No dia seguinte, Alícia acordou cedo, vestiu-se e foi para a escola sem falar uma palavra com sua família.
Seu braço e rosto doíam, lembrando-a constantemente do que havia acontecido na noite anterior.
Na escola, ela foi zombada por Dan e os amigos da sua irmã, eles diziam que ela parecia um palhaço.
Ela passou o dia tentando focar em suas aulas e afastar os pensamentos de sua família e zombaria dos colegas.
Ao sair da escola, Alícia decidiu ir até a casa de Tânia. Quando chegou lá, Tânia recebeu-a com um sorriso carinhoso, percebendo imediatamente as lesões no rosto e no braço da jovem.
Alícia contou a ela o que acontecera na noite anterior, lutando para manter as lágrimas.
Tânia ouviu atentamente e, depois de terminado o relato de Alícia, colocou a mão no ombro da jovem e disse: — Minha querida, eu entendo sua dor e sua frustração. Mas lembre-se de que os laços de sangue não são fáceis de se romper. Eu sei que você está magoada e com razão, mas sua família, apesar de todos os problemas, ainda é sua família. Você deve encontrar uma maneira de lidar com essa situação, mesmo que isso signifique apenas se afastar quando puder. E evitar brigar com eles.
Alícia ouviu as palavras de Tânia e soube que ela estava certa. Ela precisava encontrar uma maneira de lidar com sua família sem deixá-la ser destruída pelo ódio e pela raiva.
Ela agradeceu a Tânia pelo conselho e passou o resto da tarde com sua nova família adotiva. Aos poucos, ela percebeu que haviam chegado mais crianças na casa e Tânia que confessou que depois do divórcio com seu ex marido, decidiu fazer da sua casa um orfanato.
Alícia ficou feliz e pediu para ajudar a cuidar das crianças, o que fez Tânia aceitar sua ajuda.
No decorrer dos próximos dias, Alícia passou a maior parte de seu tempo no orfanato com as crianças.
Ela evitava conversar com seus pais e irmã, limitando-se ao básico e mínimo necessário.
Ainda sentia muita raiva e mágoa, mas estava aprendendo a controlar esses sentimentos e a encontrar a força necessária para seguir em frente.
Ela também começou a se preparar para sair de casa assim que completasse 18 anos.
Com o tempo, Alícia percebeu que a dor causada por sua família não ia embora completamente, mas ela tinha aprendido a lidar com ela. Ela estava determinada a criar uma vida melhor para si mesma, longe dos julgamentos e do sofrimento que haviam marcado sua infância.
Alícia continuava a evitar falar com seus pais. Seus dias eram preenchidos com a escola e as visitas ao orfanato.
Um dia, quando Alícia estava em seu quarto, sua mãe e irmã entraram e pediram para conversar.
Alexia implorou para que Alícia fosse mais acessível e tentou justificar suas atitudes. Alícia ouviu, mas decidiu manter sua postura, em silêncio.
Os momentos em família eram tensos, especialmente durante o café da manhã.
Num determinado dia, Alícia terminou rapidamente e se levantou para sair, mas seu pai a ordenou que se sentasse.
Ela pensou em não obedecer, mas lembrou-se das palavras de Tânia sobre evitar brigas e sentou-se novamente.
Com o tempo, a situação se tornou quase normal, mas Alícia não mencionou seu emprego secreto.
Ela descobriu que havia conseguido economizar três mil reais.
O credor do orfanato, conversou duramente com Tânia, afirmando que ela ainda devia cinco mil reais e que havia apenas duas semanas para pagar a dívida. Caso contrário, ela seria expulsa com as crianças do local.
Alícia ouviu a conversa sem querer, e pensou em engolir seu orgulho e pedir dois mil reais emprestados ao seu pai.
Ela correu para casa esperançosa, e ao chegar, viu seu pai no escritório.
Alícia, nervosa, bateu à porta e pediu permissão para entrar. Ela se sentou em frente a ele e disse:
— Você poderia me emprestar dois mil reais? - Sua voz estava ansiosa.
William, que estava redigindo um documento, parou, levantou os óculos até a cabeça e disse: — Não.
— É para ajudar pessoas importantes para mim. Eu devolvo no próximo mês. - Alícia tentou argumentar com seu pai.
— Amigos drogados? Você não foi à escola nos últimos dois dias, provavelmente está com seus amigos drogados. Não é? - William respondeu com irritação.
— Não. Claro que não. Eu...
— O que você faz com o dinheiro que eu dou? - Ele a interrompeu com outra pergunta.
— Os 200 reais eu guardo. O senhor pelo menos poderia esperar eu contar sobre o que se trata? - Alicia explicou.
