Tentando descobrir se esta é minha esposa

Deixei-os nos quartos e voltei para a recepção rezando para que eles não saíssem dos quartos, tive que esperar até Lucinda voltar do almoço.

Assim que ela chegou, eu saí correndo, preciso me acalmar, fui para casa, me fechei no quarto e fiquei lá até sentir meu coração voltar a bater normalmente. Ouvi a minha mãe e o meu filho em casa, saí do quarto, abracei o meu filho e dei um olhar assustado para minha mãe, que falou para Lourenço:

 _ Lourenço, esqueci de comprar fermento, vai à padaria buscar para mim?  

  _ Vou, vovó, posso comprar um sonho?

 _ Pode, mas só um.

 _ Tá! bom. Pegou o dinheiro e saiu correndo, ela virou para mim e perguntou.

 _ O que foi? Está com uma cara péssima.

 _ Ele está hospedado na pensão, quase tive um ataque de pânico.   

_ Não pode ser, como?  

 _ Ele e o amigo são a dupla que estava faltando para o Rally.  

 _ O que vai fazer?  

 _ É só uma semana, vou continuar fingindo que não o conheço.  

_ Tomara que dê certo, é muita coincidência, como ele está?

_ Lindo, musculoso, meu super-homem.

 _ Lourenço parece com ele?  

 _ Sim, principalmente os olhos verdes, penso que vai ser tão alto quanto Caleb é.

  _ E você, como está?   

 _ Senti o amor fluir dentro de mim como uma mina que estava soterrada, quase perdi meu coração de tanto que ele bateu.

Lourenço voltou comendo o sonho e paramos o assunto.   

_ Mãe, vou ter que voltar para a pensão porque Lucinda vai embora e não posso largar a recepção sem ninguém, vou voltar tarde, se eu ver que não dá para voltar, durmo lá no quartinho mesmo.  

  _ Tudo bem, filha, se cuida e tenta manter a calma.

  _ Vou fazer o possível, que Deus me ajude. Dei um beijo em minha mãe e em Lourenço e fui de volta para a pensão. Fui chegando e dá para ouvir as risadas da Lucinda da esquina, com quem será que ela está conversando tão animada?

Quando entrei pela porta, lá está o motivo da minha perdição, respiro fundo e cumprimento ambos.  

 _ Boa noite! Os dois viram-se para me olhar e Lucinda diz:

 _ Caleb disse que posso ser modelo, o que acha, Helen?  

 _ Não sei, Lucinda, não entendo nada de moda, e também não sei se o senhor Caleb entende.   

 _ Ele é CEO de uma empresa de moda do Rio de Janeiro. Senti Caleb me observando o tempo todo.  

 _Então, ele entende, se ele lhe falou que você pode ser modelo, deve estar certo.

Lucinda virou-se toda melosa para ele e disse:  

 _ Caleb, amanhã nós conversamos mais, preciso ir embora senão a minha mãe vai ficar preocupada.

Caleb virou todo meloso e falou com Lucinda.  

 _ Ficarei ansioso com o seu retorno amanhã. Coloquei os meus óculos e dei um sorriso de escárnio. Caleb me lançou um olhar de reprovação.  

 _ Porque deu esse sorriso de escárnio? Eu não posso estar interessado em Lucinda de verdade?

_ Claro que pode, mas penso que um CEO de uma empresa tão renomada deveria se portar melhor, ela é só uma menina.  

 _ Você falou para ela que não me conhece, como sabe que a minha empresa é renomada?  _ Ela quem disse que o senhor é CEO de uma empresa de moda, deixa para lá, eu não tenho nada com isso. Só toma cuidado que o senhor não está no Rio de Janeiro e Lucinda é menor de idade.  

 _ Verdade! Vamos falar de você que não é menor e não vão me prender por estar conversando com você.  

 _ O senhor não vai me dizer que posso ser modelo também, vai?

“Caleb”

Lembrei o dia em que ela foi à empresa e o meu amigo falou-lhe que era muito baixinha para ser modelo, só se fosse de ‘lingerie’ e resolvi repetir.   

 _ Não, é muito baixinha, só se fosse para tirar foto de ‘lingerie’.   

 _ Por dinheiro nenhum do mundo, eu posaria de "lingerie".  

 _ É casada? Tem alguém?  

  _ Assunto particular, me recuso a responder.

  _ Esse perfume que você está usando, como chama?  Isso você pode me responder?

 _ “Innamorata"

“Caleb”

Vou falar como se estivesse falando com uma estranha, só fazendo um comentário   

_ A minha falecida esposa também usava este mesmo perfume, depois que ela faleceu, não achei ninguém mais que o usasse.

_ Os meus sentimentos, faz tempo que o senhor perdeu a sua esposa? Ele deu uma fechada nos olhos como se me observasse. Fiquei firme em me manter neutra, como se o assunto não fosse diretamente comigo.  

 _ Faz dez longos consigo perdoar-me pelo que aconteceu a ela.  

  _ Por quê? O senhor matou sua esposa? Ou a traiu?  

_ De certa forma, fui o culpado, ela sofreu um acidente e assim perdi o amor da minha vida. Eu amava a minha esposa e nunca a trairia.

    _ Nossa, que triste, mas já faz tempo! O senhor deve ter reconstruído a sua vida.  

 _ Tenho esperança de encontrá-la de novo.

 _ Não entendi, o senhor falou que ela faleceu, como vai encontrá-la de novo? Está pensando em se suicidar?  

_ Deixa isso para lá, faz tempo que você é dona dessa pensão?

 _ Sim, desde que eu e minha mãe mudamos para cá, ela veio lecionar, precisei arrumar algo para fazer para auxiliar nas despesas da casa. Adoro lidar com pessoas, só uni o útil ao agradável.  

  _ Você é morena natural? 

  _ O senhor faz umas perguntas sem cabimento, eu não vou responder.

Douglas chega e arrasta Caleb para o quarto me salvando do interrogatório.

"Caleb"

 _ Fala Douglas, descobriu algo sobre ela?  

_ Que se chama Helen Gael, é viúva, mora com a mãe e o filho, é dona desta pensão e trabalha de enfermeira no hospital da cidade, tem 35 anos, nada a ver com a sua Eleanor.

   _ Douglas posso até estar enganado, mas é minha mulher, sei que parece loucura, mas posso sentir o desejo cada vez que olho para ela.   

_ É por as feições serem parecidas, está se confundindo. Precisa parar, a moça vai acabar-te denunciando por assédio.

 _ Pressione a Suzy, ela sabe. Tenho certeza que sabe.

 _ Está cometendo um erro, a moça vai chamar a polícia parece um maníaco perseguindo ela desse jeito.

  _ Eleanor tem uma marca de nascença, se eu conseguir ver a Helen sem roupa eu vou ter certeza.  

 _ Você está ficando louco, não faça loucuras. Aqui não é um lugar para provocar a ira do povo. Se for a Eleanor, deve ter tirado a marca para ninguém poder identificá-la com facilidade. Me escuta, Caleb, deixa isso para lá, ela não é sua mulher.   

 _ Não é fácil ver a marca, está no seio esquerdo, parece coração.

 _ E como vai fazer para ver?   

  _ Eu vou seduzir a Helen, e se eu estiver certo vou terei minha esposa de volta. 

  _ E se não estiver, o que vai fazer?  

  _ Se nos dermos bem na cama quem sabe ela é minha cura!

  _ Você é louco, Caleb, mas se for para você sair dessa tristeza em que se enfiou todos esses anos, dou a maior força. Só toma cuidado, o povo daqui resolve tudo na bala, eu quero voltar vivo para casa.

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