50 dias até o incidente.
Estávamos no trânsito na sete de setembro. O sinal estava vermelho e eu levava as meninas para a escola. Havia uma carro atrás que parecia nos seguir. Quando o sinal abriu, eu rodei devagar pela pista com o carro em nossa cola. Olhei a hora, ainda era cedo. Virei uma esquina e o carro virou atrás de mim.
- O que diabos esse cara quer? - Disse para mim mesmo.
Natália e Paulo ambas liam um livro entretidas sem se sar contas dos perigos que nos seguiam.
- Papai, quando podemos andar no banco da frente? - Perguntou Paulinha.
- Quando vocês tiverem a autura certa. - Eu falei sem prestar muito atenção na resposta.
Virei outra esquina e mais outra e o carro desapareceu. Voltei para a avenida.
Logo quando voltamos para a avenida o carro reapareceu, deu um encontrão no meu e nós fomos diretos para o posto.
- O filho de uma garota de programa, há crianças aqui! - Eu gritei.
Eu estava mais irritado que nervoso. Graças a Deus minhas garotas seguiam as regras, o cinto de segurança havia impedido elas duas de sofrerem danos mais severos.
- Vocês estão bem? - Perguntei.
- Eu to bem papai, o que houve?
- Ana paula parecia em choque.
- Um asno bateu na gente. Ta tudo bem Paulinha.
Ambas tinham escoriações leves, mas Paula parecia bem assustada.
- Amorzinho, se quiser chorar, chore. Não é feio.
Ela me abraçou aos soluços.
- Eu pensei que iria morrer! - Disse ela aos prantos.
Ela chorou no meu ombro até respirar fundo e se acalmar.
- Melhor? - Perguntei.
Ela balançou com a cabeça.
Os fios do postos cairam ao nosso redor e o poste estava num ângulo de 100 graus. O transformador ameaçava cair, graças a Deus, não para o nosso lado.
- E agora, o que vamos fazer? - Perguntou Natália.
- Vamos ficar no carro e esperar o socorro. Eu ja liguei para a SAMU e eles estão a caminho.
- Não podemos sair? - Perguntou Paulinha.
- Não, amor. Os fios deixaram a terra eletrizada ao nosso redor. Se pisar no chão, você morrer. É mais seguro ficar no, a não!
O transformador soltou um dos lados e ficou empendurado bem em cima de nossoas cabeças.
- Ok meus amores, vamos ter que sair.
Natália prendeu a respiração quando viu o imenso objeto dependurado em nossa direção.
- Como vamos sair papa? - Gritou ela. - Estou com medo!
- Apenas faça o que eu fizer, ok? As duas.
Eu abri a porta do carro e saltei para fora sem tocar em mais nenhuma parte do carro, colocando os dois pés juntos no chão.
- Ok, meninas, agora vocês. Venha primeiro Natália.
Natália fez exatamente o que fiz. Ela abriu a porta do carro, saiu sem tocar em nada mais e caiu com os dois pés no chão. Quando ela foi se mover eu gritei:
- Não! não! Fique aí, não se meche. venha Paula.
Paula teve um pouco de dificuldade, mas fez exatamente o que a outra fez. Saltou do carro e pousou com so dois pés no chão. Nessa hora o transformador do posto se soutou e amassou a lataria inteira do carro. Paula gritou.
- ok, acalmen - se. Façam o que eu exatamente fizer. - falei, embora estivesse mais nervoso do que elas.
Eu arrastei os pés no chão, um após o outro. até que estive num raio de três metros do carro.
- Agora vocês, podem vir as duas juntas mas sem tocar uma na outra.
Nessa hora eu ja escutava o barulho da cirene da SAMU distante.
Ambas as meninas andaram sem remover os pés do chão, colocando um pé após o outro até estarem do meu lado. Pessoas ao redor olhavam sem poder fazerem nada. Quando as duas estavam perto de mim eu as abracei.
- Vocês foram muito corajoso, meninas, muito bem.
Eu beijei as testas das duas.
