Capítulo 4

Daniel começou a conversa contando a Alexia o que Jake, o garoto por quem ela nutria sentimentos, havia dito sobre seu acidente.

Segundo Dan, Jake havia dito que Alexia quase morrera. Ela gargalhou, esclarecendo que apenas havia se machucado ao cair da escada e torcer o tornozelo e que seus pais e sua irmã cuidavam dela.

Daniel admitiu estar preocupado com ela e expressou sua desconfiança em relação à irmã gêmea de Alexia, Alícia.

Ele disse que, apesar de elas serem gêmeas, Alícia tinha um olhar sinistro, comparando-a ao Conde Drácula.

Alexia riu, mas Daniel continuou falando sobre como Jake sentia falta dela na escola e como ele próprio havia cuidado de seu amigo emocionalmente abalado.

Daniel até brincou, dizendo que deu uma mamadeira e uma chupeta para Jake.

A conversa mudou para a carreira de Daniel e seu desejo de se tornar um policial. Alexia sabia que Daniel estava trabalhando duro para alcançar seu objetivo e que seu irmão, Alan, estava apoiando-o.

Quando Daniel mencionou que Alan estava com ele, Alexia teve a oportunidade de cumprimentar o irmão do seu melhor amigo. Daniel e Alan começaram a discutir animadamente, e Alexia os interrompeu, pedindo para que se acalmassem.

Enquanto a conversa chegava ao fim, Daniel disse a Alexia que tinha que ir para o curso e despediu-se, dizendo para ela ficar bem. Ela agradeceu e desligou o telefone, sentindo uma onda de gratidão por ter um amigo tão protetor como Daniel.

A porta do quarto se abriu lentamente, revelando a irmã mais nova segurando um prato com sanduíches.

Eles pareciam extremamente apetitosos, com uma variedade de ingredientes inusitados e um cheiro tão delicioso que qualquer um poderia sentir o estômago roncar.

Ela caminhou em direção à irmã mais velha, que estava sentada em sua cama.

— Estava falando com Daniel? - Pergunta Alícia ao entregar o sanduíche a irmã.

— Sim. - Respondeu Alexia de olho no sanduíche.

Alícia entregou o suco à Alexia e sentou-se em uma cadeira próxima, cruzando os braços enquanto seu olhar se fixava na irmã.

— Você não acha que ele é um cara que julga todo mundo porque ele se acha o dono da razão? - Perguntou diretamente.

Alexia revirou os olhos, visivelmente irritada com o comentário da irmã mais nova.

Ela não gostava da forma como ela falava sobre seu melhor amigo.

— Ele só é sincero demais. Quem não gosta de sinceridade? - Disse irritada.

— Então você concorda com tudo o que ele diz? Mesmo que isso machuque as pessoas? - Questionou Alícia.

Alexia colocou o sanduíche de volta no prato, seu apetite desaparecendo rapidamente.

— Sim. Se o que Daniel diz machuca alguém, é porque a pessoa precisa ouvir de alguém o que ninguém tem coragem de falar. - Seus olhos encontraram os da irmã mais nova, e ela respondeu sem hesitar.

A tensão no ar foi notável, e Alícia se levantou abruptamente, deixando o prato intocado no criado-mudo.

— Então você concorda com o que ele diz sobre mim?! - Ela encarou a irmã, sua voz soando como um tufão.

— Esse seu drama faz o papai ficar bravo. - Alexia revirou os olhos e respirou profundamente: —

Nem tudo é sobre você. Você deveria pelo menos tentar amadurecer. - Disse calmamente.

— Igual você que nunca viu que o mundo não é cor de rosa? Igual você que sempre teve eles enquanto eu me contento com o que sobra? Ah, esqueci, não sobra nada pra mim. Era melhor a Emma ter me abortado. Facilitaria muito para mim estar morta do que viver nessa família de merda.

A mãe entrou no quarto no exato momento em que Alícia terminou sua declaração.

Antes que a mãe pudesse perguntar o que estava acontecendo, Alícia gritou com ela, suas palavras ecoando pelo quarto:

— Por que a senhora não prestou para me abortar?