— Você sabe que a nossa confiança em você está quebrada, não sabe? - Seu pai retrucou: — Então, qualquer que seja a mentira que você vai dizer, a resposta é sempre não. Dinheiro não cai do céu, Alícia. É preciso trabalhar duro para conseguí-lo.
— Tudo bem. - Ela respondeu resignada: — Eu dou meu jeito.
Ela se levantou e perguntou antes de sair: — Por que vocês nunca me amaram?
— Eu amo vocês igualmente. - William disse bravo: — A diferença é que sua irmã é mais adulta que você.
— Então, se eu for igual a ela, você vai me amar? - Ela replicou.
William apenas murmurou, e Alícia saiu do escritório pensando em como ser como sua irmã para obter o amor de seu pai.
Ela decidiu pensar sobre isso mais tarde e abriu sua mochila e sorriu ao ver que as coisas do seu trabalho estavam intactas.
Ela se preparou para ir trabalhar. E não percebeu que Jake a viu saindo escondida e decidiu seguí-la.
Alícia caminhou até o centro da cidade e entrou no farol, onde começou a vender balas. Sua beleza atraía os motoristas, que compravam seus doces.
Jake ficou surpreso ao ver Alícia vendendo balas no farol, apesar de ser rica.
Enquanto Alícia estava no farol vendendo balas, Alexia encontrava-se em seu quarto com seus colegas, que estavam ajudando-a com as matérias da escola, visto que ela ainda não podia ir a aula.
Alexia começou a contar sobre o incidente em que seu pai havia esbofeteado Alícia.
— Sinto falta da minha irmã, mas ela está ignorando todos nós. - Com uma expressão triste, Alexia disse aos amigos.
— Fique feliz porque sua irmã não é uma boa pessoa, eu sinto isso. - Dan disse com convicção. — Além disso, sinto que ela representa um perigo para vocês.
Alexia respondeu rapidamente:
— Dan! Pare de falar dela dessa maneira. Apesar dos defeitos, ela é minha irmã.
— Todos nós sabemos que é verdade. - Ele insistiu: — Ela sempre teve inveja de você, sempre quis tudo o que era seu. Ela não vai mudar, Alexia. Desculpa, mas não consigo ver bondade nela, tudo nela parece falso para mim.
— Eu também concordo com ele. - Danna concordou com Dan: — Além disso, ela não parece ser uma mulher interessante. Diferente de você, que além de ser muito mais bonita, todos os garotos da escola te amam. Sinto muito, mas sua irmã nunca chegará aos seus pés.
Alexia sorriu com o elogio e logo esqueceu de sua irmã.
Seus amigos sempre a protegiam, e ela gostava disso. Afinal, ela tinha seus amigos, o homem que amava, e seus pais, que faziam tudo por ela.
Ela queria ser médica para ajudar as pessoas. Liliana, Dan, Danna e Richy continuaram falando de Alícia com desprezo, enquanto Alexia ria com eles, concordando com algumas coisas que diziam sobre sua irmã.
Enquanto isso, Jake continuava observando Alícia à distância.
Ele ficou impressionado com a dedicação dela em vender balas no farol, notando que ela realmente parecia estar focada em algum objetivo.
Embora Jake não conhecesse bem Alícia, ele sentia que havia algo especial nela, algo que o intrigava.
Ele decidiu se aproximar e comprar algumas balas, usando isso como uma desculpa para iniciar uma conversa.
Quando Alícia viu Jake se aproximando, ela sentiu sua boca ficar seca e seu coração acelerar.
Ele era o amor de Alexia e amigo dos outros colegas que a julgavam, e Alícia temia que Jake pudesse contar a eles e a seus pais sobre seu trabalho no farol.
O rapaz se aproximou dela e perguntou:
— O que você faz aqui?
Alícia, nervosa, deixou algumas balas caírem no chão e as recolheu, implorando: — Por favor, Jake, não diga a minha família. Por favor, eu te imploro.
Jake ficou surpreso com o medo óbvio da garota.
Apesar de não entender completamente a situação, ele aceitou o pedido e prometeu manter o segredo.
— Por que você não pede dinheiro aos seus pais? Vocês são ricos. - Ele questionou.
— Eu pedi ajuda ao William, mas ele não quis me ajudar. Eu preciso de cinco mil para ajudar pessoas importantes para mim. Eu já tenho três mil, faltam dois mil para completar. Então William recusou a ajuda sem esperar que eu dissesse o motivo. Se eu fosse falar com a Emma, ela diria a mesma coisa que o marido, e Alexia, como você sabe, sempre fica a favor dos pais dela.- Ela disse enquanto arrumava as balas.
Jake franziu o cenho, confuso com a situação. Ele perguntou:
— Por que você chama seus pais pelo nome?
