Brenda

Na parte da manhã consigo lidar muito bem com a menina,

ela se abriu mais comigo depois de brincarmos no parquinho,

onde fui a quase todos os brinquedos em que eu cabia. Em

alguns minutos ao lado da pequena, notei a sua felicidade e

deduzi que talvez as babás anteriores não se esforçassem o

suficiente, e para mim não é sacrifício algum conseguir arrancar

risadas gostosas e sinceras de Maria Alice.

Vê-la tão sorridente e à vontade comigo aqueceu meu

coração, em pouco tempo estou alcançando os meus objetivos –

manter o meu emprego e roubar muitos sorrisos de uma certa

garotinha, para mostrar a ela que pode confiar em mim.

— Como você prefere o seu cabelo? — pergunto, passando

o pente em seus fios.

Alice está sentada no pufe da sua penteadeira, enquanto

tento fazer um penteado bonito e que ela goste. Faz meia hora

que subimos para que ela pudesse se arrumar para o almoço.

Minutos atrás, eu a ajudei com o banho, mesmo que ela

tivesse me dito que poderia fazer isso sozinha. Acho que até

pode, mas fiquei com receio de que ela escorregasse no banheiro

e se machucasse, ou algo do tipo. Eu perderia o emprego em

menos de vinte quatro horas. O pai dela não parece ser do tipo

que tolera falhas. É mais fácil lidar com Maria Alice do que com

o sr. Bianco.

— Eu gostei do seu penteado. Pode fazer igual em mim? —

Me olha com seus olhos azuis e redondos através do espelho.

— Tem certeza? — Sorrio.

A pequena assente, retribuindo o meu sorriso. Estou

usando um rabo de cavalo simples, acho até estranho uma

criança gostar do meu penteado.

Passo alguns minutos arrumando o cabelo dela. A

personalidade da pequena ainda não está clara para mim, no

entanto, no decorrer dos dias poderei conhecê-la melhor.

— Brenda, tô com fome. — Me dá um sorriso genuíno ao

se virar para mim.

Como é possível se encantar em tão pouco tempo por uma

criança que só conheci hoje?

— Vamos descer, o almoço já deve estar pronto. — Pisco

para ela.

— O meu papai ainda não chegou, acho que ele não vem —

murmura, tristonha. — Quer comê comigo? — A menina me olha

com uma carinha de cachorro pidão.

Antes de subir para cuidar de Alice, Madalena me passou

uma lista das atividades da menina. Entre as tarefas do seu dia a

dia, encontrei uma em destaque, pai e filha sempre almoçam

juntos, só não fazem isso quando ele tem algum compromisso na

editora. E eu achei lindo da parte dele, só demonstra o quanto é

um paizão, afinal, existem pais que nem se dão ao trabalho de

estar com os filhos.

— Eu... tomei café quando saí de casa e ainda não estou

com fome, mas posso fazer companhia a você. O que acha? —

sugiro, com um sorriso, torcendo para que ela não insista.

Imagina se o patrão chega e me vê almoçando com a filha dele?

Nem sei qual seria a sua reação.

Na última casa em que trabalhei, os empregados faziam as

refeições na cozinha, e aqui não deve ser diferente.

— Tá bom.

Assim que Alice balança a cabeça concordando, fico

aliviada e meu sorriso aumenta. O horário de almoço dos

funcionários é diferente dos patrões, não posso simplesmente me

sentar à mesa com Maria Alice e almoçar com ela.

— Vou colocar a banheira para esvaziar e já volto — falo,

girando nos calcanhares ao lembrar desse detalhe.

Ao retornar, fico surpresa ao ver a menina em pé no pufe

da penteadeira. Com medo de que ela caia, rapidamente envolvo

meus braços ao seu redor.

— Nunca mais faça isso, princesa. Você poderia ter caído e

se machucado. Promete que não vai fazer isso de novo? — peço,

com a voz meio desesperada e o coração acelerado. Respiro

fundo e encaro a sapequinha.

Maria Alice sorri abertamente e eu acabo me derretendo

quando ela envolve seus bracinhos ao redor do meu pescoço e

me aperta, a maneira como age me faz pensar o quanto ela

parece ser carente de algo.

Da mãe...

— Hm, você é tão cheirosa e bonita. — Continua me

abraçando.

Muito inteligente. Foram essas palavras que seu pai usou

para descrevê-la. E tenho que concordar, pois a garotinha está

tentando fugir do meu pequeno sermão ao me elogiar. As

crianças de hoje em dia são tão espertas, se deixar, elas colocam

a gente no bolso.

