isabella

Depois que Lari tira umas dez fotos da nossa tatuagem juntas, ela

me deixa levantar da cama e ir me arrumar para sair com a minha tia. Quase

atrasada já, inclusive.

Minha cunhada e eu temos uma tatuagem juntas, a runa parabatai,

da série Shadowhunters, na costela. Fizemos há uns dois ou três anos.

Também fiz uma com a Babi na mesma época, mas foi um coração no braço

direito, atrás. É a minha ligação com elas.

Empurro a porta-espelho e entro no closet, enquanto minha cunhada

liga a televisão. Procuro uma roupa, pensando na temperatura, que está

razoável hoje. Nada de muito frio, nem muito calor. Então troco a calça

legging por uma jeans azul escura e uma camiseta cinza. Coloco um tênis

de couro branco e solto o cabelo, fazendo-o cair em ondas em volta dos

meus ombros.

Em frente ao espelho, passo apenas protetor e um pouco de base,

além do blush e um lip balm de morango. Eu adoro esses produtinhos; lip

balm, lip gloss, hidratante labial, body mist, body splash. Sou viciada.

Pego uma bolsa preta simples e coloco o lip balm e algo para

prender o cabelo dentro enquanto saio do closet fechando a porta-espelho.

Lari está esticada na minha cama, abraçada à uma almofada, e

assistindo Good Girls na Netflix. Somos muito viciadas nessa série. Já

vimos a primeira temporada umas 3 vezes. E eu sou apaixonadinha no Rio,

confesso. Adoro um cara tatuado.

— Lari, tô indo — aviso. — Você vai ficar bem aí?

— Claro — Lari me olha por um momento. — Daqui a pouco vou lá

deitar na cama do Pedro. Você me chama quando chegar pra eu te ajudar

com o restante das malas?

— Chamo, sim. Dorme um pouco, você tá cheia de olheiras.

— Vou tentar — Ela reprime um bocejo. O cursinho acaba com ela e

a doida ainda fica virando a noite.

— Quero ver quando começar a faculdade de enfermagem, vai

aguentar mais nada — comento, rindo, enquanto pego meu celular.

— Ô, Isabella, sai daqui, sai — Larissa ataca uma almofada em mim

e eu corro para fora do quarto. Ela entendeu bem o que eu quis dizer.

— Também te amo, Larissa — grito e ouço-a rir de dentro do

quarto. Desço as escadas balançando a cabeça com um sorriso.

Minha mãe e meu padrasto estão na sala assistindo algum filme de

aventura na televisão. Dona Flávia ama um filme de aventura no estilo

Jumanji e Star Wars.

— Tô saindo — informo. Ela me dá uma olhada de soslaio e volta a

atenção para o filme. Ergo as sobrancelhas.

— Volta que horas, Bell? — meu padrasto pergunta.

— Começo da noite, eu acho. Vou buscar a Babi depois de ir ao

shopping.

Claro que não vou falar que vou encontrar minha tia. A confusão tá

armada se eu fizer isso. Minha mãe e minha tia nunca se deram bem, nem

quando minha mãe era casada com meu pai, o que não durou muito. 3 anos.

Os piores da vida dela, segundo ela mesma.

— Toma cuidado no trânsito — Sérgio alerta.

— Pode deixar. Até mais tarde, — falo, já saindo de casa.

Fora do ambiente tenso eu posso finalmente respirar fundo. A

atmosfera tende a ficar bem pesada quando minha mãe está com raiva ou

contrariada. Ou as duas coisas. Ela fica assim quando as coisas saem do

controle dela.

Quando as portas do elevador abrem, eu saio pegando a chave do

carro dentro da bolsa. Os faróis do Captur preto piscam quando aciono o

botão no controle e eu entro no carro. Deixo minha bolsa no banco carona,

com o celular do lado e ligo o carro.

“Tia, vou atrasar, mas já tô indo” Isabella

Envio a mensagem e saio com o carro da garagem, pegando a

avenida principal em seguida.

Combinei com a minha tia no Iguatemi, que fica perto da casa dela e

meio longe da minha. E eu já tô atrasada. Pontualidade realmente não é o meu forte. Não é porque sou de virgem que sou organizada e controladora.

