Brenda

Após a entrevista na mansão do sr. Bianco, vou direto para

a minha casa, mas deixo tia Lorena a par de tudo por ligação.

Assim que chego, me deparo com Fernanda, minha melhor

amiga, me esperando para saber mais detalhes sobre a vaga de

babá. Conto a ela que o meu futuro chefe é um escritor famoso,

e que eu não sabia de nada disso até pôr meus pés lá. Por pouco

não tive um treco ao me deparar com Matteo Bianco à minha

frente assim que entrei em seu escritório.

Não foi somente por ele ser um homem conhecido que

fiquei estagnada diante dele. Não posso negar que aqueles olhos

castanhos deslumbrantes parecendo duas amêndoas e aquele ar

de arrogância – que talvez seja mais do que eu esteja julgando –

faz um contraste com a sua beleza. Matteo é mais lindo

pessoalmente, tem muita presença, agora entendo o porquê dos

seus fãs serem loucos por ele. O encanto que sentem pelo

escritor vai além das palavras que o sr. Bianco escreve. E hoje,

eu pude afirmar isso, estive a poucos metros dele e foi suficiente

para admirar a sua beleza, o rosto másculo e definido coberto

por uma barba bem-feita. A sua expressão estava endurecida,

mas ao mesmo tempo se tornava algo intrigante e sexy.

Quando a amiga da tia Lorena de longa data, a sra.

Madalena, disse que o patrão dela estava precisando de uma

babá para a filha dele, eu me animei, afinal, já tinha exercido

essa função. Eu também sou formada em pedagogia, dei aula em

duas escolas, e como adoro crianças e sei lidar com elas, pedi a

minha tia para falar com a Madalena se ela poderia fazer com

que eu fosse entrevistada para preencher a vaga. Na ligação, um

dia antes da entrevista, ela me disse que o sr. Bianco é muito

reservado e que eu tivesse cuidado com cada palavra que fosse

dizer.

No momento em que cheguei à mansão Bianco, que fica em

um condomínio luxuoso afastado da cidade, não consegui

associar o nome, muito menos o sobrenome, por estar muito

ansiosa para conseguir a vaga de emprego. Mas no instante em

que a governanta me guiou até aquela sala e abriu a porta, eu

tive que controlar a minha surpresa por estar diante de alguém

tão bem falado por seus textos no mundo da literatura, então agi

o mais profissional possível.

Bom, se ela tivesse deixado claro que era Matteo, o

escritor, eu saberia até de quem se tratava. Na época em que a

esposa dele faleceu, saiu somente uma nota de falecimento e

depois não houve mais notícias.

— Nem adianta ficar me olhando assim, já tomei a minha

decisão e não volto atrás — murmuro, suspirando.

Estou sentada na cama com minha amiga, que está um

pouco revoltada por eu ter aceitado o emprego com as condições

impostas por ele.

Quando o empregador da Madalena me disse o valor do

salário, eu quase caí para trás, me segurei para não demonstrar o

tamanho da minha alegria. Com o valor, vou conseguir pagar as

minhas contas, me organizar em muitas coisas e ainda sobra um

valor considerável para começar uma poupança para alguma

emergência.

— Você enlouqueceu, minha amiga? Vai virar prisioneira

nesse emprego? Nem por um milhão de reais eu trocaria a minha

liberdade — resmunga, ainda indignada com a minha decisão.

— Não exagere, é claro que por um milhão você daria mais

do que a sua liberdade. — Bufo, fazendo-a rir baixinho.

— Um milhão é um milhão, né. — Pisca para mim.

— Hipócrita — provoco-a.

— E você é maluca por ter que morar no trabalho, mesmo

que vá receber muito bem por isso — retruca.

Não que eu tivesse muito tempo para pensar sobre isso, no

entanto, preciso pagar as minhas contas.

Estou desempregada há quase um ano, a ponto de ficar

louca. Eu gosto de trabalhar, de ter as minhas coisinhas, pagar

as minhas contas, ficar sendo sustentada por minha tia por tanto

tempo está me deixando triste, até mesmo meio deprê.

— Não estou em condições de exigir nada, preciso de um

trabalho. Tia Lore precisa que eu também ajude aqui dentro!