— Não tente me enganar, mocinha. Promete que nunca

mais vai fazer isso? — Afasto-me dela e toco em seu rosto com

as duas mãos.

— Prometo, tia, prometo! Agora quero comer, minha

barriguinha está fazendo barulhinhos de fome — exclama e se

afasta, sem perceber que me chama de tia.

Solto uma risada quando Maria Alice passa a mão na

barriga e faz beicinho para mim.

— O.k., vamos lá, mocinha.

Assim que a coloco no chão, ela entrelaça sua mão na

minha e saímos do seu quarto, seguindo para a cozinha.

— Brenda, será que o meu paizinho vai gostar da minha

roupa e do meu penteado? Eu quis colocar este vestido porque

foi meu papai que comprou para mim. Ele é especial — diz,

enquanto descemos os últimos degraus da escada.

Fico boquiaberta com a desenvoltura que ela tem para

falar, soa tão adulta, conversa com uma certa propriedade que

impressiona qualquer um. Com a educação que deve receber, eu

não deveria ficar surpresa.

— Claro que vai, ele vai amar. Você está muito linda —

afirmo, avaliando sua roupa ao me agachar na sua frente e tocar

o seu rosto. — Tenho certeza de que seu pai adoraria se a visse

agora.

O vestido que ela parece tanto gostar é amarelo, de crochê,

com a saia branca e rodada. Ela até calçou as sandálias de

lacinho da mesma cor, o que deixou ainda mais fofo o seu

visual.

— Você é muito boa, Brenda. É a primeira babá que não

parece ser uma bluxa. — Se joga em meus braços e eu quase

caio para trás com seu abraço de urso.

Depois de ouvir alguns passos vindos em nossa direção,

Maria Alice levanta o rosto para ver quem é, enquanto congelo

ao ouvir a voz do meu chefe. Sequer sou capaz de olhar para ele,

fico grata por estar de costas.

— Vejo que estão se dando bem.

A voz potente e rouca do sr. Bianco me faz engolir em

seco.

— Paaaiiiiii, você veiooo!

A criança me solta tão rápido, que eu caio de bunda no

chão. Envergonhada, mordo os lábios e fecho os olhos.

— Tenha mais cuidado, Maria Alice. — O tom é duro ao

repreendê-la.

Meu coração fica apertadinho com isso. Um pouco sem

graça, eu me recomponho rapidamente e respiro fundo, pronta

para me levantar. Mas fico sem reação ao ver uma mão estendida

em minha direção, perplexa por meu chefe me oferecer apoio. É

neste momento que o observo com mais atenção. E acabo me

recriminando por estar encantada por meu chefe.

Ele está usando um terno que abraça bem os seus músculos,

o seu cabelo negro e liso está penteado para trás.

Perto do sr. Bianco me sinto uma formiguinha, acredito que

ele tenha quase dois metros de altura. Seus olhos são castanhoescuros e misteriosos, e os lábios finos são atraentes e

convidativos. Seu rosto quadrado tem o maxilar bem-marcado,

muito atraente.

Se o homem fosse um astro do cinema, com certeza daria

um bom papel de vilão, porque sua expressão é naturalmente

dura, qualquer um tem medo quando o vê pela primeira vez. Mas

algo me diz que por trás dessa pose de durão, há uma pessoa

com o coração bom, que se fechou por algum motivo.

Envergonhada por ter ficado tanto tempo o admirando,

desvio meu olhar. E para ajudar um pouco, tenho certeza de que

o sr. Bianco percebeu o que acabei de fazer, posso jurar que vi

uma sombra de um sorriso em seu rosto.

— Brenda? — Ele chama a minha atenção, então engulo a

minha vergonha e aceito a sua ajuda.

Meu patrão me tira do chão como se eu fosse uma pluma.

— Obrigada, sr. Matteo, me perdoe pelo transtorno. —

Umedeço os lábios, meio desnorteada por tê-lo avaliado demais,

agora não consigo parar de pensar no quanto ele é lindo.

Afasto-me dele, só assim consigo soltar a respiração que

estava prendendo. Matteo Bianco, além de ser bonitão, é muito

cheiroso.

Que pensamentos mais impuros. Nunca cheguei ao ponto

de cobiçar meu chefe.

