Acordo cedo e deixo o café preparado para a minha tia, em
seguida, dou uma ajeitada na casa e coloco os pertences que
levarei para a mansão todos juntos, só então sigo para tomar um
banho.
Decido colocar um vestido soltinho, faço um rabo de
cavalo em meu cabelo e calço as minhas rasteirinhas. Pronta
para enfrentar o dia, pego em minha bolsa a minha a agendinha e
escrevo um recado para a minha tia, pedindo que ela me ligue
quando quiser, já que não nos veremos tão cedo, e o coloco na
mesa de centro.
Vamos lá, Brenda.
Olho para as horas no relógio em meu pulso e vejo que
faltam dois minutos para as sete.
Arrasto minhas malas para fora e me surpreendo ao me
deparar com um homem de cabelo grisalho, com um carro
elegante estacionado em frente à minha casa. Olho para a
vizinhança e agradeço mentalmente por não ver nenhuma
vizinha fofoqueira a essa hora. Dizem que há mais enxeridos em
cidades pequenas do interior, mas é pura mentira, aqui em Monte
Verde, mesmo sendo uma cidade grande, tenho algumas vizinhas
que se pudessem cuidariam da minha vida.
— Bom dia, srta. Brenda. Meu nome é Pedro, o motorista
do sr. Bianco. Deixe-me te ajudar — ele se apresenta e abre o
porta-malas, então vem em minha direção e pega minhas
bagagens.
— Bom dia, sr. Pedro. E pode me chamar só de Brenda. —
Dou um sorriso amigável para ele.
— Então, por favor, me chame de Pedro — diz, enquanto
abre a porta traseira para que eu entre no carro.
Depois de me acomodar no banco e afivelar o cinto de
segurança, ele coloca o automóvel em movimento. Pego meu
celular na bolsa ao ouvir a notificação de uma nova mensagem
no WhatsApp.
É a Nanda. Abro a nossa conversa e começo a ler a
mensagem.
“Boa sorte no emprego, e não se esqueça de avaliar
melhor o chefe gatão para me passar mais detalhes. Te amo!”
Um pouco sem jeito, olho para a frente e encontro o
motorista concentrado ao volante. Solto a respiração lentamente
que nem sabia que estava prendendo. Em uma resposta curta,
envio para ela um emoji de coração e um “ok”.
O trajeto até a mansão Bianco é feito em completo
silêncio. Pelo jeito, Pedro não é uma pessoa muito falante.
Embora a mansão seja afastada da cidade, não demoramos muito
para chegarmos ao nosso destino.
— Brenda, pode descer.
Assusto-me ao ver o motorista com a porta aberta para que
eu saia, não estou acostumada a abrirem a porta para mim.
— Oh, sim. Desculpe-me. — Desafivelo o cinto de
segurança e pego minha bolsa.
— Pode ir na frente, eu levo suas coisas — recomenda e eu
assinto.
Nervosa, caminho em direção à enorme porta da casa de
Matteo Bianco, logo atrás vem Pedro. Quando estou prestes a
tocar a campainha, eu me deparo com uma mulher baixinha de
cabelo grisalho e rechonchuda toda sorridente. Madalena.
— Bom dia, minha filha. Seja bem-vinda. — Ela me dá
espaço para entrar.
— Bom dia, Madalena. Obrigada. — Dou um sorriso
enorme para ela em agradecimento. Se não fosse por essa
senhora, eu ainda estaria desempregada.
— Pedro, coloque as malas da Brenda no quarto, depois
peça para a Joana arrumar as roupas no guarda-roupa — pede a
governanta.
— Pode deixar.
— Não é necessário! — digo rapidamente, com os olhos
arregalados e envergonhada. — Eu faço isso mais tarde.
— O Matteo já informou que você só vai cuidar de Mali,
nada além disso — esclarece Madalena, em um tom de aviso.
Então assinto, sabendo que não posso passar por cima da
ordem do chefe.
