...Capítulo Quatro...
...***...
"Você quer que Aveline venha conosco?" perguntou Jacques, curioso diante do pedido inesperado de seu filho.
Louis fez uma pausa, contemplando a ideia.
"A princesa conhece cada canto deste reino como ninguém. E eu gostaria de explorar esses lugares também."
Jacques observou-o atentamente, notando a luz nos olhos de Louis e a ansiedade que permeava suas palavras. Um sorriso divertido começou a se formar em seus lábios, revelando que ele percebia algo mais profundo naquele desejo.
"Ah, meu filho," disse Jacques, inclinando-se levemente para bagunçar afetuosamente os cabelos do garoto. "Acho que não é apenas o reino que você deseja conhecer melhor, não é mesmo?"
Louis imediatamente ficou ruborizado, o calor subindo a seu rosto, e desviou o olhar, sentindo-se um tanto envergonhado.
"Não se preocupe," disse Jacques, com um tom tranquilizador. "Falarei com o Isaac sobre um breve passeio ao vilarejo."
Louis sorriu, um misto de alívio e empolgação.
Quando a comitiva real se preparava para partir, Aveline já aguardava em frente ao Palácio, seu espírito vibrante contrastando com a gravidade do momento. Para surpresa de todos, o próprio rei Isaac a liberara para acompanhá-los na excursão, um gesto inesperado que iluminou o semblante da princesa com um brilho novo.
À medida que Louis se aproximava, porém, algo chamou sua atenção. O rosto de Aveline, geralmente radiante, exibia um leve inchaço na bochecha esquerda — uma imperfeição sutil, mas que fez seu coração se apertar. Quando seus olhares se cruzaram, Aveline desviou rapidamente o olhar, tentando esconder o ferimento sob a mão, como se quisesse ocultar uma fraqueza que a tornava ainda mais vulnerável.
Um nó se formou na garganta de Louis. Ele sabia o que havia causado aquilo. Mais do que perguntas, desejava confortá-la, mas a coragem parecia lhe faltar.
Jacques, ajudou Aveline a entrar na carruagem com gentileza. Ela lhe lançou um olhar terno de agradecimento, mas o sorriso que tentava manter era cauteloso, quase triste. Ao se acomodarem nos assentos de veludo, Louis escolheu sentar-se no oposto, a distância entre eles como um abismo que ele não sabia como atravessar. Queria perguntar sobre o que a incomodava, assegurar-lhe que tudo ficaria bem, mas as palavras pareciam insuficientes para amainar a dor que transparecia em seus olhos azuis.
A carruagem deslizou suavemente pelas estradas de pedra que conduziam para fora dos muros do castelo. No início, Aveline parecia absorta, fitando a paisagem que desfilava pela janela, um misto de melancolia e nostalgia em seu olhar. Com o passar do tempo, no entanto, Louis pôde perceber uma transformação. A natureza ao redor parecia agir como um bálsamo, trazendo de volta o frescor de sua juventude. Seus olhos se iluminavam novamente ao contemplar os campos floridos, e um sorriso genuíno começou a brotar em seu rosto.
Finalmente, chegaram ao pitoresco vilarejo, onde Aveline desabrochou como uma flor ao sol. Com entusiasmo, ela começou a relatar cada detalhe da vida local, sua voz cheia de vivacidade. Louis e Jacques a ouviam com atenção, cativados pela paixão que emanava dela. Camponeses e artesãos, ao avistá-la, interrompiam suas atividades, saudando calorosamente a princesa. Aveline retribuía com sorrisos gentis, sua presença irradiando uma alegria contagiante.
“Vejo que seu povo a adora, princesa. Você é uma digna representante de Relish”, elogiou Jacques, admirado. Aveline corou ligeiramente, um brilho de honra nos olhos.
A atenção do monarca foi momentaneamente desviada para uma charmosa banca de vinhos, onde aromas encantadores de uvas frescas pairavam no ar, convidativos e sedutores.
"Com licença, jovens, mas preciso conferir esses produtos!" exclamou o rei Jacques, com um sorriso alegre, antes de se dirigir ao estabelecimento.
