Capítulo 15 - Preciso de voçês

Ainda não tinha nascido o sol daquela manhã, mas Win já estava no bar, preparando o dia que se avizinhava.

Dean chegou, pouco depois, também com cara de quem não tinha dormido o suficiente.

" - Mano!" - Exclamou ao entrar - " - Sabes o quão preocupados estávamos contigo?" - correu a dar a volta ao balcão e abraçou-o. Win retribuiu o abraço e manteve-se ali durante uns momentos. Ele precisava de toda a energia necessária para enfrentar o que estaria por vir, e ninguém melhor que a sua familia, para o ajudar nisso.

" - Eu sei... Desculpem-me. A Paty está a preparar o nosso pequeno almoço na cozinha, com a ajuda da Jessi e eu já prometi que vos conto tudo enquanto comemos..." - Win falava baixo, com tristeza na voz.

Sentaram-se os quatro à mesa para comer, mas estavam todos muito mais interessados em saber o que se passara com Win, do que propriamente na comida.

" - Pronto, estamos todos aqui... Começa a falar..." - Ordenou Jessi.

" - Eu não sei bem por onde começar..." - Iniciou Win.

" - Começa por onde quiseres, mas fala de uma vez. Sabes que estamos aqui para o que for, mas tens que nos esclarecer, para que possamos ajudar-te..." - Frisou Dean.

" - Sim, Win, somos familia. Não precisas tentar encontrar as palavras certas para falar connosco, fala apenas com o coração, e nós vamos ouvir-te com os nossos, como sempre..." - Completou Paty.

Win tinha lágrimas nos olhos, mas tentava controlá-las, pois tinha tentado deixá-las para trás, junto com o mar, na noite anterior...

" - Bem, voçês sabem que eu fui mostrar a ilha brilhante a Sun, e que começou a chover, e conhecem-me e sabem que com a chuva que começou a cair eu jamais me arriscaria a voltar com a canôa, e bom... Acabei por acender a fogueira na gruta que voçês e eu tão bem conhecemos desde sempre, e onde passámos tão bons momentos na nossa juventude..."

" - Sim, Win.. Isso nós já todos sabemos..." - Apressou-o Dean a dar com as mãos, para lhe dar a entender para avançar com a história para a frente.

" - Cala-te Dean! Deixa-o falar ao seu ritmo!!" - Parou-o Jessi, a franzir o sobrolho no familiar tom que utilizava sempre com eles, quando queria ralhar-lhes por fazer asneiras...- " Continua Win".

" - Certo... Então, ficámos ali, na gruta, falámos, rimos, até que percebemos que teriamos que passar ali a noite. E eu simplesmente sentia  que o meu coração me ia saltar do peito a qualquer momento. Não consigo explicar, definir, ou sequer entender o que era, ou o porquê daquilo, mas foi assim que tudo começou. Nalgum momento, para tentar acalmar os nervos, fingi dormir, mas de repente, senti que Sun se aproximava do meu rosto. O meu corpo todo ficou rígido naquele momento, como se eu paralisasse... Não me consegui mexer durante algum tempo, quase prendendo a respiração..."

" Oh, Deus!" - Exclamou Paty tapando o rosto com as mãos por um instante...

Win continuou:

" - Senti que ele quase me tocava no rosto, passando com um dedo, contornando suavemente as linhas dele, até que não aguentei mais e perguntei-lhe, ainda de olhos fechados, se ele já me tinha memorizado bem. Não sei porque é que o disse, ou como, mas quando abri os olhos, ele parecia surpreso, os olhos abertos de susto, ele acreditava mesmo que eu estava a dormir. Então...."

"- Então?? Então o quê Win? Fala logo!" - Interrompeu Dean, ansioso.

" - Então, agarrei a mão dele e puxei-o para mim. Não me consegui conter e beijei-o... O resto voçês já podem imaginar...."

" Oh, Meu Deus!!!Oh Meu Deus!!! Voçês realmente fizeram-no??? A sério??? Oh Meu Deus!!!" - Exclamava Jessi, esfregando a cara, incrédula.

" - Sim, fizemos. Não me perguntem como é que chegámos a esse ponto... Simplesmente aconteceu..."

" - Mas, espera Win, para isso acontecer, algo tu deves sentir... Porque... Caramba!! Tu sempre foste aquela pessoa que não acreditava em nada que tivesse a ver com romance, ou atração, ou o que quer que fosse, e agora, do nada, entregas-te assim, a um quase desconhecido?" - Pergunta Paty, tentando entender a situação com mais clareza.

" - Não me perguntem. Eu sei disso tudo. Eu sei que eu nunca fui o último dos românticos, mas eu simplesmente não consgui controlar. Ele fez-me sentir coisas que nunca senti antes na vida... Fez-me pensar que, afinal, eu também tenho um coração, também sou capaz de sentir coisas que para mim não faziam sentido antes, também sou humano... No final de contas."

" - Claro que és Mano! Claro que podes sentir tudo... Um dia teria que acontecer! Mas, se é assim tão forte e intenso como dizes, porque é que voçês acabaram assim? Chegaram como se o mundo estivesse a acabar... Depois disso tudo que dizes que se passou, deveriam vir felizes e contentes, não com aquelas caras!!" - Quis saber Dean.

" - Pois, isso é mais uma coisa que eu gostaria de entender. Quando acordámos de manhã, Sun parecia outra pessoa. Disse-me para eu esquecer o que tinha acontecido e implorou-me para não contar a ninguém... Ao mesmo tempo que eu me tinha sentido a pessoa mais feliz do mundo momentos antes, naquele instante senti a maior dor que já tinha sentido no peito... Ele deu-me um mundo cheio de emoções boas, e destruiu tudo ao mesmo tempo... Mas, eu sei... Eu tenho a certeza que não fui o único que sentiu aquilo tudo... Eu sei que não fui...." - As lágrimas de Win corriam de novo.

" - Eu acho que nunca tinha visto Win chorar..." - Paty falou em direção a Jessi.

Jessi respondeu:

" - Não... Win não chora...."

Os três estavam sem chão, e estupefatos pela visão de Win, que tinham à frente , nova para eles... Tinham a certeza que, para ele, aquele sentimento era do mais real que há, e do mais puro, pois nunca o tinham visto assim.

Depois de alguns momentos, em que os quatro tinham as mãos dadas em cima da mesa, tentando passar algum alivio a Win, Dean falou de novo:

" - O que é que pretendes fazer agora?"

"- Vou fazer o que ele me disse! Não há mais nada que eu possa fazer agora. Se ele quer assim, não posso e não quero fazer nada contra a vontade dele. Por muito que me vá doer, não posso fazê-lo sentir-se desconfortável. Ele já passou por muito, não quero causar-lhe qualquer desconforto. Vou apenas levar comigo as lembranças que ele me deixou, e sentir-me grato, por poder dizer que não vivi esta vida, sem amar alguém..."

" - Oh... meu amigo..." - Jessi levantou-se da cadeira e abraçou Win. - " Nós vamos estar aqui contigo. Aconteça o que acontecer, podes contar connosco... Vamos ajudar-te a aliviar essa dor... Nós amamos-te muito...." - E chorou também...

" Eu também vos amo..."

Todos tinham lágrimas nos olhos, mas uma certeza! Agora era a vez deles de ampararem a dor de Win, como tantas vezes ele tinha feito por eles...

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