Elina
As semanas se arrastavam como um ciclo interminável, e a sensação de estar presa em uma rotina sufocante crescia a cada dia. A casa, que um dia foi refúgio, agora era apenas um lembrete constante da minha solidão. As conversas com Heitor eram tão frias e superficiais quanto o ambiente em que vivíamos, como se ambos tivéssemos nos tornado meros estranhos dividindo o mesmo teto. Em meio a essa monotonia, era difícil encontrar algo que me desse algum alívio ou esperança.
Foi então que, em um desses dias em que a apatia parecia dominar tudo, recebi uma mensagem inesperada. Laura, minha amiga de longa data, estava organizando uma festa para um pequeno grupo de amigos e queria que eu fosse. Por um instante, hesitei. A ideia de me afastar dessa prisão emocional, mesmo que por algumas horas, parecia surreal. Mas havia algo naquele convite que me instigava a dizer sim – talvez uma tentativa de lembrar quem eu era antes de tudo desmoronar.
Laura sempre foi essa pessoa vibrante que iluminava o ambiente, alguém que conseguia me arrancar sorrisos quando tudo parecia escuro. Aceitar o convite dela parecia uma oportunidade de respirar, de esquecer, nem que fosse por pouco tempo, da vida que eu deixei de reconhecer como minha.
Naquela tarde, quando o silêncio da casa se tornou insuportável, decidi que iria. Vasculhei meu armário e encontrei um vestido que, apesar de um pouco apertado, me lembrava de tempos mais felizes, quando eu me importava com essas ocasiões. Olhei-me no espelho, buscando um traço de entusiasmo no meu rosto. A verdade é que o reflexo que me encarava parecia distante, quase irreconhecível. Mesmo assim, o vestido servia como um pequeno lembrete de que eu ainda queria, de alguma forma, me sentir viva.
Chegando à casa de Laura, fui recebida por um caloroso abraço. A casa estava impecável, acolhedora, com poucos convidados espalhados pelas salas. Não era uma festa grandiosa, mas o suficiente para sentir que eu não estava sozinha no mundo.
— Elina! Que bom que você veio! — Laura exclamou, me abraçando com aquela energia contagiante de sempre. — Você está linda, como sempre. Espero que esta noite seja exatamente o que você precisa.
— Obrigada, Laura. Eu precisava de algo para... mudar o ritmo. — respondi, forçando um sorriso. A verdade era que, por dentro, eu ainda me sentia desconectada, mas não queria estragar a vibe da festa com minhas preocupações.
Laura, como a excelente anfitriã que sempre foi, me levou até o pequeno grupo de convidados. As conversas eram leves, os sorrisos abundantes, mas, mesmo assim, eu ainda me sentia um pouco à margem. Era estranho estar ali, cercada de pessoas, enquanto uma parte de mim ainda estava presa na casa com Heitor, no vazio que eu tentava ignorar.
Laura, sempre perceptiva, notou meu desconforto e, em um gesto de gentileza, me apresentou a um grupo que parecia mais tranquilo. — Elina, quero que conheça alguns amigos. — ela sorriu, enquanto fazia as apresentações.
Entre eles, estava James. Ele parecia diferente dos demais – mais introspectivo, com um olhar atento. Havia algo nele que transmitia calma, como se também não se encaixasse completamente ali.
— E aí, Elina? O que te trouxe até aqui hoje? — ele perguntou, com uma curiosidade genuína. A pergunta era simples, mas carregava algo que me fez querer responder honestamente.
— Preciso de algo... diferente — confessei. — A vida em casa tem sido... complicada.
James assentiu, sem forçar.
— Eu entendo. Às vezes, precisamos de algo assim. Uma pausa da rotina. E parece que esta festa veio na hora certa para você.
Ele estava certo, de certa forma. Não era a festa em si que me atraía, mas a ideia de estar fora de casa, longe dos problemas, mesmo que apenas por algumas horas. Conversar com James era diferente. Ele parecia realmente ouvir, e não estava apressado em preencher o silêncio com palavras desnecessárias.
— E você? O que faz para se distrair? — perguntei, tentando manter o tom leve.
Ele sorriu, pensativo.
— Leio, caminho, faço o que posso. Mas, às vezes, parece que estou só matando o tempo.
Eu ri, pela primeira vez em muito tempo, me permitindo relaxar um pouco.
— Sim, eu sei exatamente como é isso. Às vezes, eu também me sinto assim. Como se estivesse apenas passando pelos dias.
Conforme a noite avançava, nossa conversa continuou fluindo de forma natural. A presença de James me deu uma pausa mental que eu não sabia que precisava. Não era um diálogo profundo ou revelador, mas havia algo de honesto na maneira como ele se expressava, e isso, de alguma forma, me tranquilizou. Pela primeira vez em semanas, eu me sentia ouvida.
Quando a festa começou a se dispersar, James me ofereceu o seu número.
— Se você quiser continuar conversando ou se precisar de alguém para ouvir, me ligue. Às vezes é bom ter alguém que entende.
Aceitei com um sorriso sincero.
— Obrigada, James. Talvez eu faça isso.
Enquanto eu deixava a casa de Laura, a noite parecia um pouco menos sufocante. O convite não havia resolvido meus problemas, mas, de alguma forma, a conversa com James abriu uma pequena janela para algo diferente. Talvez fosse apenas uma noite, ou talvez, quem sabe, fosse o começo de algo que eu ainda não conseguia nomear. O importante é que, por um breve momento, eu me permiti respirar.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 43
Comments