Pedro nos pede licença e segue com as minhas coisas para
um corredor no andar de baixo da casa. Dou uma olhada de novo
na casa e percebo que é uma bela residência, muito sofisticada,
toda trabalhada no luxo. Além de ter muitos móveis que parecem
custar uma fortuna e pisos extremamente brilhantes, ela é muito
cheirosa.
— Brenda, está me ouvindo? — Madalena toca em meu
ombro.
Chego a ruborizar ao perceber que ela me pegou
escrutinando a casa elegante, boquiaberta.
— Me desculpe, estava distraída. O que disse? — Passo a
mão por meu cabelo, totalmente sem graça.
— A Maria Alice ainda está dormindo, mas às nove a
professora de piano chega.
Quase me engasgo com a informação. Ela não é muito
novinha para aprender a tocar piano? Se bem que dizem que o
Mozart começou a estudar aos três anos de idade, e a compor
aos cinco.
— Tudo bem — murmuro.
— Enquanto isso, você pode organizar a sala de brinquedos
dela, que está uma verdadeira bagunça. Eu vou arrumar a Maria
Alice para a aula, mais tarde você já pode assumir o seu trabalho
por completo — sugere.
— Você deve ter outros afazeres, posso me virar sozinha,
acredite. E eu preciso conhecer a garotinha tão falada dessa
casa. — Preocupo-me em estar abusando da sua boa vontade.
— Que isso, Brenda. Se digo que vou arrumar a Maria
Alice, é porque sei que não vai terminar de ajeitar aquela
bagunça da sala de brinquedos em menos de duas horas. E você
e ela terão bastante tempo para se conhecerem. — Fita o relógio
pendurado na parede e eu faço o mesmo. — Daqui a pouco dá
oito, as horas passam rápido e o sr. Bianco não tolera atrasos da
filha nas aulas dela, não importa qual seja.
Para não opinar e sair como intrometida, apenas meneio
com a cabeça.
Pelas suas exigências de ontem, ele não nega que é um
homem um tanto controlador.
— Claro, só me dizer onde fica — falo, animada, olhando
ao meu redor. Mesmo sem ter a intenção, olho na direção do
corredor por onde passei para ir até o escritório do chefão ser
entrevistada.
Será que ele está lá trabalhando em seus livros, ou deve
estar dormindo?
Por que estou pensando nisso mesmo? Até ontem, eu nem
sabia que o meu chefe era Matteo Bianco, e agora estou curiosa
para saber até o que ele está fazendo.
— Brenda, está tudo bem? — Um pigarreio me faz gelar, é
Madalena chamando a minha atenção pela segunda vez.
— Ér... Está sim, só me distraí. — Sorrio, sem graça.
— Já tomou café, querida? — pergunta com simpatia.
— Já, sim — informo, sorrindo por sua atitude gentil.
Alegro-me por ser Madalena a pessoa que vai me auxiliar
nesta casa. Imagine se a governanta fosse uma pessoa maldosa?
Eu estaria encrencada, muito encrencada.
— O sr. Matteo saiu e não sei ao certo que horas ele chega
— diz, como se fosse capaz de ler os meus pensamentos
curiosos. Mas o que realmente me deixa confusa é o rumo da sua
conversa. — Novamente, quero frisar sobre a falecida Bianco. A
Camila, aqui dentro, é assunto proibido, o nome dela não pode
ser tocado de maneira alguma, a não ser que o chefe faça isso,
o.k.?
Balanço a cabeça.
— Entendido. — Engulo em seco, balançando a cabeça.
— Pois bem. Me siga, vou te dar o seu uniforme e mostrar
o quarto onde irá ficar — diz ao se virar.
Comecei meu dia com o pé direito, tenho certeza de que
será assim nos próximos dias também.
Levei algumas horas para conseguir dar conta da sala de
brinquedos e, caramba, a Madalena tinha razão. Estava uma
verdadeira bagunça. Nas duas primeiras casas que trabalhei, as
crianças tinham brinquedos, mas não tanto quanto Maria Alice
Bianco. O cantinho dela de diversão, além de ser um cômodo
que é quase do tamanho da minha casa, há várias prateleiras com
bonecas e ursos, fora a minicozinha que tem lá. Não só isso, a
menina tem uma pequena biblioteca com muitos livros infantis,
mas não me surpreendo, ainda mais sendo filha de quem é.
