A Esposa do Marechal - Um Final Honrado - Parte 3
O céu está azul, limpo e sem nuvens. Os costumeiros pássaros que sobrevoam a grande capital, para aproveitar os restos dos alimentos vendidos no mercado, preferem ficar distantes. Não é seguro. A paz nos céus é uma farsa, pois a poucos metros do solo, uma disputa feroz se desenrola e os pássaros não querem que algo os atinja, sem querer, nessa disputa.
As pessoas nas ruas ao redor do palácio, olham com um misto de maravilhadas e amedrontadas, nunca viram tal espetáculo, é raro ver uma contenda entre cultivadores de alto nível e as pessoas sabem que são de alto nível, afinal, os golpes desferidos são poderosos e estão destruindo o pátio frontal do palácio.
O pânico inicial deu lugar a curiosidade e aglomeradas próximo ao portão, as pessoas observam o colorido dos raios e das explosões. Mal sabem elas, que aqueles que deveriam proteger o império, estão perdendo para uma garota que mal acabou de despertar seu poder.
Os servos que trouxeram as carroças, com os donativos para a imperatriz-mãe, estão cientes que correm perigo. As telhas estão voando para todos os lados, pedaços de paredes, um dos muros do portão lateral, próximo a entrada onde as carroças estão paradas, foi feito em pedaços. Os servos se escondem atrás de muretas ou colunas, mas não estão totalmente a salvo de alguma tragédia.
Um dos auxiliares do mordomo imperial, observa a cena e como ele também é um servo, não quer mais dor a vida já complicada de outros servos e para isso vai assumir, para si, a responsabilidade de ordenar aos guardas que esvaziem o pátio.
Sem saber desse fato, Jia ajuda as gêmeas a se trocarem, enquanto o soldado Meng Yuan tira os trapos a que foi reduzido seu uniforme de soldado e troca por uma veste de servo, com um capuz que esconde seu rosto, que agora está com barba e cobre, o agora, longos cabelos.
O soldado Meng Yuan troca-se mecanicamente, procura não pensar na humilhação que passou e em todas as dores que sentiu, apenas pensa que é hora de seguir adiante e sozinho.
As gêmeas Xiuying estão vestidas agora de servas, mas suas roupas são diferentes das servas comuns, são as servas que ajudam médicos, suas vestes são da cor bege e usam um turbante simples na cabeça, um lenço bege pendurado no pescoço e uma fita vermelha na cintura. Esconderam os longos cabelos e o lenço esconde parte do rosto.
Os soldados surgem com a notícia que todas as carroças devem deixar o local imediatamente, causando um alívio a todos os servos, que tinham ordens de ficarem até que todas as mercadorias fossem descarregadas, e servos obedecem fielmente a seus patrões, mas como agora é uma ordem dos soldados que obedecem a uma ordem superior, os servos estão correndo para suas carroças. Jia respira aliviada, já estava pensando em inventar alguma coisa, para poder sair antes que alguém desse falta dos prisioneiros.
Subam na carroça! Soldado Meng Yuan vai conduzir a carroça, e eu vou ficar ao lado. - diz Jia apressadamente.
Não sou mais soldado, Jia. Pode me chamar pelo nome. Fui reduzido a servo agora. - comenta triste o ex soldado.
Jia sente um aperto no coração. Não é responsável diretamente pelo que aconteceu com o valoroso e fiel soldado, mas indiretamente é e sua pedra de culpa, amarrada em seu pescoço, pesou mais um pouco.
As carroças estão alinhadas por ordem de chegada, basta virar ao contrário para sair, mas os cavalos e alguns burros, estão amedrontados pelas explosões, barulhos e gritos. Muitos se recusam a sair do lugar e dois deles estão mortos, foram atingidos por pedaços de telhas. Um congestionamento de carroças se instaura.
Os soldados e o auxiliar do mordomo imperial, logo conseguem organizar a saída das carroças. Nenhum soldado está preocupado em revistar carroças ou conferir quem é quem, apenas estão obedecendo à ordem do mordomo imperial, que, com certeza, vai agradar ao imperador.
