Capítulo 5

Já era quase hora do jantar quando Samira entrou em casa. Deixou suas coisas no hall de entrada e ia tirar seus sapatos quando viu o senhor Khalid sentado no sofá com a televisão desligada. Percebeu que a conversa não seria boa.

Com cabelos curtos e grisalhos, Khalid estava no auge dos 56 anos. Casou-se com Najla aos 27 anos depois de noivos por 1 ano. Logo após casarem vieram as duas filhas, suas princesas como dizia, Raja e Samira.

De descendência árabe, Khalid foi criado seguindo todos os costumes. Seu pai fazia questão da rigidez quanto a isso para preservar a cultura apesar de não estarem mais na Arábia Saudita. Fez o mesmo com os filhos, mas com Samira acabou suavizando as coisas pela diferença de idade entre eles. Agora o resultado chegou. Sua filha estava deixando de lado os costumes e ele não deixaria isso acontecer.

Amava suas filhas e por isso estava preocupado com a mais nova. Pela sua experiência conseguia ver o que ela não via, pessoas de olho em seu dinheiro, que cuja influência não traria bons frutos. Festas sem fim com amigos entregues à bebedeiras e farras. Não, isso não aconteceria com Samira. Nos últimos meses mudou a forma de agir com Samira, era rigoroso e ela sentia duramente a mudança. Ela estava em sofrimento, mas era para seu próprio bem.

- Onde estava, Samira? É quase na hora do jantar, sua mãe estava preocupada e eu tentando entender o porquê desobedeceu às ordens de não chegar tarde. A olhou bastante sério.

- Desculpe pai, estava no shopping com Daniele, estávamos provando nossos vestidos para o baile. Acabei atrasando, não vai se repetir.

O pai olhou a filha nos olhos estranhando o fato dela não questionar.

- Não vai se repetir mesmo. Quando sair me avise, sua irmã ficará feliz em acompanhá-la. Ele levantou e saiu para a outra sala deixando Samira de pé derrotada.

Ela tirou os sapatos e seguiu rumo a escada, precisava de um banho antes do jantar, teria que ser rápida. Sua mãe, Najla, lhe chamou quando estava no topo da escada. – Samira, está bem filha? Demorou muito, desse jeito acaba perdendo pontos com o seu pai. Lamentou. – Por favor, não diga que discutiu com ele de novo?

- Não, mãe. Cansei, não estou a fim de brigas. Há meses discuto, argumento e só piora, chega! Estava no shopping com a Daniele vendo nossos vestidos. Christina não pôde ir com a gente, infelizmente. A boa notícia é que ficarão prontos a tempo, um milagre na verdade, está em cima da hora.

- Quem bom, filha! Estou feliz por você, principalmente por parar de enfrentar o seu pai. Desculpe não te acompanhar, o instituto está tomando mais tempo que o normal. Disse com um sorriso sincero. – Vamos, vá tomar banho para jantarmos, Nana fez “Mjadra” e carne.

Samira entrou rápido no quarto e trancou a porta, foi até o banheiro e ligou o chuveiro para que ouvissem o barulho.

Pegou o celular no bolso do vestido e enviou uma mensagem para Rodrigo, - Cheguei! Tudo certo por aqui habib. Enviou.

Ele não trouxe Samira em casa, ela pediu para ficar em frente ao condomínio por causa do pai. Samira viu sua liberdade virar em quase nada, nunca viu seu pai tão rígido. Começou quando soube de Rodrigo, não admitiu de forma alguma o namoro. Exigiu o término e Samira disse que tinha deixado o rapaz. Rodrigo não sabia de nada, ela não disse e nem diria, só Daniele e Christina sabiam. Ela estava proibida de sequer conversar com ele. Estava muito mais difícil esconder dele a situação, mas precisava, tinha medo de perdê-lo. O namorado estava preocupado com a faculdade, era em outro Estado e se afastariam. Ela não conseguia nem pensar em terminar, era seu primeiro amor, primeiro beijo e queria que ficassem juntos. Rodrigo não era de família rica como Samira, inúmeras vezes conversaram sobre ele se sentir inferior, ele sempre pedia uma oportunidade de falar com seu pai. Queria trabalhar nas empresas do senhor Khalid. Cursaria engenharia de produção e poderia ajudar nas empresas no futuro. Ele tinha planos de casar-se com Samira e ela, fascinada, imaginava Rodrigo nas empresas de sua família.

Rodrigo foi buscar Samira no shopping, Daniele deixou os dois e foi para casa. Saíram de carro e pararam perto de um dos parques de Campos do Sul, desceram e ficaram abraçados, Samira com as costas no peito de Rodrigo, apoiados no capô do carro. Ficaram um tempo assim, até que Rodrigo virou Samira de frente para ele para outro beijo de tirar o fôlego. Pararam somente quando Samira se afastou para respirar. – Calma, habib assim você suga a minha alma, disse rindo.

- Você me deixa louco Samira, essa sua boca, como ficar sem beijar você, meu amor? Disse passando o nariz de leve no pescoço de Samira a deixando arrepiada. Vamos entrar no carro que está frio aqui fora.

Abriu a porta para a namorada e entrou logo depois. Baixou seu banco e puxou Samira para o seu colo, colocou as mãos no rosto dela e a puxou para mais um beijo intenso. Samira tentou se desvencilhar para respirar, enquanto isso Rodrigo começou a baixar a jaqueta que ela usava deixando os ombros à mostra. Samira, que estava com a mente anuviada, deixou que ele tirasse a peça. Ele começou a deixar pequenos beijos no pescoço descendo pelos ombros chegando no colo da garota indo em direção dos seios. Ela arfou e saiu rápido do colo dele caindo no banco ao lado.

- O que foi amor, não estava gostando? Rodrigo olhava intensamente para ela. – Eu estava bastante, deu risada e se ajeitou no banco. Aliás, não te elogiei hoje, esse vestido te deixou incrível, você tem um corpo lindo.

- Claro que eu estava gostando habib, mas vamos devagar? Disse o beijando de leve. – Agora vamos, preciso ir para casa, meu toque de recolher já passou. Disse apertando os lábios.

- Estou cansado disso, Samira. É o que eu tenho para dizer. Ele ligou o carro e partiram para a casa dela. Ficou um silêncio até chegarem no lugar, Rodrigo parou e olhou para frente, sério. Samira virou para o namorado, deu um beijo na sua bochecha e saiu fechando a porta andando rápido.

Ele não respondeu a mensagem. Ela suspirou e colocou o celular embaixo do travesseiro, foi devagar até a porta e destrancou. Ouviu alguém vindo pelo corredor e correu para o banheiro, precisava ser rápida.