— Pai, pai, olha! Que lindo! — Ela larga o seu copo de
suco e aponta para o céu.
Desvio a minha atenção do meu notebook e olho para a
minha filha, que parece impressionada com um arco-íris em um
dia ensolarado.
— Estou vendo, querida, é realmente encantador — falo,
olhando para ela, que continua a encarar o céu e sorrir. Volto a
minha atenção ao arquivo do meu livro revisado que chegou
ontem à noite por e-mail, mas Maria Alice me chama de novo.
— Eu gosto de todas essas cores, papai. São lindas como a
mamãe! — diz, sorrindo, toda inocente.
— Sim, é verdade. — Minha garganta arranha um pouco.
Minha princesa está crescendo tão rápido, está deixando de
ser o meu bebê a cada dia que passa. Fico surpreso com o seu
modo tão “maduro” de dialogar. Desde os seus três anos de
idade que ela sabe que a mãe foi se juntar às milhares de
estrelinhas no céu, explicar para ela dessa forma foi mais fácil
para que compreendesse que Camila não estava mais entre nós e
que não voltaria.
Após a partida da minha esposa, achei que nada mais seria
capaz de me afetar, que não poderia existir outra dor que
pudesse se comparar a da sua morte, porém, voltei a senti-la
quando chegou a hora de contar a nossa menina que sua mãe
havia falecido. Passei anos e mais anos treinando para que
quando chegasse esse dia, eu não falhasse miseravelmente. Foi
doloroso me lembrar que perdi o amor da minha vida naquela
sala de parto.
Parece que foi ontem que tive a conversa com um serzinho
inocente de três anos de idade, no sofá da sala. Ela chorava
porque tinha caído e começou a chamar por “mamãe”, e eu,
desesperado, sem saber o que fazer, comecei a chorar também,
porque desde os seus dois anos eu falava para ela sobre a mãe
para que a memória de Camila se mantivesse viva, só que nunca
cheguei a contar sobre a sua partida. Somente minutos depois
que me recompus, contei para ela sobre a mamãe ter ido embora
para o céu.
Largo o notebook e pego a minha xícara de café, tomando
um gole do líquido morno. Hoje, decidi que tomaríamos café
juntos. Há duas semanas mal vejo a minha filha, mas não é
intencional, tenho ficado muito ocupado com esse livro. Quase
não tenho vida social desde que comecei a trabalhar nele, e
ontem, mesmo receosa, Madalena me alertou que eu estava
deixando Alice de lado e que a menina sente a minha falta.
Sentindo-me culpado, pensei em suas palavras e percebi que
poderia dividir minhas horas com a minha garotinha. Decidi que
mesmo que eu esteja tão atarefado, preciso estar mais presente
para a minha filha, eu sempre estive e não será agora que farei
diferente.
— Um dia, a mamãe vai voltar para nós, papai?
Minha bile sobe com a sua pergunta, não esperava por isso.
— Filha, infelizmente, quem vira estrelinha no céu não
volta mais — respondo, depois de um silêncio desconfortável
que faz com que meu peito fique apertado.
— Se ela voltasse, eu seria muito feliz... — Ela parece
murchar diante dos meus olhos.
— E comigo você não é? — murmuro, vendo seus olhos se
encherem de lágrimas.
— Sou, papai, mas eu gostaria de ter uma mamãe. A
Isabela e a Luísa têm uma mãe, só eu que não. — Seu tom
baixinho é embargado ao mencionar as netas da minha
governanta.
— E quem disse que você não tem? Ela só não está aqui. —
Minha garganta queima.
— Eu sei, pai. — Ameaça chorar, então afasto o notebook,
vou até ela e me ajoelho à sua frente, tocando em seu rostinho
em seguida.
