Capítulo 5

—Bem, vamos começar — disse o homem, levantando-se com uma calma calculada.

Havia tirado o casaco preto e as mangas estavam dobradas até os cotovelos, revelando uma pele morena percorrida por veias salientes e várias tatuagens nos braços. Avançou com passos firmes até à secretária e apoiou-se nela, colocando os braços poderosos na borda. Seus olhos, frios e penetrantes, fixaram-se em Alonzo, que, apesar do seu melhor esforço para manter a calma, sentia o impulso crescente de sair correndo.

—Alonzo, qual é o seu verdadeiro nome? — perguntou com uma voz que não admitia dúvidas.

—Não tenho outro nome — respondeu Alonzo sem hesitar —. Sou Alonzo Santini.

O homem franziu a testa, apertando as mãos contra a secretária, o rosto visivelmente irritado.

—Você quer morrer? — rosnou, pegando na arma em cima da mesa e engatilhando-a com um movimento que ecoou pela sala. O cano da arma apontou para a testa de Alonzo, que lutou para conter o pânico que lhe subia pela garganta.

—Não, por favor! — implorou Alonzo, tentando mover-se, mas as amarras nos pulsos e tornozelos impediram-no. Os seus esforços foram inúteis —. Estão a cometer um erro. Eu não pertenço à Interpol, nem a nenhuma organização. Sou apenas uma pessoa comum, trabalho numa imobiliária.

O homem estreitou os olhos, avaliando cada palavra de Alonzo. A palidez do seu rosto e os lábios quase sem cor revelavam o seu medo. Os seus olhos vermelhos tentavam conter as lágrimas e, embora a testa do homem tivesse relaxado ligeiramente, a tensão na sala continuava palpável.

—Sabe quem eu sou? — perguntou com voz grave.

—Só sei que é o senhor Vega — respondeu Alonzo —. O senhor ia comprar a mansão.

Vega assentiu lentamente, lançando um olhar fugaz aos homens que estavam atrás de Alonzo. Sem dizer uma palavra, um deles saiu da sala, fechando a porta com um clique suave.

—Diga-me, Alonzo — disse Vega, inclinando-se para ele, a sua voz quase num sussurro —, você realmente não sabe nada sobre mim?

O perfume do homem era tão forte que fez Alonzo sentir náuseas. Tentou engolir o sabor amargo que começava a formar-se na sua boca, mas os seus esforços foram em vão.

—Não, não sei de nada... — tentou dizer, mas o aroma intenso dominou-o. O sabor amargo e a vontade de vomitar tornaram-se impossíveis de controlar. Fechou a boca, tentando desesperadamente não vomitar, mas o mal-estar aumentou rapidamente. Virou a cabeça mesmo a tempo de não vomitar em Vega.

—Raios! — exclamou Vega, dando um passo para trás, com uma expressão de repulsa. Afastou-se da secretária, olhando para Alonzo com nojo.

Alonzo observou-o com consternação depois de ter vomitado —. Sinto muito, senhor Vega, não foi minha intenção. O seu perfume é muito forte.

—Está a dizer que lhe estou a causar nojo? — Vega franziu a testa e Alonzo abanou rapidamente a cabeça, temendo piorar ainda mais a situação.

—Não, não... Só estou um pouco enjoado. Tenho estado muito sensível a cheiros ultimamente — tentou justificar-se, com a voz trémula.

—Cale-se — interrompeu Vega friamente, pousando a pistola na secretária —. Não estou interessado em ouvir os seus problemas de saúde.

Nesse momento, a porta abriu-se e um dos homens entrou com um iPad na mão. Entregou-o a Vega.

—Isto está correto? — perguntou Vega sem o olhar, enquanto verificava o ecrã.

—Verificámos duas vezes — respondeu o homem —. Até o nosso informador corroborou a informação.

Vega assentiu, lançando um breve olhar a Alonzo. Este sentiu os músculos do seu corpo a ficarem tensos de imediato, temendo o pior.

