04) O primeiro beijo

Mira

Eu ajeitava meu sári azul-claro com cuidado. Era uma escolha simples para o trabalho no call center, mas ainda assim gostava de manter um pouco de elegância, mesmo que a empresa não exigisse muito no quesito visual. Minha mãe sempre dizia que uma mulher deveria se vestir com dignidade, não importando a ocasião. Estava quase prendendo meu cabelo em um coque quando ouvi a batida leve na porta.

— Entre, mãe — eu disse, olhando pelo espelho.

Ela entrou com aquele sorriso contido, típico dela, mas seus olhos estavam mais expressivos do que de costume.

— Mira, veio um sacerdote para conversar com o seu pai....

Meu coração disparou. Claro que era sobre o casamento. Não podia ser outra coisa. Senti a excitação crescendo dentro de mim, mas tentei manter a calma. Não podia parecer desesperada, mesmo que estivesse louca para saber mais.

— Ele perguntou se você já está pronta para o casamento — minha mãe continuou, enquanto ajeitava uma dobra do meu sári, sem me olhar nos olhos mas com um sorriso no rosto.

Eu quase deixei a escova cair das mãos. Virei-me para ela, ansiosa.

— O que o papa disse? Ele já decidiu tudo? O que mais o sacerdote falou?

Minha mãe sorriu levemente, e algo no jeito dela me dizia que havia mais para contar.

— Seu pai apenas escutou, mas o sacerdote disse que ja tem uma família de olho em você, o sacerdote está aguardando a confirmação da outra família e claro a de seu pai. eles parecem estar muito interessados. — Ela deu de ombros, tentando parecer casual, mas eu sabia que ela também estava animada.

Meu coração saltou de felicidade. A ideia de um noivado estava se tornando mais real a cada dia. e me perguntava, seria a família de Dev? Meu casamento estava cada vez mais próximo. No entanto, antes que eu pudesse continuar a perguntar mais detalhes, notei que ela ficou um pouco mais séria.

— Sobre seu irmão...

Franzi a testa, tentando entender para onde ela queria ir com isso.

— Ravi? Ele vai se casar antes de mim? — perguntei, sentindo uma pontada de preocupação. — Pela tradição, ele deveria se casar primeiro, não é?

Minha mãe suspirou, parecendo já cansada desse assunto.

— Seu irmão... bem, você sabe como ele é complicado com as moças. Ele ainda não encontrou alguém com quem queira se comprometer, e... não tem pressa. Seu pai e eu já estamos irritados com isso. — Ela suspirou frustrada como se aquilo fosse algo sobre o qual já haviam conversado inúmeras vezes.

Eu suspirei. Claro, Ravi. Sempre exigente quando o assunto é casamento, as vezes até se esquivando. O peso da tradição sempre caía sobre os irmãos mais velhos, mas com ele as coisas pareciam diferentes. Ele não demonstrava o menor interesse em resolver essa questão, e, para ser honesta, antes de conhecer Dev eu já estava aceitando que talvez eu não casasse nunca.

Mais tarde. O trabalho no call center estava como sempre: um fluxo constante de chamadas, uma atrás da outra, mas minha cabeça estava em outro lugar. Cada vez que terminava uma ligação, eu dava uma olhada para o cubículo ao lado, onde minha amiga Priya estava.

Assim que tive um momento livre, inclinei-me para a divisória, espiando. Ela percebeu e sorriu.

— Então, Você parece animada. Alguma novidade?

Não consegui conter o sorriso que se formou instantaneamente nos meus lábios.

— Tem alguém priya... — comecei, quase suspirando.

— Um alguém? — Ela sorriu

— Ele é incrível, Priya. Tem algo na forma como ele fala, como se cada palavra fosse cuidadosamente pensada só para mim. E aquele sorriso... me derreto toda vez.

Priya riu, obviamente se divertindo com meu estado.

— Você está apaixonada, não está? — perguntou ela, provocando.

Eu corei, tentando manter a compostura.

— Talvez... — admiti, tentando não parecer tão óbvia. — Ainda estamos nos conhecendo melhor, mas eu sinto que ele é diferente. Como se fosse... algo especial, sabe?

Priya me olhou com um sorriso cúmplice.

— E qual o nome dele? Qual a casta? você sabe se seu pai vai aceitá-lo?