— Maria Alice, a sua mãe pode não estar aqui conosco,
mas ela vive dentro de nós. — Toco em seu peito e depois no
meu, deixando-a atenta aos meus movimentos. — O importante é
que sabemos que, de onde ela estiver, está cuidando de nós. —
Beijo a sua testa e ela agarra meu pescoço, fungando. — Agora
pare de chorar, senão a Madalena não vai trazer as netas dela
para brincar com você, no sábado — proponho, querendo
compensá-la.
Seus olhinhos brilham de contentamento.
— Tá bom, papai! — Se afasta de mim e me dá o sorriso
mais puro de todo o universo.
— Boa menina. Agora termine o seu café — digo,
respirando aliviado por ela ter aceitado. Sinto falta de quando
ela era um bebê e não me fazia perguntas difíceis.
Confiro as horas no relógio em meu pulso e me lembro que
daqui a alguns minutos terei que entrevistar a sexta candidata à
babá para Maria Alice, que desta vez é uma recomendação da
minha fiel governanta e eu não pude negar esse pedido.
Confesso que estou sem paciência alguma para aturar mais
uma amadora. Estou desde segunda-feira entrevistando as
candidatas que a Daniele, prima da minha esposa e minha amiga,
tem me enviado da agência de uma colega dela. Mas as cinco
“profissionais” que entrevistei não eram adequadas para cuidar
da minha filha, e eu não enfio qualquer um dentro da minha
casa. Não mesmo.
— Matteo, a Brenda já chegou para a entrevista. —
Madalena surge no jardim depois de alguns minutos.
— Madalena, leve a Alice para o quarto. Vou para o
escritório e em cinco minutos leve a Brenda — aviso, olhando
para a mulher baixinha de cabelo grisalho.
Fixo meus olhos em Maria Alice e noto que ela terminou
de tomar café, seus olhos estão menos tristes depois da nossa
conversa. Por mais que minha esposa tenha falecido no parto há
seis anos, e desde então venho criando minha filha sozinho,
olhar para Maria Alice é como uma ferida aberta que talvez
nunca vá cicatrizar.
Mila fez a sua escolha, ela quis deixar nossa filha para
mim, mas sei que se fosse eu no lugar dela, teria feito o mesmo.
Pensativo, observo Alice se levantar da sua cadeira e
seguir Madalena para dentro da casa, então faço o mesmo,
caminhando para o meu escritório.
Depois de cinco minutos, ouço batidas na minha porta e
reconheço a voz de Madalena, avisando que está com Brenda.
Ajeito-me na cadeira e peço para que entrem.
— Senhor, aqui está a Brenda — minha governanta fala
assim que entram na sala.
Levo meus olhos para as duas mulheres, notando que a
candidata à babá é bem jovem, bonita e muito atraente.
Lentamente, acabo reparando nela mais do que o necessário. O
seu cabelo castanho-claro está solto e bate na altura dos ombros,
ela não usa nenhum tipo de maquiagem, exceto um gloss rosa,
que mesmo que esteja a alguns metros de distância de mim,
consigo sentir o cheiro de melancia. A sua postura ereta e a
cabeça baixa não me impedem de perceber as curvas nos lugares
certos em seu corpo magro, que está coberto por um vestido
preto.
Acho que a candidata ainda não se deu conta de quem está
diante dela, porque não me olhou diretamente no rosto. Ela
parece um pouco aflita. Seus olhos claros fixam na prateleira de
livros, em qualquer coisa, menos em mim, é evidente o seu
nervosismo.
— Obrigado, Madalena, pode se retirar — agradeço-a.
Antes de sair, Madalena sussurra algo no ouvido da jovem,
que somente acena e agradece.
— Boa sorte, Brenda — deseja minha governanta,
dirigindo-se a ela com um certo grau de intimidade. — Com
licença, senhor.
Limpo a garganta para chamar a atenção da candidata à
vaga, e ela, por fim, ergue o rosto. Assim que olha para mim,
seu semblante muda para pura surpresa.