— Não se desculpe por algo que não foi culpa sua. A

minha filha foi imprudente — diz com seriedade, enquanto passa

a mão na barba. Ele agora olha para a filha, que está cabisbaixa

no canto do sofá. — Maria Alice, peça desculpas por ter

derrubado a Brenda. — Seu tom é mais comedido.

— Não é necessário. — Balanço a cabeça. — Não foi culpa

dela. Ela só ficou feliz por te ver e acabou me derrubando, sei

que não foi intencional. — Tento contornar a situação, mas o

homem não parece convencido.

— Filha, o que eu te ensinei? — Ele suspira.

— Eu peço, papai.

Meu coração amolece ainda mais quando ela levanta a

cabeça e vejo que está com os olhos avermelhados, querendo

chorar.

— Senhor... Por favor, já disse que não é necessário. —

Sem pensar, toco em seu ombro e os seus olhos vão para minha

mão depositada ali, e depois ele me fita. — Ela só se animou

demais com a sua presença. — As palavras saem da minha boca

e nós nos olhamos por alguns segundos, até que ouvimos Maria

Alice.

Pigarreio e me afasto dele como se tivesse levado um

choque. O que foi isso?

— Me desculpa, Brenda, eu não queria te derrubar. Só

fiquei feliz por meu pai ter vindo para a casa e... — Maria Alice

começa a chorar.

Querendo protegê-la nem sei do quê, rapidamente me

aproximo dela e a abraço. A pequena passa os braços ao redor da

minha cintura e encosta o rosto em minha barriga.

— Não chora, princesa, sei que não teve intenção. Agora

pare de chorar, porque a tia fica com o coração apertado —

consolo-a, passando a mão em seu rosto molhado.

Mesmo com a cabeça baixa enquanto consolo a filha dele,

sinto seus olhos intimidadores focados em mim, me deixando

incomodada. Ergo o rosto e tenho a confirmação. Matteo estuda

minha atitude, e o que encontro em seus olhos não é repreensão.

Parece ser satisfação, como se o meu gesto o agradasse.

— Agora venha aqui, Mali — chama-a carinhosamente pelo

mesmo apelido que a professora usou pela manhã.

A garotinha se solta de mim e vai ao encontro do pai, que

se agacha e a recebe em seus braços.

— Se te repreendi não foi para que chorasse, o papai não

quis ser tão duro com você, muito menos que se assustasse com

o meu tom de voz. — Ele passa a mão no rosto dela, em seguida

beija a sua testa e a menina se derrete. — Eu também te devo um

pedido de desculpas. — Acaricia a bochecha dela, mas a sua

atenção está em mim, completamente em mim, a ponto de me

fazer secretamente estremecer e o meu estômago se contrair.

Por Deus, é o meu primeiro dia aqui e estou recebendo uma

enxurrada de emoções.

— Estão fazendo uma festa e não me convidaram,

queridos?

Assusto-me ao ouvir uma voz feminina, que fura a bolha

que criei ao redor do meu chefe e da filha dele. Olho na direção

da voz e me surpreendo ao ver uma mulher muito elegante, seu

cabelo loiro chega ao seu ombro. Ela está sorrindo para mim, ou

melhor, para Maria Alice.

— Você disse que não entraria porque estava atarefada

hoje, Daniele — diz Matteo, se levantando. A pequena corre

para mim e faz uma careta.

A mulher bonita revira os olhos, mas não tira o sorriso do

rosto.

— Você demorou muito, sabe que não gosto de esperar,

querido. — Ela o ignora e volta a olhar para a criança, que se

refugiou em mim. — Mali, não vai dar um beijinho na sua tia,

meu amor? — A loira abre os braços.

Notando a resistência da Maria Alice, toco em seus

ombros, mas não me intrometo.

— Filha, fale com a sua tia — pede Matteo, gentilmente.

— Oi, tia Dani — finalmente a menina fala, mas não se

afasta de mim para dar o abraço que a mulher lhe pediu.

Daniele desvia os olhos da sobrinha e passa a me analisar

dos pés à cabeça, me estudando minuciosamente. A avaliação da

mulher me incomoda um pouco, no entanto, não fico intrigada

com isso, porque ela deve saber sobre histórico das outras babás

e certamente é uma tia superprotetora.

— Agora sim. — Pisca para a criança, que continua

agarrada a mim. — Matteo, vamos nos atrasar para o nosso

almoço. Você me disse que só ia pegar alguns documentos no

escritório. — A mulher se vira para o sr. Bianco.

— Não me apresse, Daniele. Essa é Brenda, a partir de hoje

ela vai cuidar da Maria Alice. Você não vai cumprimentá-la? —

Estuda-me, depois faz o mesmo com a loira.