Jia respira aliviada quando estão do outro lado do portão e em vez de seguir em direção a mansão Zhang, Weng Yuan conduz a carroça em direção ao grande portão, em direção a Estrada Imperial.
Por um momento Jia achou que não conseguiria, quando a masmorra estava ruindo e as gêmeas e o soldado estavam saindo. Eles tinham pequenos ferimentos, mas podiam andar. Felizmente não usavam grilhões, então será possível usar as roupas que trouxe. Escondidos debaixo da escadaria, eles observavam outros soldados aparecerem e assustados, veem a destruição.
O que fazem aí? - pergunta um soldado.
Somos servos da família Zhang e vimos as coisas explodirem, então nos escondemos.
Jovem Jia, você está bem? - é um velho servo, outro amigo de Jia. - Fiquei preocupado quando não vi vocês, ainda bem que tudo já terminou, mas um de seus cavalos foi atingido por uma pedra e minha filha, ele está sangrando muito. Melhor ir lá ver, para que depois não seja punida.
Soldado, venha aqui! A água está por toda parte! - grita outro soldado.
Saiam daqui! - grita o primeiro soldado
Sim, senhor. - diz Jia aliviada.
Se voltando para o velho servo, Jia beija suas mãos.
Obrigada, senhor.
Eu vi tudo e minha senhora também acredita que tudo não passa de mentiras. Resolvi fazer algo também.
Com esse pensamento de alívio, Jia guiou o grupo ao outro pátio.
Ei! Jia, velho Ji. As coisas estão ficando piores! - grita outro conhecido de Jia.
O que foi agora? - pergunta o velho servo.
Parece uma barreira mágica. Ninguém entra e ninguém sai.
Vamos apenas esperar. - determina Jia, enquanto socorre o cavalo, que não está muito ferido.
Jia o que foi que você nos fez? - pergunta Xiuying tranquila, ela não está zangada, mesmo porque vendo Jia se ajoelhar diante de Jingfei, deu a ela a impressão que alguma coisa fez Jia agir daquele jeito e agora ela está se redimindo.
É uma longa história. Podemos conversar depois?
Jia, nós temos que esperar a barreira desaparecer para sair daqui, não acha que tempo é o que temos de sobra? - rebate Xiuying.
As gêmeas já estavam trocadas, com suas novas vestimentas e olhavam para Jia esperando uma resposta e nesse momento os soldados surgiram anunciando a liberação da saída de todos, já que a barreira foi retirada.
Jia respirou aliviada mais uma vez, não está com vontade de falar sobre esse assunto, não agora, depois, talvez, quando todos estiverem a salvo, depois da fronteira.
Quando passam pelo portão do pátio, Xiuying deduz que aquele não é o momento para falar, coisas estão acontecendo e não se pode perder tempo.
Jia, para onde estamos indo? - pergunta ela.
__ A senhora Zhang pediu para nos encontrar depois da fronteira com Ametista.
Os mercadores estão arrumando suas mercadorias, mesmo sendo ainda muito cedo para isso, mas todos sabem que uma adultera vai caminhar pela rua e isso vai fazer com que muitas pessoas se aglomerem e pode causar roubos ou até a destruição das barracas, sendo assim, eles acham melhor desmontar tudo e ficar em algum lugar para apreciar o espetáculo que virá. Com isso, muitas das ruas laterais à rua principal, estão entulhadas de carroças, mercadorias e pessoas. Weng Yuan resolve seguir em frente até o final daquela rua que estão, para depois contornar a direita e sair pelo portão norte.
Todos estão em silêncio, o perigo de serem descobertos é grande, apesar de todo caos que aquele embate entre cultivadores está causando, mas todos eles não pensam que não conseguirão, eles acreditam que tudo vai dar certo, principalmente as gêmeas Xiuying, afinal elas têm uma missão a cumprir, mesmo que as coisas tenham saído do controle, ainda têm uma missão a cumprir.
