Sentimento Sob a Superfície.

A manhã seguinte chegou com o sol tímido surgindo entre as nuvens, transformando a paisagem de Paraty em algo completamente diferente. As ruas, ainda molhadas pela chuva da noite anterior, refletiam o céu e traziam uma sensação de calmaria. Para Marina, porém, nada parecia calmo.

Ela estava sentada na varanda da pousada, sua câmera no colo, mas sem intenção de usá-la. Seus pensamentos estavam em Alice, na conversa sob a chuva, no sorriso que parecia ter uma força própria. Pela primeira vez em muito tempo, Marina sentiu algo diferente, algo que a fazia questionar suas próprias escolhas e sentimentos.

O celular vibrava ao seu lado, mas ela ignorou. O trabalho, os prazos, tudo parecia distante agora. Ela queria entender o que estava acontecendo dentro de si, algo que a inquietava desde o momento em que Alice a deixou na porta da pousada, com um simples "até logo" e um olhar que dizia muito mais.

Alice. Sua presença leve, mas intensa, parecia mexer com algo que Marina não sabia explicar. Ela estava acostumada a controlar tudo, até suas emoções, mas com Alice, era diferente. Era como se as paredes que Marina tinha erguido ao longo dos anos estivessem começando a ceder.

— Marina? — A voz de Alice quebrou o silêncio.

Marina levantou o olhar e lá estava ela, de novo. Alice, com seu sorriso caloroso e aquele jeito despreocupado que, de alguma forma, sempre a deixava à vontade. Ela estava parada na entrada da pousada, com uma pequena mochila nas costas e o cabelo ainda um pouco bagunçado pelo vento.

— Achei que poderia te encontrar aqui. — Alice disse, aproximando-se devagar. — Posso sentar?

— Claro — respondeu Marina, ajeitando-se na cadeira ao seu lado. Seu coração começou a acelerar de novo, algo que parecia ser constante sempre que Alice estava por perto.

— Você desapareceu ontem à noite — Alice comentou com um sorriso suave, enquanto se sentava. — Achei que ia me mandar uma mensagem.

— Eu... estava processando algumas coisas. — Marina admitiu, sentindo-se um pouco envergonhada por ter sumido sem dar notícias. — A noite foi… intensa.

Alice olhou para ela, com um misto de compreensão e expectativa nos olhos.

— Intensa? Como assim?

Marina respirou fundo, sabendo que aquela era a hora de ser sincera, pelo menos consigo mesma.

— Eu não sei bem como explicar, mas estar com você ontem... me fez perceber que talvez eu esteja vivendo de forma muito… segura. Sempre com tudo planejado, sem espaço para o inesperado. E você é... diferente. Você me faz querer experimentar o mundo de uma forma que eu nunca pensei em fazer antes.

Alice sorriu, mas dessa vez havia algo mais em seu olhar. Ela parecia estar absorvendo cada palavra, como se estivesse esperando por essa confissão.

— Fico feliz de ouvir isso — respondeu ela, calmamente. — Mas sabe, não acho que seja só sobre viver de forma diferente. Às vezes, é sobre com quem a gente vive essas experiências. — Ela fez uma pausa, observando Marina atentamente. — Talvez o que você esteja sentindo não seja só sobre mudar o jeito de viver. Talvez seja sobre... nós.

A última palavra pairou no ar, carregada de significado. Marina sentiu o peso dela como um impacto suave, mas profundo. Havia algo que ela vinha evitando reconhecer, algo que estava crescendo desde o primeiro momento em que seus olhares se cruzaram naquela noite chuvosa.

— Nós? — Marina repetiu, quase como se precisasse testar o som daquela palavra.

Alice não desviou o olhar, mantendo a intensidade que agora parecia ainda mais evidente. Ela se aproximou um pouco, de maneira sutil, mas significativa.

— Sim, nós. — Alice murmurou. — Eu sinto que há algo aqui, entre nós, que vai além de apenas uma amizade casual. Desde que te conheci, tem algo diferente. Eu não sou do tipo que força as coisas, mas também não gosto de ignorar o que é real.

Marina sentiu seu coração acelerar, uma mistura de medo e excitação a dominando. Era raro para ela estar tão vulnerável, mas ali, com Alice, parecia que era a única coisa a se fazer.

— Eu também sinto isso — admitiu, sua voz baixa, quase um sussurro. — Mas não sei o que fazer com isso. Eu nunca... — Ela parou, hesitante.

Alice entendeu. Não precisava de mais palavras. Lentamente, ela pegou a mão de Marina, um toque suave que fez com que todos os pensamentos caóticos em sua mente se dissipassem, deixando apenas a sensação de conexão.

— Não precisa ter pressa — Alice disse, com sua voz calma. — Não precisa saber de tudo agora. O que importa é o que você sente aqui. — Ela tocou levemente o peito de Marina, bem sobre o coração.

Marina fechou os olhos por um segundo, tentando se reconectar com o momento. Quando os abriu, viu o rosto de Alice tão próximo, tão acolhedor, que foi impossível resistir. Tudo o que ela vinha segurando, todos os medos e dúvidas, foram deixados de lado.

— Eu só sei que... quero tentar. — Marina finalmente disse, sua voz carregada de emoção.

Alice sorriu, um sorriso que era metade alívio, metade felicidade pura.

— Então, vamos tentar. — Ela disse suavemente.

E, naquele momento, sob o céu ensolarado que ainda brilhava com os resquícios da chuva, as duas se aproximaram ainda mais, deixando que o sentimento falasse por si. Não havia mais palavras necessárias, apenas o entendimento silencioso de que, de alguma forma, o que estava nascendo entre elas era real, poderoso, e merecia ser vivido.

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