Ela não esperava que fosse eu. Normalmente, quando vou
fazer as entrevistas, deixo que as candidatas descubram quem
sou eu quando chegam à minha casa, e dessa vez, mesmo que
fosse uma recomendação da pessoa que mais confio nessa vida,
não agi de modo diferente. Comecei a fazer esse tipo de coisa
após receber várias vezes jornalistas intrometidas disfarçadas de
babás para coletar informações sobre a minha vida pessoal, para
expor em revistas. E eu sou um homem muito reservado, não
gosto que invadam a minha privacidade. Se antes de perder a
minha esposa já era assim, depois que ela se foi eu me fechei
muito mais. Dificilmente cedo a entrevistas, desde o nascimento
de Maria Alice e a perda de Camila, fiz com que a minha
agenciadora e a assessora fizessem de tudo para que eu seguisse
minha carreira sem causar muito alarde.
Ter me tornado viúvo tão cedo me obrigou a fazer algumas
escolhas em meu ramo profissional. Uma delas foi proteger a
imagem da minha garotinha desse mundo perverso, onde as
pessoas não se importam em respeitar a sua vontade, só as delas.
E, com certeza, não mediriam esforços para usar imagens da
minha filha em manchetes sensacionalistas.
— Sente-se, srta. Correia — peço, apontando para a
cadeira. A moça rapidamente se senta. — Você sabe por que está
na minha casa? — É a primeira pergunta que faço, o seu rosto é
repleto de confusão com o meu questionamento.
— Sei sim, sr. Bianco. — A mulher assente, desconcertada
por eu manter o nosso contato visual. — É para a vaga de babá.
Eu trouxe o meu currículo para que possa analisar, e tenho três
cartas de recomendação. — Tenta esconder o nervosismo das
palavras, mas é nítida a sua postura apreensiva ao se comunicar
comigo.
— Não me baseio em currículos, muito menos em
recomendação de ex-empregador para contratar alguém para
cuidar da minha filha. Ser babá de uma criança vai além dessas
coisas, é algo muito íntimo, requer cuidado, e muitas vezes nem
sempre o que está escrito é verdade. Qualquer um pode
conseguir uma carta de recomendação falsa, ou até mesmo
montar um currículo listando várias qualidades inexistentes.
Resumindo, srta. Brenda, eu entrevisto as babás da Maria Alice
porque sinto a necessidade de avaliar a pessoa de perto, então
sugiro que esqueça a ideia de me mostrar esses papéis.
A mulher arregala os olhos esverdeados como duas
esmeraldas preciosas antes de os semicerrar levemente, mas
tenta disfarçar com um leve e falso sorriso.
— Claro, senhor, entendo. É só me dizer o que precisa para
que possamos começar a entrevista. Estou aberta a qualquer tipo
de pergunta que queira fazer, inteiramente a sua disposição —
diz, por fim, com a voz firme.
E isso faz com que ganhe um ponto comigo, ela não recua e
escolhe bem as palavras.
Passamos um bom tempo conversando, então consigo
analisar o interesse dela na vaga. Faço perguntas sobre a idade
das últimas crianças que cuidou, o motivo de ter saído do último
emprego e embora saiba que ela tem formação em pedagogia e
os professores devem ser capacitados em primeiros-socorros,
gosto de reforçar a informação. Suas respostas e seu
posicionamento são convincentes o suficiente para que eu tenha
certeza de que ela merece uma oportunidade de provar que é
merecedora da minha confiança.
— Preciso saber se você tem disponibilidade para morar
nas minhas dependências. Embora a minha profissão me permita
trabalhar em casa, passo muitas horas ocupado, e por mais que
eu tente dar atenção a minha filha, às vezes nem sempre consigo
estar com ela. Eu preciso de alguém de confiança para isso, que
cuide da Maria Alice quando eu preciso — termino de narrar,
percebendo que a candidata está bem atenta.
