Clara mergulhou em seu trabalho, a tinta escorrendo em um ritmo frenético. As cores dançavam em sua tela, criando uma sinfonia de sentimentos que ressoava profundamente em seu coração. Cada traço era uma conversa silenciosa com Vitor, uma maneira de mantê-lo vivo. Mas, conforme o dia avançava, uma nuvem de escuridão começou a envolver sua mente, sussurrando dúvidas e medos que ela lutava para afastar.
"Vitor, eu prometi," ela murmurou para si mesma, tentando ignorar a crescente sensação de angústia. A visão do quadro tomou conta de sua mente, e ela se concentrou na ideia de espalhar amor e esperança. As lembranças dos momentos que passaram juntos inundaram seu pensamento: as risadas, as promessas e os sonhos compartilhados. Cada um deles era uma pincelada em sua vida, uma cor em sua paleta emocional.
O dia se transformou em noite, e as sombras do estúdio pareciam se alongar. Clara sentiu um aperto no peito, como se o peso da perda se tornasse insuportável. Decidiu dar uma pausa, saindo para respirar o ar fresco. O céu estava repleto de estrelas, e cada uma parecia brilhar com a lembrança de Vitor. “Ele estaria orgulhoso de mim,” pensou, tentando se convencer de que o amor poderia transcender a dor.
De repente, uma sirene soou ao longe, quebrando a tranquilidade do momento. Clara parou, seus pincéis tremendo em suas mãos. O som ecoou como um alerta, mas ela sacudiu a cabeça, tentando voltar à sua pintura. Foi então que um estrondo a fez estremecer.
A tela tremeu. Clara olhou em volta, mas tudo se desfez em um turbilhão de luz e escuridão. O impacto foi abrupto, e sua mente começou a se apagar. Ela lutou contra a inconsciência, tentando se agarrar ao fio de lucidez. Cada respiração se tornava mais difícil, e ela percebeu que estava sendo arrastada para um abismo desconhecido.
Quando finalmente despertou, estava dentro de um carro, e a realidade a atingiu como uma onda. O metal amassado a cercava, e ela estava ensanguentada. O coração disparou, e a dor invadiu seu corpo, como se cada célula estivesse gritando. Clara tentou mover-se, mas uma pressão no peito a fez gritar em agonia.
"Vitor?" sussurrou, a voz mal saindo. O silêncio ao redor era ensurdecedor, e não havia resposta. O cheiro de gasolina e metal retorcido preenchia o ar. Ela forçou os olhos a se ajustarem à penumbra, tentando entender o que havia acontecido. O pânico começou a se instalar, e a imagem de Vitor dançou em sua mente, como se ele estivesse ali, ao seu lado.
Com um esforço extenuante, Clara virou a cabeça e viu o vidro quebrado, a rua iluminada pelas luzes de emergência. "Preciso sair daqui," pensou, mas seu corpo parecia preso em um pesadelo. A dor era intensa, e a sensação de impotência a envolveu como uma corrente.
As vozes de socorristas começaram a se aproximar, mas pareciam distantes, como se ecoassem de um mundo diferente. Clara queria gritar, queria que eles a ouvissem, mas sua voz estava presa em sua garganta. "Vitor, por favor, me ajude," implorou, sentindo a lágrima escorregar pelo seu rosto.
A voz de Vitor ecoava em sua mente: "A vida é uma luta, Clara. Mas nunca perca a esperança."
As palavras, embora distantes, acenderam uma faísca dentro dela. Clara respirou fundo, reunindo todas as forças que lhe restavam. "Não vou desistir," afirmou para si mesma, as lágrimas misturando-se ao sangue em seu rosto. O som das vozes de socorristas se aproximando lhe deu um fio de esperança. Lembranças de Vitor a encorajavam, e ela se sentiu como se ele estivesse ao seu lado, segurando sua mão.
“Estou aqui!” gritou Clara, tentando usar a última reserva de energia. “Ajudem-me!” As luzes se tornaram mais brilhantes, e as silhuetas dos socorristas começaram a se formar na escuridão. Um deles se aproximou rapidamente, seus olhos cheios de preocupação.
“Calma, nós estamos aqui para ajudar,” disse ele, sua voz serena e firme. Clara sentiu um alívio momentâneo, mas a dor a fez fechar os olhos novamente.
“Vitor…” sussurrou. As lembranças dela com ele começaram a fluir mais rapidamente. Os dias de sol no parque, as noites sob as estrelas, os planos que fizeram juntos. Cada memória era um lembrete do que ela estava lutando para preservar.
Os socorristas começaram a trabalhar, as vozes se misturando em um zumbido enquanto eles realizavam suas tarefas. “Precisamos cortar o cinto de segurança,” disse um deles. Clara sentiu uma onda de pânico, como se cortar aquele laço significasse perder qualquer chance de voltar à vida que conhecia.
“Não! Esperem!” ela gritou, mas a dor era demais e a escuridão começava a ameaçar novamente. “Eu vou lutar. Por você, Vitor. Eu vou lutar,” repetiu, como um mantra.
Finalmente, o cinto foi cortado, e Clara foi retirada do carro com cuidado. A luz das lanternas iluminou seu rosto, e ela olhou para os rostos dos socorristas, que trabalhavam freneticamente. Um deles segurou sua mão e sorriu, o gesto simples trazendo um conforto inesperado.
“Você vai ficar bem, Clara. Estamos aqui,” ele disse, e pela primeira vez, ela sentiu um pouco de esperança se enraizando em seu coração. A memória de Vitor a guiava, e ela percebeu que a luta estava apenas começando.
Naquela noite, enquanto era levada para a ambulância, Clara fez uma promessa a si mesma: honrar a memória de Vitor não seria apenas sobre a arte, mas também sobre viver. Ela estava determinada a transformar sua dor em força, a lutar pela vida que ainda tinha à frente, e a nunca esquecer que o amor é mais forte que qualquer escuridão.
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Atualizado até capítulo 22
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