Nos dias que se seguiram, Clara se dedicou a explorar cada canto de Mumbai. De manhã cedo, ela se aventurava pelos mercados, absorvendo os aromas e observando o movimento das pessoas. À tarde, experimentava diferentes pratos em pequenos restaurantes locais, tentando decifrar as camadas de sabores em cada mordida. Mas, por mais fascinante que fosse, algo parecia faltar — talvez fosse a solidão que começava a se fazer sentir sozinha em meio à multidão.
Em uma dessas tardes, enquanto caminhava pela Marine Drive, contemplando o mar Arábico, Clara notou um pequeno café aconchegante na esquina. A fachada de madeira envelhecida, coberta por plantas trepadeiras, chamou sua atenção. Era o tipo de lugar que Clara sabia que precisava entrar.
O interior era ainda mais encantador. As paredes eram forradas com prateleiras cheias de livros antigos, e o ar estava perfumado com o aroma de café fresco e algo doce, que Clara não conseguiu identificar de imediato. Havia poucos clientes, todos envolvidos em suas próprias leituras ou conversas baixas. Clara escolheu uma mesa perto da janela, de onde podia observar o movimento lá fora, mas ainda sentir-se parte daquele refúgio.
Uma garçonete jovem, com um sorriso gentil, trouxe o cardápio e perguntou se Clara gostaria de uma recomendação.
-Sim, por favor! Clara respondeu.
-Estou procurando algo doce, mas que seja típico daqui.
A garçonete sorriu mais amplamente.
-Você deveria experimentar o *Gulab Jamun* com sorvete de cardamomo. É um dos nossos favoritos.
Clara concordou, curiosa. Enquanto esperava, observava os detalhes ao seu redor — a música suave, a conversa sussurrada das mesas próximas, e o ritmo tranquilo do lugar. Era um contraste tão grande com o caos lá fora, que ela sentiu-se imediatamente relaxada.
Quando o doce chegou, Clara mal pôde esperar para provar. Os *Gulab Jamun* eram pequenas esferas douradas mergulhadas em uma calda perfumada de rosas, servidas ao lado de uma bola de sorvete cremoso, pontilhado de cardamomo. O primeiro pedaço derreteu em sua boca, espalhando uma doçura suave e floral, que foi seguida pela riqueza do sorvete, equilibrado pela nota picante do cardamomo.
Clara suspirou de prazer, sentindo-se em paz pela primeira vez em dias. Havia algo profundamente reconfortante naquele doce, algo que a fazia se sentir menos solitária, como se aquele pequeno café fosse um porto seguro em meio à vastidão da cidade.
Enquanto saboreava o último pedaço, uma voz masculina a tirou de seus pensamentos.
-Vejo que gostou do *Gulab Jamun*, disse o homem de cabelo escuro e barba bem aparada que estava parado ao lado de sua mesa. Ele tinha um sorriso aberto e olhos calorosos.
Clara olhou para cima, surpresa, mas sorriu de volta.
-Gostei muito. É diferente de tudo o que já provei antes.
-Fico feliz em ouvir isso! respondeu o homem, sentando-se na cadeira em frente à dela sem esperar um convite formal.
-Sou Arjun, dono deste café.
Clara ficou intrigada.
-É um lugar maravilhoso. A atmosfera, a comida... tudo aqui é perfeito.
Arjun sorriu, claramente orgulhoso.
-Eu queria criar um lugar onde as pessoas pudessem relaxar e se sentir em casa, um lugar onde cada visita fosse uma pequena pausa do mundo lá fora.
Eles começaram a conversar sobre o café, e logo a conversa se expandiu para a vida de Clara e sua jornada pela Índia. Arjun se mostrou genuinamente interessado em ouvir suas histórias, sobre como ela havia deixado sua vida confortável para buscar novas experiências através da culinária.
-Você é muito corajosa, disse ele em determinado momento.
-Não é fácil abandonar tudo e partir em uma aventura assim. A maioria das pessoas nunca encontra a coragem para seguir o que realmente deseja.
Clara sentiu um calor em suas palavras, algo reconfortante e inspirador.
-Acho que só percebi o quanto precisava fazer isso quando já estava longe demais para voltar atrás, confessou, rindo.
Eles passaram horas conversando, enquanto o café ao redor começava a esvaziar. Arjun era um anfitrião generoso, trazendo mais chá e sobremesas, cada uma mais deliciosa que a anterior. Clara estava encantada com a maneira como ele falava sobre comida, com a mesma paixão que ela sentia, mas com uma perspectiva diferente, moldada pelas tradições e sabores da Índia.
Quando finalmente se despediram, já era noite. Arjun acompanhou Clara até a porta, e antes que ela saísse, disse:
-Se precisar de um lugar para relaxar, ou de companhia para explorar a cidade, este café estará sempre aberto para você. E eu também.
Clara sentiu um calor no peito, uma mistura de gratidão e uma emoção que ela não conseguia identificar completamente. Havia algo em Arjun, algo em sua gentileza e paixão, que a fazia querer voltar, conhecer mais, descobrir o que mais aquela cidade, e aquele homem, poderiam oferecer.
Enquanto caminhava de volta para o hotel, com as luzes de Mumbai brilhando ao longe, Clara percebeu que, além dos sabores, havia algo mais que poderia ser descoberto nessa jornada.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 37
Comments