— Eu preciso de uma pessoa que esteja disponível para a
minha filha vinte e quatro horas, e que ela se sinta confortável
enquanto eu não estiver. — Brenda balança a cabeça,
concordando. — A Madalena começa o seu turno às sete da
manhã e larga às dezessete, e as outras funcionárias não foram
contratadas para cuidar da minha filha, não posso jogar para elas
uma responsabilidade que não é delas.
— Sim, entendo. Caso eu seja contratada, terei que morar
aqui... sr. Bianco? — gagueja, meio nervosa.
— Sim, senhorita. Mas não será a semana toda. Eu preciso
do seu serviço de segunda a sábado. E talvez um domingo ou
outro — explico, deixando-a um pouco mais aliviada, isso fica
nítido em sua expressão.
Ainda em silêncio e atenta às minhas palavras, Brenda
assente algumas vezes e diz “compreendo, senhor”. Falo a ela o
que Maria Alice pode e não pode comer, sobre a sua rotina e o
que não permito que faça dentro da minha casa. Também aviso
sobre a restrição à piscina, que Maria Alice não pode, de
maneira alguma, ter acesso. Deixo bem claro que minha filha é
uma criança muito persistente e quase sempre consegue dobrar
qualquer um com aquele sorrisinho meigo dela. Esclareço que,
mesmo que seja difícil, o não deve ser dito quando necessário.
— Além da restrição à piscina, não permito que use o seu
celular para capturar fotos da Maria Alice ou da minha casa, em
hipótese alguma. Eu preciso de alguém de confiança, e se
expuser a minha filha de alguma maneira, você será demitida. —
O rosto dela empalidece com o meu tom quase grosseiro.
Talvez ela ache que estou sendo paranoico, mas é o certo a
se fazer, qualquer pai que ama e preserva o seu filho faria o
mesmo. Ser uma pessoa pública não é fácil, e eu aprendi isso da
pior maneira possível quando aquela maternidade encheu de
repórteres e eu tive que sair com a minha filha pelos fundos, por
não saber lidar com tantas perguntas de uns filhos da puta que
nem respeitaram a minha dor naquele momento.
Foi a partir dali que me tornei um homem mais recluso.
— O.k. Entendido, senhor. — Brenda fica com a pele
branca ainda mais pálida.
— Ótimo.
— Estamos quase nos entendendo, Brenda. Posso te chamar
assim, certo? — Assente e sorri, parece contente. — Só preciso
saber de mais uma coisa para ter certeza de que você é realmente
qualificada para preencher essa vaga. Preciso saber se não há
nada que a impeça de dar toda a atenção que a minha filha
requer. É casada? Tem filhos? — Passo a mão na barba. Um
marido perturbando na porta da minha casa, ou um filho que
precisa da atenção da mãe em horários inoportunos é o que
menos quero no momento.
Ela parece ficar sem jeito por eu ter sido tão direto com as
minhas perguntas, mas elas são cruciais para a sua contratação.
— Não, eu não tenho filhos, muito menos sou casada —
responde, gentilmente.
— Então é isso, Brenda, vamos tentar. — Pego uma folha
com o valor do salário padrão que mostro para todas as
candidatas e empurro para que veja quanto vai receber se for
contratada. — Esse será o seu salário e mais um bônus. Com
todos os direitos trabalhistas assegurados. Mas eu preciso que
você sempre esteja disponível para a Maria Alice. Minha filha
tem apenas seis anos e precisa de muita atenção, é uma garota
muito inteligente e sensível.
— Obrigada, senhor, não irá se arrepender. E quando
começo? — Passa as mãos no tecido do vestido preto, como se
estivesse ansiosa.
— Assim espero. Pode começar amanhã. E preciso que
traga todos os seus documentos. Às sete, meu motorista irá
buscá-la em seu endereço, para que às sete e meia já esteja
iniciando o trabalho — falo enquanto a encaro com seriedade. —
Seja bem-vinda à minha casa, você está contratada. — Me
levanto e ela faz o mesmo.
