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A Esposa do Marechal - Um Final Honrado - Parte 3

A Fuga da Capital

O céu está azul, limpo e sem nuvens. Os costumeiros pássaros que sobrevoam a grande capital, para aproveitar os restos dos alimentos vendidos no mercado, preferem ficar distantes. Não é seguro. A paz nos céus é uma farsa, pois a poucos metros do solo, uma disputa feroz se desenrola e os pássaros não querem que algo os atinja, sem querer, nessa disputa.

As pessoas nas ruas ao redor do palácio, olham com um misto de maravilhadas e amedrontadas, nunca viram tal espetáculo, é raro ver uma contenda entre cultivadores de alto nível e as pessoas sabem que são de alto nível, afinal, os golpes desferidos são poderosos e estão destruindo o pátio frontal do palácio.

O pânico inicial deu lugar a curiosidade e aglomeradas próximo ao portão, as pessoas observam o colorido dos raios e das explosões. Mal sabem elas, que aqueles que deveriam proteger o império, estão perdendo para uma garota que mal acabou de despertar seu poder.

Os servos que trouxeram as carroças, com os donativos para a imperatriz-mãe, estão cientes que correm perigo. As telhas estão voando para todos os lados, pedaços de paredes, um dos muros do portão lateral, próximo a entrada onde as carroças estão paradas, foi feito em pedaços. Os servos se escondem atrás de muretas ou colunas, mas não estão totalmente a salvo de alguma tragédia.

Um dos auxiliares do mordomo imperial, observa a cena e como ele também é um servo, não quer mais dor a vida já complicada de outros servos e para isso vai assumir, para si, a responsabilidade de ordenar aos guardas que esvaziem o pátio.

Sem saber desse fato, Jia ajuda as gêmeas a se trocarem, enquanto o soldado Meng Yuan tira os trapos a que foi reduzido seu uniforme de soldado e troca por uma veste de servo, com um capuz que esconde seu rosto, que agora está com barba e cobre, o agora, longos cabelos.

O soldado Meng Yuan troca-se mecanicamente, procura não pensar na humilhação que passou e em todas as dores que sentiu, apenas pensa que é hora de seguir adiante e sozinho.

As gêmeas Xiuying estão vestidas agora de servas, mas suas roupas são diferentes das servas comuns, são as servas que ajudam médicos, suas vestes são da cor bege e usam um turbante simples na cabeça, um lenço bege pendurado no pescoço e uma fita vermelha na cintura. Esconderam os longos cabelos e o lenço esconde parte do rosto.

Os soldados surgem com a notícia que todas as carroças devem deixar o local imediatamente, causando um alívio a todos os servos, que tinham ordens de ficarem até que todas as mercadorias fossem descarregadas, e servos obedecem fielmente a seus patrões, mas como agora é uma ordem dos soldados que obedecem a uma ordem superior, os servos estão correndo para suas carroças. Jia respira aliviada, já estava pensando em inventar alguma coisa, para poder sair antes que alguém desse falta dos prisioneiros.

Subam na carroça! Soldado Meng Yuan vai conduzir a carroça, e eu vou ficar ao lado. - diz Jia apressadamente.

Não sou mais soldado, Jia. Pode me chamar pelo nome. Fui reduzido a servo agora. - comenta triste o ex soldado.

Jia sente um aperto no coração. Não é responsável diretamente pelo que aconteceu com o valoroso e fiel soldado, mas indiretamente é e sua pedra de culpa, amarrada em seu pescoço, pesou mais um pouco.

As carroças estão alinhadas por ordem de chegada, basta virar ao contrário para sair, mas os cavalos e alguns burros, estão amedrontados pelas explosões, barulhos e gritos. Muitos se recusam a sair do lugar e dois deles estão mortos, foram atingidos por pedaços de telhas. Um congestionamento de carroças se instaura.

Os soldados e o auxiliar do mordomo imperial, logo conseguem organizar a saída das carroças. Nenhum soldado está preocupado em revistar carroças ou conferir quem é quem, apenas estão obedecendo à ordem do mordomo imperial, que, com certeza, vai agradar ao imperador.

Jia respira aliviada quando estão do outro lado do portão e em vez de seguir em direção a mansão Zhang, Weng Yuan conduz a carroça em direção ao grande portão, em direção a Estrada Imperial.

Por um momento Jia achou que não conseguiria, quando a masmorra estava ruindo e as gêmeas e o soldado estavam saindo. Eles tinham pequenos ferimentos, mas podiam andar. Felizmente não usavam grilhões, então será possível usar as roupas que trouxe. Escondidos debaixo da escadaria, eles observavam outros soldados aparecerem e assustados, veem a destruição.

O que fazem aí? - pergunta um soldado.

Somos servos da família Zhang e vimos as coisas explodirem, então nos escondemos.

Jovem Jia, você está bem? - é um velho servo, outro amigo de Jia. - Fiquei preocupado quando não vi vocês, ainda bem que tudo já terminou, mas um de seus cavalos foi atingido por uma pedra e minha filha, ele está sangrando muito. Melhor ir lá ver, para que depois não seja punida.

Soldado, venha aqui! A água está por toda parte! - grita outro soldado.

Saiam daqui! - grita o primeiro soldado

Sim, senhor. - diz Jia aliviada.

Se voltando para o velho servo, Jia beija suas mãos.

Obrigada, senhor.

Eu vi tudo e minha senhora também acredita que tudo não passa de mentiras. Resolvi fazer algo também.

Com esse pensamento de alívio, Jia guiou o grupo ao outro pátio.

Ei! Jia, velho Ji. As coisas estão ficando piores! - grita outro conhecido de Jia.

O que foi agora? - pergunta o velho servo.

Parece uma barreira mágica. Ninguém entra e ninguém sai.

Vamos apenas esperar. - determina Jia, enquanto socorre o cavalo, que não está muito ferido.

Jia o que foi que você nos fez? - pergunta Xiuying tranquila, ela não está zangada, mesmo porque vendo Jia se ajoelhar diante de Jingfei, deu a ela a impressão que alguma coisa fez Jia agir daquele jeito e agora ela está se redimindo.

É uma longa história. Podemos conversar depois?

Jia, nós temos que esperar a barreira desaparecer para sair daqui, não acha que tempo é o que temos de sobra? - rebate Xiuying.

As gêmeas já estavam trocadas, com suas novas vestimentas e olhavam para Jia esperando uma resposta e nesse momento os soldados surgiram anunciando a liberação da saída de todos, já que a barreira foi retirada.

Jia respirou aliviada mais uma vez, não está com vontade de falar sobre esse assunto, não agora, depois, talvez, quando todos estiverem a salvo, depois da fronteira.

Quando passam pelo portão do pátio, Xiuying deduz que aquele não é o momento para falar, coisas estão acontecendo e não se pode perder tempo.

Jia, para onde estamos indo? - pergunta ela.

