O sol ainda não havia nascido completamente quando Clara saiu do hotel, o ar da manhã carregando uma frescura incomum para Mumbai.
Caminhando pelas ruas que começavam a despertar, Clara sentiu a excitação crescer. Estava a caminho da casa de Meera, a mulher que conhecera no mercado no dia anterior. Clara sabia que o encontro seria especial; tinha a sensação de que Meera lhe revelaria segredos da culinária que não se encontram em livros ou programas de TV.
Após uma curta caminhada, Clara chegou a uma pequena casa pintada de cores vibrantes, escondida em uma rua tranquila. Meera a esperava na entrada, com o mesmo sorriso caloroso. Convidou Clara a entrar e a conduziu por um corredor estreito até a cozinha, que era pequena, mas estava impecavelmente organizada. O cheiro de especiarias já impregnava o ar, e Clara sentiu-se imediatamente em casa.
-Vamos começar com uma das bases da nossa culinária, disse Meera, enquanto colocava uma série de pequenos potes na bancada, cada um contendo uma especiaria diferente. Havia cominho, coentro, cúrcuma, cardamomo, pimenta-do-reino, e várias outras que Clara mal conseguia identificar.
-Cada uma dessas especiarias tem uma personalidade única, e quando combinadas corretamente, criam uma sinfonia de sabores.
Clara observava atentamente enquanto Meera pegava o cominho que Clara havia comprado no mercado e o colocava em uma pequena frigideira de ferro. Acendeu o fogo e começou a tostar as sementes, mexendo-as com cuidado.
-O segredo está na paciência. Explicou Meera, sem desviar o olhar da frigideira.
-Cada especiaria deve ser tratada com respeito, porque o tempo e o calor certos podem transformar completamente o sabor.
Clara se aproximou, fascinada. As sementes começaram a estalar e soltar um aroma profundo e terroso. Meera as retirou do fogo e as transferiu para um almofariz, onde começou a moê-las lentamente. O som rítmico do pilão encontrando o mármore era quase hipnótico, e Clara se perdeu por um momento na simplicidade daquele ato, na transformação das sementes em um pó fino que prometia uma explosão de sabor. Aproveitando deste momento Clara resolveu fazer um registro em seu Instagram com a seguinte legenda
📱“O Tempeiro é o sabor da vida!”
-Agora, vamos preparar um prato simples, mas cheio de significado.
Disse Meera, pegando alguns vegetais frescos e um punhado de arroz basmati.
-Este é um prato que minha mãe me ensinou, e que a mãe dela ensinou a ela. É humilde, mas poderoso.
Clara ajudou Meera a picar os vegetais e preparar o arroz, seguindo cada instrução com dedicação. Meera aquecia óleo em uma panela, e então começava a adicionar as especiarias, uma a uma, criando uma base aromática. O som das especiarias encontrando o óleo quente era como uma melodia, e Clara sentiu como se estivesse aprendendo uma nova linguagem — a linguagem das especiarias.
Enquanto os ingredientes se misturavam na panela, liberando seus sabores e cores, Meera começou a falar sobre sua vida. Ela contou como aprendera a cozinhar com sua família, e como, para ela, a cozinha era mais do que um lugar para preparar refeições; era um espaço sagrado, onde tradições e memórias eram preservadas e compartilhadas.
-Cada prato que cozinho é uma lembrança, disse Meera, enquanto mexia o arroz com carinho.
-E cada vez que ensino alguém a cozinhar, sinto que estou passando adiante um pedaço da minha história.
Clara sentiu uma conexão profunda com aquelas palavras. Pensou em sua própria avó, e em como o caderno de receitas que carregava em sua mochila era mais do que apenas uma coleção de pratos; era uma herança, uma ligação com as gerações passadas. Sentiu uma pontada de saudade, mas também um calor no peito, sabendo que, mesmo estando do outro lado do mundo, ela estava conectada a algo maior.
Quando o prato estava pronto, Meera serviu duas porções generosas e as levou até uma pequena mesa na sala de estar. Sentaram-se juntas, e Meera observou Clara dar a primeira mordida. O sabor era intenso e complexo, mas ao mesmo tempo reconfortante. Clara fechou os olhos, deixando que as especiarias e texturas se misturassem em sua boca, criando uma dança de sabores que era ao mesmo tempo nova e familiar.
-É incrível! disse Clara, abrindo os olhos e sorrindo para Meera.
-Eu nunca provei nada assim.
Meera sorriu de volta, satisfeita.
-Agora você entende. A comida não é apenas sobre o que você coloca na panela, mas sobre como você coloca seu coração nela. E quando você faz isso, o sabor se torna inesquecível.
Depois de terminarem a refeição, Clara agradeceu a Meera por sua generosidade e ensinamentos. Sabia que aquele momento seria um dos mais marcantes de sua jornada. Quando se despediu, Clara sentiu-se mais rica, não apenas em conhecimento culinário, mas em compreensão sobre o que realmente significava cozinhar com a alma.
Ao voltar para o hotel, com o caderno de receitas da avó em mãos, Clara escreveu suas primeiras anotações. Não eram apenas as receitas que havia aprendido, mas também as emoções e histórias que as acompanhavam. Sentia que estava começando a montar um mosaico, onde cada pedaço representava uma nova descoberta, um novo sabor, uma nova parte de si mesma.
E enquanto a noite caía sobre Mumbai, Clara sabia que aquela jornada não era apenas sobre comida ou lugares, mas sobre se reconectar com o mundo.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 37
Comments
Tania Cassia
estou gostando da história, parece boa
2025-02-06
0