No Silêncio De Nós

No Silêncio De Nós

Capítulo 1

Elina

A casa estava fria e silenciosa. O som dos talheres caindo lentamente sobre os pratos era o único ruído que quebrava a quietude da grande mesa de jantar. As paredes, com suas tonalidades neutras e decoração impessoal, refletiam a atmosfera gelada que permeia a minha vida. Sentada diante de um prato de comida fria, sentia-me como uma peça em um cenário meticulosamente planejado, sem propósito.

Heitor entrou na sala com a cabeça baixa, absorto no celular. Vestia um terno escuro, alinhado e impecável. Seu olhar fixo na tela mostrava a indiferença que sentia por mim.

— Como foi seu dia? — ele perguntou, sua voz carregada de desinteresse.

— Como sempre — respondi, tentando manter a calma. — Nada de novo.

Ele ergueu os olhos por um breve momento, sem realmente me olhar. — Eu tenho um encontro agora. A gente se vê mais tarde.

A ausência dele deixava um espaço pesado no ar. Com a mesa agora deserta e o eco das suas últimas palavras ainda ressoando, comecei a limpar os pratos. Cada movimento era um ritual de rotina, um ciclo interminável que não oferecia satisfação. A sensação de estagnação era constante. As manhãs eram repletas de tarefas domésticas e compras, enquanto as tardes se arrastavam, sem eventos significativos. O tempo parecia interminável.

Depois que Heitor saiu, decidi dar um passeio para espairecer. A cidade começava a se iluminar com as luzes da noite, e o frio do ar externo era um contraste bem-vindo com a frieza de casa. Caminhei pelas ruas, observando a agitação ao meu redor, tentando encontrar algum alívio para o vazio que sentia.

O brilho da cidade estava em um ritmo totalmente diferente do meu. As vitrines das lojas, com suas decorações festivas, contrastavam com minha vida insípida. Cada passo que eu dava era um lembrete da diferença entre o mundo ao meu redor e a minha existência.

Entrei em um café local. A atmosfera era acolhedora, com sofás macios e luzes suaves criando uma sensação de conforto. O aroma do café fresco preenchia o ambiente, oferecendo uma pausa do frio da noite. Sentei-me em uma mesa no canto, longe do burburinho, e pedi um cappuccino. A barista, uma jovem com um sorriso simpático, me trouxe a bebida.

Enquanto observava a espuma do cappuccino se formando, me perdi em pensamentos sobre a minha vida. Cada gole tentava encontrar algum conforto na simplicidade do momento. No entanto, a solidão parecia se refletir em cada detalhe ao meu redor. Cada dia era um reflexo do anterior, e o café, por mais reconfortante que fosse, não preenchia a sensação de desolação que eu carregava.

Os clientes ao meu redor conversavam animadamente, enquanto eu permanecia em meu canto, isolada de forma quase intencional. A sensação de não pertencer a lugar algum se intensificava a cada olhar furtivo que dirigia aos outros, que pareciam viver vidas cheias de significado e conexão. A minha vida estava tão distante daquilo quanto possível.

Quando voltei para casa, a atmosfera era ainda mais opressiva. As luzes da sala estavam acesas, mas pareciam não oferecer calor, apenas uma iluminação fria que intensificava o vazio que sentia. Sentei-me na sala de estar e olhei para a TV, que estava desligada. O silêncio ao redor era esmagador, e a sensação de estar completamente sozinha era quase insuportável.

Heitor voltou para casa no meio da noite, como costumava fazer. Às vezes, ele aparecia sem aviso, em horários que não seguiam um padrão claro. Na maioria das vezes, se aproximava de mim com uma frieza calculada, como se sua presença fosse um mero detalhe a ser adicionado ao final do dia. Quando vinha, era para ter relações, muitas vezes sem qualquer tipo de comunicação ou consideração. Para mim, era um gesto vazio, um ritual sem prazer ou satisfação.

Esses momentos eram cada vez mais frequentes, e a sensação de ser usada apenas intensificava o vazio que eu sentia. O que antes era um desconforto sutil tornava-se uma presença esmagadora em minha vida. O ato, sem demonstração de afeto ou desejo, era um formalismo desprovido de qualquer conexão emocional.

A interação com Heitor se limitava a momentos como aqueles, onde ele fazia aparições breves e se afastava rapidamente para seus próprios interesses. A comunicação entre nós era mínima e, quando ocorria, geralmente era breve e superficial. Ele se deitava ao meu lado e se afastava, como se o ato fosse apenas uma formalidade a ser cumprida.

Suas atividades de negócios e encontros com amantes ocupavam a maior parte do seu tempo. As conversas que tínhamos eram repletas de termos de negócios e atualizações sobre sua vida social, enquanto minhas contribuições se limitavam a respostas automáticas e concordâncias. A rotina diária recomeçava no dia seguinte, marcada pela repetição das mesmas tarefas. A sensação de monotonia era uma sombra constante.

A casa, com sua decoração cuidadosamente escolhida e móveis dispostos de maneira impecável, parecia um reflexo de uma vida perfeita, mas na verdade era um cenário que não correspondia à realidade dos meus sentimentos internos. Cada manhã era marcada pela repetição de tarefas e a sensação de estagnação se intensificava.

Era difícil não pensar no que poderia ter sido diferente. Se eu tivesse tomado decisões diferentes no passado ou se as circunstâncias tivessem sido mais favoráveis, talvez eu não estivesse vivendo esse ciclo de monotonia. No entanto, a realidade era intransigente e imutável.

A noite passava lentamente, e eu me encontrava novamente sozinha na sala. O silêncio da casa parecia aumentar conforme a noite avançava, e a sensação de solidão se aprofundava. Olhei ao redor, tentando encontrar algum conforto na familiaridade dos objetos, mas tudo parecia distante e frio, assim como a vida que estava levando.

Deitei-me na cama, com o pensamento de um futuro sem mudanças pairando sobre mim. A sensação de estagnação era esmagadora, e eu me perguntava se haveria alguma maneira de escapar desse ciclo interminável. Cada dia parecia se arrastar sem propósito, e a esperança de encontrar algo que trouxesse significado à minha vida parecia cada vez mais distante.

Mais populares

Comments

Eloi Silva

Eloi Silva

porque ela e o brigado a viver essa vida miserável do lado de um babaca erga a cabeça mulher sai fora desse ciclo visioso tu vai entrar em deprecao quando mais passar de tempo e pior

2024-12-03

0

AndressaAutora

AndressaAutora

Sim, ninguém merece o Heitor, pode deixar que vc vai odiar ele ainda mais kkk

2024-10-09

0

Brennda Germany's

Brennda Germany's

começando a ler, e já estou triste por ela está vivendo uma vida tão, por falta de palavra melhor, miserável.

2024-10-09

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!