Eu Não Grito Com Você, e Você Não Grita Comigo

60 dias até o incidente

CRAIN!!!

O som de vidro se quebrando se espalha por todo o apartamento. Eu estava lendo um livro de papel, sim, um daqueles livros pre históricos que as pessoas liam no passado, quando ouvi o som.

- Meninas, ta tudo bem?

Silêncio. Quando existe silêncio, é bom se preocupar. Eu me levantei e fui até a cozinha. Restos de vidro estavam no chão, um copo daqueles que a gente compra cheio de estrato de tomate. Um líquido escuro, suco de acerola, escorria do copo pelo chão.

- Paulinha! - Eu chamei.

Ela saiu de detrás da geladeira, o rosto sujo e banhado de lágrimas. Escondia as mãos detrás das costas e tinha o olhar triste.

- Deixe me ver suas mãos.

Ela mostrou, meio relutante, havia um corte feio ma palma da mão.

- Você vai gritar comigo!

- Ela não fez por mal, a culpa é min... - Ia dizendo Natália, mas eu fechei a mão na frente dela pra ela calar.

- Eu não vou gritar com vocês. - Eu falei, ajoelhado diante das duas.

- Não vai? - Disse Paula.

Eu peguei um pano e precionei contra a mão dela.

- Não vou, vocês são minhas filhas, não minhas escravas. Um pai que grita com o filho não é realmente um pai. Vamos fazer o seguinte, eu não grito com vocês, e vocês não gritam comigo, ok?

Ambas acemtiram.

- E agora, o que se deve fazer?

- Vamos limpar a sujeira que fizemos. - Disseram as duas, com as lágrimas enchugadas.

- Ótimo. Nat, pegue uma luva para pegar esses cacos, corte uma garrafa e coloque os cacos dentro. Assim ninguém vai se cortar novamente. Paulinha, pegue um pano para limpar o suco. E lembre-se, peguem suco somente da máquina de suco, nada de usar o liquidificador.

Natália tomou uma garrada pet de um litro, cortou ao meio e colocou os cacos dentro. Então passou fita adeziva colando as duas partes e colocou no cesto de lixo.

Enquanto isso, Paula limpava o chão.

- Vai ter filme hoje papai? - Perguntou Paulinha enquanto eu me sentava com o livro na mão.

- Sim vai, assim que eu chegar da faculdade. Que ja está quase na hora de eu ir. Vocês estão prontas meninas.

- Posso ir com essa roupa? - Perguntou Natália. Usava um vestido casual preto longo.

- Pode, vamos. Acho que vou chegar atrasado hoje.

Eu sempre levava as meninas comigo para o trabalho. Eu dava aulas de química experimental e química Orgânica para o ensino médio no Instituto. As meninas amavam o laboratório. Eu havia adotado duas pequenas cientistas.

Enquanto eu estava sentada lendo meu livro num dos bancos da faculdade com as duas meninas ao meu lada cada uma com um livro, um de meus colegas, o Carlos, professor de matemática, sentou ao meu lado.

- Ei bicho, tu ta sabendo dos protestos em São Paulo? - Falou ele. Era gordo, careca, óculos e um sorrizo contagiante. Meu melhor amigo.

- Eu não assisto TV Carl. - Eu chamava ele de Carl porque ele me lembrava Luke Cage, o super heroi da marvel, cujo nome era Carl Lukas.

- Ce precisa ver velho. A onda passou de protestos a carnificina. Tá uma verdadeira palhaçada lá. Veja la, eu to indo para aula agora.

- Eu também. - Eu falei me levantando. - Meninas, botem os jalecos.

Eu havia mandado fazer pequenos jalecos para elas. Carl se foi e eu fui andando com as meninas. No caminho pesquisei sobre isso e vi uma onda de protestos e mortes a favor do povo palestino. Todos condenavam as ações de Israel e apoiavam o povo de gaza nessa luta sem fim.

Eu entrei no laboratório. Meus alunos estavam todos do lado de fora, preparados para a aula. Quando todos entraram nos iniciamos.