— Papai vai gostar dele — Meu sorriso aumentou mais ainda

— "Are" Mira — Priya pareceu um pouco preocupada

— Ele é da casta mais alta — dei uma pausa antes de revelar — É um brâmane

—" Baguan keliê" Mira, por Deus, um Brâmane? — Agora Priya pareceu mudar de ideia, pois o seu sorriso voltara para o rosto

— Ele é educado, tem instrução, papa sempre disse que essas são as qualidades que se procura em um marido

— Estou tão feliz de vê-la assim minha amiga, mas, não acha que está criando expectativas demais?

— Não sei — eu disse, mordendo o lábio para conter outro sorriso. — Mas tem algo nele que me faz acreditar que sim, que eu devo criar expectativas altas, e amanhã eu irei vê-lo. combinamos de nos encontrar no templo

— Um encontro no templo? Atchá Mira — Minha amiga sorriu — Amanhã vamos ao mercado, eu gostaria de comprar alguns tecidos

— "Tike" vamos sim, amanhã vá bem cedo em minha casa, de lá partiremos ao mercado

— Tike Mira — Priya concordou grata

Antes que pudéssemos continuar a conversa, o telefone começou a tocar, e precisei colocar os fones de ouvido de volta. Mas mesmo enquanto atendia a chamada, meus pensamentos ainda estavam em Dev, e meu coração batia um pouco mais rápido só de pensar nele.

Na manhã seguinte, eu já estava acordada bem cedo. Não consegui dormir direito, com a expectativa do encontro com Dev ocupando meus pensamentos. Ficava imaginando como seria vê-lo de novo, o que ele diria, e se eu conseguiria esconder o quanto estava empolgada. Deitada na cama, olhei para o relógio. Ainda faltava algum tempo até Priya chegar, e a ansiedade só aumentava.

Logo ouvi uma batida suave na porta e, ao abrir, vi minha amiga com seu sorriso típico.

— Já está acordada? Sabia que estaria pensando nele — provocou, entrando no meu quarto sem esperar convite.

— Nem dormi direito, Priya — confessei, rindo. — Mas vem, senta, já estou quase pronta.

Ela se acomodou na cama, enquanto eu ajeitava os últimos detalhes da minha roupa.. Eu sabia que logo ela puxaria assunto sobre Dev, e não demorou.

— Então, me conta mais sobre o assunto de ontem — Priya já estava toda curiosa.

Dei um sorriso tímido, tentando conter a empolgação.

— Acredita que o sacerdote foi falar com meu pai ontem? Parece que pode ser a família de Dev querendo um casamento.... — Parei por um momento, sentindo o coração acelerar só de pensar nisso.

Priya arregalou os olhos.

— Dev, então esse é o nome dele — Priya sorriu — Você acha mesmo que pode ser a família dele? E ele não te falou nada ainda?

— Não tenho certeza se é a família dele, mas... acho que faz sentido. O jeito como ele tem se aproximado de mim, como ele me olha... — Corei, ajustando minha roupa para esconder meu nervosismo. — Se for verdade, então tudo faz sentido.

Priya sorriu, claramente animada por mim.

—Estou tão feliz, Mira. Só espero que tudo dê certo e que seja mesmo a família dele.

— Vamos ver... ainda é cedo para dizer. — Eu sorri, tentando não me deixar levar completamente pela ideia. Mas a verdade é que estava torcendo para ser verdade.

Assim que terminei de me arrumar, nós duas pegamos nossas bolsas e saímos em direção ao mercado.

No Mercado

O mercado estava cheio como de costume, o cheiro das especiarias e a mistura de vozes preenchendo o ambiente. Fomos andando pelas barracas, procurando o que precisávamos comprar, mas a conversa ainda girava em torno de Dev.

— Então, está animada para o encontro no templo? — perguntou Priya, enquanto pegava algumas frutas.

— Sim. a cada hora, a cada minuto, a cada segundo que se passa, me deixa ainda mais nervosa — respondi, com um sorriso que não conseguia esconder.

Enquanto continuávamos a caminhar, avistei uma loja de pulseiras. Sempre gostei de passar por lá para ver as novidades, então decidi dar uma olhada rápida.

— Vou só dar uma espiada ali — falei para Priya, que assentiu, continuando a andar pelo mercado.

Eu estava distraída, olhando as pulseiras coloridas, quando me virei e esbarrei em alguém. Foi um leve choque, nada demais. Ao olhar para cima, vi um homem com expressão surpresa, mas ao mesmo tempo ele expressava pura tristeza

Por um segundo, nossas olhares se cruzaram, e senti um leve calor subir ao rosto. Eu não deixei a situação me afetar tanto. Dei um pequeno sorriso, sem muita cerimônia..

