Capítulo 4

Daniele estava empolgadíssima em ser a fotógrafa na festa da associação. Além do baile, comemorado com os pais, a festa na associação seria mais descontraída, somente para os alunos e amigos. Ela amava fotografar, pensou em trabalhar com isso, mas percebeu que seria só um hobby na sua vida. Christina era a incentivadora de Daniele. Eram amigas há anos, seus pais tinham negócios em comum, se conheceram com dez anos, desde então eram inseparáveis.

Daniele era o oposto fisicamente da amiga. Christina era baixa, cabelos ondulados castanhos, olhos também escuros, pele branca que contrastava com seus cabelos, ela era alta de corpo esguio, loira de olhos azuis, um sorriso encantador. Extrovertida, amava sair para festas e baladas. Não perdia nada. Por isso, muitas vezes, sua fama já a antecedia. Era vista como uma festeira sem compromisso, namoradeira e malcomportada. Fotos suas nas baladas por aí sempre apareciam nos celulares. Sua gama de amizades era bastante masculina, porque as meninas a evitavam. Como ela era muito bonita e os meninos babavam por ela, era muito invejada. Por isso Christina era uma de suas poucas amigas.

O que as pessoas não sabiam é que Daniele estava longe de ser namoradeira. Ela beijava muito sim, mas ainda era virgem. Não via a hora de perder a virgindade e sabia com quem seria, mas era segredo de Estado. Nem Christina sabia. Não se interessava pelos meninos do colégio, aliás, somente um mexeu com ela quando o conheceu, era Antony. Mas, ela não era fura olho. Nunca ficaria com um namorado ou paquera de uma amiga.

Sem compromisso? Talvez ela fosse mesmo. Ainda não sabia o que fazer da vida, não se via em uma profissão. Estava inclinada a aceitar a proposta dos pais, ajudar a administrar os negócios da família, mas teria que se mudar de Campos do Sul. Ela esperava tomar a decisão correta quando chegasse a hora.

Estava em seu closet, passava rápido os cabides procurando uma jaqueta e não encontrava. De repente lembrou que estava com Samira. Tinha emprestado para a amiga colocar por cima do vestido para esconder os braços, já que era sem mangas. Era difícil para Daniele entender essa diferença entre as culturas brasileira e árabe. Samira não usava o hijab, lenço para tapar o cabelo e pescoço e nem o abaya, uma espécie de vestido comprido. Usava roupas normais, mas recatadas. Não usava decotes, regatas, saias curtas, transparências.

Dias antes, estavam no shopping almoçando quando Samira levou um banho de molho do garçom! Desculpou o coitado e até o defendeu quando o gerente chamou sua atenção. Mas precisou tirar o casaco que estava vestia com o vestido.

- Dani, me ajuda não posso ficar desse jeito! Falou ela com os braços apoiados na mesa. - Faz alguma coisa, por favor!

- Amiga, relaxa, não tá feio, seu vestido é lindo e está quente hoje, disse Dani despreocupada.

- Você não está entendendo, não dá para ficar desse jeito com os braços à mostra, estou com vergonha. Falou Samira chateada.

- Calma, eu entendi. Meu irmão já está vindo almoçar com a gente, vou ligar para ele trazer uma roupa para você, falou percebendo a amiga com a cabeça baixa.

- Lucas, já saiu de casa? Pode trazer uma jaqueta para a Samira? Ela se sujou com molho.

- Acabei de sair, mas volto, quero lembrar que não sei combinar roupas de mulher, ok? Disse Lucas, irmão de Daniele.

Quando desligou olhou em volta e não viu Samira. Foi até o banheiro, abriu a porta e não a viu no lugar lindo decorado com tons de bege. – Até eu ficaria escondida nesse banheiro, disse rindo.

- Samira, cadê você? Ficou com dor de barriga?

- Estou aqui dentro, Dani. Dá para parar de tirar sarro? Ela estava chateada.

- Amiga, me desculpa, só achei que você podia ficar só de vestido. O Lucas logo chega com algo para você vestir, vamos agora?

- Não posso. Só saio daqui com a blusa.

Daniele estava ficando irritada com aquilo, mas não insistiu, voltou esperar Lucas na mesa. Estava sentando quando ele chegou olhando pelo restaurante procurando por elas.

- Ela levantou o braço e ele logo a viu, veio com a jaqueta no braço buscando por Samira. – Onde está ela?

- Já disse que você não disfarça o interesse na minha amiga “arabesca” não é irmão? Disse colocando a mão na boca rindo.

- Ela é muito jovem, aliás vocês são. Não é de bom tom me envolver com adolescentes de 17 anos, disse piscando. – Mas, não posso negar que a beleza dela me chama a atenção, não sou cego, maninha. Agora, deixe essa boca bem fechada. Disse sério. – Leve essa blusa para ela, vou pedir meu prato, preciso ir para a empresa.

Lucas era um jovem de 25 anos. Não passava despercebido por onde andava, era muito bonito. Cabelos loiros escuros, olhos azuis, barba feita, se vestia muito bem. Trabalhava desde cedo na empresa da família, sempre quis continuar os negócios do pai, esperava que sua irmã se interessasse também, apesar de ser doidinha, era muito dedicada.

Olhou de longe e as duas amigas vinham para a mesa. Viu Samira de cabeça baixa e não gostou, preferia o sorriso dela, por que raios ela estava triste? Quis perguntar para a irmã, mas logo desistiu. Imagina o quanto ela perturbaria? Não era de hoje que achava Samira linda, os cabelos longos muito escuros, os olhos expressivos e sua boca. A boca realmente chamava a atenção. Corpo bonito, o pacote da perdição para um homem como Lucas. Mas, ele não poderia sonhar em tê-la, além de mais nova tinha a questão cultural.

Daniele sorriu e fez sinal de coração com a mão. Ele revirou os olhos.

- Já pedi meu prato e o garçom disse que já vai trazer os de vocês também. Tudo bem, Samira? Apesar de eu não saber combinar roupas femininas essa jaqueta ficou muito bem em você.

– Não pôde evitar o comentário, saiu, mas logo se arrependeu e olhou para o prato.

- Obrigada, Lucas. Agradeceu e sorriu de leve.

- Ele é quem agradece, amiga. Disse Daniele rindo, Lucas a fuzilou com os olhos. – Ele estava com saudades de almoçar comigo, não é irmão?

- Eu imagino! A Dani comenta que você não para mais em casa, só trabalha! Samira estava solta sorrindo para os dois. Lucas percebeu e voltou a secar a boca da garota.

O garçom chegou com os pratos salvando Lucas.

– Amo conversar com vocês dois, mas agora vamos comer? Tô com fome e precisamos ver nossos vestidos não é amiga? Falou Daniele empolgada.

- Sim, que pena que a Chris não veio. Esse curso extra está sugando a alma da coitada. Bem feito! E gargalhou. Lucas sentiu uma vontade louca de beijar Samira e tomar aquele riso para ele. Apertou os talheres nas mãos e começou a comer rápido. Precisava sair logo dali.

Samira

Lucas

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