— Tudo bem. Agradeço por ter me dado essa oportunidade.
— Dá um pequeno sorriso, demonstrando estar menos tensa.
— Até amanhã, Brenda. — Estendo minha mão para nos
despedirmos.
— Até, senhor. Tenha um ótimo dia. Com licença. — Se
despede e sai da sala.
Pensativo, descanso minhas costas na cadeira e fecho os
olhos.
Afastando os pensamentos, retorno para o notebook com a
intenção de terminar a tempo alguns capítulos da primeira
leitura, para ter uma conversa com a minha filha antes do jantar.
Exausto por ter passado tantas horas trancafiado no
escritório lendo meu arquivo e corrigindo algumas lacunas que
encontrei, estou pronto para tomar um banho e depois ir até o
quarto de Maria Alice, mas eu a encontro sentada no sofá, com o
seu livrinho infantil, o primeiro que comprei para ela para que já
criasse o hábito da leitura desde pequena. Mesmo que ainda
esteja aprendendo a ler, é curiosa o suficiente para tentar.
Sorrindo, vendo-a distraída com a perninha em cima da
outra e o livro em seu colo, aproximo-me dela e beijo o alto da
sua cabeça, sentindo o cheiro do xampu de melancia entre os
seus fios loiros iguais os da mãe.
— Hm, minha filha está cheirosa. A Lena já te deu banho?
— Sorrio, sentando-me seu lado. Ela ergue o rostinho para me
encarar com aquele sorriso que é a razão da minha felicidade
todos os dias.
— Sim, papai! Não tá vendo que estou usando o meu
vestido novo? — questiona-me, colocando a mão na cintura
como se fosse gente grande. Só então reparo na sua roupa, que
comprei na viagem que fizemos para a Itália quando fomos
visitar a minha nonna, no ano passado.
— Verdade, filha, só reparei agora. — A serelepe dá uma
risadinha.
Perdi meus pais muito cedo. Na época eu estava na
faculdade, faltava somente um mês para a minha formatura em
economia, quando eles sofreram um acidente de gôndola em
Veneza e morreram afogados. O único sobrevivente foi o
barqueiro. O meu pai tentou salvar a minha mãe, mas no
processo, acabou se afogando também, foi assim que perdi as
duas pessoas que eu mais amava no mesmo dia, doze anos atrás.
E anos depois, a história quase se repetiu, por pouco não perdi
minhas duas garotas.
Às vezes, me pergunto se estou fadado a perder as pessoas
que amo sempre nos momentos que deveriam ser os mais felizes
da minha vida. Depois da Camila, comecei até temer a tal
felicidade, aprendi que posso me decepcionar no momento em
que menos espero.
Após ter pedido meus pais, quem deu continuidade a minha
criação, mesmo eu já sendo um homem formado, foi a minha
avó, minha única família viva. Meu pai era filho único, assim
como eu sou.
Como único herdeiro, a editora Bianbooks ficou para mim,
porém, ao perder meus pais não fazia mais sentido continuar
vivendo na Itália. Decidi vir morar no Brasil para reconstruir a
minha vida.
E foi assim que conheci Camila. No aeroporto trombei com
uma brasileira língua-afiada que só faltou me bater quando
quase a derrubei no chão e estraguei a surpresa que ela tinha
feito para a sua mãe, que estava voltando de uma viagem
internacional. Foi amor à primeira vista, eu a amei primeiro e
depois ela me amou mais do que eu mesmo me amava, porque
foi capaz de dar a sua vida para que a nossa filha viesse ao
mundo.
Vim para o Brasil achando que iria reconstruir a minha
vida. Teria finalmente o meu tão sonhado felizes para sempre ao
lado das pessoas que eu amava, como eu costumava a colocar em
meus livros.
Mas quem disse que tudo é como queremos ou sonhamos?
