Melinda

Fazia muito tempo que não ia trabalhar e nem sabia mais se teria um emprego após tudo isso, sempre soube que minha vida era louca mais não imaginava o quanto.

Ao longo dos anos eu parei de me importar com tudo a minha volta e só tento sobreviver a cada dia, tentando encontrar um significado para ainda estar viva, nunca fui daquelas que se preocupa com os acontecimentos da cidade ou que vai atrás de uma fofoca da cidade, sempre tentei ser o mais invisível possível para me manter segura o suficiente.

Indo para o bar de Antón sinto os olhos de Luys queimar minha pele, e uma mal estar se instala em meu corpo, como pode um macho não entender que não é não, ele já tentou diversas vezes me chamar para sair e todas as vezes eu recusei.

Sinto uma aproximação e começo a andar e passos maiores até que uma mão toca em meu braço, viro-me gritando. — Eu já disse que não quero nada com você. — Ao me virar e dar de cara com o beta arregalo os olhos.

— Posso saber o porque está tão assustada ? — Ele pergunta me encarando.

— Me desculpa beta achei que fosse outra pessoa. — Falo de cabeça baixa.

— Tem alguém te perseguindo Melinda ? — Seu olhar me causa medo.

— Não.. não é isso. — Acabo gaguejando.

— Safira está preocupada com você, por isso vim ver como você está.

— Eu… eu tô bem, vou sobreviver não é nada que não tenha passado antes.

— Você sabe que não é porque ela foi morar comigo que você não possa visitá-la neh ?

— Sim, sim eu sei, eu… eu só estou muito ocupada. — Eu falo mais a mentira está estampada em meu rosto, desde o dia que Safira me falou da profecia e que eu fui até as bruxas da alcateia me mantenho longe o suficiente para que não tenha que ouvir mais nada sobre isso, eu só queria poder viver uma vida normal essa profecia, a deusa, Lucien e Luys é muita coisa pra a minha cabeça estou a ponto de ter um colapso.

Saio de meus pensamentos quando vejo que ainda estou sendo encarada pelo beta.

— Não se feche para o mundo Melinda, como eu te disse a um tempo atrás, a vida só é bonita se você olhar para ela de outro ângulo.

— Você fala isso mas não sabe o que é carregar o peso do mundo em seus ombros, a vida que você tanto fala que é bonita, não foi legal comigo desde de meu nascimento então não espere que eu seja legal com ela também. — Quando viro-me para continuar seguindo meu caminho ele segura meu braço.

— Olha Melinda, ontem chegou uma nova anciã de lua cheia para cá, ela é uma mulher muito sábia e talvez seja bom você se abrir com alguém.

Quando o nome Lua cheia sai de sua boca eu travo no lugar, faz muito tempo que eu não ouço nada sobre eles, e o medo é visível em meu rosto, minha única vontade agora era de me esconder no canto mais escuro de minha casa e chorar como uma menina assustada que sou. Eu achei que tinha superado que eu conseguiria viver sem me importar com eles mas o passado sempre volta para me assombrar não importa aonde eu vá. — Sinto o bolo de lágrimas se formando em minha garganta, e sei que tenho que responder algo para o beta e isso se torna tudo mais terrível em minha cabeça. Eu… eu.. eu só queria paz, será que isso é pedir de mais ??

Sem uma resposta a dar ao beta e possivelmente eu estou com uma cara nada boa agora.

— Você está bem Melinda ?? Tem certeza que não está me escondendo nada?

— Des.. desculpa acho que eu não sarei a virose ainda poderia dizer ao senhor Antôn que eu sinto muito pelas folgas que eu tive e que se ele quiser me demitir eu vou entender, eu.. eu só preciso demais alguns dias de descanso. — Antes mesmo que o beta me responda algo eu corro mais do que minhas pernas possa permitir, o bolo de lágrimas que estava em minha garganta já é possível ser sentida em meu rosto , A única coisa que está em minha cabeça é a frase

“ ela é uma anciã de Lua Cheia “ é como se todo o meu corpo travasse e eu entrasse em um transe sem igual.

Eu só queria ter o colo de alguém para chorar mais nem isso eu tenho a única pessoa que eu confiava me abandonou e eu estou mais uma vez aqui sentada nesse chão gélido, sozinha, sentindo mais uma vez a vontade de simplesmente morrer.

As vezes eu me pergunto porque sinto tanto essa vontade, é como se a morte vivesse em mim e algo me puxasse para ela.

Nada faz sentido, em minha vida nada faz sentido, e me pergunto ainda se um fará? Quantos fardos a mais eu terei que aguentar até enlouquecer de vez ? Será que um dia eu poderei ser feliz ? Ou eu irei me entregar de vez para a escuridão que me acerca ? São tantas, tantas perguntas sem respostas. — Uma única coisa eu sei as lágrimas são minhas amigas e as únicas que não me abandonaram desde o dia que eu nasci.

Mas sabe a única coisa que me faz feliz hoje ?

É saber que é lua cheia e que em poucas horas eu poderei ter Lucien em meus braços novamente.

Deito em minha cama e deixo o peso do cansaço de sucumbir, preciso estar descansada para encontrar Lucien.

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