Para deixar organizado como deveria, não foi só colocar
tudo em seus devidos lugares. Encontrei poeira em alguns
cantinhos e aquilo poderia fazer mal a ela, então me dispus a
fazer o serviço completo, afinal, cuidar dela também inclui
preservar sua saúde. Fui à cozinha rapidinho pedir informações
sobre os produtos de limpeza e Madalena me apresentou para a
cozinheira e para a faxineira, ambas foram receptivas e me
deram boas-vindas.
— Agora sim — murmuro para mim, observando ao redor e
notando que tudo está brilhando.
Os móveis pequenos em seus devidos lugares, o chão está
brilhante e o ambiente cheiroso. Aqui estava precisando de uma
atenção a mais, talvez as babás anteriores não tenham
conseguido dar conta de tudo.
Apoiando as mãos na cintura, alongo-me sentindo minhas
costas doendo por ter passado tanto tempo agachada. Respiro
fundo, passando a ponta dos dedos no filete de suor em minha
testa, então recolho os utensílios de limpeza e saio da sala de
brinquedos.
A cada passo que dou, ouço uma voz infantil soar animada
vinda da sala.
— O papai vai ficar orgulhoso, Lena, eu aprendi mais uma
musiquinha! — O tom fofo da garotinha mexe algo dentro de
mim.
— Ele vai, sim — fala Madalena.
Quando alcanço o cômodo, sou alvo de três pares de olhos:
uma miniatura loira de olhos redondos e azuis, muito curiosos,
por sinal, porque me encara fixamente; a governanta, com um
sorriso enorme, e uma senhora com roupas formais segurando
uma maleta.
— Quem é você? — pergunta a menininha que usa um
vestidinho rosa rodado, como de uma princesa.
A maneira como ela olha desconfiada lembra-me do seu
pai. Sorrindo, aproximo-me das mulheres e Maria Alice fita-me
com curiosidade.
— Bom dia. Olá, pequena, sou a Brenda, a sua nova babá e
se me permitir, a sua amiga também.
A expressão de desconfiança da menina suaviza com a
minha informação.
— Ela é a moça que eu te disse mais cedo que cuidará de
você — interfere Madalena, se pondo atrás da filha do patrão.
— Hm, o papai me disse ontem que você vinha. —
Continua me estudando.
Rio baixinho ao notar que ela dialoga como uma pequena
adulta, já deu para perceber que é muito inteligente, assim como
o sr. Bianco tinha dito.
— Madalena, eu tenho outra aula às onze, você pode me
acompanhar até a saída, por favor? — Escuto a voz da
professora de piano pela primeira vez.
— Claro, Sofia, vamos. — Assente a governanta para a
mulher.
— Até a próxima semana, professola! — A loirinha corre
até a mulher e a abraça pela cintura com a maior ternura. Meu
peito se aquece com a cena.
Talvez ela não tenha sido tão acolhedora comigo porque
ainda sou uma estranha para ela.
— Até, Mali!
Maria Alice a solta em seguida e se senta no sofá enquanto
as duas mulheres seguem até a porta.
— Vou guardar essas coisas e já volto para nos
conhecermos melhor, mocinha. — Pisco para ela, que me encara
um tanto retraída. Fico sem entender a razão de uma criança que
aparentemente é extrovertida estar tão fechada.
Rumo até a área de serviço que fica ao lado da cozinha e
devolvo os materiais. Depois de higienizar minhas mãos e
braços, retorno para a sala para tentar conseguir ao menos um
sorriso genuíno daquela pequena loirinha que está muito
introvertida.
— Ela foi para a sala de brinquedos — avisa Madalena
assim que me vê apontar na sala.
— Eu acho que a Maria Alice não gostou de mim, ela está
um pouco cismada — murmuro, preocupada por não ter agradado
a pessoa que vai decidir se fico nesse emprego ou não.
— Impressão sua. — Ela vem até mim e toca em meu
ombro, e fitando-me, comprime os lábios por alguns segundos.
