Capítulo 3

Kate estacionou seu carro popular ao lado da coleção de carros de luxo de James, nesse tempo todo de casada, nem sequer uma vez ela entrou em algum daqueles carros.

Kate subiu o elevador da garagem subterrânea e saiu no segundo andar, no corredor dos quartos. Passou por espelho decorativo e instantâneamente pensou em se arrumar. Soltou os cabelos e tirou o jaleco. Desabotoou alguns botões de sua camisa, esperando que aparecesse seu colo.

Após, Kate foi a passos largos para o quarto, porém, quando entrou, James não estava lá. Na cama, só haviam os vestígios da última noite intensa de paixão que tiveram.

Pensando, Kate imaginou que ele estava no escritório, que ficava no mesmo andar. Ela não pensou muito e foi para lá. Já se imaginou sentando no colo dele e os dois iniciando uma relação de pura luxúria naquela poltrona ou até na mesa de mogno do escritório.

Ao se aproximar, Kate ouviu vozes vindo do escritório, James parecia sério ao falar, o que a fez diminuir a empolgação.

Ao invés de entrar, Kate resolveu ouvir a conversa.

— Não, Maycon! Eu não tenho nenhum sentimento por essa mulher, tudo que temos é apenas parte de um acordo.

Kate sentiu um buraco no peito se abrir, imaginando que James provavelmente estava conversando com seu amigo sobre ela.

— Eu não posso pôr um ponto final em tudo agora, as coisas andam difíceis, mamãe está… você sabe que mamãe não tem muito tempo de vida e a empresa não anda bem. O melhor é deixar tudo como está por enquanto.

— …

— Eu não gosto, odeio quando ela vem encostando em mim, fico enojado. Mas tenho que aguentar por enquanto.

Kate abotoa os botões de sua camisa, se sentindo muito mal ao ouvir as palavras de James, pensou que supostamente ele a odiava.

— Eu não vejo a hora de dizer um basta a essa mulher e conseguir viver em paz com a mulher que amo. Sim, a cada dia tenho certeza que a amo e quando tudo isso acabar, quero dizer isso a ela e ter um casamento de verdade com ela.

Ainda ouvindo, uma lágrima cai dos olhos de Kate, secretamente ela desejava isso, ouvir de seu cônjuge que ele a amava, mas agora estava ouvindo que ele queria dizer isso a outra mulher, provavelmente Miranda, sua ex-namorada, com quem ele iria se casar, se não fosse Kate entrando no meio deles.

— Enfim, por enquanto tenho que administrar isso tudo. Conseguiu o jantar com Miranda para essa noite?

— …

— Certo, diga a ela que a pegarei às 19h. Nesse horário Kate ainda estará no hospital.

Nesse momento Kate não aguentou mais ouvir tudo aquilo e correu. Ela pegou seu jaleco e foi para a garagem. Se sentiu tão idiota por ter sentido remorso ao dizer palavras duras para James. Enquanto ela se importava com ele, ele supôs que ele andava se importando com outra mulher.

Enquanto Kate ia embora, James continuava a conversar com o seu amigo, sem perceber que Kate havia estado na porta, ouvindo tudo.

— Porque você não faz isso e fica me usando para mandar recados para Miranda? — Maycon, reclama, cansado dessa situação.

— Se eu ligar para ela, vou dar intimidade para ela me ligar de volta. Prefiro manter essa distância, quem sabe assim ela desiste de mim e encontra outro para a sua obsessão.

— É só dizer a ela que não tem interesse, James! Essa situação está chata até para mim. Miranda é chata e mimada, você não é um amigo de verdade me fazendo aguentar essa mulher. — Maycon responde, já irritado.

— Não posso dizer agora, você sabe. Mamãe está doente, os sócios não confiam na minha administração e se perdermos o investimento do pai da Miranda, a empresa estará em risco.

— Tá, e quando assumir para todos o casamento com Kate. O que pretende fazer?

— Até lá vou encontrar um investidor melhor que o pai da Miranda, tenho certeza disso.