__ A senhora Zhang pediu para nos encontrar depois da fronteira com Ametista.

Os mercadores estão arrumando suas mercadorias, mesmo sendo ainda muito cedo para isso, mas todos sabem que uma adultera vai caminhar pela rua e isso vai fazer com que muitas pessoas se aglomerem e pode causar roubos ou até a destruição das barracas, sendo assim, eles acham melhor desmontar tudo e ficar em algum lugar para apreciar o espetáculo que virá. Com isso, muitas das ruas laterais à rua principal, estão entulhadas de carroças, mercadorias e pessoas. Weng Yuan resolve seguir em frente até o final daquela rua que estão, para depois contornar a direita e sair pelo portão norte.

Todos estão em silêncio, o perigo de serem descobertos é grande, apesar de todo caos que aquele embate entre cultivadores está causando, mas todos eles não pensam que não conseguirão, eles acreditam que tudo vai dar certo, principalmente as gêmeas Xiuying, afinal elas têm uma missão a cumprir, mesmo que as coisas tenham saído do controle, ainda têm uma missão a cumprir.

Chegando no portão, novo congestionamento de carroças e pessoas com carrinhos de mão. Muitos dos mercadores não querem assistir a nada, estão receosos por causa de suas mercadorias valiosas e preferem voltar para casa. O bom na situação é que os soldados não estão revistando ninguém e muito menos as carroças, parece que a ordem é liberar quem quer sair da cidade.

Novamente Jia respira aliviada quando passam pelo portão, seu plano deu certo, o que resta agora é o futuro, mas ela vai pensar nisso depois.

Jia, a senhora Zhang vai nos encontrar na fronteira, mas dizem que mulher alguma, chamada de adultera, chega viva na Estrada dos Comuns. - pergunta Weng Yuan.

Pelo pouco que pude ver, a senhora Zhang e a concubina Ehuang, sabem se cuidar muito bem. Elas estarão lá, garanto.

São três a cinco dias de viagem até a fronteira. Três dias se a estrada estiver em boas condições e mais do que isso, se não. Como não choveu, Jia está confiante que em três dias ou no máximo quatro dias estarão na fronteira, pretende fazer com que Weng Yuan mantenha uma velocidade boa e constante, não correr, para não chamar a atenção, mas em uma boa velocidade, tem certeza ela que chegarão no tempo determinado.

__ Não vamos fazer paradas pelo caminho. - fala Jia alto o suficiente para que todos ouçam. - Só em caso de necessidade. Vamos comer em movimento, vou revesar com o solda …, digo, com Weng Yuan para conduzir a carroça. Espero com isso, chegar em três dias na fronteira.

Ninguém questionou, todos querem se afastar daquele lugar e do destino que planejaram para eles e mais importante, rever Jingfei e Ehuang.

Durante três dias e duas noites, viajam pela Estrada dos Comuns. Lógico que fazem paradas. Os cavalos não aguentam um ritmo forte desses e nesses momentos os cavalos são alimentados, e as quatro pessoas também, mas não dormem, apenas se refrescam e continuam. Ao cair da noite do terceiro dia, eles passam pelo totem que identifica que naquele ponto começa o Reino de Ametista. Estão a salvo.

A um pouco mais de três quilômetros da fronteira, existe uma cidade, cuja maioria da população é de agricultores. A cidade em si é pequena, com um comércio bem ativo, algumas pousadas simples, a casa do administrador da cidade e as casas de outros moradores.

Acha seguro entrarmos na cidade, Jia? - pergunta Weng Yuan.

Melhor não. Nessa região, conheço um agricultor, que fornece temperos no mercado da capital, mas também não é seguro vê-lo. - comenta Jia.

Melhor ficarmos em algum lugar que a senhora Zhang e a concubina Ehuang nos ache, não concorda? - opina Xiuying.

Sim. - responde Jia. - Vamos ficar próximos da estrada, mas, ao mesmo tempo, longe da cidade.

Quem sabe assim poderemos conversar, não é Jia? - fala Xiuying-in.

Sim, poderemos.

Os dois cavalos estão cansados, seus pelos brilham na luz da lua, por causa do suor. Estão amarrados a uma árvore, perto de um belo gramado, para facilitar a alimentação e ao lado, é colocada uma tina, com água de um pequeno rio próximo dali. Uma fogueira é instalada ao lado da carroça, para fazer a comida e enquanto isso as gêmeas vão até o rio se banhar e trocar a roupa do disfarce por uma roupa comum e o mesmo fez Weng Yuan, um pouco antes. Jia foi primeiro e agora prepara a comida.

Um ensopado simples é servido, algo melhor do que pão e frutas ao balanço da carroça. O silêncio significa que estão saboreando a comida em paz e em liberdade.

Embora cansados, o sono não chega, talvez a ansiedade de fazer perguntas a Jia seja o ponto para mantê-los acordados.

Jia, acho que agora pode falar o que aconteceu, não pode? - pergunta Xiuying.

O olhar de Jia acompanha a fumaça da fogueira até o céu estrelado. Os ruídos da mata ao redor, o canto dos pássaros noturnos, dá uma atmosfera tranquila, momento para uma conversa pacifica, como Jia espera que aconteça.

As palavras começam a sair de sua boca, Jia conta com todos os detalhes como se deixou seduzir por tia Meirong, com as promessas sobre a união com o mordomo Yun, sobre o depoimento falso ao general, ao imperador e ao marechal Zhang. Contou da decepção ao ver o desapontamento do mordomo, quando contou o que fez, contou da aproximação da concubina Ji Huang, contou do plano para libertá-los e tudo que a fez se sentir culpada.

Sinto muito. Vou entender se não me perdoarem, mas acreditem, eu sinto muito e isso é verdadeiro. - as lágrimas atrapalham no final, mas todos entenderam as palavras.

Jia, você não tem idéia da tragédia que poderia acontecer …

Irmã Xiuying-in, por favor, não é o momento ainda. - Xiuying se vira para Jia e assim olha em seus olhos. - Compreendo o desespero que se sente quando algo maravilhoso pode ser seu, mas que coisas ou pessoas podem impedir isso, mas também acredito que você poderia ter confiado mais em nós, digo, na senhora Zhang e em mim. Você poderia ter falado conosco, senão com a senhora Zhang, mas poderia ter falado comigo, eu ajudaria, sabe que sim.

Eu estava desesperada. - murmura uma Jia que ainda chora.

Sei disso, Jia, mas faltou a você a confiança em seus amigos verdadeiros. Nós sempre a apoiamos. A senhora Zhang salvou sua vida!

Eu sei! Acha que não passou um dia sequer, que eu não tenha me sentido como a criatura mais horrível de todo o mundo? Eu vi o desprezo nos olhos da pessoa que mais amo no mundo, senti a humilhação dos colegas e me senti como um tapete em que tia Meirong limpava os pés. Tudo isso só me fazia sentir mais e mais mal. - as lágrimas ainda escorrem pelo rosto triste de Jia.

Ainda bem que a concubina Ji Huang ajudou você. - comenta Weng Yuan.

Weng Yuan, eu sinto por você também, mas se eu não tivesse começado tudo, as mentiras daquele seu colega não teriam afetado você.