Ja em casa, assistindo um filme com as meninas, eu ainda pensava: e se aquela onda de protestos chegasse aqui. Petrolina é uma cidade cujo cultura judia se ve em todos os lugares. A base da cultura do vale do São Francisco é a judaica. Se aquela onda de protestos chegar aqui não vai acabar somente com os judeus, mas com o vale inteiro.

Joazeiro, a cidade vizinha, tinha algumas minurias mulçumanas. Eu nunca os encontrei, apenas achei uma mesquita enquanto andava perdido procurando a escola Adventista. Inclusive há uma pixacao enorme "Palestina resiste" é um muro.

Pro-terroristas.

Bem, o filme que assistíamos era Daniel o musical, algo que fazia as crianças rirem. Depois de assistir eu as coloquei para dormir e dei um beijo de boa noite em cada uma delas.

59 dias até o incidente

Sexta feira é dia da preparação, embora isso deva começar no domingo. Na sexta a gente faz tudo em dobro. Eu e as meninas nos dobramos limpando o apartamento, dando água as plantas e colocando comida pro gato. Nossa alimentação de sábado é feita na sexta feira, coisa simples. Um assado, arroz, feijão, nada era colocado na geladeira e segurava até o almoço do dia seguinte.

Alimentação ovolactovegetariana. Nada de carnes, frango ou peixe. As meninas demoraram um pouco mas se abituaram a essa dieta. Por conta delas mesmos.

Eu fui ao trabalho e voltei mais cedo, então, de banho tomados e prontos, estávamos com o apartamento pronto para receber o pequeno grupo de adolescentes que era eu meu apartamento. Um grupo de adolescentes da igreja que se reunia para estudar a lição e a Bíblia.

56 dias até o incidente

- Paula, Espera a barca atracar. - Eu gritei.

A barca vinha se aproximando e Paula parecia querer pular para dentro da embarcação. Ambas as meninas estavam felizes por poder andar de barco, nem que seja apenas por alguns minutos para atravessar o rio.

Apesar de existir uma ponte, havia também a travessia ma barca. Duas barquinhas estavam em operação, enquanto uma ia, a outra voltava e vive e versa. Eu paguei a passagem das duas meninas e entramos no barco, sentando ao lado da ponte. Quando o barco tomasse rumo ao outro lado, nós estaríamos do lado da grande mulher de pedra deitada numa ilha no meio do rio, uma representação de Yemanjá, a rainha das águas.

As crianças amavam observar ela. Linda, desnubrante e totalmente azul.

- Será que o rio um dia vai levar ela? - Perguntou Paulinha observando a estátua.

- Talvez não. - Eu falei. - Há um ferra saindo das costas dela e afundando na ilha. Se o rio quiser levar um dia, vai ter que levar a ilha junto.

A ilha na verdade era uma ilhota. A verdadeira ilha era bem grande, a ilha do do fogo, que tinha esse nome por causa das lendas de tochas acesas na ilha antes da civilização chegar ao vale. A ilha também é uma base militar e tem uma praia com um rochedo lindo. A ponte passa sobre ela, de modo que é possível ter acesso a ela por meio da ponte.

Quando chegamos do outro lado eu ajudei as meninas a descerem com segurança.

- O senhor tem filhas lindas. - Falou um jovem num sotaque do sul. Ele usava um chapéu tradicional judeu e usava roupas pretas.

- Obrigado. Você é do sul, certo? O que havendo por lá?

- Um verdadeiro genocídio. Vários judeus resolveram deixar São Paulo. Eles estão todos vindo para cá.

As notícias eram alarmantes. E agora, como única opção, os judeus não viram outra solução a não ser vir para ca.

- O que as pessoas não são capazes em nome da religião. - Eu falei.

- Isso não tem nada a ver com religião, irmão. É uma questão de ética. Os mulçumanos sempre quiseram exterminar os judeus da face da terra, e o ódio só aumenta. É só uma questão de tempo para eles quererem exterminar todas as outras religiões também

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