Eu estava deslocada, e apavorada. Me contaram tantas coisas ruins sobre ele ser um homem malvado, algumas de minhas coisas foram retiradas de mim, como celular e medicamentos receitados por meus médicos, retiraram os meus analgésicos... A dor em meu ventre e em minha perna recém suturada está começando a doer.
Fui levada a uma sala escura, um escritório. Ele estava lá, de costas para mim, olhando pela grande janela.
A Eleonor saiu da sala fechando a porta.
—Me chamou senhor?... —Gaguejei.
—Se aproxime. —Ordenou ainda de costas. A sua voz era grave, profunda, quase rouca, mas incrivelmente controlada. Quando ele falava, cada palavra parecia pesar no ar, ecoando com autoridade. Havia uma firmeza em seu tom que exigia atenção, como se ele soubesse exatamente o poder que sua voz carregava. Mesmo sem gritar, o som emanava de sua garganta como um trovão distante, o tipo de voz que poderia ser tanto tranquilizadora quanto assustadora, dependendo da sua intenção.
Marquei até ele com dificuldades, me aproximei de sua mesa e ele me pediu para sentar.
Ao me sentar, ele se virou lentamente, revelando sua aparência impressionante. Henry Cavill era um homem que parecia ter saído de um sonho. Alto, imponente, com ombros largos e uma postura que exalava confiança e poder. Seu rosto era forte, marcado por linhas definidas, com uma mandíbula angular e um queixo firme que acentuava sua aparência dominante. A barba, levemente por fazer, adicionava um ar de maturidade e masculinidade, dando-lhe um charme irresistível.
Os olhos, porém, eram o que mais chamava atenção. De um azul profundo, pareciam olhar direto para a alma, frios e calculistas, mas com uma profundidade misteriosa que sugeria algo mais. Seu cabelo, escuro e levemente ondulado, estava perfeitamente penteado para trás, sem um fio fora do lugar. Ele usava um terno preto sob medida, que moldava seu corpo musculoso com perfeição, cada movimento revelando o controle absoluto que ele tinha sobre si mesmo e sobre o ambiente ao redor.
A aura que emanava era quase sufocante, uma mistura de beleza e poder que me fez sentir pequena, insignificante, e ao mesmo tempo hipnotizada pela presença dele. Tudo nele parecia calculado, desde o olhar penetrante até a maneira como se movia, como se o próprio ambiente respondesse à sua vontade.
Quando começou a falar, sua voz baixa, mas severa, cortou o silêncio.
—Maya Peters, adotada...Então, garota... Me conta o que diabos aconteceu com você? — perguntou ele, sem rodeios.
Engoli em seco, sentindo as lágrimas queimarem meus olhos. Não sabia como começar, e a dureza de suas palavras não ajudava. As lembranças me atingiram em cheio.
—E-eu... não sei se consigo... — gaguejei, minhas mãos tremendo no meu colo.
Henry franziu a testa, impaciente.
—Olha, eu não tenho tempo pra baboseiras, então vai logo ao ponto. O que aconteceu que você veio parar aqui machucada? O seu irmão não me explicou porra nenhuma.— Ele se inclinou para a frente, os olhos penetrantes como lâminas.
Senti um soluço escapar antes que eu pudesse me segurar. As lágrimas começaram a cair, e eu tentei limpá-las rapidamente, envergonhada por estar chorando na frente dele. Eu não queria parecer fraca.
—Foi horrível... — sussurrei, minha voz trêmula. — Dois homens... Eles... Nos pegaram na rua, e... e fizeram coisas ruins conosco. Nós... Tentamos correr... Tentamos lutar e... —Não consegui completar, apenas continuei soluçando severamente, eu tentava a todo custo me acalmar.
Henry apertou os punhos e ficou quieto por um momento, mas seus olhos pareciam chamas.
—Dois desgraçados fizeram isso com você e ainda estão por aí? — ele disse, batendo a mão com força na mesa. — E o que diabos o Shuji tava fazendo enquanto isso acontecia? Ele devia ter te protegido!
Eu tentei explicar, a voz falhando entre os soluços.
—Culpa...minha... — minha voz quebrou, o rosto já molhado de lágrimas. — Eu não...eu não deveria ter saído a noite... Eu não deveria ter conversado com estranho eu... —Disparei em palavras de culpa, culpa minha ter me arriscado durante a noite tentando ter a minha patética vingança, é culpa minha tudo isso ter acontecido, é culpa minha.— Shuji sempre me protege...
—Sempre, é? Então como é que você acabou assim, fodida e toda costurada, hein? — a frieza nas palavras de Henry me atingiu como um soco no estômago.