Não vou dizer que está tudo bem, porque seria mentira, mas a decepção maior veio de minha família, que nunca me apoiou. - Weng Yuan sorri tristemente. - Meu próprio irmão me chicoteou, riu de mim, na minha humilhação e meu pai me repudiou como filho. Tudo porque eu não sou o que ele esperava, mesmo sendo o mais velho, ainda sou um soldado e meu irmão mais novo é um oficial. - ele ri tristemente de novo. - Agora não sou mais soldado e não tenho família. Quer saber de algo? Apesar da decepção, que eu esperava que seria grande, existe uma sensação de alívio, por que agora eu não tenho que provar nada a ninguém. Entendem?

Um silêncio que na verdade, é o sinal de entendimento.

Jia, você comentou que a senhora Zhang e a concubina Ehuang poderiam cuidar delas mesmas. O que quis dizer?

Jia conta sobre o que viu pela janela da sala do trono. Conta como a masmorra ficou semidestruída e assim dando passagem para que eles fugissem.

Um dragão? - fala Xiuying-in com os olhos arregalados.

Espadas da Alma? Armas Divinas?- fala sua irmã gêmea.

Ouvi pouca coisa, mas entendi que tudo isso chegou até elas na Mansão das Esquecidas.

As gêmeas olham uma para outra e chegam agora a compreender as palavras da Senhora das Águas, ao dizer que as duas mulheres receberiam as graças dos céus, era sobre isso, que um poder se aproximariam delas, que as evoluiriam até alcançar o patamar ideal, para lutar contra os irmãos Tian.

É isso, irmã Xiuying?

É isso o quê? - pergunta Jingfei, pousando calmamente perto deles.

A Mentira de uma Corte

As pessoas, que esperavam perto do portão principal do palácio, ficaram decepcionadas quando as duas mulheres sobrevoaram por cima de suas cabeças, em direção a Estrada Imperial e todos voltaram suas cabeças para acompanhar, até onde podiam, as mulheres seguirem em direção a Estrada dos Comuns.

Homens foram contratados para apedrejar as mulheres e incentivar outros a fazerem o mesmo, mas não funcionou, eles apenas se misturam na multidão, com a prata recebida pelo pagamento de um serviço que nunca fizeram e somem.

O pátio externo frontal, está um caos. Tudo foi, de alguma maneira, quebrado, trincado ou rachado. O telhado têm buracos enormes, as telhas forradas de ouro, voaram para além do muro e sumiram, outras atingiram os animais das carroças, as janelas do palácio ou alguns soldados que faziam a segurança da corte.

A entrada principal do palácio está destruída. Antes de entrar na sala do trono, existe uma antessala, onde as pessoas aguardam sua vez para serem recebidos pelo imperador. Essa sala não existe mais, o que resta são escombros, por ela passou voando dois dos grandes Guardiões do Império. Outra sala ao lado da sala do trono, que servia como sala de reuniões ou para uma refeição com menos pompa, também foi destruída.

A passagem que leva até as masmorras, mostram o rastro da destruição, com paredes queimadas, móveis destruídos e finalmente a masmorra que antes era a imagem da tristeza, pelas suas cores apagadas, pedras gastas e o som de lamurias, que quase ninguém ouvia, agora é só um amontoado de pedras, madeiras e telhas velhas. Por sorte, os únicos presos eram as gêmeas e Weng Yuan, que fugiram quando as paredes ruíram.

Os focos de incêndio estão sendo apagados pelos servos, que surgiram rapidamente, na mesma velocidade que fugiram quando tudo começou.

A corte está em choque, alguns se encantaram com as atitudes e palavras das duas mulheres, outros as estão julgando e condenando.

Vossa majestade, algo deve ser feito rápido! Aquela mulher não pode ficar responsável pelo herdeiro do trono! - fala com veemência o conselheiro Yan.

Aquela mulher? - responde o imperador aos berros. - O senhor está ciente do que aconteceu aqui? O senhor ouviu as palavras das duas? O senhor percebeu que fomos vítimas de uma intriga para expulsar as duas da vida dessa corte?

Vossa majestade deve ponderar esse assunto com calma …

Conselheiro Yan, com qual calma esse imperador deve ponderar? A mesma quando eu ouvia a única pessoa que eu confio, dizer e com provas, que é inocente? Ou com a mesma calma que fez com que o senhor tentou nos convencer que elas eram culpadas? Esse imperador acaba de ver a mulher que ele ama ser banida e levar com ela meu filho e o senhor diz que devo ponderar com calma!

Vossa majestade, talvez o filho não seja seu, afinal nada garante que aquelas coisas, que flutuam ao redor delas, não possam engravidar uma mulher, talvez …

O conselheiro Li You Xin imaginou que mantendo aquela história de que Lin Ehuang é adultera, talvez acalmasse o imperador e trouxesse pontos para si e para os planos do amigo conselheiro Yan. Talvez não. Sua boca mal terminou de pronunciar a última palavra, quando sua cabeça já estava no ar em direção ao piso sujo com entulho.

Alguém mais questiona a paternidade desse imperador? - pergunta aos berros o imperador Guang GangGuang, que guarda sua espada novamente.

Vossa majestade, acalme-se. Não existe nada que possamos fazer. As duas tinham no olhar a determinação de não voltar ou dar ouvidos aos sentimentos, que provavelmente ainda sentem pelo senhor e por seu irmão. - o conselheiro Yang olha em direção ao horizonte. - Não há como segui-las, mas é certo que vão para Ametista e de lá podem escolher qualquer reino do continente para viver.

E o que este imperador deve fazer? Morrer aos poucos de arrependimento? - pergunta desolado o imperador, voltando a sentar em seu trono.

O imperador terá companhia nessa morte lenta. - comenta o marechal Zhang.

Senhores, eu tenho uma sugestão. - o conselheiro Yang esperou que o imperador olhasse para ele, mas aquele homem que comando um dos mais temidos impérios do continente, está com a cabeça baixa e os olhos fechados. - Vossa majestade, em primeiro lugar devemos limpar de vez os nomes de Liang Jingfei e Lin Ehuang, das mentiras inventadas e para isso um decreto deve ser feito agora, marcando um novo julgamento para daqui a noventa dias e enquanto isso, baseado no que foi dito, buscar as provas que as inocentam. Finalmente, após a inocência provada, serão as duas novamente conduzidas as suas posições.

Isso é um absurdo! - fala o conselheiro Yan.

Absurdo porque, conselheiro? O senhor vai sustentar essa mentira, mesmo diante do que foi dito nessa sala?

Não, vossa majestade, claro que não, mas não se pode ter um decreto para que os lugares delas sejam devolvidos. A lei é clara, um decreto não pode ser quebrado.

O único som que se ouve na sala do trono, é o arrastar do corpo do conselheiro pelos servos e o som do vômito de algumas damas da corte, ao ver o rastro de sangue que fica no piso.

Isso é certo, vossa majestade, mas nada o impede de fazer um decreto para conhecimento de todo o império, que Lin Ehuang é sua primeira esposa e nada impede que o marechal Zhang se case novamente com Liang Jingfei, isso tudo depois de comprovar definitivamente a inocência das duas. - termina calmamente o conselheiro Yang que olha sorrateiro para o conselheiro Yan que está vermelho de raiva.

Isso é um absurdo! Eu sou a imperatriz!