James desliga, pensativo. Não estava em uma situação muito confortável naquele momento, sentia estar em uma corda bamba e equilibrando em cada mão, sua vida pessoal com a profissional.

Naquele dia, Kate se dedicou como nunca ao trabalho, visitou todos os pacientes de sua área e fez o que podia, quando não tinha trabalho, mergulhou a cabeça em seus livros para estudar. A residência era a última etapa da sua formação e era assim que ela iria aprender na prática como era a profissão.

Mas essa dedicação toda não era só por sua vontade de aprender, era sua tentativa de não deixar os pensamentos sobre James atormentarem seu coração.

Já eram oito horas da noite quando Kate foi até o quarto de Sara, estava quase no horário do término do seu expediente e ela gostava de visitar a sogra nesse horário, já que se passasse, não teria problema, estar com Sara não era como estar trabalhando para ela.

— Querida Kate, como está? — Sara diz, sorrindo, parecendo alegre, apesar da palidez da sua pele.

— Estou muito bem, Sara. O dia hoje foi cheio, o paciente do quarto 101, o Senhor Ramirez, fez um escândalo para tomar banho, acredita? As enfermeiras tiveram que me chamar, porque ele queria fazer uma reclamação sobre elas.

— Eu ouvi! Aquele velho fedorento e sem vergonha atacou novamente. Ele queria era que você visse aquela coisa murcha que ele tem entre as pernas! Ah, se eu pudesse levantar daqui, ia dar uns tapas naquele cara-de-pau! Safado!

Kate sorri com a indignação de Sara, após se senta ao lado dela e começa pentear seus cabelos.

— Não se preocupe, ele não faz meu tipo, Sara, você sabe! — Kate diz e dá uma piscadela de forma divertida.

— Eu sei, minha filha, eu sei bem… falando em seu tipo, como está o sem-vergonha do meu filho.

— Ah, o James… — Kate muda de humor de repente, não conseguia disfarçar que estava com muita raiva de James. Ela respira fundo e tenta disfarçar um sorriso, dizendo — Ele está bem, aparentemente muito bem, eu acho.

— O que foi, filha? Ele não anda te tratando bem? Não anda comparecendo na cama?

Kate fica vermelha com Sara, e se levanta, virando de costas para disfarçar.

— N-não, não é isso…

— Pelo que vejo, ele anda comparecendo, não é minha filha? Graças a Deus eu não fiz um filho viado!

— Dona Sara! Olha bem o que diz, isso é muito rude!

— Ah, minha filha, eu não sou preconceituosa, mas… é que eu só tive um filho e se ele não fosse homem, como ele me daria um neto? Você sabe, um neto é tudo o que quero para conseguir descansar.

Kate sente um nó em sua garganta, não era segredo que a senhora Sara era uma teimosa, a medicina não tinha uma cura para o seu caso, e Kate tinha certeza que ela só estava aqui por causa do neto.

— Eu amo a senhora, Sara. E eu vou te dar um neto, meus exames estão todos bons, eu só não sei se James…

— Não tem nada de errado com o meu filho, ele é um garanhão. Quando ele nasceu e eu vi o pinto dele já disse, esse garoto vai me dar muitos netos! O problema é que ele bebe. Tem que falar pra ele parar de beber, querida.

— Pode ser, senhora Sara… — Kate diz, dando de ombros. Sara era um pouco teimosa e não valia pena entrar em um debate com ela.

— Não tem sentido nenhum sintoma, filha? — Kate acena em negativo — A menstruação não atrasou? — Kate nega novamente — Nem um enjoozinho?

— Não, senhora Sara, mas isso não significa muito, uma mulher pode não apresentar muitos sintomas na gravi… — nesse momento, Kate abriu um frasco de álcool e o cheiro entrou pelas suas narinas e ela sentiu um embrulho terrível no estômago.

Kate colocou a mão em seu abdômen e tentou respirar com calma, já sentindo o gosto amargo de bile subir.

Ela olhou para Sara e viu a senhora arregalar os olhos.

— Será que finalmente é um sintoma? — Sara pergunta.

— Sintoma de quê? — James diz, entrando no quarto de surpresa.

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