Alícia mostrava o bombom no farol respondeu: — Porque eu não me sinto mais parte daquela família. Eu pensei em sair de casa, mas só tenho 15 anos e eles iriam me levar de volta pro inferno que é aquela casa.
Jake pareceu cético com a declaração dela.
Alicia, notando o olhar desconfiado de Jake, disse:
— Tudo bem, não espero que você acredite em mim. Enfim, obrigada por manter meu segredo.
Ela começou a andar em direção a um carro que chamava sua atenção.
Ao ver a beleza estonteante de Alícia, o rapaz comprou todas as balas que ela tinha, o que a deixou muito feliz e aliviada.
Ela está feliz por poder ajudar as pessoas que tanto amavam ela e entendiam o seu lado da história.
No mesmo dia, após Alícia voltar do orfanato, ela encontrou sua família e Jake, que estava visitando Alexia, sentados à mesa para o jantar.
Alícia ficou tensa ao ver o rapaz, acreditando que ele pudesse ter comentado com sua família sobre ela vender balas no farol.
Mas suas dúvidas foram sanadas.
— Onde você estava? - William perguntou com raiva.
— Dando uma volta. - Alícia respirou fundo e respondeu calmamente.
Emma, tentando amenizar a situação, disse gentilmente:
— Vamos jantar, amor. Fiz seus pratos preferidos.
Ao ver o jantar, Alícia fez uma careta e sentou, pegando apenas o arroz.
— Pai, eu e Jake vamos fazer um projeto na escola para a feira de ciências e precisamos de 5 mil para investir. - Alexia comentou com seu pai: — Se ganharmos o prêmio, devolverei com 10 mil.
— Você sabe a senha do cartão, amor. - William sorriu e disse: — Pode pegar a quantia.
Um sentimento de inutilidade tomou conta do coração de Alícia, e uma raiva dominou dentro dela.
— William, por que não me emprestou os dois mil que eu pedi hoje de manhã? - Ela perguntou ao pai.
Sua voz saiu fraca e melancólica.
— Mana, é para um projeto. - Alexia tentou amenizar: — Aquele da professora de Biologia que você não quis participar.
— O dinheiro que eu pedi é muito mais importante do que essas coisas fúteis da escola. - Alicia rebateu.
— Até quando você vai insistir em querer se comparar com sua irmã, Alicia? - William bateu na mesa e disse, furioso: — Não está na hora de ser uma pessoa responsável? Olha sua irmã, já está pensando no futuro. Mas e você?
Emma tocou gentilmente nas mãos do marido e disse: — Amor, acho que ela tem razão. Dois mil não é tanto. Por que não damos a ela?
William rebateu: — E se ela entregar aos drogados? Já pensou que sua filha pode estar andando com um monte de vagabundos por aí?
Emma, vamos colocar ela em um colégio interno.
Alicia, indignada, jogou o prato no chão. Seus olhos marejados quando disse: — O senhor é muito miserável! Eu ia pagar mês que vem.
— Pagar? Como? Você não tem nem emprego. Eu pago sua escola para você não ser uma filha encostada. - Ele gritou: — Olha sua irmã, já está pensando no futuro. Mas e você?
— Eu vou ser designer de modas. - Ela fungou e respondeu.
Seu pai riu e disse que ela não se esforçava para nada na vida, além de chorar e se penalizar.
Ela levantou da mesa enquanto ele dizia: — Senta nessa maldita mesa, não vê que temos visita? O que acha que o namorado da dua irmã vai pensar?
Alícia disse: — Eu não gosto dessa comida. Nunca foi minha preferida. Porque vocês nunca perguntaram o que eu gosto. É a comida preferida da Alexia. E o namoradinho dela, vai saber quão podre e tóxicos são vocês, por sempre favorecerem essa sonsa que não conhece a realidade da vida, porque vive numa bolha!!
Dessa vez, sua mãe levantou e deu uma forte bofetada na filha que sai correndo pela escada e disse antes de subir: — Eu espero que todos vocês morram ou que, um dia, vão perceber que me perderam e aí será tarde demais. Eu tenho tanto ódio de vocês!
Emma chorou, e Alexia tentou consolar sua mãe. Jake ficou pensando na situação que aconteceu diante dos seus olhos, começando a perceber que talvez houvesse mais para a história de Alícia do que ele imaginava.
Ele questionou se Alexia e seus pais realmente conheciam a jovem que ele começava a ver em uma luz diferente.
Após a discussão na mesa do jantar, Alícia fugiu para seu quarto, trancando a porta e se jogando na cama com lágrimas nos olhos.
Ela odiava se sentir tão sozinha e incompreendida em sua própria casa. Enquanto isso, Jake disse adeus à família e saiu pensativo, tentando entender o que acabara de acontecer.
No dia seguinte, na escola, Jake sentiu uma necessidade de falar com Alícia.