Vossa majestade tem razão, mas como o imperador tem o direito de ter uma imperatriz e uma primeira esposa e como esse cargo jamais foi ocupado por alguém, esse alguém pode ser Lin Ehuang. - o conselheiro Yang termina e observa o imperador retornar de sua apatia, seus olhos brilham agora.

Que minhas palavras sejam escritas e se tornem decretos, mas antes esse imperador quer a mudança do escriba. Mordomo, traga o escriba da cozinha e leve esse daqui para os estábulos imperiais. Não me deixe olhar para ele nunca mais. Conselheiro Yang, vai ficar encarregado desse novo julgamento, o que pedir a esse imperador será concedido.

O imperador Guang realmente saiu da apatia que estava. Seu coração, por breves momentos, perdeu a vontade de fazer qualquer coisa. Mal sabe ele que o conselheiro Yang o salvou de ser dominado pela dor e pelo conselheiro Yan.

Vossa majestade, a providência mais séria é destituir o homem de nome He Yue Jin de seu cargo de oficial, mantê-lo sob custódia e sem comunicação com ninguém. Depois disso, manter a concubina Ji Huang em prisão domiciliar severa, pois ela é uma testemunha importante no caso e sua vida pode correr perigo.

Não acha exagerar, conselheiro Yang?

Em absoluto, conselheiro Yan. Afinal, esses dois não planejaram tudo sozinhos, alguém de uma camada superior fez o plano e eles sabem quem são essas pessoas, que talvez para se salvar possam atentar contra a vida deles.

Eu me encarrego dessa parte, se vossa majestade permitir. - se oferece o marechal Zhang.

Sim, faça isso. Todos que forem presos nessa averiguação, deverão ficar nas prisões do quartel-general e sob sua responsabilidade irmão. - o imperador está confiante, nada está perdido, no final das contas.

O escriba entra na sala do trono. O jovem está nervoso. Lembra que na última vez que esteve nesse lugar, o conselheiro Yan o humilhou e o mandou para a cozinha, mesmo ele sendo o primeiro colocado na prova dos escribas do reino, no seu lugar foi indicado aquele que passou por ele aos prantos. Um velho decadente e inescrupuloso, que gostava de humilhar a todos em função de seu cargo.

O imperador pergunta seu nome.

__ Escriba Yu Ming, vossa majestade.

O imperador começa a falar o que quer nos decretos e o novo escriba anota tudo com calma. O imperador está firme em suas palavras, se antes alguns questionavam a capacidade do imperador em tomar decisões, talvez agora mudem de idéia. Sua amada concubina sempre lhe dizia que ele é um homem inteligente, sábio e que foi feito para governar esse grande império e com isso em mente e não querendo decepcionar sua amada, vai se impor como imperador que ele é. Nas primeiras palavras, para o primeiro decreto, o imperador condenou o conselheiro Li You Xin de difamar e caluniar a futura primeira esposa do imperador e com isso a família toda está condenada também. O imperador lembrou da propriedade da família Li na província dos Cinco Lagos e os exilou lá, sendo que eles estão proibidos de voltar a capital, sob pena de decapitação. O segundo decreto é para instaurar um novo julgamento, dentro de noventa dias e que o responsável para apurar o caso e juntar as provas, será o conselheiro Yang Dingxiang. Um terceiro decreto, para surpresa de todos, diz que todas as pessoas envolvidas na apuração dos fatos, no novo julgamento, estarão sob a custódia do marechal Zhang e presos no quartel-general, não importando quem sejam.

Novo silêncio na sala do trono. Alguns acham que o imperador foi duro com a família do falecido conselheiro, no entanto, a maioria acha que o imperador está certo em suas ações.

Quem olha para tia Meirong com seu rosto tranquilo, não imagina como está seu interior. A velha mulher sabe que está em uma situação preocupante e precisa de alguém para jogar a culpa e quando seu olhar cruza com o da imperatriz Guang Li Hua, tia Meirong sabe que aquela mulher vai jogar toda culpa nela e nesse jogo, o poder da imperatriz é maior. Tia Meirong não vai desistir, talvez, pensa ela, deva jogar a culpa na concubina Li Liling, aquela tola já deixou claro a todos que faria qualquer coisa para ficar com o marechal Zhang. Talvez por um momento, tia Meirong se sentiu vitoriosa mais uma vez, mas ao olhar em volta, seus olhos se encontram com o olhar tranquilo de Ji Huang e mais uma vez, o tremor da queda abalou tia Meirong. Aquela concubina foi citada duas vezes por Jingfei quando se defendia e o imperador a deixou em prisão domiciliar, porque o que ela tem a dizer é importante. Tia Meirong enfurece o olhar, para advertir a concubina, no entanto Ji Huang apenas desvia o olhar para frente, demonstrando que não sente temor algum.

Tia Meirong voltou a estaca zero, não sabe o que fazer. Na verdade ela sabe sim. Sabe que a concubina e o soldado devem morrer antes de falarem com o conselheiro ou outra pessoa qualquer e ela sabe quem pode fazer isso para ela, afinal, servos fazem qualquer coisa pela liberdade. A mulher suspira aliviada, noventa dias é tempo suficiente para eliminar mais um obstáculo de sua vida.

O agora destituído de seu cargo de oficial, o soldado He Yue Jin está temeroso quanto ao futuro. Além de ser julgado pelo tribunal do exército, vai ser julgado pela confusão que tia Meirong o envolveu e desse, o resultado será a morte, já que a falsa acusação de adultério foi em direção a um membro da família imperial, melhor a dois membros da família imperial. Ele precisa se fazer de vitima, dizer, quando depor, que foi orientado a fazer tudo aquilo pela promessa de um cargo, algo que todos sabem que sempre quis. Ele sabe também que não pode acusar tia Meirong, talvez o sobrinho a proteja e ele não pode correr o risco de ser alvo de mais desconfiança. O soldado está irritado, suas mãos estão presas e está sendo tratado como um criminoso, ele precisa de uma saída. Nesse momento ele vê a concubina Li Liling envolta em um pano escuro, está isolada por exalar um cheiro desagradável, depois que Jingfei a presenteou com esterco de cavalo e nesse instante uma idéia surgiu em sua mente. Essa é a sua oportunidade, vai dizer que todos os detalhes foram dados por aquela mulher, que fez tudo isso para ser a esposa oficial do marechal Zhang e como ela fala aos quatro cantos que faria qualquer coisa para isso acontecer, ela mesma se acusa. Isso é o que fará, ele será a vitima e Li Liling recebe a culpa, vai preparar com calma seu depoimento, afinal terá noventa dias para isso.

Ji Huang está tranquila. Sua mente está clara sobre tudo, inclusive o que deve fazer a partir desse momento. Não existe dúvida, não mais. Ela ficou um bom tempo observando tia Meirong e suas expressões faciais e concluiu com exatidão que a velha dama procurava alguém para culpar por tudo. Viu também a expressão de calma e desprezo da imperatriz quando trocou olhares com tia Meirong, o que significa que ali está uma pessoa que tia Meirong não poderá tocar. Sobrou ela e Li Liling e essa tola acredita em tudo que tia Meirong diz ou propõe, ela, com certeza, será a ovelha para o sacrifício. O pior que Ji Huang não pode ajudar, afinal Li Liling não acredita em ninguém, sua confiança em tia Meirong é absoluta. A única maneira de ajudar a outra concubina é falando a verdade diante do imperador e assim vai livrar Li Liling de parte da culpa que não lhe cabe.

