As semanas seguintes passaram como um borrão de momentos intensos para Marina. Ela e Alice se viam quase todos os dias, explorando juntos cada canto escondido de Paraty, rindo, conversando sobre a vida, e, aos poucos, deixando que a relação entre elas se aprofundasse. Eram encontros que pareciam leves e casuais, mas que, por baixo da superfície, traziam emoções fortes e intensas.
No entanto, Marina não conseguia afastar as dúvidas. Sua vida em São Paulo, o trabalho, os amigos, tudo parecia distante, como se existisse em uma realidade completamente diferente. Quando estava com Alice, era fácil esquecer o mundo lá fora, mas, sozinha, seus pensamentos a consumiam.
Era uma tarde ensolarada quando Marina decidiu passar um tempo sozinha. Alice, compreensiva como sempre, tinha percebido que ela precisava de espaço e sugeriu que se encontrassem mais tarde. Marina, então, pegou sua câmera e foi para uma das praias mais tranquilas da região, na tentativa de clarear a mente.
Ela caminhou pela areia, sentindo o cheiro salgado do mar e ouvindo o som das ondas quebrando suavemente. A câmera estava pendurada em seu pescoço, mas não havia tirado uma foto sequer. Estava ali apenas com seus pensamentos e suas incertezas, tentando entender o que a relação com Alice realmente significava para ela.
Sentou-se em uma rocha próxima à praia, observando o horizonte. A pergunta que mais a atormentava era simples, mas poderosa: estaria pronta para deixar sua vida planejada para trás e mergulhar no desconhecido?
— Marina? — A voz suave e familiar de Alice a tirou dos pensamentos. Ela virou-se, surpresa ao vê-la ali.
Alice estava com um sorriso no rosto, mas seus olhos denunciavam uma preocupação silenciosa. Sentou-se ao lado de Marina, o sol refletindo em seus cabelos e a brisa suave balançando as ondas na areia.
— Pensei que você estivesse aproveitando seu tempo sozinha — disse Alice, com um sorriso leve.
— Eu estava — respondeu Marina, um pouco sem jeito. — Mas acho que precisava pensar... e, por mais que eu tente, pensar sozinha nunca funciona tão bem quanto conversar com você.
Alice riu suavemente, e o som da risada trouxe um calor familiar que dissipou parte das dúvidas de Marina.
— Então, o que se passa nessa cabeça? — Alice perguntou, com um olhar atento.
Marina respirou fundo, hesitante em abrir completamente seu coração, mas, ao olhar para Alice, percebeu que não queria mais esconder seus pensamentos.
— Eu só… estou com medo. De nós, de onde isso pode levar, de deixar tudo que eu conheço. Eu sinto algo por você que nunca senti antes, mas parte de mim tem medo de que eu esteja me arriscando demais.
Alice escutou em silêncio, e quando Marina terminou, ela colocou a mão delicadamente sobre a dela, apertando-a com carinho.
— Marina, eu entendo — começou Alice, sua voz baixa e reconfortante. — Sei que é assustador. Não estou pedindo que abandone sua vida em São Paulo ou que mude tudo por minha causa. Só quero que saiba que o que temos aqui é real, mas o ritmo de tudo isso precisa ser confortável para você.
Marina olhou para ela, absorvendo cada palavra. Alice sempre fora assim, alguém que não impunha exigências, que respeitava seu espaço e sua individualidade. Mas, de certa forma, isso a fazia querer ainda mais estar perto dela.
— Eu sei que você é paciente, Alice, e agradeço por isso. Mas o que me assusta é que talvez eu esteja me apaixonando — admitiu Marina, sua voz tremendo levemente. — E não sei o que fazer com isso.
Alice sorriu, um sorriso sereno que trazia consigo uma certeza que Marina ainda não tinha.
— Se você está se apaixonando, Marina, talvez só precise deixar isso acontecer. Às vezes, o amor é algo que simplesmente nos transforma. E… eu também sinto o mesmo. — Ela fez uma pausa, o olhar intenso fixo em Marina. — Me apaixonei por você de uma forma tão natural que, mesmo sem promessas ou certezas, sei que quero tentar.
A confissão de Alice pegou Marina de surpresa, mas, ao mesmo tempo, aliviou parte de suas inseguranças. Havia uma sinceridade profunda nos olhos de Alice que a fez sentir que talvez fosse seguro se permitir sentir o mesmo.
— Talvez seja isso que eu preciso aprender — disse Marina, sentindo a tensão no peito diminuir um pouco. — Me entregar ao que está acontecendo, mesmo que não saiba o que o futuro reserva.
Alice acariciou suavemente o rosto de Marina, olhando-a com carinho.
— O futuro, Marina, é uma construção. Podemos construir juntas, se você quiser.
Marina sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, mas eram lágrimas de alívio, de aceitação. Inclinou-se lentamente, encostando a testa na de Alice, enquanto o som do mar preenchia o silêncio confortável entre elas.
— Quero tentar, Alice — sussurrou, sua voz um pouco embargada. — Não sei onde isso vai nos levar, mas sei que quero tentar com você.
Alice sorriu, e em um gesto suave, inclinou-se e uniu seus lábios aos de Marina em um beijo doce e leve. Foi um beijo que falava de promessas silenciosas, de uma entrega sincera ao sentimento que crescia entre elas.
Quando o beijo terminou, as duas ficaram abraçadas, contemplando o horizonte. E, pela primeira vez, Marina sentiu que, independentemente do que o futuro reservasse, ela havia encontrado algo precioso ali, nas areias de Paraty, algo que finalmente fazia seu coração bater mais forte.
Aquele era apenas o começo de uma jornada que prometia ser intensa e cheia de descobertas — uma jornada que ela estava pronta para embarcar ao lado de Alice.
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Atualizado até capítulo 44
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