02) O segundo encontro

Dev

Não consegui dormir ao pensar na linda indiana que vi ontem na festa. Senti uma conexão imediata entre nós, e acredito que encontrei a mulher da minha vida. No entanto, percebi que sua casta é alta, enquanto a minha é baixa. Sou apenas um Dalit, o povo mais inferior de todo o Rajastão. Minha história é um pouco triste: fui abandonado e deixado nas ruas, até que um grande homem me adotou e me tornou seu filho. No entanto, como ele é um brâmane, e eu um Dalit, não tenho o direito legítimo de herdar sua casta. Por isso, desde cedo precisei lutar para ser alguém, para não depender do meu pai adotivo. Trabalho como garçom em festas, às vezes limpando ruas ou banheiros dos ricos, já que eles acreditam que essas tarefas os tornam impuros. De vez em quando, também canto e toco em festas da baixa sociedade, algo que me traz verdadeira alegria. Tenho esperança de me tornar um grande músico. Foi por isso que me inscrevi em um concurso de música que dura seis meses, em Dubai, e até hoje espero ser chamado. Tenho fé em Brahma, o criador, de que esse dia chegará.

O sol estava se pondo, e eu precisava me arrumar adequadamente para me encontrar com Mira. Nunca esquecerei seu nome. Às vezes me pergunto: será que ela realmente virá? Mas, apesar das dúvidas, não posso perder a esperança. Hoje terei a chance de conhecê-la melhor, e talvez ela a mim. Com sorte, até receberei um beijo. Peguei minha sitar, me arrumei e fui para o local do encontro. Aguardei...

Minutos se passaram e nada de Mira. Perdi as esperanças. Talvez ela já saiba que sou um Dalit e seja como os outros ricos, que nos desprezam por sermos Dalits, nos julgando impuros. Sim, tenho certeza de que ela sente repulsa por mim. Com o coração apertado, peguei meu instrumento e comecei a descer as escadas, quando...

— Dev! — alguém me chamou. Aquele perfume, aquela voz... Ao me virar, a vi. Estava tão linda com seus cabelos longos e negros soltos. Vestia algo simples, mas, mesmo assim, estava radiante. — Olá, Dev. Espero não ter demorado muito — ela disse, com o sorriso mais sincero e lindo. Eu não consegui conter o meu e sorri de volta.

— Não demorou nada, na verdade, acabei de chegar — menti, para não parecer um bobo por tê-la esperado tanto tempo.

— Se é assim, tudo bem. Mas, por que me chamou até aqui? — perguntou Mira, se aproximando mais.

— Acredito que os deuses querem dizer algo a nós dois — disse, também me aproximando. — Você acha que pode ser...

— Amor? Eu acredito que possa ser, mas ainda é cedo para afirmar. Acabamos de nos conhecer. Por que você não me conta mais sobre você? — Ela me olhou intensamente por alguns momentos. Só então percebi que estava encarando-a de forma prolongada e estranha. Tentei disfarçar. — Você deve gostar muito deste lugar, não é, Dev?

— Gosto sim, é um dos meus locais favoritos de todo o Rajastão. Sinto uma paz enorme aqui. Gostaria de caminhar comigo?

— Eu adoraria — respondeu Mira, enquanto começávamos a caminhar juntos. O perfume dela ficava no ar conforme avançávamos. Conversamos sobre várias coisas, toquei várias melodias nas quais ela cantou. Ela me contou que trabalha em um call center, provavelmente fluente em várias línguas. Tão inteligente e linda... Também falou sobre seus pais, que são rigorosos e seguem as tradições à risca. Sabia que isso seria um problema para mim, um Dalit. Eles jamais aceitariam nosso casamento, o bom é que ela não sabe sobre a minha inferioridade, e eu a julgando sem saber. Sem opções, decidi dizer que minha casta era brâmane, mesmo sendo filho adotivo.

— Então seu pai é um brâmane? — perguntou ela, com surpresa.

— Sim. Tenho poucas memórias do meu pai biológico, mas sei que ele era um brâmane antes de se separar da minha mãe, que me abandonou — menti, temendo que ela percebesse. No entanto, sua expressão mostrava apenas compaixão.

— E como você foi encontrado? Gostaria muito de saber — disse Mira, com seus olhos grandes e verdes me fitando.

— Eu estava nas ruas quando meu pai adotivo me encontrou e me levou para casa. Aconteceu que ele também era da casta brâmane. Mesmo sendo filho adotivo, sou considerado um brâmane — disse, parcialmente verdade. Realmente fui abandonado quando criança.

— Sua história é comovente. Se você é um brâmane, com certeza meus pais aceitariam nosso relacionamento. É uma das castas mais altas da nossa sociedade — disse ela, com um lindo sorriso. Sabia que eu não era o mais adequado para ela, mas o sentimento que eu tinha me dizia o contrário. Estava disposto a fazer qualquer coisa para tê-la comigo.

— O sol está quase se pondo, preciso voltar para casa — disse Mira, um pouco apreensiva.

— Quando nos veremos de novo? — perguntei.

— Me encontre no mercado, e juntos iremos ao templo no mesmo horário.

— Atchá — concordei, e quando ela começou a se afastar, a puxei pelo braço, colando nossos corpos. Ela se assustou, mas logo seu olhar mudou para algo mais sedutor. Não resisti. Comecei a dar leves beijos em seu rosto, sentindo suas respirações pesadas, assim como as minhas. Quando finalmente alcancei seus lábios, ela...

— Tenho que ir — Mira se afastou bruscamente. Olhou para trás algumas vezes enquanto se distanciava, até sumir da minha vista.

— Ah, Mira... você ainda será minha. Apenas minha.

 

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