Minha mulher está bem na minha frente

Não tem para onde correr, é ficar e rezar para ele não me reconhecer.

Quem vem na frente é Douglas, nem me olha na cara.

_ Por favor, temos três reservas.

Disfarço minha voz e digo:

_ Sim, estávamos esperando vocês, preciso dos documentos para preencher a ficha.

Olhei e encontrei a Suzy me olhando e sorrindo, dou um pequeno sorriso de volta e comprimento com a cabeça.

Tentei não olhar no terceiro integrante, que sei que está logo atrás da Suzy e me encarando.

Douglas me entrega o RG e o CPF dele e vira pegar o da Suzy.

_ Querida, me dá seus documentos.

Por um momento, quero perguntar: agora são um casal? Suzy estica a mão e entrega os documentos para Douglas.

_ Estão aqui Douglas.

Ele pega e me passa, eu vou preenchendo a fixa até que fiquem faltando só os documentos de Caleb.

Devolvi os documentos do Douglas e da Suzy, e, mais natural que consegui, perguntei.

_ Falta um?

Douglas vira-se para seu amigo que está estático.

_ Caleb, a moça precisa de seus documentos.

_. Sim, claro, deixa que eu entrego.

Ele vem com os documentos e entrega em minhas mãos. Quando levanto, olhar nos olhos dele, vejo a decepção.

_ Seus olhos são castanhos.

Tento me controlar e falar como se a pergunta fosse óbvia.

_Sim, são.

_Você tem parente no Rio de Janeiro?

Na hora, não pensei direito e soltei uma pequena mentira.

_ Não! Sou daqui a minha vida toda, por quê?

_ Você se parece demais com uma pessoa que conheci há muito tempo.

Com muito custo e controle, acabei de preencher a ficha e devolvi os documentos para ele, que pegou minha mão junto. Tomei um susto e puxei a mão rapidamente. Olhei para ele, que continua me encarando. Falei:

_ Seus quartos são os três últimos no corredor.

Caleb não desiste de me olhar e pede:

_ Você poderia nos levar lá? Sou meio perdido, posso cometer um erro e entrar no quarto errado.

Sei que ele quer me ver mais de perto, e não consigo arrumar uma desculpa plausível para não acompanhá-los até os quartos.

Quando levantei e saí de trás do balcão, vi Douglas me olhando, agora é ele que me encara e fala:

_ Nossa, como ela parece a Eleanor, só os cabelos e os olhos que não.

Preciso reagir, porque se fossem outros hóspedes e eu não fosse Eleanor, estaria muito incomodada com a situação.

_ Da para vocês pararem de me encarar como se estivessem vendo um fantasma?

Parece que eles não me escutam e continuam falando.

_ Olha, Suzy, você não acha ela a cara da Léa?

_ Claro que não, ela é mais alta e mais gorda também.

Dei uma olhada feia para a Suzy e, quando voltei, Caleb continuava me encarando e agora fechou um pouco os olhos como se avaliasse minha reação. Resolvi levá-los até os quartos.

_ Vamos!

Puxei a fila para ir até os quartos, entreguei a chave da Suzy, do Douglas e cheguei no Caleb.

_ Senhor Caleb, sua chave, o senhor não arrisca mais entrar no quarto errado.

_ Fala de novo.

_ O quê?

_ “Senhor” por favor, fala de novo.

_ O senhor está me assustando!

Douglas tenta amenizar a situação.

_ Caleb, para com isso, você está assustando a moça, ela vai achar que somos maníacos.

Ele se aproximou e cheirou meu cabelo. Eu saí do transe e tive uma reação como teria se fosse outro hóspede folgado, dei um tapa na cara dele.

_ O senhor está passando dos limites, me respeita, que não sou nada sua e nem te dei intimidade para se aproximar de mim assim.

Vi um brilho nos olhos dele, parece que gostou da minha atitude. Se afastou e mudou o tom da conversa.