Eu não sabia o que dizer. Nunca tinha falado com alguém que usasse palavras tão duras, e mesmo com tudo o que aconteceu, ainda me sentia uma criança, assustada e confusa. Chorei mais forte, incapaz de controlar minhas emoções.
—Eu... eu não sou forte... — balbuciei. — Sempre fui... sempre fui dependente do Shuji.
Henry soltou um suspiro profundo, esfregando o rosto com as mãos.
—Que merda... — murmurou ele, mas o tom parecia menos raivoso. — Tá, entendi. E como foi essa merda de adoção? Ele te pegou e resolveu que ia cuidar de você? Por que, porra?
Enxuguei os olhos e funguei.
—Fui adotada pelos Peters ainda bebê, senhor, e quando nossos pais morreram; meus pais adotivos, ele largou a escola, e então se dedicou em cuidar de mim... Sei que ele sempre cuidou de mim. — minha voz falhou. — Ele é tudo o que eu tenho.
Henry me olhou por um longo tempo. O silêncio ficou pesado, mas então ele se levantou lentamente e caminhou até a janela, olhando para fora por um momento antes de voltar a me encarar.
—Você teve uma vida de merda e o Shuji é seu único apoio. Mas olha aqui, garota, eu não sou o Shuji. E você tá na minha casa agora, então não vou pegar leve com você. Você vai seguir as minhas regras e não vai me dar trabalho, entendeu?
Assenti rapidamente, ainda chorando, mas tentando me recompor.
—Eu entendi... só quero... só quero não causar problemas.
Henry se inclinou para mim, a expressão mais séria.
—Bom. Porque, por mais que eu ache toda essa merda um lixo, você não vai encontrar piedade aqui. Se você é forte o suficiente pra ter sobrevivido a tudo isso, então é forte o suficiente pra seguir em frente enquanto eu e o seu irmão convertemos essa merda, não é isso o que você quer ? —Disse ele.
—Eu... —Fui interrompida.
—Esse caralho de situação não é culpa sua, não fica se martirizando.
Eu olhei para ele, com o coração pesado. As palavras dele, mesmo duras, pareciam de alguma forma ressoar em mim. Como se ele estivesse tentando me dizer que eu precisava ser mais forte, mesmo que não estivesse mostrando compaixão.
—E quanto ao Shuji? — perguntei, a voz ainda frágil, mas tentando me manter firme. — Ele disse que eu estaria segura com você. É verdade, não é?
Henry bufou e passou a mão pelos cabelos, impaciente, mas havia algo diferente no tom dele agora.
—Seu irmão confia em mim, e isso é o suficiente pra você estar segura. Eu não sou o monstro que todo mundo pinta, mas também não sou babá de ninguém. Vou te proteger enquanto você estiver aqui, mas você vai precisar se virar, entender as regras e manter a cabeça no lugar. Não sou o tipo que segura a mão de ninguém.
Eu queria responder, mas as palavras estavam presas na minha garganta. Ele voltou a se sentar, dessa vez me olhando diretamente nos olhos, sem desviar. A intensidade do olhar dele era quase sufocante.
—E mais uma coisa. — Continuou ele, os olhos se estreitando. — Eu vou resolver essa merda com os desgraçados que te fizeram isso. Não se preocupe com isso. Mas se você acha que ficar choramingando pelos cantos vai te ajudar, está muito enganada. Eu passei por coisas que você não conseguiria imaginar. A vida é assim. Você levanta ou se afunda.
O jeito direto e cruel com que ele falava me machucava, mas de alguma forma também parecia ser o choque que eu precisava. Não era como Shuji, que sempre tentava me proteger do mundo, como se eu fosse uma criança. Henry me encarava de frente, sem esconder a realidade.
—Eu só... eu não sei como lidar com isso. — disse, a voz quase sumindo. — Eu tenho medo... não consigo parar de pensar no que aconteceu. Ainda dói, não só por fora, mas aqui. — Apontei para o peito, sentindo as lágrimas voltarem a encher meus olhos.
Henry ficou em silêncio por um momento, observando-me, e então deu um suspiro pesado.
Henry se levantou de novo, voltando a olhar pela janela. Ele não disse mais nada por alguns segundos, e eu fiquei ali, tentando processar tudo. A situação, o homem à minha frente, e tudo o que havia acontecido.
—Vai descansar. Amanhã começamos do zero. — Ele disse, ainda sem me olhar.
Assenti em silêncio, me levantando devagar, a dor no meu ventre ainda presente, mas não tão insuportável quanto antes. Saí da sala com o coração apertado, mas, pela primeira vez em muito tempo, senti que talvez pudesse superar isso.
—Obrigada senhor... —Murmurei antes de deixar a sala sem olhar para trás.
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Atualizado até capítulo 39
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