Outra pessoa que está tranquila, ao menos na superfície, é a imperatriz Guang Li Hua. Ela confia que suas ameaças a quem tem conhecimento de sua participação nesse plano, é eficaz. Nada chegará até ela, isso é uma certeza para ela. No final, ela é a grande vencedora, continua e será sempre a imperatriz Guang Li Hua, do grande Império Jinhai.

O marechal Zhang também aparenta tranquilidade. Está ao lado do imperador, como é seu dever estar, mas seus olhos estão fixos no lugar onde, momentos atrás, Jingfei abriu levemente a blusa suja e rasgada, para mostrar o tamanho do ventre. Em momento algum, o marechal Zhang questionou sua paternidade. Quando seus olhos se encontraram com os de Jingfei, apesar do desprezo escrito neles, havia a sinceridade que Jingfei sempre ostentou. O marechal Zhang ainda não sente a aflição do arrependimento, esse sentimento é como a água fria que colocada em um pote e levado ao fogo da verdade, vai aquecendo aos poucos até alcançar a fervura total e aí sim, o arrependimento surge. Marechal Zhang ainda avalia sua conduta, ainda pensa que a honra da família deve ser preservada, mas no mesmo instante que pensa isso, outro pensamento vem a sua mente, que diz como ser possível falar em honra se ele acaba de destruir sua família, a mesma família que seu pai o ajudou a formar. Por que Jingfei é sua esposa e carrega no ventre seu filho, então onde está a honra em proteger a família, se ele mesmo a destrói? A água do arrependimento está quente agora, muito quente, a ponto do marechal sentir um dor no peito e instantaneamente leva a mão ao lugar do coração, apertando tanto sua luxuosa vestimenta, que quase rasga o tecido. O marechal Zhang está tomando consciência do seu erro, da sua covardia e da dor que isso causou. Aquela mulher o amava com pureza no coração, entregou a ele seu corpo e sua alma, mas o que ele fez? Virou as costas em nome da honra familiar, esquecendo que ela, sua esposa Jingfei, é sua família, que carrega seu nome, que honrou muito bem, em várias ocasiões, que conquistou o respeito e admiração de muitas pessoas, incluindo a dele. Então porque a abandonou? Por que, como ela mesma perguntou, não deu um voto de confiança e o beneficio da dúvida? Por que? São as perguntas que serão respondidas com o tempo, quando o marechal aprender que valores morais são resultados de atitudes, palavras e convicções, coisas que ele tem, mas usa de maneira equivocada. Sua família se foi, o membro mais importante era ele, depois veio Jingfei e a família está formada novamente. Essa é a família que deveria ter sido defendida. Os ancestrais? A dívida do marechal Zhang com os ancestrais é a sua conduta honrada, lutando pela verdade e pelo que é certo. Nesse momento o marechal Zhang Huizong está travando uma batalha grandiosa com suas lagrimas, não pode liberar sua passagem, não na frente de seus subordinados, ao menos esse orgulho ainda resiste.

Marechal Zhang se afasta da sala do trono, caminha sem perceber nada ao redor, até seus subordinados, que já notaram seu estado, ele viu e chegando no pátio interno, bem próximo das masmorras, ele se esconde atrás de um muro e desaba no chão e ali suas lágrimas escorrem livres. Seu coração estremece várias vezes com a dor da descoberta do arrependimento, a água agora está fervendo e o conhecimento da verdade chegou. Agora Zhang Huizong reconhece que foi um covarde, que traiu sua esposa, como ela mesma disse. Despojado de suas vestes luxuosas, da armadura perfeitamente elaborada para sua proteção, despojado de seu posto de marechal e de príncipe, nada mais é ali no chão aos prantos do que um covarde e traidor, que reconhece que não queria defender a esposa com medo de ter novamente pessoas apontando o dedo o julgando, que lá no fundo do coração, aquela sensação de ser julgado pelo crime que outros cometeram, o fez agir como um covarde. Nunca mais vai ver de novo sua amada esposa ou conhecer seu filho, tudo é culpa dele, exclusivamente dele.

Por vários minutos ficou ali, no chão empoeirado, não se incomodou com a sujeira nas roupas, na verdade isso não importa. Levantou e limpou as lágrimas que ajudaram a limpar o coração e a mente, para que ele pudesse ver e sentir a verdade e agora é hora de fazer algo por ela, sua amada Jingfei, mesmo que tardiamente, mas vai ajudar a limpar seu nome e torná-la novamente sua esposa.

No caminho de volta a sala do trono, um marechal Zhang caminha firme, seu semblante está diferente, demonstra uma certa dor e em seus olhos está estampada a tristeza. Não há mais nada a esconder, não existe necessidade para isso. No corredor encontra o general Chem Shoi Ming, que apenas o acompanha em silêncio, não existem perguntas, é obvio o que o marechal está sentindo.

O imperador Guang não tem o privilégio de se esconder para derramar suas lágrimas, que insistem em sair. Ele não pode. Agora ele é o responsável por tudo, ele tem que ouvir, ordenar e mostrar que quem governa é ele. Algo que podia ter feito antes, quando um servo trouxe o recado de que sua concubina favorita queria vê-lo, mas ele em seu orgulho tolo, não quis ouvir, não deu a ela o direito de se defender perante ele. O imperador ficou com medo de ser parcial, sabia que seu amor por ela afetaria seu julgamento, mas ele é o governante, ele poderia ter pedido mais investigações, até que se esgotasse todas as dúvidas, até que a verdade surgisse e aí ele poderia tê-la julgado, mas ele não fez nada, deixou que outros governassem por ele, algo que Lin Ehuang sempre dizia que não deveria deixar acontecer. Agora o imperador Guang está sentado em seu trono de ouro, ornamentado com as mais preciosas gemas de todo o mundo, cercado por pessoas que se dizem preocupadas com ele, cercado pela família, mas, ao mesmo tempo, está absolutamente sozinho. As lágrimas serão liberadas a noite, quando estiver sozinho em sua cama, sentindo o frio da solidão, sentindo a falta daqueles braços ao redor de seu corpo.

Várias pessoas se reúnem em pequenos grupos para falarem sobre os acontecimentos de a pouco, mas um grupo em especial merece uma atenção. É o grupo dos simpatizantes do conselheiro Yan e o próprio. Eles estão receosos com as atitudes do imperador, que antes era muito fácil de manipular, algo que o próprio conselheiro Yan fazia com maestria, mas hoje a demonstração de firme atitude os deixou em dúvidas quanto ao futuro de seus negócios e dos inúmeros negócios escusos que têm. O conselheiro Yan tenta acalmá-los, ele mesmo não está preocupado com nada, tudo vai se ajeitar de uma maneira ou de outra.

__ O que quer dizer, conselheiro Yan? - pergunta o conselheiro Chen Li Wen, que não aplaudiu a morte do rival, por estarem em público.

O conselheiro não responde, apenas olha para o portão principal onde a guarda imperial começa a se reunir.