Não posso ser um estorvo, e não sei se você se lembra, mas

tenho um empréstimo para quitar com o banco. Eu não ligo de

morar lá e viver para a garota, o importante é que terei o meu

salário e os meus direitos. Sem contar que vou conseguir colocar

comida na mesa depois de tanto tempo — declaro, me

remexendo na cama.

— Sim, eu sei, você tem razão. Mas continuo achando que

é uma loucura ficar disponível dessa maneira. Isso é exploração!

Se quiser, eu te empresto uma grana para você se manter até

conseguir algo melhor. Eu te ajudo no que posso, somos amigas,

certo? Você não precisa se submeter a um trabalho com uma

pessoa cheia de exigências! — exclama, revoltada, passando a

mão em seu cabelo cacheado.

— Trabalho não mata ninguém, você sabe muito bem disso.

E algo melhor? Onde vou conseguir um salário como esse? Eu

sempre recebi quase que o mínimo, para mim é uma fortuna. E o

melhor é que vou trabalhar com o que eu gosto, e com uma

criança só. — Sorrio para ela.

— Não acredito que vou perder minha amiga para um

emprego! — Ela faz manha, e eu acabo rindo.

— Um emprego maravilhoso onde receberei cinco vezes

mais do que nos outros que já tive, e ainda terei um bônus. Sem

contar os direitos trabalhistas. E você não vai me perder,

teremos os domingos em que eu não precisar trabalhar,

Fernanda. Pare com esse drama todo.

— O.k. O.k. Quando começa, Brenda? — Minha amiga

parece ter sido vencida pelo cansaço.

— Amanhã bem cedinho tenho que estar na mansão. Eu

preciso arrumar minhas coisas hoje à noite — esclareço,

pegando as mãos dela. — E não pense que estou sendo orgulhosa

ao não aceitar a sua ajuda, não é isso. Eu tenho que me virar

sozinha, e, convenhamos, amiga, não tem como recusar um

emprego desses. Nanda, eu tenho vinte e quatro anos, passou da

hora de ser independente, e a tia Lorena não tem obrigação

alguma de me sustentar. Você sabe que o rendimento dela é

pequeno com a venda do seu artesanato.

— Está certa, Brenda, me desculpe. Estava sendo um pouco

egoísta, queria você só pra mim, amiga. Sou uma péssima pessoa

por ter tentado te convencer a não aceitar — diz, meio tristonha,

mas sorri em seguida. — Como você mesma disse, trabalhar não

vai te matar. Nunca matou, né?!

— Exatamente! Não tenho nada que me impeça de ficar por

lá, não tenho namorado e não sou de viver em festas. — Abro

um sorriso para ela, no entanto, ele some assim que me lembro

do meu ex-namorado, aquele encosto, ainda bem que me livrei

dele. Eu não o vi mais depois que ele terminou comigo para

ficar com uma mulher mais velha que o bancava. Esse sempre

foi o sonho do André, ser bancado por uma mulher, e como

nunca dei isso a ele, preferiu uma que pudesse lhe dar vida boa.

— O.k., o.k., me convenceu. Mas você não namora porque

não quer. — Faz uma expressão divertida e semicerra os olhos

castanho-escuros.

— Quase isso. — Caio na gargalhada. — Agora me ajude a

arrumar as malas, não posso perder tempo. — Me levanto e ela

me segue.

— A tia Lorena sabe que seu futuro chefe exigiu que você

morasse lá? — indaga, enquanto me ajuda a tirar as minhas

roupas do guarda-roupa.

— Sim. Quando eu saí da mansão do sr. Bianco, liguei para

ela e contei como foi a entrevista. De início percebi que ficou

triste, mas depois ela entendeu e me apoiou. Mais ou menos do

mesmo jeito como você reagiu. — Rindo, eu me afasto da minha

amiga e jogo minhas roupas na cama para arrumar na mala.

— O mais importante você não me contou, dona Brenda! —

depois de algum tempo organizando meus pertences, Fernanda se

manifesta.

Olho-a com o semblante confuso e ela começa a gargalhar,

me deixando ainda mais aturdida com a sua reação.

— O que não te contei? — Arqueio a sobrancelha.

— Como é o sr. Bianco pessoalmente? E ele é casado, tem

namorada, uma amante?

Ignoro a primeira pergunta, as seguintes me tocam de

alguma maneira. Lembro-me de Madalena falando que eu nunca

deveria fazer perguntas sobre a falecida mulher do meu futuro

chefe. Então, entendi que falar dela é proibido naquela casa,

pelo menos para os funcionários.