Chegando no portão, novo congestionamento de carroças e pessoas com carrinhos de mão. Muitos dos mercadores não querem assistir a nada, estão receosos por causa de suas mercadorias valiosas e preferem voltar para casa. O bom na situação é que os soldados não estão revistando ninguém e muito menos as carroças, parece que a ordem é liberar quem quer sair da cidade.
Novamente Jia respira aliviada quando passam pelo portão, seu plano deu certo, o que resta agora é o futuro, mas ela vai pensar nisso depois.
Jia, a senhora Zhang vai nos encontrar na fronteira, mas dizem que mulher alguma, chamada de adultera, chega viva na Estrada dos Comuns. - pergunta Weng Yuan.
Pelo pouco que pude ver, a senhora Zhang e a concubina Ehuang, sabem se cuidar muito bem. Elas estarão lá, garanto.
São três a cinco dias de viagem até a fronteira. Três dias se a estrada estiver em boas condições e mais do que isso, se não. Como não choveu, Jia está confiante que em três dias ou no máximo quatro dias estarão na fronteira, pretende fazer com que Weng Yuan mantenha uma velocidade boa e constante, não correr, para não chamar a atenção, mas em uma boa velocidade, tem certeza ela que chegarão no tempo determinado.
__ Não vamos fazer paradas pelo caminho. - fala Jia alto o suficiente para que todos ouçam. - Só em caso de necessidade. Vamos comer em movimento, vou revesar com o solda …, digo, com Weng Yuan para conduzir a carroça. Espero com isso, chegar em três dias na fronteira.
Ninguém questionou, todos querem se afastar daquele lugar e do destino que planejaram para eles e mais importante, rever Jingfei e Ehuang.
Durante três dias e duas noites, viajam pela Estrada dos Comuns. Lógico que fazem paradas. Os cavalos não aguentam um ritmo forte desses e nesses momentos os cavalos são alimentados, e as quatro pessoas também, mas não dormem, apenas se refrescam e continuam. Ao cair da noite do terceiro dia, eles passam pelo totem que identifica que naquele ponto começa o Reino de Ametista. Estão a salvo.
A um pouco mais de três quilômetros da fronteira, existe uma cidade, cuja maioria da população é de agricultores. A cidade em si é pequena, com um comércio bem ativo, algumas pousadas simples, a casa do administrador da cidade e as casas de outros moradores.
Acha seguro entrarmos na cidade, Jia? - pergunta Weng Yuan.
Melhor não. Nessa região, conheço um agricultor, que fornece temperos no mercado da capital, mas também não é seguro vê-lo. - comenta Jia.
Melhor ficarmos em algum lugar que a senhora Zhang e a concubina Ehuang nos ache, não concorda? - opina Xiuying.
Sim. - responde Jia. - Vamos ficar próximos da estrada, mas, ao mesmo tempo, longe da cidade.
Quem sabe assim poderemos conversar, não é Jia? - fala Xiuying-in.
Sim, poderemos.
Os dois cavalos estão cansados, seus pelos brilham na luz da lua, por causa do suor. Estão amarrados a uma árvore, perto de um belo gramado, para facilitar a alimentação e ao lado, é colocada uma tina, com água de um pequeno rio próximo dali. Uma fogueira é instalada ao lado da carroça, para fazer a comida e enquanto isso as gêmeas vão até o rio se banhar e trocar a roupa do disfarce por uma roupa comum e o mesmo fez Weng Yuan, um pouco antes. Jia foi primeiro e agora prepara a comida.
Um ensopado simples é servido, algo melhor do que pão e frutas ao balanço da carroça. O silêncio significa que estão saboreando a comida em paz e em liberdade.
Embora cansados, o sono não chega, talvez a ansiedade de fazer perguntas a Jia seja o ponto para mantê-los acordados.
Jia, acho que agora pode falar o que aconteceu, não pode? - pergunta Xiuying.
