P.o.v -Bruno
Dias depois, saí para dar uma volta com Júlia, minha namorada, e professora em uma das faculdades da cidade. Era raro termos um tempo juntos por causa do meu trabalho, então aproveitei a oportunidade. Estacionamos o carro na saída da faculdade onde ela trabalhava, e foi quando senti um olhar pesado sobre nós. Não sei explicar, mas é aquela sensação de que alguém está te observando.
Virei a cabeça e, para minha surpresa, lá estava Maria, a filha do Gustavo, encostada no carro do segurança dela, me encarando com aquele sorriso que parecia cheio de segredos. Me surpreendeu vê-la ali. Eu sabia que ela estudava, mas nunca imaginei que fosse no mesmo lugar onde Júlia trabalhava.
"Essa garota tem uma áurea estranha igual ao pai dela", pensei.
Eu sabia que Gustavo tinha seus negócios obscuros, mas Maria... sempre tive a impressão de que havia algo mais nela. Algo sombrio. Ela entrou no carro e foi embora, mas fiquei com aquilo na cabeça o resto do dia.
Mais tarde, no trabalho, entrei na sala do Breno, meu parceiro de farda, e joguei um documento sobre a mesa. Mais uma morte. Outro corpo encaminhado para o IML.
-Mais uma pessoa no IML - comentei, já cansado de ver tanto sangue.
-Pois é - respondeu Breno, com o olhar cansado. -O Gustavo ligou sobre esse caso. Ele pediu para a gente cobrir a história. Disse que pagaria bem.
Fiquei surpreso. Gustavo estava envolvido?
-Como assim? Gustavo está envolvido? - perguntei.
-Mais ou menos. Na verdade, quem fez isso foi a filha bonita dele. Acredita?
Minha surpresa cresceu. "Maria?"
-Ela fez isso com o cara? Não acredito - balbuciei, ainda tentando processar a informação.
Breno soltou uma risada meio amarga.
-Parece que a princesa não é tão dócil assim...
-Ela só tem aquele jeito fofo, mas é muito sombria - admiti, refletindo sobre as impressões que sempre tive dela.
-Sim... Ela é muito gostosa, mas eu não me arriscaria a dormir com ela. Vai que ela não gosta de alguma coisa e me faz de peneira?
-Você é frouxo, é isso que você é - brinquei, tentando quebrar o clima pesado.
-Fala isso porque não foi você que ela matou - retrucou Breno.
-Você não morreu, então para de drama. Ela nem sabe que existimos - rebati, tentando acalmar a situação.
Breno riu, mas eu sabia que ele tinha razão em ter medo. Fomos ao IML, onde nos mostraram o corpo. Ao ver o estado do cadáver, senti um frio na espinha.
"Ele deve ter feito algo muito sério com ela", pensei. O corpo estava destroçado.
-Puta merda... - murmurou Breno, observando a cena.
-O estrago foi grande - comentei.
-Não diga.
Era um trabalho brutal, sem sombra de dúvida. Enquanto observávamos aquele corpo, comecei a pensar no que estávamos nos metendo. A filha de Gustavo era bem mais cruel doque eu imaginava.
Quando os legistas saíram para o almoço, aproveitamos para pegar o corpo e levá-lo a um cemitério clandestino. Gustavo tinha pedido que sumíssemos com ele. Fizemos o serviço rápido e depois fui até a casa dele para pegar meu pagamento.
O segurança me deixou entrar, e fui levado até a sala luxuosa, onde esperei Gustavo chegar. Enquanto aguardava, ouvi passos suaves e, quando percebi, era Maria. Ela passou a mão pelo meu peito ficando por trás da poltrona onde eu tinha sentado, com uma familiaridade desconcertante.
-Nossa, uma visita... - disse ela, sorrindo.
Olhei para sua mão, mantendo a calma.
-Só vim a negócios.
Maria se aproximou, sussurrando no meu ouvido:
-Achei sua namoradinha meio sem sal...
Me mantive calmo, mas aquela garota sabia como mexer com a cabeça de qualquer um.
-De onde você a conhece? - perguntei.
Maria apertou meu pescoço com uma leve agressividade, parecendo perder a paciência. Mas, antes que ela pudesse fazer algo mais, Gustavo entrou.
-Maria! Solta - ordenou ele.
Ela passou a língua no meu rosto antes de me soltar e se afastar.
-Oi, papai. Bem-vindo - disse, com um sorriso debochado.
"Mas como é sínica essa maluca", pensei, enquanto Gustavo se aproximava e se sentava.
-Maria, vá para o seu quarto. Preciso conversar com o Bruno - disse Gustavo, sério.
Ela saiu, não sem antes me lançar um último olhar provocador. Fiquei aliviado.
-Foi mal pela demora - disse Gustavo.
-Ainda bem que você chegou. Achei que eu ia morrer - comentei, sem conseguir evitar.
Ele riu.
-A Maria é um pouco impulsiva, nada demais. Sobre o corpo... era um dos ficantes dela. Acho que ele a irritou.
-Ele estava igual a uma peneira. Ela precisa se controlar mais - comentei.
Gustavo apenas riu e perguntou quanto me devia. Recebi o pagamento e, antes de sair, ele perguntou:
-E você, tem alguma coisa com a minha filha?
-Nada. Ela é que está avançando - respondi, tentando afastar qualquer insinuação.
Gustavo sorriu.
-Conversarei com ela. Não quero problemas com nossos negócios.
-Pode deixar como está - disse, sorrindo.
Eu sabia que Maria era problema, mas estava claro que Gustavo também tinha seus limites. Saí da casa dele e subi na minha moto, indo embora, tentando não pensar no que mais aquela garota era capaz de fazer.
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Atualizado até capítulo 48
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