— A Maria Alice não é assim, normalmente é extrovertida, ela
sorri até para um passarinho que pousa na janela — explica-me,
gentilmente.
— Então o problema dela é com as babás? — deduzo,
recebendo um aceno de cabeça.
— A pequena não teve uma boa experiência com a última
babá, que chegou aqui toda carinhosa e depois foi mudando, não
durou um mês. Aliás, depois que a Renata foi embora, a moça
que cuidou dela durante três anos, as babás não ficam muito
tempo — revela, chocando-me.
— Mas por quê? — indago, curiosa.
Madalena se afasta, suspirando.
— Lembra que avisei sobre não tocar no assunto da
falecida Bianco? — Seu timbre é baixinho. — Elas eram
curiosas demais, faziam muitas perguntas à menina e não
agradava ao sr. Matteo. A penúltima, seguiu pelo mesmo
caminho e ainda gritou com a Maria Alice na sala de brinquedos,
achando que ninguém iria ouvir.
— Entendi. — Engulo em seco com a revelação.
— Mas não se preocupe, a Mali é uma criança muito
amorosa, logo ela se solta, e você vai ver que eu tenho razão —
afirma, piscando para mim.
— O.k. Eu vou até ela na sala de brinquedos, é uma ótima
oportunidade. — Respiro fundo e sorrio.
— Vou com você e depois as deixo a sós — decide.
— Perfeito. — Giro nos calcanhares e rumamos até lá.
Encontramos Maria Alice sentada no tapete, com alguns
brinquedos ao seu redor, mas o seu foco está na boneca em seus
braços, que se tivesse alguns centímetros a mais seria do
tamanho dela. Com uma inquietação no peito, eu me aproximo e
me sento de frente para ela, que ergue o rostinho e me analisa.
Logo atrás está Madalena, com o semblante suave e pronta para
interceder por mim.
— Maria Alice, venha aqui, querida — a mais velha chama,
e a menina a observa por cima do ombro.
Ela sorri e larga a boneca, indo até a governanta, que se
agacha e começa a falar em seu ouvido. Não sei o que diz, mas a
garotinha balança a cabeça e dá algumas risadinhas.
— Agora seja uma boa garota. — Ela beija o alto da cabeça
da loirinha, que vem na minha direção já com um olhar diferente
e volta a se sentar. — Brenda, agora é com você. — Sorri para
mim e sai da sala.
— Você gosta de brincar, Brenda? — Rio baixinho com o
“Brenda”.
— Gosto, sim, princesa — falo, carinhosamente.
— Hm, tá bom. Você quer brincar comigo até o papai
chegar? — inquire, pegando uma panelinha de brinquedo e me
estendendo.
— Quero, sim. Mas antes me fale das coisas que gosta de
fazer. — Soo atenciosa.
Maria Alice abre um sorriso genuíno, aquele que estive
esperando minutos atrás.
— Ah, eu gosto de fazer comidinha em minhas panelinhas,
tomar um chá com minhas amigas. — Ela aponta para as bonecas
nas prateleiras, depois se volta para mim, toda animada. — E de
brincar no parquinho que o meu pai fez pra mim. — Maria Alice
abraça a boneca e sorri abertamente.
— Tive uma ideia. — Coloco a mão no queixo, fingindo
estar pensativa, e recebo uma risada gostosa.
— O que é? — Bate palmas.
— O que acha de me levar para conhecer o parquinho? —
sugiro.
E ela adora a ideia, porque seus olhinhos brilham.
— Eu quero! — Se levanta, enérgica.
— O.k. Vamos lá! — Deixo que Maria Alice vá na frente,
assim posso comemorar a minha primeira conquista com a
mocinha.
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Comments
Antonia Silva Santos
Maravilhosa essa história, estou amando cada vez mais 💖
2024-04-09
1
Dalva Maria
tomara que a baba conquiste logo a Mali
2024-03-18
1
Solange Araujo
Há garota essa Mali conquista qualquer um ☝️ criança é um ser sincero demais.../Smile/
2024-03-17
10