegaram, Louis ficou sem palavras. Era um lugar mágico, repleto de flores de todas as cores e formas: rosas vermelhas brilhantes, girassóis radiantes e flores azuis que pareciam brilhar com a luz da lua.

“É lindo, não é?” Aveline perguntou, soltando a mão de Louis e girando em um pequeno espaço aberto no jardim, como se estivesse dançando com a natureza.

Louis assentiu, maravilhado.

Ao atravessarem o jardim, Louis avistou uma grande estátua de pedra no centro da clareira circular. Era um dragão esculpido com detalhes impressionantes, igual àqueles nas armas que vira no portão principal.

O menino parou fascinado, observando cada curva e escama da criatura mítica. Aveline deteve-se ao seu lado, sorrindo ao notar seu olhar deslumbrado.

"Admirado pela estátua?" perguntou.

"Sim, é incrível," Louis respondeu, os olhos brilhando. "Gostaria muito de ver um dragão de verdade."

Aveline riu suavemente.

"Também gostaria. Infelizmente, só restam lendas, não existem mais dragões."

"Como assim?" Louis franziu o cenho, confuso. "Minha mãe contava histórias sobre eles que habitavam estas terras."

"São apenas lendas do passado," Aveline explicou, acariciando a pedra fria. "O último foi morto há séculos pela Casa Asthon, que o adotou como símbolo. Assim como nosso reino usa esta imagem."

Louis pareceu desapontado. Seu sonho desde pequeno se esvaía. Mas logo seu olhar se animou novamente.

"Um dia eu mesmo matarei um dragão!" exclamou decidido.

"Que ousadia a sua, rapaz!" disse uma voz risonha atrás deles. "Porém, quem sabe não resta algum ainda por aí, escondido nas fendas das montanhas..."

Era Arthur, que se aproximou entre as flores, seus olhos passaram primeiro por Aveline e, depois, reparando em Louis.

“Você não deveria estar longe do jantar, irmã. Papai está perguntando por você,” disse ele com um tom de reprovação, mas um leve sorriso brincava em seus lábios.

“Só estávamos explorando um pouco...” Aveline tentou justificar, mas Louis percebeu que o momento mágico tinha chegado ao fim, pelo menos por enquanto.

Arthur encarou Louis com olhos curiosos, percebendo o rubor que tomou as faces do jovem estrangeiro.

"Minha irmã não costuma trazer ninguém até aqui. Este é o seu refúgio secreto entre as flores."

Aveline desviou o olhar, mordendo o lábio em tímida vergonha. Seu gesto discreto não passou despercebido ao irmão mais velho, que segurou a mão dela de modo protetor.

"O jantar se encerra. Devo levar Aveline de volta antes que nosso pai venha buscá-la. Você nos acompanha, ou pode se perder por estes corredores."

Sem esperar resposta, Arthur iniciou a marcha de volta ao castelo, puxando a irmã consigo. Louis emendou o passo atrás deles, sentindo o calor subir em seu rosto ao pensar no significado daquele convite secreto.

Meneou a cabeça para afastar tais devaneios, concentrando-se nos passos apressados que os guiavam de volta à proteção dos corredores iluminados.

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