Sozinhos novamente, Louis e Aveline retomaram a caminhada. O jovem príncipe ouviu atentamente cada palavra da princesa, fascinado por seu conhecimento e claro talento para liderar. A cada história sobre seu reino, Aveline revelava não apenas os detalhes do cotidiano, mas também a paixão que a movia.
"Parece que você ama muito seu povo," comentou Louis, sua timidez se dissipando aos poucos.
"São minha família. É tudo o que realmente importa," respondeu Aveline, seu sorriso singelo iluminando o rosto. A sinceridade de suas palavras fez o coração de Louis se aquecer, como se ele finalmente compreendesse a fonte da bondade que emanava daquela alma.
Enquanto passeavam pelas ruas do povoado, Louis notou a expressão preocupada que se instalava em seu próprio rosto. Aveline, percebendo seu olhar distante, parou de súbito e se virou para ele, uma sombra de receio cruzando seu semblante.
"Peço perdão pelo que presenciou ontem. Nada daquilo deveria ter acontecido," disse ela, a voz trêmula, evitando seu olhar por vergonha do ocorrido.
O príncipe sentiu uma onda de compaixão por seu sofrimento. Queria assegurar-lhe que nenhuma culpa era dela, e que sempre estaria disposto a oferecer um ombro amigo. Mas as palavras pareciam escapar de sua mente, perdidas em meio ao turbilhão de sentimentos. Seu olhar foi atraído por uma movimentada banca adiante.
"O que será aquilo?" apontou, curioso.
Aveline se virou e encontrou a banca, repleta de objetos coloridos. Havia bonecos, flores de feltro e até um globo terrestre em miniatura.
"Ah, é onde a Sra. Mary vende seus artesanatos" explicou a princesa.
De repente, os olhos de Louis se arregalaram. Apontou para um boneco particularmente esquisito, com pernas tortas e um sorriso assustador.
"Que boneco mais estranho! Parece Pierre, conselheiro do meu pai."
Sem resistir, Aveline soltou uma gargalhada cristalina.
"Não faz mal em rir dele” disse Louis, encantado por ter trazido o sorriso dela de volta.
A princesa tentou se recompor, mas outros risos escapavam.
"Desculpe, mas você tem razão. É mesmo um boneco... incomum."
O coração de Louis se encheu de alegria. Ver o rosto de Aveline iluminado, valeu mais do que qualquer preocupação. Ele daria tudo para mantê-la sorrindo daquele jeito.
Do outro lado da rua adocejada, Jacques observava a animada cena com olhos cheios de ternura.
"Que beleza ver a florescência de um amor de infância", comentou ele com Pierre, que permanecia em silêncio ao seu lado.
Mas Pierre mantinha o semblante sério de sempre.
"Devemos guiá-los às responsabilidades, não a passeios inúteis", respondeu.
Jacques apenas sorriu.
"Deixe-os desfrutar de um pouco mais de inocência, meu amigo. Esse tipo de alegria é raro na nossa idade."
Ele voltou a admirar Louis e Aveline, que agora corriam entre as barracas em uma animada perseguição. Os risos cristalinos da princesa flutuavam pelo ar, enquanto o príncipe a seguia de perto, com um brilho de admiração nos olhos.
"É um prazer ver seus corações florescerem", comentou Jacques, enquanto uma brisa suave agitava seus cabelos grisalhos.
Pierre pigarreou, impaciente.
"O futuro rei de Provence não deve se portar como uma criança irresponsável."
"Deixe-o ser criança por enquanto, meu caro amigo", rebateu Jacques. "Logo chegará a hora de assumir deveres, mas a inocência da infância é um tesouro que não volta."
Ele continuou observando com carinho Louis correr atrás de Aveline, os olhos brilhantes e as bochechas coradas, mas o coração transbordando de alegria. Sem dúvida, o jovem príncipe já desbravava seus primeiros sentimentos - assim como as responsabilidades também bateriam em sua porta mais cedo do que ele imagina.
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Atualizado até capítulo 51
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