— Se ele tem algum relacionamento, não sei, mas talvez

continue sozinho — revelo, depois de alguns minutos, com os

pensamentos distantes.

— Hm. Mas pelo menos ele é gato? Tipo, nas redes sociais

ele parece ser bonitão, mas você sabe que tem aquelas edições

que famosos usam. — Faz uma careta.

— Nanda, por favor, né — murmuro, tentando fugir da sua

curiosidade.

— Hm, o.k. Falando agora do seu chefe gatão, me lembrei

que você já leu algo dele um tempo atrás, certo? — Fernanda e a

sua mente de elefante.

— Verdade, eu...

Não sou uma fã ou leitora fiel do meu futuro chefe, mas li

um livro dele que foi lançado três anos atrás, só não me recordo

direito do título. A história era de um viúvo solitário, que após a

morte da esposa, foi se refugiar nas montanhas pensando que

encontraria a paz, mas ao contrário do que desejava, acabou

morrendo anos depois. A causa da sua morte foi a saudade e o

amor que sentia pela amada. Na época, foi uma febre, porque o

maior público do sr. Bianco é o feminino. O homem realmente

manda bem, a escrita dele é algo que prende o leitor, mas com

tantos contratempos em minha vida, faz um bom tempo que não

sei o que é ler um livro, embora ame uma boa leitura.

— Quando você for trabalhar, tenta reparar mais nele e

depois me fala se ele é gatinho mesmo — pede, animada.

— Tá doida? — Olho-a feio. — Por que eu iria achar o meu

chefe gato? Minha relação com ele será totalmente profissional,

não tenho que ficar achando nada dele — respondo, tentando

disfarçar a ardência em meu rosto.

— Ah, por favor, amiga. Você não é cega e nem burra.

Vamos lá, me conte todos os detalhes sobre o sr. Escritor bonitão

— insiste, com um sorrisinho irritante.

Bufo ao ouvir sua risadinha depois de ter dado um apelido

ao meu futuro patrão.

— Ele não é feio, alto... é um homem apresentável. Não

reparei muito nele, meu interesse é na filha dele. — Fico sem

jeito ao lembrar de Matteo me ditando regras para ser babá em

sua casa.

— Conta outra, Brenda, pelo amor, né! Sou a sua melhor

amiga, não precisa ficar envergonhada com uma bobagem

dessas.

Meu rosto queima quando meus pensamentos voam até

Matteo Bianco, com aquela aparência elegante e intimidadora.

Ele fica bonito em roupas casuais, e mesmo sendo tão

sério, é lindo com aquela altura toda, sem contar os músculos

firmes que devem ter sido adquiridos com muitos exercícios

físicos. Mas preciso tirar isso da minha cabeça, ele será meu

chefe, jamais devo misturar as coisas.

— Vamos esquecer isso, Nanda. — Comprimo os lábios.

— Vou te deixar em paz. Definitivamente, você deveria ser

freira.

Agradeço mentalmente por ela me deixar em paz depois

disso. Ficamos conversando enquanto arrumamos as minhas

coisas, as horas passam e nem notamos, até que a minha tia

Lorena chega com algumas sacolas e eu a ajudo a colocar as

compras no armário. Então ela prepara um café e ficamos na sala

até que Nanda se despede e vai embora.

— Tia, já vou me deitar. O sono chegou e amanhã tenho

que sair cedinho. — Bocejo, olhando para ela.

— Boa noite, minha filha. Hoje vou dormir mais tarde,

estou com muitos pedidos para personalizar. Vou trabalhar nem

sei até que horas — fala, com um certo orgulho do seu trabalho

manual.

— Certo, tia. Boa noite. — Me aproximo e beijo seu rosto

antes de me afastar.

Depois de tomar um banho relaxante, caio na cama para

descansar. Amanhã começa a minha nova rotina e confesso que

estou ansiosa para conhecer melhor a pequena Maria Alice

Bianco.

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Comments

Cícera Santos

Cícera Santos

até agora estou gostando parece ótimo

2024-03-18

2

Fbiana De Santos

Fbiana De Santos

linda história parabéns autora estou adorando pena que não tem foto dos personagens

2024-03-17

1

Solange Araujo

Solange Araujo

Uma belíssima história de amor 😍 que infelizmente começa depois que alguém se foi ....

2024-03-17

1

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