Deus me livre ser assim.

Por algum milagre, ou pura sorte mesmo, não pego trânsito e chego

no shopping às 14:30hs. Entro no estacionamento e subo, indo para perto de

uma entrada dos andares de cima do shopping, onde fica a praça de

alimentação.

Consigo uma vaga perto de uma das portas de entrada, mesmo

sendo domingo. Pego minha bolsa e o celular antes de sair do carro e travá￾lo. Penduro a bolsa no ombro, depois de guardar a chave, e coloco o celular

no bolso de trás da calça jeans enquanto entro no shopping.

Encontro minha tia esperando por mim perto do McDonald’s.

Esperta. Sabe que eu amo um fast food e já me espera na cara do melhor.

— Oi, tia — cantarolo, ao chegar perto. Minha tia desvia o olhar do

celular e guarda-o na bolsa antes de me abraçar.

Cabelo loiro nos ombros, 1,70cm, um corpo lindo e um sorriso

sensacional. Alessandra Mendes, a tia mais incrível do mundo é minha.

— Oi, Bell. Tá bem?

— Tô — Solto o ar, olhando em volta. — E você?

— Tô cansada, mas vamos comer e você me contar o porquê dessa

cara mais ou menos — Ela me leva até o McDonald’s.

Minha tia me conhece bem demais. Eu converso sobre tudo com ela.

Mesmo sendo minha tia, ela também é minha amiga. Ela não me controla,

não me limita e não me corta. Era como minha mãe deveria ser comigo,

mas infelizmente não é.

— Ai, tia, tô sem fome — Paro de andar, fazendo minha tia parar

junto comigo. — Podemos ir no Starbucks ou só comer uma batata no

cone? Ou pão de queijo?

— Claro, Bell. Por que não falou antes? Vem cá! — Minha tia me

puxa pela mão, levando-me até a Casa do Pão de Queijo. Eu não sou

mineira, mas se tem uma coisa que eu amo é pão de queijo. Além do arroz e

chimarrão, as paixões dos gaúchos.

Fico olhando em volta, com os braços cruzados, enquanto minha tia

faz os pedidos e nós vamos nos sentar em seguida. Bebo um pouco do meu cappuccino, que está incrivelmente delicioso.

— Me conta, por que tá com essa cara? — minha tia indaga.

Levanto o olhar pra ela. Mastigo o pão de queijo lentamente, ganhando

tempo.

— Contei lá em casa que vou embora amanhã — murmuro. Minha

tia ergue as sobrancelhas, entendendo o porquê da minha expressão.

— Como foi com a sua mãe?

— Estressante — Solto o ar. — Ela meio que fez um escândalo.

— A Flávia não tem jeito mesmo — minha tia reclama.

— Meu padrasto controlou bem, mas ela não tá falando comigo.

— Se ela não entende que você precisa crescer na vida, paciência.

Concordo. Minha tia tem razão. Eu preciso. E longe daqui, longe de

todas as amarras que me prendem.

— No final ela acabou aceitando e não tentou fazer nada pra me

impedir.

— Nossa, que evolução — Minha tia ironiza.

— Não sei como, mas meu padrasto fez ela aceitar sem muito

esforço.

— Estranho.

— A Lari disse a mesma coisa, mas o Pedro acha que aos poucos ela

vai entender que não pode me controlar pra sempre — Dou de ombros. —

Afinal, eu tô indo embora, pra outro estado, pra bem longe do controle dela.

— O quanto antes ela entender, melhor. Sofre menos.

Dou risada. Minha tia é muito maravilhosa, ela tem uma sagacidade

única e um timing perfeito para as coisas.

— Que horas você viaja amanhã?

— De manhã, bem cedinho.

— Vou até o aeroporto com você e a Barbara.

— Obrigada, tia — agradeço, fazendo-a sorrir. — Pedro e Lari

também vão. Só não sei o Sérgio e a minha mãe.

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Comments

mari

mari

aff...minha mãe pode ser o que for mais eu não falo mal dela não...

2024-05-25

0

mari

mari

Só vejo Isabella reclamando da mãe...e minha filha infelizmente só da valor na mãe quando perde

2024-05-25

0

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