Tudo está começando a voltar a calma de sempre. Tudo o que deveria ter sido feito, está sendo feito, as ordens para o futuro foram dadas, nada mais resta a fazer. Todos começam a se preparar para partir, mas o primeiro a sair deve ser o imperador, entretanto, antes que isso aconteça, a guarda imperial entra na sala do trono. Todos armados e com suas espadas em punho.

Aconteceu alguma coisa, capitão Xu Yao? - pergunta o imperador.

Sim, Guang GangGuang …

Como ousa chamá-lo sem usar seu título? - fala rudemente o marechal Zhang.

Porque ele não é o imperador! - grita o capitão Xu Yao. - Eu sou o imperador!

Uma vingança e uma traição

Os mais de cem soldados que compõem a guarda imperial, estão perfilados ao redor da sala do trono e assim, deixam as pessoas no centro. Pessoas essas que se não estivessem sendo alvo de espadas, já estariam em pânico e gritando assustadas.

O staf de comando dos dois marechais estão com as mãos em suas espadas, prontos para morrer em defesa do imperador, mesmo sabendo da desvantagem numérica, eles de bom grado morrerão pelo seu imperador.

O marechal Zhang está no último metro do corredor, pronto para entrar na sala do trono quando ouviu as palavras do capitão da guarda Xu Yao. Sabendo do perigo que o imperador está correndo nas mãos desse traidor, o marechal Zhang ordena ao general Chen Shoi Ming que vá pelos fundos, pela cozinha, e acesse o portão e traga ajuda dos soldados de sua guarda pessoal que ficou do lado de fora do palácio, assim como a guarda pessoal do marechal Guang Chonglin. Com isso a vantagem dos agressores cairá por terra.

Não falhe, general. A sobrevivência do imperador e de nossos companheiros depende do senhor.

O general Cheng Shoi Ming não ousaria falhar com seu marechal, não ele que já lutou inúmeras batalhas ao lado do homem mais destemido que já conheceu.

O marechal Zhang entra na sala do trono, passando por entre os soldados traidores e se posiciona ao lado do imperador, que já tem do outro lado o irmão mais novo.

Suas palavras são fruto de alguma brincadeira para com esse imperador?

Imperador? Você é um usurpador, assim como seu ancestral a cinco mil anos atrás, que envolveu meu ancestral, legitimo rei de Jinhai e o destronou, se coroando rei e depois imperador. Tudo que existe aqui, pertence a mim por direito. - o capitão Xu Yao abre os braços, como que mostrando que tudo naquele palácio e no próprio império, pertencem a ele.

Parece não conhecer bem a história desse império ou se recusa a aceitar a verdade. Seu ancestral, se o que diz é verdade, se recusou a enfrentar um dos maiores perigos que esse continente estava passando. Centenas morreram por aquela omissão …

Mentira! Meu ancestral foi valoroso, pensou apenas no bem do reino. Aquela luta não era dele, não era do reino.

Aquela guerra chegaria até Jinhai de um jeito ou de outro, não havia como negar isso. - fala o marechal Zhang olhando para o capitão Xu Yao, alguém em quem nunca confiou.

Cale-se! Essa família Guang definiu a história a seu favor, para justificar a traição ao antigo rei!

Jovem capitão Xu Yao, o ancestral do imperador não escreveu a história, foram os historiadores de todo o continente, afinal todo o continente soube das palavras do antigo rei …

Cale-se! Você, conselheiro Yang, é um bajulador desse usurpadores para manter seu lugar! Garanto a você, velho, que será a sua cabeça pendurada ao lado da cabeça do imperador, nos portões da cidade!

Só a minha? Outros conselheiros não?

Chega de conversa! Renda usurpador ou morra! - vocifera o capitão Xu Yao, que parece estar satisfeito, pois acredita que a vitória é dele.

Existem pessoas inocentes nessa sala. Deixe que saiam e resolveremos essa questão. - o imperador tenta acalmar um pouco a situação e salvar sua corte.

Não, ninguém sai! Quando você estiver morto, eles jurarão lealdade a mim, como membros de uma nova corte imperial!

O imperador Guang olha ao redor, são poucos os que estão com suas armas prontas para o combate, será um massacre, pode ver isso e aquele homem não quer argumentar, algo em que o imperador é muito bom. Só resta a luta armada e esperar que algo aconteça para virar a sorte a seu favor.

Capitão Xu Yao, a família Guang foi tocada pelos Reinos Acima de Nós, por terem sido grandes heróis naquela guerra, com isso, acha que eles traíram o antigo rei? - tenta ganhar tempo o conselheiro Yang, rezando em seu interior que algum membro do exército aparece. Um não, muitos.

Chega dessa conversa! Acha que com essas tolices, vai me convencer do contrário? Não a mim, que precisei viver escondido, mentindo sobre minha família e sua descendência, assim como muitos antes de mim, com medo de encontrarmos a morte se nos revelássemos. Não, não vai me convencer que essa mentira é a verdade. Meu ancestral deixou uma carta onde ele conta da traição de seu Marechal de Guerra e de alguns dos generais. Está tudo lá! A verdade escrita pelas mãos do antigo rei! - esbraveja o capitão Xu Yao.

O antigo rei nunca escreveu carta alguma. Ele se suicidou …

Ele se matou de vergonha por ter confiado em um traidor! - interrompe o capitão a mais uma tentativa do conselheiro Yang de ganhar tempo.

Não existem meios para colocar razão na mente de um homem que acredita na mentira que contaram a ele desde criança. Ano após ano, disseram a ele que o antigo rei se matou de vergonha e que o trono foi tomado pelo ancestral Guang, sendo assim, para ele, essa é a verdade.

Não existe mais tempo. Com os olhos brilhando de ódio e certo da vitória, o capitão Xu Yao avança em direção ao imperador, com suas duas espadas sedentas de sangue, mas antes que se aproxime, o marechal Zhang está a frente e impede o ataque.

Vai morrer com ele, traidor.

__ Esta é a minha missão. - responde o marechal Zhang.

Tem início uma luta injusta. Aqueles que defendem o imperador, em número menor, lutam bravamente, mas alguns já estão caindo, feridos mortalmente, enquanto outros se esforçam em permanecer em pé.

No combate entre o capitão Xu Yao e o marechal Zhang, a diferença é nítida. Enquanto a juventude do capitão proporciona golpes violentos, os golpes do marechal em sua defesa são precisos. A diferença entre a inexperiência e a maturidade.

O capitão ataca com golpes contidos na cartilha dos soldados do império, ele não tem nenhum elemento novo, algo que surpreenda o adversário, já o marechal quando ataca, seus golpes são precisos e incomuns, golpes que o capitão desconhece.

O capitão já começa a se cansar, ele acredita que já deveria ter matado o marechal, afinal ele tem a vantagem de lutar com duas espadas contra apenas uma do marechal, mas o experiente marechal rebate cada ataque e isso irrita muito o capitão. Os ataques do capitão são sempre no mesmo ritmo, direita, esquerda e centro, usando as espadas com sua força bruta. O marechal rebate usando o comprimento de sua espada e a flexibilidade de seu punho, mas ao dar um passo para trás, esbarra em um soldado no chão e perde o equilíbrio, em sua retaguarda, um soldado leal ao capitão Xu Yao está pronto para atravessar as costas do marechal com a espada, mas aquele é o grande marechal Zhang, temido por sua habilidade com a espada. Em um giro rápido do corpo, o marechal escapa do golpe mortal da espada, que apenas fez um ferimento superficial em seu braço esquerdo. No mesmo movimento, sua espada que está na mão direita faz um corte profundo e mortal na gargante do soldado que cai sem vida no belo piso.