O olhar de Jia acompanha a fumaça da fogueira até o céu estrelado. Os ruídos da mata ao redor, o canto dos pássaros noturnos, dá uma atmosfera tranquila, momento para uma conversa pacifica, como Jia espera que aconteça.
As palavras começam a sair de sua boca, Jia conta com todos os detalhes como se deixou seduzir por tia Meirong, com as promessas sobre a união com o mordomo Yun, sobre o depoimento falso ao general, ao imperador e ao marechal Zhang. Contou da decepção ao ver o desapontamento do mordomo, quando contou o que fez, contou da aproximação da concubina Ji Huang, contou do plano para libertá-los e tudo que a fez se sentir culpada.
Sinto muito. Vou entender se não me perdoarem, mas acreditem, eu sinto muito e isso é verdadeiro. - as lágrimas atrapalham no final, mas todos entenderam as palavras.
Jia, você não tem idéia da tragédia que poderia acontecer …
Irmã Xiuying-in, por favor, não é o momento ainda. - Xiuying se vira para Jia e assim olha em seus olhos. - Compreendo o desespero que se sente quando algo maravilhoso pode ser seu, mas que coisas ou pessoas podem impedir isso, mas também acredito que você poderia ter confiado mais em nós, digo, na senhora Zhang e em mim. Você poderia ter falado conosco, senão com a senhora Zhang, mas poderia ter falado comigo, eu ajudaria, sabe que sim.
Eu estava desesperada. - murmura uma Jia que ainda chora.
Sei disso, Jia, mas faltou a você a confiança em seus amigos verdadeiros. Nós sempre a apoiamos. A senhora Zhang salvou sua vida!
Eu sei! Acha que não passou um dia sequer, que eu não tenha me sentido como a criatura mais horrível de todo o mundo? Eu vi o desprezo nos olhos da pessoa que mais amo no mundo, senti a humilhação dos colegas e me senti como um tapete em que tia Meirong limpava os pés. Tudo isso só me fazia sentir mais e mais mal. - as lágrimas ainda escorrem pelo rosto triste de Jia.
Ainda bem que a concubina Ji Huang ajudou você. - comenta Weng Yuan.
Weng Yuan, eu sinto por você também, mas se eu não tivesse começado tudo, as mentiras daquele seu colega não teriam afetado você.
Não vou dizer que está tudo bem, porque seria mentira, mas a decepção maior veio de minha família, que nunca me apoiou. - Weng Yuan sorri tristemente. - Meu próprio irmão me chicoteou, riu de mim, na minha humilhação e meu pai me repudiou como filho. Tudo porque eu não sou o que ele esperava, mesmo sendo o mais velho, ainda sou um soldado e meu irmão mais novo é um oficial. - ele ri tristemente de novo. - Agora não sou mais soldado e não tenho família. Quer saber de algo? Apesar da decepção, que eu esperava que seria grande, existe uma sensação de alívio, por que agora eu não tenho que provar nada a ninguém. Entendem?
Um silêncio que na verdade, é o sinal de entendimento.
Jia, você comentou que a senhora Zhang e a concubina Ehuang poderiam cuidar delas mesmas. O que quis dizer?
Jia conta sobre o que viu pela janela da sala do trono. Conta como a masmorra ficou semidestruída e assim dando passagem para que eles fugissem.
Um dragão? - fala Xiuying-in com os olhos arregalados.
Espadas da Alma? Armas Divinas?- fala sua irmã gêmea.
Ouvi pouca coisa, mas entendi que tudo isso chegou até elas na Mansão das Esquecidas.
As gêmeas olham uma para outra e chegam agora a compreender as palavras da Senhora das Águas, ao dizer que as duas mulheres receberiam as graças dos céus, era sobre isso, que um poder se aproximariam delas, que as evoluiriam até alcançar o patamar ideal, para lutar contra os irmãos Tian.
É isso, irmã Xiuying?
É isso o quê? - pergunta Jingfei, pousando calmamente perto deles.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Joyce Castro
ótima história autora, se poder me da uma ajuda na minha ficarei muito agradecida/Kiss/
2024-09-10
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