— Desculpa — Ele se desculpou ainda olhando para mim

— desculpa... — murmurei, dando um passo para trás de forma educada, tentando ser rápida, mas sem parecer afobada.

Ele apenas assentiu, parecendo um pouco confuso.

Eu queria sair dali o mais rápido possível, mas não queria parecer grosseira ou desajeitada. Tentei manter a compostura, mas tudo em mim gritava para fugir. Tentei passar por ele balançando a cabeça levemente e dei mais um sorriso discreto que saiu do nada, eu estava tentando parecer casual.

Sem olhar de volta, segui em direção na qual eu não sabia , o coração disparado. Não olhei para trás, mas senti seus olhos me acompanhando, e isso só fez minha vergonha aumentar.

Quando finalmente me juntei a Priya novamente, ela notou minha expressão.

— O que aconteceu? Você está vermelha!

Sacudi a cabeça, ainda nervosa.

— Nada... só um pequeno incidente — murmurei, sem querer dar detalhes.

Mas por dentro, eu sabia que aquela troca de olhares com aquele homem tinha sido mais intensa do que eu estava disposta a admitir. O que foi aquilo?

Mais tarde

A hora chegou! Mal consigo acreditar que finalmente vou encontrar Dev. Enquanto me arrumo, o coração bate acelerado. Escolho um sári leve, de cor creme, que realça minha pele. Coloco a pulseira nova que comprei no mercado. Ao me olhar no espelho, tento manter a calma, mas a expectativa é palpável.

Chegando ao mercado, avisto Dev de longe. Ele está com aquele sorriso que faz meu coração acelerar.

— Pronta para o nosso final de tarde? — pergunta, com uma voz suave.

— Pronta — respondo, tentando disfarçar o nervosismo.

Caminhamos juntos, rindo e compartilhando histórias. É fácil estar com Dev. Conversamos sobre tudo e nada, e quando chegamos ao templo que combinamos de ir, o mundo parece desaparecer.

Nos ajoelhamos diante de "Kamadeva" o deus do amor e logo uma paz reinou sobre nós

DEV

Enquanto estamos de joelhos orando a "kamadeva", olho para Mira. O jeito como ela sorri, como me olha… É tudo o que eu sempre quis. Eu me aproximo, e ela parece nervosa, mas também animada.

— Você está linda hoje — digo, me inclinando levemente em sua direção.

MIRA

Ele se aproxima e, sem dizer nada, coloca a mão delicadamente no meu rosto. Sinto meu coração acelerar. Não posso acreditar que isso está acontecendo e diante do deus do amor.

Ele se inclina, e nossos lábios se tocam pela primeira vez. O beijo é suave, quase tímido, mas cheio de significado. Fecho os olhos e aproveito o momento, sabendo que nunca vou esquecer isso.

Quando o beijo termina, nos olhamos, sorrindo um para o outro, e não preciso dizer nada. A tarde está perfeita, Kamadeva nos abençoou com seu amor.

Ao voltar para casa, a felicidade é difícil de conter. Assim que entro pela porta, minha mãe me observa com um olhar curioso.

— Onde você estava? — pergunta.

Eu tento disfarçar, mas o sorriso é inevitável.

— Só saí com uma amiga... nada demais.

Ela estreita os olhos, como se soubesse mais do que estou dizendo.

— Você parece muito feliz... algo aconteceu? — questiona, mas logo muda de assunto. — De qualquer forma, tenho uma novidade. Seu irmão, Ravi... ele finalmente vai se casar.

Surpresa, eu não consigo conter a emoção.

— O quê? Ravi vai casar? Achei que ele estava enrolando para sempre!

Minha mãe sorri, contente.

— Sim, parece que ele finalmente encontrou alguém. O que significa que, agora, o caminho está livre para o seu casamento também. E você terá tantos pretendentes... tantos noivos querendo você.

— Mãe, eu só quero me casar com alguém que eu realmente goste — digo, rindo, mas com um olhar sério.

Com isso, subo as escadas para o meu quarto, ainda sorrindo.

MEERA

Ouvindo os passos leves da minha filha e sua voz cantando, subo alguns degraus e espio pela porta do quarto. Vejo Mira dançando, rodopiando como se o mundo inteiro fosse dela. A felicidade é contagiante.

Faz tempo que não a vejo assim, tão alegre, tão livre. Havia algo diferente em Mira. Um brilho que me faz sentir grata e surpresa ao mesmo tempo.

— O que será que a deixou tão feliz? — murmuro para mim mesma, observando-a enquanto desço as escadas com um misto de alegria e curiosidade ou talvez, preocupação.

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