Alícia saiu correndo do quarto, descendo as escadas em uma velocidade vertiginosa e abrindo a porta da frente com força, saindo para a rua.

Após a porta se fechar com força, o silêncio se instalou no quarto. Alexia ficou sentada em sua cama, olhando para a porta aberta.

Ela balançou a cabeça, incapaz de acreditar na discussão que acabara de ter com a irmã. Os sentimentos de frustração e tristeza pairaram em seu peito, enquanto ela sentia a solidão se instalando novamente em seu coração.

Ainda sentindo o calor dos sanduíches nas mãos, ela colocou o prato no criado-mudo. A comida, que pouco antes parecia tão apetitosa, agora parecia insípida e desinteressante. Sua mãe saiu em silêncio magoada pelas palavras de Alícia.

Enquanto Alexia, se perguntou se a irmã estaria bem e quando seria a próxima vez que elas conversariam.

Quando ela se deitou em sua cama, os pensamentos inundaram sua mente. O dia, que parecia estar indo bem após a conversa com Daniel, tomou um rumo inesperado com a chegada de Alícia.

Ela virou e revirou, tentando encontrar uma posição confortável que pudesse ajudá-la a afastar esses pensamentos e ansiedade.

Após algum tempo, seus olhos se fecharam, e ela se entregou à necessidade de descanso, esperando que o sono a ajudasse a lidar com tudo isso quando o dia seguinte chegasse.

Alícia andava pelas ruas, sua mente ainda atormentada pela discussão com sua irmã Alexia.

Ela carregava uma sensação de tristeza e desespero, cada passo ecoando em seu coração ferido. Enquanto se afastava do condomínio em que morava, ela sentia como se estivesse deixando para trás uma vida que nunca se sentiu parte.

Apesar de ter pensado que sua irmã a amava, ela percebeu que Alexia também a via como um problema a ser resolvido, uma irmã defeituosa. Isso inundou seu coração com sentimentos de rejeição e abandono, fazendo com que sua visão ficasse embaçada. Ela estava tão perdida em seus pensamentos que mal notou o mundo que a cercava.

Alicia sentou-se em um velho e sujo banco de madeira, o frio do metal se espalhando por sua pele. Seus olhos percorriam a rua, não focando em nada em particular até que um carro sai da frente de uma casa, chamando sua atenção.

Sua visão ficou presa à mulher que estava no quintal com suas duas crianças, brincando e rindo.

O amor que a mulher demonstrava não parecia favorecer nenhuma das crianças, e esse cuidado igualitário tocou um acorde em Alícia.

Ela se levantou lentamente e se aproximou do muro que cercava a casa, a mão subindo para tocar a grade fria e enferrujada.

Enquanto Alícia observava a cena, ela começou a sentir uma profunda conexão com a família que se encontrava do outro lado do portão.

Algo dentro dela anelava por esse tipo de afeição e acolhimento, algo que ela nunca havia experimentado.

A mulher levantou os olhos e viu Alícia, observando-a com um olhar amável. Ela sorriu e perguntou:

— Quer se juntar a nós?

Alicia hesitou, intrigada com a gentileza da mulher, e perguntou:

— Mas a senhora nem me conhece.

A mulher mantendo a calma e carinho em sua voz, disse: — Mas conheço um coração sofrendo. Vem, junte-se a nós.

Alícia olhou para a mão estendida da mulher, sentindo um misto de emoções.

Ela não sabia o que fazer, mas o convite tão genuíno e acolhedor foi algo que ela nunca havia sentido antes.

Finalmente, Alícia abriu o portão e correu até o quintal, ansiosa para se juntar à mãe e às filhas.

Ela sentia um quentinho em seu coração que amainava a dor, e pela primeira vez em sua vida, ela se permitiu ser guiada por esse sentimento de pertencimento e aceitação.

Alícia se juntou às crianças e à mãe, e eles brincaram e riram juntos, como se ela tivesse sido parte da família o tempo todo. Até que a mulher disse que não era mãe das garotas, mas cuidava delas com amor.