Ele a viu sentada sozinha em uma mesa no refeitório e se aproximou.
— Olá, Alícia. Posso sentar aqui? - Perguntou Jake.
Alícia levantou os olhos e olhou para ele, surpresa. Ela hesitou, mas concordou em deixá-lo se juntar a ela.
— Eu sei que a gente não se conhece muito bem, mas eu vi o que aconteceu ontem à noite, e eu queria saber se você está bem? - Perguntou Jake com sinceridade.
— Não estou bem, mas obrigada por perguntar. Não estou acostumada a alguém se importar. - Alicia suspirou ao responder.
Jake sentiu pena pela garota e tentou mostrar-se solidário: — Eu sei que você tem passado por algumas coisas difíceis em casa. Se quiser falar sobre isso, eu estou aqui para ouvir.
Alícia olhou para Jake, avaliando se podia confiar nele.
Ela percebeu que ele parecia sincero e que talvez pudesse se abrir um pouco.
— Minha família nunca me entendeu. Eu tenho tentado ajudar os outros e eles acham que estou sendo irresponsável. Eu só queria que eles me ouvissem e acreditassem em mim. — Confessou Alícia.
Jake escutou atentamente, impressionado com a força de Alícia.
Ele começou a perceber que havia mais nela do que a imagem negativa que os outros haviam criado e até ele mesmo.
— Eu posso ajudar você a conseguir o dinheiro que você precisa. - Ofereceu Jake, espontaneamente: — Eu não tenho muito, mas posso tentar.
Alícia ficou surpresa com a oferta de Jake e percebeu que talvez houvesse alguém que realmente se importasse com ela e seu sonho.
Quando Alexia e seus amigos perceberam Jake sentado com Alícia, que ainda tinha a marca vermelha no rosto, apesar de ter tentado escondê-la com maquiagem, eles se aproximaram da mesa.
Mesmo que não fosse tão perceptível de longe, a marca ficava visível a olho nú.
— Podemos sentar com você, mana? - Alexia perguntou, hesitante.
Alícia encarou a irmã e disse, sem entusiasmo:
— O refeitório é público.
Dan, um dos amigos de Alexia, sentou-se primeiro e começou a comer, enquanto os outros se acomodavam ao redor da mesa.
Alexia sentou-se ao lado de Jake e perguntou, em voz baixa:
— Você também está preocupado com ela, não é?
Observando sua irmã comendo seu sanduíche em silêncio, apenas com um copo d'água, Alexia retirou um copo de suco de sua bandeja e ofereceu a Alícia: — Ontem eu conversei com nossos pais e eles decidiram refazer a nossa festa de 15 anos, para te animar um pouco. O que acha?
Os amigos olharam para Alícia, ansiosos por sua reação.
Danna comentou, entusiasmada: — Estou ansiosa para ver você no seu vestido de princesa, Alexia. Vai ficar deslumbrante.
Alícia devolveu o copo de suco para a bandeja da irmã e levantou, dizendo: — Não, obrigada. Pode comemorar sua festa com seus amigos. Eu tenho coisas mais importantes para fazer.
Dan e os amigos notaram a marca no rosto de Alícia, e o rapaz zombou: — Tipo, levar um tabefe na cara. Essa marca aí provavelmente foi do seu namorado secreto? Não sabia que gostava de relacionamento selvagem.
Eles riram da jovem que negava com a cabeça enquanto se afastava.
Jake, que estivera quieto até o momento, perguntou a Alexia: — Você não acha que seus pais foram injustos ontem?
Alexia respondeu, tentando justificar: — Injustos? Jake, eles querem que ela deixe de ser imatura. Você viu como ela gritou com o papai e a mãe!
Jake disse: — Ela se defendeu.
Dan tocou no ombro de Jake e disse: — Cara, sai dessa. Você está se enganando com Alícia. Ela não vale nada, acredite em mim. Aquele rostinho de anjo esconde um demônio.
Alexia protestou: — Dan! Chega! Pare de falar assim da minha irmã.
Richy comentou: — Você concorda que sua irmã tem inveja de você, Alexia.
Um silêncio tenso pairou sobre a mesa, com cada um imerso em seus próprios pensamentos sobre a recente interação com Alícia.
Enquanto isso, Jake continuava a se questionar se havia mais em Alícia do que seus amigos e família enxergavam.
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Atualizado até capítulo 66
Comments
Helena Ribeiro
Eu acho que Alícia vai ser sócia do orfanato, eu também não queria participar de festa nenhuma
2025-01-04
1
Marcilia Sidney
Alicia sai fora dessa sua família quero que você quando aparecer venha e mostra quem e você
2025-01-10
0
Carmen Borges de Oliveira
eu já estou morrendo de pena da Alicia, tomara que ela não vire a vilã da história
2025-04-20
0