Os primeiros raios de sol filtravam-se pelas árvores enquanto Hakim observava o corpo da Onça Negra sendo preparado para o ritual de honra. A vitória sobre a criatura lendária havia trazido um sentimento de conquista, mas também de introspecção. Ele sentia que a floresta, que até então parecia ser apenas um cenário para suas aventuras, agora pulsava com vida e histórias que ele precisava ouvir.
Os guerreiros do clã Nairóbi se reuniram ao redor da fogueira, a fumaça se erguendo como orações para os espíritos. Hakim sentou-se em um tronco, observando enquanto os outros preparavam a carne da onça para o banquete que celebraria a vitória. O aroma do tempero se misturava ao cheiro da madeira que queimava, criando um ambiente quase sagrado.
Duncan, ainda com um curativo improvisado no braço onde a onça o ferira, aproximou-se de Hakim, sua expressão refletindo tanto dor quanto orgulho.
— Você fez o que precisava ser feito, Hakim. Ninguém poderia ter se movido com tanta coragem — elogiou Duncan, sentando-se ao lado dele.
— Não se trata apenas de coragem. Havia algo na Onça Negra... ela não era apenas uma besta. Havia uma força, uma sabedoria em seus olhos. Eu não matei apenas uma fera; eu tirei uma parte da floresta de nós — Hakim respondeu, sua voz carregada de sentimentos conflitantes.
Duncan assentiu, compreendendo a profundidade das palavras de Hakim. Era um sentimento que os guerreiros do clã muitas vezes ignoravam em busca de honra e poder, mas a conexão com a natureza era vital.
— Nós precisamos aprender com isso — continuou Hakim, olhando para a fogueira. — Cada criatura tem um papel. O que estamos fazendo aqui não é apenas sobreviver, mas também proteger a sabedoria da floresta.
Enquanto os outros guerreiros se preparavam para o ritual, Hakim sentiu um chamado interno, como se a floresta estivesse tentando lhe contar algo. A imagem da Onça Negra ainda queimava em sua mente, e ele começou a se lembrar de histórias que sua avó lhe contava sobre o espírito da floresta e os ensinamentos que as criaturas podiam oferecer.
Em um impulso, Hakim levantou-se e foi em direção à borda da clareira, afastando-se do calor da fogueira. Ele precisava estar sozinho, em um espaço onde pudesse refletir. O som dos pássaros e o sussurro das folhas criavam uma melodia que acalmava seu coração.
Enquanto caminhava, ele encontrou um pequeno córrego, as águas cristalinas refletindo a luz do sol. Ele se agachou, observando as pequenas pedras no fundo e a vida que nadava. Naquele momento, a imagem de sua avó surgiu em sua mente, sua voz suave como um lembrete:
— A floresta é uma mãe que nos ensina. Aprenda a ouvir seus ecos e encontrará a sabedoria.
A lembrança tocou Hakim profundamente. Ele fechou os olhos, tentando se conectar com os ecos da floresta. Uma leve brisa passou, e, por um breve instante, ele sentiu que a Onça Negra estava ali, ao seu lado, como um guardião. Seus olhos se abriram, e ele viu uma sombra passar rapidamente entre as árvores.
Decidido a seguir, Hakim levantou-se e caminhou em direção à sombra, cada passo ecoando na quietude da floresta. Ele sentiu seu coração acelerar, não por medo, mas por uma crescente curiosidade. O que ou quem ele encontraria ali? A floresta estava cheia de mistérios, e ele estava pronto para desvendá-los.
Após alguns minutos, ele chegou a uma clareira oculta, onde uma árvore majestosa se erguia, suas raízes expostas e torcidas como serpentes. Ao redor dela, flores coloridas cresciam em profusão, e o ar era perfumado com seu aroma doce. No tronco da árvore, uma série de marcas intrigantes contava uma história esquecida.
Hakim se aproximou, tocando a superfície da árvore. As marcas eram antigas, e ele podia sentir a energia pulsante delas. Era como se a árvore estivesse viva, contando os segredos que guardava por séculos. Ele se lembrou das histórias que sua avó contava sobre a importância das árvores como guardiãs do conhecimento da floresta.
— O que você quer me dizer? — Hakim murmurou, esperando uma resposta.
Ao dizer isso, uma sensação de calor percorreu seu corpo, e ele fechou os olhos novamente, tentando sentir mais profundamente. Imagens começaram a surgir em sua mente: guerreiros antigos, dançando ao redor de fogueiras, criaturas da floresta se unindo em harmonia. Ele percebeu que aquelas marcas na árvore eram um registro da história de seu povo, suas lutas e triunfos.
No momento em que Hakim começou a compreender a profundidade da conexão entre seu clã e a floresta, ele ouviu um sussurro. Era uma voz suave, quase como o vento passando pelas folhas, e ele se virou rapidamente. Um ancião, vestindo peles e adornos de penas, estava de pé ali, sua presença serena e poderosa.
— Você chegou a tempo, jovem Hakim. A floresta o chamou — disse o ancião, seus olhos brilhando com a sabedoria dos séculos.
— Quem é você? — perguntou Hakim, admirado.
— Sou um guardião, um dos muitos que protegem o conhecimento e a essência da floresta. Você buscou compreender, e isso é um sinal de que seu coração está aberto. A Onça Negra não era um inimigo, mas um mensageiro. A sua luta foi apenas um eco de algo maior — explicou o ancião.
As palavras do guardião reverberaram dentro de Hakim, e ele começou a entender que a caçada não era apenas uma missão, mas uma jornada de autodescoberta e conexão com o mundo ao seu redor. Ele estava prestes a aprender algo que mudaria não apenas a sua vida, mas a de seu clã.
— O que devo fazer? — perguntou Hakim, sentindo-se pronto para aceitar o desafio.
— Ouça os ecos da floresta e aprenda com eles. Há uma crise se aproximando, e a sabedoria de seus ancestrais será a chave para a sobrevivência do seu povo. Venha, eu vou guiá-lo — respondeu o ancião, estendendo a mão.
Hakim hesitou por um momento, mas a determinação tomou conta de seu ser. Ele sabia que essa era a oportunidade que esperava. Com um último olhar para a clareira e para a Onça Negra que agora descansava em paz, ele se juntou ao guardião. Estava pronto para descobrir os mistérios da floresta e o papel que seu clã teria que desempenhar em um futuro incerto.
Assim, Hakim seguiu o ancião, não apenas como um guerreiro, mas como um aprendiz, prestes a mergulhar nas profundezas da sabedoria ancestral que a floresta tinha a oferecer.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 63
Comments