O capitão tenta a sorte, já que viu que a guarda do marechal em seu lado direito está aberta e tenta ferir o marechal, para tirá-lo da luta, entretanto o marechal já viveu momentos assim várias vezes e sabe o que fazer. Abaixando o corpo rapidamente, ele foge do golpe e no mesmo instante, pega um punhal na bota do soldado morto no chão e se defende da segunda espada do capitão.

Olhando de frente, um para o outro, o marechal com seu rosto suado, está tranquilo, mas o mesmo não acontece com o capitão, que está impaciente por essa luta demorar mais do que previsto e agora o marechal tem na mão direita a espada e na outra o punhal, parecendo que as coisas estão se equilibrando.

Com o canto dos olhos o capitão observa que o imperador está em pé, lutando e protegendo a imperatriz-mãe. O capitão pensa que se estivesse lutando com o imperador, já o teria morto, pois a seus olhos o imperador não parece ser tão hábil, não como irmão.

Percebendo que seu líder está acuado, dois soldados se aproximas e começam a lutar com o marechal e um terceiro surge depois. Os três conseguiram fazer um ferimento na perna do marechal, mas quem fez esse ferimento é um descuidado e isso custou sua vida, agora dois lutam com o marechal, que olha rápido na direção do capitão que parte em direção do imperador e ele está preso ali lutando com aqueles dois.

O imperador luta bravamente protegendo a imperatriz-mãe. O imperador observa que os soldados querem muito matar a imperatriz-mãe e não se cansam, quando um cai, outros surgem. O imperado pode não ter a mesma habilidade dos irmãos, mas não será facilmente derrotado. Atento aos ataques frontais, o imperador deixou suas costas expostas para um ataque e isso que o capitão vê e se apressa na direção oposta para chegar por trás e finalmente matar o imperador. O capitão Xu Yao ergue sua espada que está na mão direita, a sua mão mais forte e inicia o movimento para cortar a cabeça do imperador, mas antes que isso aconteça, surge de algum lugar o marechal Guang Chonglin e bloqueia esse ataque. O imperado percebe esse movimento em suas costas e se posiciona melhor.

O capitão se irrita mais, os irmãos protegem mesmo o imperador, por um momento, o capitão invejou o imperador, pensa que ele também terá homens que morrerão por ele, quando ele se tornar o imperador. Não manter a concentração durante uma batalha, pode custar a vida, todo bom soldado sabe disso, mas a sorte do capitão é que os soldados dele acreditam em seus devaneios e um deles se atira na frente de seu líder, impedindo o ataque do marechal Guang que, sem dúvida, será mortal. Não se incomodando com o sacrifico de seu soldado, o capitão pula o corpo sem vida no piso e avança em direção ao imperador novamente, mas o marechal Guang se coloca a frente. Não existe dialogo, só o olhar frio do marechal Guang contra o olhar impaciente do capitão Xu Yao.

A luta se desenrola em pé de igualdade, pois o marechal Guang também luta com duas espadas, mas a balança pende para o lado do marechal que é mais hábil e mais experiente, além do que, ele não segue mais a cartilha da escola militar, o marechal Guang desenvolveu seus próprios golpes e isto surpreende o capitão em várias ocasiões durante a luta.

A luta se desenrola em vários pontos da sala do trono, em um deles está o auxiliar do conselheiro Yang, o jovem Meng Yao, que luta bravamente também, protegendo o conselheiro e seus amigos. Ele tem ajuda de outros dois auxiliares.

A sala do trono é um campo de batalha agora. Muitos com um aprimorado GMC, tiram da luta os mais fracos, restando os generais, capitães, os marechais e o próprio imperador.

A sala brilha com os poderes sendo lançados para todos os lados, seria um espetáculo magnífico se não fosse os mortos que começam a cair.

A sorte vem lentamente, surge quando aqueles que esperam por ela já estão quase perdendo as forças. Foi nesse clima que o general Chen Shoi Ming entrou na sala do trono, sendo seguido pela guarda pessoal dos dois marechais e nesse momento a vitória que era certa, tornou-se a derrota certa.

Em um último momento de desespero, o capitão Xu Yao tenta um golpe com seu GME contra o imperador, mas o marechal Zhang está atento e se joga na frente do feixe de luz mortal, se defendendo com a espada e ao mesmo tempo lança seu feixe de luz negra na direção do capitão, que não tem a mesma agilidade e experiência, sendo atingido em cheio e arremessado para além da porta destruída. Nessa queda, um pedaço de madeira afiado atravessa o corpo do capitão Xu Yao, que sente que a derrota é real. Um a um, aqueles que aceitaram defender as idéias loucas do capitão estão caindo, vendo isso o capitão Xu Yao se pergunta se a lenda que dizem que a família Guang foi abençoada pelos deuses dos Reinos Acima de Nós, é verdadeira, afinal, tudo foi bem planejado, ficou melhor ainda quando aquelas duas mulheres começaram a lutar contra os guardiões, não havia como o plano não dar certo, ele seria o novo imperador e faria justiça a sua família.

__ A família Guang é abençoada pelos deuses … - são as últimas palavras do capitão Xu Yao, último descendente de um rei, que preferiu ver seu povo e seus vizinhos sofrerem do que prestar ajuda, que preferiu tirar a própria vida a encarar a vergonha de sua omissão. Assim como seu ancestral, o capitão fez a escolha errada e destruiu seu sonho e a vida de seus homens e dos  familiares deles, que pagarão com a liberdade a lealdade dada a um homem desequilibrado.

Novamente os servos estão limpando o chão e arrastando os corpos sem vida dos soldados para o pátio externo. Ali eles serão identificados, para que as famílias sejam notificados de que elas pagarão pela traição deles. Essa é a lei.

O médico Gu e seu irmão têm muito trabalho. Outros médicos da cidade são chamados para ajudar. Os soldados que bravamente defenderam o imperador, aqueles que sobreviveram, por ordem do imperador, que também está ferido, serão todos atendidos pelo médico imperial, terão todos os cuidados necessários para sobreviverem.

O marechal Zhang está ferido no braço esquerdo e nas costas, quando lutava com três homens de uma só vez. O marechal Guang Chonglin está ferido na perna direita, mas nenhum dos dois pediu pelo médico imperial, os dois querem que seus soldados sejam atendidos primeiro, afinal se não fossem por eles, suas cabeças não estariam grudadas ao corpo agora.

General Chen Shoi Ming, este imperador e o império estão em dívida com o senhor.

Vossa majestade, não diga isso. Eu apenas cumpri as ordens do senhor marechal Zhang e depois, esse é o dever de todo soldado leal ao imperador e ao império. - responde um cansado general.