As pessoas ao redor nos aplaudiram e as meninas começaram a sorrir em meio ao medo. O SAMU parou para nos prestar os primeiros socorros.
Pegamos um ônibus até o centro. Ao chegar la a palhaçada estava armada. Havia uma passeata de protesto pela rua. Milhares de pessoas exibiam bandeiras e cartases pro palestinos bem como mensagens de ódio aos judeus. Muitos cartazes diziam "morte aos judeus, ponha fim ao sionismo." outros falavam "matem os refens." A palhaçada era enorme.
Muitos passaram a bater no ônibus e quase quebraram os vidros da janelas. Uma grande bandeira palestina foi posta diante da catedral escondendo Jesus e seus dois a apóstolos.
- O que ta havendo papai? - Perguntou Paula.
- Isso é o que acontece quando se ajuda terroristas. - Eu falei.
Decidimos descer um pouco mais a frente.
Fomos até o ancoradouro para pegar uma barquinha para juazeiro. Layla estava la. Ela usava um vestido preto comum e seu quipar estava em seu colo rasgado. Havia um grande ponto roxo em seu rosto e marcas nas mãos.
- Layla, o que houve? - Perguntei.
Ela deu um salto e olhou para mim assustada. Seu cabelo desfrenhado era de um loiro bem amarelo e ondulado.
- Os pro palestinos. Me arrastaram pela rua, me espancaram e tentaram me matar. Eu corri pada cá. Não existe mais lugar seguro por aqui. Teremos que voltar para Israel.
Eu sentei ao lado dela.
- Nat, você está com o quite de primeiros socorros?
- Ha essas são suas filhas. Que lindas! - Disse Layla olhando para as meninas.
- Sim papai. - Disse Natália retirando a caixa da bolsa.
- Nat aprendeu a manusear os primeiros socorros desde o orfanato. Parece que temos uma futura médica aqui. - Eu falei.
- Muito lindo. E a outra, o que você quer ser?
- Arqueológa. - Disse Paula timidamente.
A barquinha veio. Nós entramos no barco e eu ajudei a tratar os ferimentos de Layla.
Em juazeiro a situação estava calma. Fomos caminhando até a escola das meninas onde alguém havia pixado "palestina livre" na parede azul, junto com símbolos do nazismo.
- Que horror. - Eu falei.
- Enquanto a guerra durar, essa realidade vai ficar cada vez mais comum.
- Você tem filhas lindas. - Falou Layla Enquanto saíamos da barca ja do lado de Petrolina.
- Obrigado. Você nunca pensou em ter filhos?
- Não, a idade mais comuns para sermos pedidas em casamento é entre os treze e catorze anos. Depois temos que estudar, terminar o ensino regular, fazer faculdade para só então casar.
- Nossa! e você terminou a faculdade?
- Ainda tentando. Eu estava cursando medicina em São Paulo, mas depois que os protestos começaram eu não pude continuar, era perigoso demais sair de casa. Quero voltar a estudar quando voltar a Israel.
A bandeira da palestina ainda estava la na frente da catedral. A praça estava cheia de licho, restos de cartazes e alguma coisa parecida com sangue.
- Você tem um isqueiro? - Perguntei a Layla.
- Tenho, pra que?
- Me empresta.
Eu paguei o isqueiro, fui até a catedral e arranquei a bandeira la de cima. Quando retirei a primeira parte reparei que o clérigo da igreja me ajudava, um homem de meia idade, cabelos brancos e roupas pretas.
Eu estendi a bandeira no ar sobre a praça e ateei fogo nela. A bandeira queimou no meio da praça feito gasolina e o padre aplaudiu e me deu uma benção.
- Devemos nos unir contra toda essa barbaridade meu jovem. - Disse ele.
- Sim, padre, não devemos deixar que nossa cidade seja contaminada pelo ódio.
- Você sabe que fez inimigos poderosos, não sabe? - Me disse Layla.
- Sim, mas meus amigos são mais poderosos ainda.
Ela sorriu o sorriso mais lindo que ja vi.
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Atualizado até capítulo 21
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