A mulher, chamada Tânia, mostrou-se acolhedora e carinhosa, tratando Alícia da mesma maneira que tratava as crianças também.

À medida que o sol se punha, as cores quentes do crepúsculo banhavam o céu em uma combinação de laranja e roxo.

Alícia sabia que deveria voltar para casa, mas a sensação de alegria e pertencimento que sentia ali a fazia querer ficar mais um pouco.

Tânia percebeu a hesitação de Alícia e lhe disse, com suavidade em sua voz: — Por que não janta conosco hoje, Alícia? Estamos preparando uma deliciosa lasanha, e há mais do que o suficiente para todos.

Alícia hesitou por um momento, mas ao pensar que sua irmã Alexia e seus pais provavelmente não estariam preocupados com sua ausência, e ao pensar na ideia de compartilhar uma refeição com uma família que a tratava com tanto amor e respeito foi uma oferta irrecusável.

— Eu amaria jantar com vocês. Obrigada por me convidar. - Disse Alícia, com um sorriso sincero e genuíno.

Tânia e suas filhas levaram Alícia para a casa, onde ela se sentou à mesa junto com eles.

A lasanha era tão boa quanto Tânia havia prometido, e o ar estava cheio de conversas e risos enquanto eles compartilhavam suas histórias e experiências com as outras crianças que moravam naquela casa.

Durante a refeição, Alícia não conseguia deixar de pensar em como sua vida teria sido diferente se tivesse tido uma família como essa. Ela olhou para Tânia e as crianças, agradecendo pelo calor e amor que eles compartilhavam com ela.

No final da noite, Tânia insistiu em levar Alícia para casa.

Alicia hesitou por um momento, embora a convite de Tânia fosse tentador, ela se lembrou da situação em sua própria casa e decidiu que não era hora de se envolver em problemas.

Ela agradeceu a Tânia e as crianças pelo amor e hospitalidade, prometendo voltar para visitá-los em breve.

Ao caminhar de volta para sua casa, Alícia sentiu uma sensação estranha e nova ao perceber o quanto havia sido importante para ela experimentar o amor de uma família sem hipocrisia e julgamentos.

Essa sensação, entretanto, foi substituída por tristeza e raiva quando ela chegou em casa.

Uma viatura de polícia estava estacionada na frente da casa. Ao entrar, Alícia viu sua mãe chorando no colo de Alexia, enquanto William, com a cara fechada, pediu desculpas à polícia.

Jake, tentando consolar Alexia, parecia tão preocupado quanto ela.

Ao notar Alícia, William perguntou em um tom sério.

— Onde você esteve?

Alicia, ainda sob a influência do amor e aceitação que experimentara na casa de Tânia, respondeu com honestidade,

— Sendo feliz, já que aqui eu não sou.

Essas palavras provocaram William, que ficou furioso com a filha ao ver a esposa chorar de dor.

Alexia se juntou à discussão: — Nós estávamos preocupados com você, mana. Por que você faz nossos pais sofrerem?

Alicia soltou uma risada sarcástica, o que irritou ainda mais seu pai.

— Vá para o seu quarto. - Ele disse: — A partir de hoje, é da escola para a casa.

Pela primeira vez, Alícia encarou seu pai e disse em um tom alto: — Não! Eu não vou. Já que todos vocês vivem dizendo que eu não presto, só dou problema, então que seja! Eu estava sendo feliz de verdade. Porque aqui vocês vivem uma vida perfeita para a sociedade, mas quando a porta se fechar é tudo podre e eu não quero...

Antes que ela terminasse a frase, ela recebeu um golpe no rosto, resultado de uma forte bofetada de seu pai, que a fez cair e machucar o braço nos estilhaços do copo de vidro que se quebrou no chão.

Emma correu para ajudar sua filha, mas Alícia gritou: — Me deixa em paz!

Ela levantou-se e tentou revidar ao seu pai, mas, ao ver sua mãe desmaiar, William e Alexia correram para ajudá-la.

A comoção em atender à mãe não causou impacto em Alícia, que decidiu ignorar sua mãe desmaiada.