—No entanto... — o homem inclinou-se e sussurrou-lhe algo ao ouvido. Alonzo não conseguiu ouvir nada, mas a sensação de perigo intensificou-se. Os pelos da sua pele arrepiaram-se com a expectativa do que quer que lhe estivessem a dizer.

—Entendido. Faça os preparativos, encontramos-nos dentro de alguns minutos — ordenou Vega, que assentiu antes que o homem saísse da sala.

Vega levantou-se novamente, dirigindo um olhar penetrante para Alonzo. O seu rosto ainda mostrava vestígios de vómito, algo que Vega achava repulsivo. Não conseguia acreditar que este mesmo homem, que agora parecia tão vulnerável, era o mesmo que, naquela noite, gemia de prazer na escuridão.

Ainda se lembrava da sua voz a implorar por mais. Os seus gemidos, o movimento do seu corpo enquanto se inclinava, montado no seu colo, impulsionando as ancas para aprofundar as investidas. Desde então, não tinha parado de pensar nele, na maneira como o seu corpo se movia para cima e para baixo e como aquela noite tinha ficado gravada na sua memória. No entanto, agora a suspeita de que tudo tinha sido uma armadilha, possivelmente orquestrada pela Interpol ou por algum inimigo, atormentava-o.

—Vai ficar aqui — disse Vega em tom firme —. Não vai a lado nenhum até que tenhamos esclarecido todas as dúvidas sobre si.

Alonzo assentiu, sentindo uma mistura de alívio e medo. Por um lado, estava grato por não ter sido morto naquele momento. Mas, por outro lado, continuava a ser um prisioneiro e duvidava que alguém se incomodasse em resgatar alguém tão insignificante como ele.

Vega aproximou-se e desatou as cordas que mantinham os pés e as mãos de Alonzo amarrados. Ajudou-o a levantar-se, mas depois de tanto tempo imobilizado, as suas pernas não responderam. O seu corpo cambaleou e ele esteve prestes a cair sobre o seu próprio vómito, mas Vega segurou-o firmemente pela cintura.

—Tenha mais cuidado — disse ele, num tom que mal escondia a sua impaciência.

Alonzo assentiu fracamente e, ainda nervoso, começou a andar com dificuldade. Os dois saíram da sala, deparando-se com um longo corredor húmido e sem janelas. Vega olhou para um dos seus homens, que estava parado junto à porta.

—Limpem esta porcaria — ordenou friamente.

Alonzo foi conduzido pelo corredor e depois subiu umas escadas de metal cujo eco ressoava por toda a estrutura, como um lembrete constante de que não havia fuga possível. Ao chegar ao topo, Vega introduziu uma chave no painel de segurança e a porta abriu-se com um clique suave.

O contraste era avassalador. Tinham passado de uma cave lúgubre para uma mansão impressionante, inundada de luz natural, com janelas enormes e uma vista noturna espetacular. Alonzo ficou maravilhado com a arquitetura do local, sem conseguir evitar pensar em quantos dos seus clientes teriam lutado por uma propriedade como aquela.

—O que está a olhar? — a voz fria de Vega trouxe-o de volta à realidade. Lembrou-se com um sobressalto que não estava ali para vender a casa, mas sim como um sequestrado.

—Nada — respondeu rapidamente, tentando não parecer muito impressionado.

Vega estreitou os olhos, notando o desconforto de Alonzo, e empurrou-o com força pelas costas.

—Nem pense em fugir — avisou —. Todas as janelas estão lacradas e o vidro é à prova de bala. Não tem saída, Alonzo.

Alonzo engoliu em seco, sentindo o medo a gelar-lhe o sangue. Deu mais alguns passos, mas logo uma tontura o invadiu. A visão começou a ficar turva, as suas pernas cederam e, antes que pudesse evitar, ele desmaiou, caindo pela segunda vez naquela noite.

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