— Mil perdões, linda. — Ela se aproxima de mim e estende

a mão para me cumprimentar. Educadamente, eu aceito. — Sou

Daniele, prima da mãe da Mali e amiga do Matteo. — Dá um

sorriso falso.

— O prazer é meu, senhora. — Sorrio para ela, que

assente.

— Não precisa me chamar de senhora, sem formalidades,

por favor — pede Daniele, bem-humorada.

— Sr. Matteo, se me der licença, tenho que levar a Maria

Alice para almoçar. — Olho para o meu chefe e aguardo a sua

resposta.

— Pode se retirar, Brenda.

— Obrigada, com licença. Vamos, pequena? — Pego a mão

da Maria Alice, mas ela não sai do lugar, fica olhando para o

pai.

— Papai, pensei que fosse comê comigo — diz Maria

Alice, com a voz embargada, enquanto olha para o pai com a

expressão de choro.

— Hoje não posso, filha, tenho alguns assuntos

importantes para resolver na editora. — Ele vem até nós e se

agacha na frente dela.

— Já que você está aqui, papai, poderia...

— Não dá, querida, tenho algumas pendências na editora,

mas amanhã almoçaremos juntos, tá bom? — ele a interrompe,

acabando de uma vez com a esperança da criança, que soluça

alto e assente.

Sem saber como agir ou o que dizer, eu fico calada

observando-os. Disfarçadamente, olho para a Daniele e vejo um

sorriso em seu rosto enquanto observa a interação entre pai e

filha.

— Vamos, princesa — insisto, fitando o pai dela, que nesse

momento toca no queixo dela para que o encare.

— Vamos fazer melhor. Vou tentar chegar mais cedo para

jantarmos juntos. — Meu chefe consegue arrancar um sorriso da

menina.

— Vou pedir pra Tina fazer tilamisú pra você, papai. — Eu

e Matteo rimos ao mesmo tempo, até poderiam dizer que é uma

risada combinada.

— Mas comemos ontem, Mali, pense em outra sobremesa

gostosa — sugere, e a menina se anima.

— Hm, vou vê se ela faz zelope.

Franzo o cenho, tentando entender do que se trata. O pai

dela joga a cabeça para trás e gargalha. Pego-me admirando a

interação deles, mas um bufo vindo da loira chama a nossa

atenção.

— Matteo, vamos nos atrasar para o nosso compromisso —

avisa Daniele, olhando para as horas no relógio em seu pulso.

— Um momento, Dani — pede, sem olhar para ela. — É

zeppole, Mali — ele a corrige, e a filha balança a cabeça.

— Foi o que eu disse, papai. — A menina cruza os braços.

— O.k. Mocinha, peça o zelope para a Tina, até mais tarde,

prometo não demorar. — Pisca para ela e se levanta, mas antes

beija a testa dela.

Escritor. Bonito e um pai presente. Será que pode existir

mais qualidades nesse homem?

A voz da minha melhor amiga soa em minha cabeça, como

um diabinho me mandando reparar mais em meu chefe bonitão.

Então respiro fundo e me repreendo por esses pensamentos

malucos.

— Outro dia venho para brincarmos e te trago um presente,

Mali — diz Daniele, carinhosamente. Então, ela e o sr. Bianco

saem pela mesma porta que haviam entrado há alguns minutos.

— Você gosta de zelope, Brenda? Vou pedi a Tina para

fazer um montão pra você comê também. — A garotinha ergue o

rosto para mim e me lança um sorriso travesso, exibindo seus

dentinhos, que acho uma fofura quando sorri.

— Não sei o que é, mas vou adorar provar.

— É uma sobremesa da Itália, meu pai é de lá e ele gosta

— explica.

— Hm, o.k. Agora vamos ver o seu almoço, você precisa se

alimentar. — Uno minha mão na dela e rumo até a cozinha.

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Comments

Cirene Bandeira

Cirene Bandeira

já cobra 🐍 🐍 🐍 🐍 🐍 aparecer aí aí aí

2024-12-03

1

Antonia Silva Santos

Antonia Silva Santos

Sempre tem quee aparecer uma cobra para destilar seu veneno e estragar a felicidade de todos. Mas ela vai cair do cavalo, tenho certeza.

2024-04-09

4

Leidiane Lopes

Leidiane Lopes

Essa Danielle não é flor que se cheire 🤔

2024-03-29

1

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