Ela subiu as escadas para seu quarto, deixando todos os presentes chocados com sua frieza.

Jake permaneceu em silêncio, atordoado com o que aconteceu na sala. Sua mente tentava processar a série de eventos dramáticos que testemunhara.

A tensão no ar era quase palpável, e a família ficou dividida entre a preocupação com a mãe desmaiada e a jovem ferida no quarto.

Alicia entrou em seu quarto, fechando a porta com força. Ela olhou em volta do ambiente familiar, mas agora tudo parecia diferente. Ela andou lentamente até o espelho, observando seu reflexo.

Um hematoma começava a se formar no rosto, e seus lábios também sangravam.

Ela revirou em um armário antigo e encontrou seu kit de primeiros socorros infantil, um brinquedo que havia ganhado na escola. Mesmo sendo apenas um brinquedo, Alícia resolveu usá-lo para tratar de seus ferimentos. Ela limpou cuidadosamente o sangue e aplicou uma bandagem, depois removeu com dificuldade o vidro do braço e colocou outra bandagem.

Ao ouvir a sirene de uma ambulância se aproximando, Alícia correu para a janela e a fechou rapidamente, ignorando tudo o que estava acontecendo lá embaixo. Ela recusava-se a dar atenção ao drama que sua família havia causado.

Terminando de cuidar de seu rosto, Alícia pegou seu diário, a única coisa que a consolava e nunca a julgava.

Ela começou a escrever sobre sua dor, expressando seus sentimentos sobre o quanto desejava ser amada e aceita como ela foi naquela casa.

Ela mencionou sua experiência com Tânia e sua família, dizendo que foi o primeiro momento em que ela sentiu o calor e o amor que sempre quis.

Quando Alícia terminou de escrever, ouviu alguém bater suavemente à sua porta. Ela ignorou, mas a pessoa insistiu.

— Sou eu, Jake. - Disse a voz do outro lado da porta.

Alicia hesitou, mas então se levantou e guardou seu diário em seu lugar secreto no quarto.

Ela se arrumou um pouco e abriu a porta sem jeito.

Jake olhou para ela com preocupação em seus olhos.

— Você não quer mesmo ir ver sua mãe? Ela teve uma queda de pressão. - Disse ele.

Alícia cruzou os braços e disse com amargura: — Eu não tenho mãe, irmã e nem pai. Jake, você pode me ver como todo mundo, mas se tivesse um dia no meu corpo, saberia como me sinto. Hoje eu realmente encontrei uma família feliz. Então, quando chego nesse inferno de casa, eu tenho que ficar implorando por um amor que me foi negado desde que nasci. Então, não, não tenho família. Eu sou minha própria família até completar 18 anos, e eu vou sair desse maldito lugar e nunca mais quero ver essas pessoas.

Jake olhou para Alícia com espanto em seus olhos, sem saber como responder.

Ela não deu chance a ele e continuou: — Se você veio aqui a pedido da sonsa da Alexia, diz a ela que eu espero que ela morra também.

Com essas palavras, Alícia fechou a porta no rosto de Jake, que ficou estupefato com a sinceridade da jovem.

De volta ao quarto, Alícia deixou escapar uma lágrima, permitindo-se sentir vulnerável e solitária.

Ela sabia que as coisas nunca mais seriam as mesmas, e que seu futuro agora dependia dela mesma, longe da família que a havia magoado tão profundamente.

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Comments

⭐𝐕𝐞𝐫𝐚 𝐅𝐫𝐞𝐢𝐭𝐚𝐬💫

⭐𝐕𝐞𝐫𝐚 𝐅𝐫𝐞𝐢𝐭𝐚𝐬💫

Nossa sei muito bem como é isso minha mãe joga direto na minha cara que nunca quis ter uma filha mulher meus irmãos tem o melhor dela

2025-01-25

1

Fatima Azevedo

Fatima Azevedo

triste isso é muita mágoa e falta de amor.😔

2025-04-20

0

Helena Ribeiro

Helena Ribeiro

Rejeição é muito ruim e quem da rejeição não vê tampam os olhos e não querem ver

2025-01-04

2

Ver todos

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