Os feridos são transportados para o quartel-general e os civis feridos são levados para o Centro Médico da capital, dentre ele o jovem auxiliar do conselheiro Yang, que faz questão de  acompanhar seu pupilo, mesma ação dos outros conselheiros para com seus auxiliares.

O conselheiro Yang tem algo em sua mente que o está incomodando. Mesmo durante a luta feroz e correndo perigo de ser morto, o conselheiro percebeu que o conselheiro Yan e os amigos estavam tranquilos, ficaram ao lado, não escondidos, apenas ao lado observando a luta. Nenhum soldado do capitão Xu Yao os atacou e o conselheiro Yang faz uma pergunta para si, mas não sabe a resposta.

__ Por quê?

Aquele dia começou ensolarado e cheio de expectativa pelo que aconteceria depois da metade do dia. Realmente muitas coisas aconteceram, uma delas foi a verdade sendo exposta e depois uma luta que quase destruiu o palácio imperial. Como se não fosse o suficiente, logo em seguida acontece uma tentativa de golpe, para depor o imperador. Outra luta na sala do trono, que tem o piso manchado de sangue, onde os servos lutam para limpar. Na verdade, o dia está sendo cheio de surpresas desagradáveis para alguns e agradáveis para outros.

Depois dos cuidados médicos, os irmão imperiais se reúnem em um canto da sala do trono para uma conversa.

Como não percebemos a existência dessa pessoa? - pergunta o marechal Guang Chonglin.

Acredito que ninguém se lembra da família Xu. Esse imperador foi informado que eles apenas se misturaram ao povo e eventualmente desapareceram.

Parece, vossa majestade que eles não sumiram, apenas estavam nas sombras esperando o momento certo. - comenta o marechal Zhang.

Como ele veio parar dentro do palácio?

Esse imperador lembra que depois que voltamos daquele trágico tremor, essa guarda me foi apresentada.

Pelo conselheiro Yan, que disse que o capitão Xu Yao era um dos mais brilhantes oficiais do exército. - fala o marechal Zhang, lembrando do dia que conheceu o capitão. - Aconteceu alguma falha nessa escolha?

Por que pergunta, irmão Huizong?

Majestade, os soldados do capitão Xu Yao, se empenharam muito em eliminar o conselheiro Yang e o circulo que o apoia, mas não se aproximaram do conselheiro Yan e os seus, em momento algum.

Irmão Huizong teve tempo de observar tal coisa?

Vossa majestade, não foi só isso. O capitão disse que uma carta foi deixada pelo antigo rei, acredito que devemos investigar isso com muita atenção. Esse assunto é sério, mais agora que estamos com uma dúvida na mente.

Irmão Chonglin tem dúvida de quem? Do conselheiro Yan? É certo isso, mesmo Ehuang dizia para não confiar muito nele, mas arquitetar um golpe como esse? Acredita que o conselheiro Yan chegaria a tal ponto?

Majestade, é fato que o conselheiro tenta controlar suas decisões, sabe disso, não é? Pois bem, para ele fazer parte disso tudo, não seria nada. Agora a principal testemunha está morta e não existe nada contra ele …

A carta, irmão Huizong, ela é a chave para acusar o conselheiro Yan de traição. - fala com determinação o marechal Guang Chonglin.

Esse imperador vai deixar que o irmão Chonglin cuide dessa investigação e cuide para que poucos saibam dela. Não quero que nosso bom conselheiro atrapalhe as coisas a seu favor.

__ Será feito, afinal ele veio das minhas forças, ele mora na província do Urso, isso facilita as investigações.

Os irmãos imperiais se entendem bem, o que acontecia antes era a distância territorial entre eles e a falta de jeito de um pai que não soube unir os filhos.

O marechal Guang Chonglin reuniu sua guarda pessoal, incluindo os feridos, e se prepara para voltar a seu território. Ele tem muito o que fazer. Voltar rápido é o melhor, pensa ele, assim ninguém vai mexer nas coisas do capitão Xu Yao e atrapalhar a investigação.

O marechal Zhang também se prepara para voltar a mansão, mas sentiu um ardor no estômago quando olhou para sua companhia. Tia Meirong sorri amigável, Li Liling fede absurdamente e Jin Huang tem a escolta de dois soldados. O marechal suspira baixinho, sua vida naquela mansão sempre foi ruim, mas agora a verdade disso está ali na sua frente. Uma mentirosa, uma trapaceira e uma arrependida. Sua vida sem Jingfei vai ser complicada.

O conselheiro Yan observou a conversa entre os irmãos imperiais, mas não conseguiu entender sobre o assunto, entretanto não vai deixar espaço para dúvidas no coração do imperador.

Vossa majestade, aconselho ao senhor que abra uma investigação minuciosa, contra o capitão Xu Yao.

O imperador se mantém tranquilo, está aprendendo a não deixar transparecer o que pensa, porque foi por causa disso, que este homem a sua frente, por várias vezes, o manipulou.

Por hora, esse imperador tem coisas mais importantes a resolver. Talvez depois, quando o general Chen Shoi Ming estiver concluído suas outras tarefas, ele faça uma investigação sobre o capitão.

Como queira, vossa majestade.

O conselheiro está feliz, ele acha que o imperador, ainda comovido com o que aconteceu com a concubina, não pensa em mais nada. O conselheiro acha isso ótimo, vai ter tempo de mandar alguém até a casa do capitão e incendiar o lugar e assim fica resolvido esse caso.

Aquele idiota estragou tudo. - pensa o conselheiro Yan enquanto caminha para sua carruagem.

Tudo poderia ter sido melhor resolvido, mas a sorte da família Guang atacou de novo, é o que pensa o conselheiro. Todo o plano foi meticulosamente elaborado por ele. Passou meses convencendo aquele tolo capitão de sua legitimidade como imperador e no final, um golpe desferido no despreparo de um capitão, perto da tenacidade e agilidade de um marechal, deu a vitória a esse último. Acabou o sonho, por ora, como pensa o conselheiro, de ser o imperador de Jinhai.

Quatro mestres, também conhecidos como Guardiões do Império, estão nos aposentos do líder, o mestre Tang Shen Bai. Feridos e humilhados por uma mulher recém-desperta, eles não querem aparições em público.

O palácio está sob ataque de um louco, que se diz imperador legítimo. - informa Wang Sheng. - Vai ajudar?

Eles são capazes. Não é nosso problema. - Tang Shen Bai está com o coração cheio de uma raiva, que a muito não sente. - O que me importa é encontrar aquela mulher de novo e arrancar sua cabeça.

Deveria pensar em coisas mais importantes. - comenta Wang Sheng.

Como ousa me repreender?

É simples, nos foi dado uma missão e do nosso verdadeiro senhor, mas até agora nada fizemos. O que uma luta com uma mulher, que teve apenas sorte ao lutar conosco, tem de importância, comparada as ordens de nosso mestre?

Tem razão. Como sempre. No futuro vou encontrar aquela mulher, mas por enquanto vou fazer o que o mestre ordenou.

O dia termina, ele será conhecido no futuro como o dia mais emocionante de todos. Emoção não faltou, isso é claro, entretanto, essa emoção não foi do agrado de todos, isso também é claro, já que alguns dormirão como anjos e outros não dormirão.

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