Anos depois, vivendo em plenitude com a minha esposa e à
espera da nossa filha, recebo o segundo maior tombo; estava
perdendo novamente alguém que amava para a maldita morte.
— Pai, quando eu for dormir, pode contar uma historinha
para mim? — pede, com os olhinhos brilhando, me tirando dos
devaneios.
— Conto, sim, princesa. — Deposito outro beijo em sua
cabeça. — Mas agora o papai quer ter uma conversa séria com
você. — Fito-a, que me encara curiosa.
— Mas o senhor disse que crianças não têm conversa séria!
— Se recorda e eu jogo a cabeça para trás, gargalhando.
— Garotinha esperta! — Faço cócegas nela, que começa a
rir. — Eu consegui uma nova babá, Maria Alice, ela vai começar
amanhã. Quero que se comporte e seja uma boa menina, tá bom?
— digo, depois de ela parar de rir.
— Mas eu sou, papai! — Cruza os braços, sorridente.
— Eu sei disso, só estou te lembrando, o.k.? — Passo a
mão em seu cabelo, que está com maria-chiquinha.
— E se ela for má igual àquela da última vez? Eu ainda
tenho que ser boa com ela? — Faz um biquinho.
— Não vai ser, prometo. — Eu a puxaria para um abraço,
mas preciso de um banho.
A última babá foi um desastre total. Quando descobriu
quem eu era, ficou tão eufórica com a minha presença na casa,
que deixava os seus afazeres de lado, principalmente a minha
filha, para estar no mesmo ambiente que eu. A maior patifaria
foi quando a mulher teve o atrevimento de ficar tirando fotos
minhas e de Maria Alice, sendo que desde o início eu já tinha
avisado sobre o uso de câmeras. No mesmo dia eu disse que ela
podia arrumar suas coisas, pois estava demitida.
— Eu queria a Renata de volta, papai, ela era boa comigo.
— Faz biquinho novamente.
— Filha, você sabe que ela estava esperando um bebê e não
poderia mais ficar aqui. — A Renata foi uma excelente babá
para a Maria Alice por três anos, só que depois que engravidou,
ela tomou a decisão de focar exclusivamente em sua gravidez e
na família.
— O senhor deveria ter deixado ela trazer o bebê, eu
ajudaria a cuidar.
Minha filha me faz gargalhar com as suas palavras.
— Mali, bebês não são como as suas bonequinhas, são
delicados e precisam de mais atenção — explico a ela, que dá
um sorriso travesso.
— Então eu sou o seu bebê, não é, papai?
— Sim, é o meu.
— Qual o nome da moça que vai cuidar de mim? —
inquire, curiosa.
— Brenda — murmuro, pensando na candidata.
Ela é a mais jovem e a mais bonita que já pisou nessa casa
para querer cuidar de Maria Alice. Posso afirmar que será um
perigo constante para mim –reparei demais nela e a achei uma
gracinha –, mas não passará disso, não me envolvo com
funcionários. Muito menos com as mulheres que cuidam da
minha filha, não gosto de misturar as coisas.
— É um nome bonito, papai.
Assim como a dona dele.
Balançando a cabeça para expulsar o meu pensamento
insano, levanto-me para subir para meu quarto.
— Vou me arrumar para jantarmos, não demoro —
prometo.
— Tá bom! A Lena disse que a Tina fez tilamisú, meu doce
preferido.
Rio baixinho por ela pronunciar o nome da tradicional
sobremesa italiana errado.
— O.k. Já volto. — Pisco para ela, girando nos calcanhares
e seguindo para o meu quarto.
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Comments
Josanice Barbosa Vanderlei
Espero que ele supere a morte da esposa,e se dê uma nova chance ❣️❤️❤️❤️
2024-03-18
3
Regina Célia
Tomara q os dois se entendam logo...🥳🥳🥰🥰🔥🔥🔥🚒🚒🚒
2024-03-17
2
Fbiana De Santos
tomara que eles sejam felizes
2024-03-17
2