...Boa leitura 🥰...
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Fazia uma hora que Allen estava em pé em frente a sala do trono esperando a permissão para entrar. Era irritante que mesmo após ser chamado os guardas lhe impedissem a passagem.
— Vossa majestade está ocupado e pede que volte outro dia.
Ele olha para o outro guarda mas o mesmo também o observava com uma expressão hesitante.
— Meu irmão pediu essa audiência por mim.
— Sim, mas nesse momento o imperador está realmente ocupado. — O guarda responde.
Allen cemicerra os olhos.
— E a imperatriz?
— O que?
— Perguntei se minha mãe está ocupada.
— Ah, bem... isso... — Eles se entreolharam.
Se nenhum dos dois lhe permitisse entrar então teria que dar o seu próprio jeito, sejam quais fossem as consequências.
Em um movimento ele empurra um dos guardas e abre rapidamente a porta, com ou sem permissão. Não importava.
Mas assim que entra, se arrepende.
A enorme sala do trono estava como antes, reluzente e vasta. Enormes pilares de gesso esculpidos com figuras de todos os imperadores anteriores sustentavam o lugar. No fim da sala um trono esplendoroso revestido de veludo e ouro podia ser visto sem ninguém sentado sobre ele.
Allen suspira em desconforto, por saber que o imperador nem sequer havia ido até a sala do trono.
Mas o que mais lhe estremeceu foi a cena a sua frente.
Havia um pequeno jovem de joelhos no chão. Ele estava bem abaixo de um brilhante lustre que lançava luzes tremeluzentes em todo o ambiente. Seus olhos estavam fortemente amarrados com uma faixa branca e longos cabelos prateados se estendiam até o chão. Seus pulsos também pareciam estar presos em suas costas.
— Eu te deixei dizer qualquer coisa seu pirralho maldito? — Uma voz soou seguido por um baque.
Rapidamente o rosto pálido do jovem se avermelhou pelo tapa que a mulher lhe atingiu. Ele cai um pouco para trás sem dizer uma palavra.
— Não me importa o que lhe disseram, você é um escravo, não deveria dirigir a palavra a mim.
Ela faz um sinal para o seu servo trazer um pano e limpa rapidamente as mãos ali, como se sentisse muito nojo do jovem de joelhos.
Em volta do garoto tinham diversos corpos ensanguentados em uma fileira, eles tinham as mesmas características do garoto, cabelos brancos e roupas da mesma cor. Era como se houvesse acabado de acontecer um massacre macabro.
— Você sequer sabe quem eu sou? — Ela lhe acerta um chute — Sou a imperatriz desse reino, uma mulher, em uma posição de prestígio que deve ser respeitada e adorada, naturalmente alguém como você jamais iria se equiparar a mim, entendeu?
O menino fica em silêncio.
— Então vou perguntar uma última vez, dessa vez te dou permissão de responder, quem é a pessoa mais bela desse reino?
Allen dá um suspiro profundo, certamente o garoto cederia, seria o melhor para ele.
O jovem ergue a cabeça embora provavelmente não conseguisse enxergar através da faixa.
Era um pouco estranho que ela pedisse para alguém de olhos vendados avaliar sua beleza.
— Desculpa, mas não vejo beleza alguma em sua alma. — Ele responde com a voz baixa e suave — Não há desejos puros, apenas uma casca repleta de fragmentos de outras almas que emanam angústia e desespero, e isso é o suficiente para mostrar o quão podre você é por dentro.
Ela rapidamente acerta outro tapa em seu rosto.
— Seu escravo arrogante.
Seus tapas se tornam cada vez mais fortes, a tal ponto que a faixa do garoto quase escapou dos seus olhos, e em uma de suas quedas até o chão seu rosto acaba se virando até Allen. O rosto enfaixado fica virado em sua direção, como se enxergassem através do pano.
Um escravo de Waverly.
Suas mãos tremem um pouco quando lhe observa.
Agora se lembrava claramente da pessoa que morreu com ele em seu sonho.
Helian.
Os nativos de Waverly possuem a capacidade de ler almas, eles são extremamente bons em definir o caráter de uma pessoa, isso tem lhes ajudado por anos em transações.
Esse povo possuía certa fama, por ser extremamente cruel com todos que não fossem de sua linhagem, nunca hesitariam em assassinar brutalmente quem considerassem indignos.
Após a derrota, seu povo foi escravizado e condenado a passar anos servindo Velard.
Acontece que um dos principais defeitos desse povo era o fato de serem incapazes de mentir, seus olhos em si revelavam tudo o que estavam pensando.
Além de serem extremamente letais quando fiéis a alguém, podem cometer atrocidades por essa pessoa. Poderia se dizer que eram intensos e sentimentais demais.
Allen não tinha certeza se de um modo bom.
O maior problema de tudo, era que Allen odiava esse sistema de escravidão, mas nunca teve o poder ou a influência para fazer nada a respeito. E de todos os modos sabia que Waverlyanos eram difíceis de controlar.
Tentou lhes fazer revogar sobre isso uma vez para viverem em harmonia, e isso, é claro, destruiu completamente sua vida social.
Então além de deixar de insistir, Allen nunca realmente tomou qualquer atitude mais brutal para defender o mesmo.
Mas para acabarem daquele modo, provavelmente o grande estopim de sua queda foi esse garoto.
Primeiro de tudo, precisava fazer algo a respeito dele.
Quando o garoto continua o olhando, Asteria, a imperatriz, se irrita ao notar que não era seu foco príncipal e volta seu olhar para Allen.
— O que faz aqui?
— Vossa majestade — Allen saúda a imperatriz mas a mesma apenas o observa fixamente enquanto agarra sua bochecha.
— Você está mais magro, aquela queda deve ter sido mesmo horrível, não deveria sequer estar de pé.
Allen observa o garoto em silêncio, era um pouco estranho pois o Helian ainda tinha a cabeça virada em sua direção.
Ele pisca algumas vezes se sentindo nervoso com sua atenção insistente e desvia primeiro o rosto observando a expressão preocupada de Asteria. Sua mãe se aproximou dele com o nariz torcido.
— Te fiz uma pergunta Allen, sabe que odeio quando demoram para me responder. — ela leva a mão ao próprio queixo pálido — Você tem alguma noção de onde seu irmão possa estar? Preciso ter uma conversa com ele.
Uma coroa reluzente pousava sobre sua cabeça prendendo os longos cabelos negros, sua pele branca era bela e delicada, não combinava com sua personalidade.
— Eu... não sei sobre Adric.
— Eu imaginei, ele pede uma audiência e depois desaparece, ainda deve estar triste pelo o que aconteceu com Lana, aquela depravada.
— Fui eu quem pedi pela audiência.
— Você?
Ele acena.
— E o que teria para dizer em uma audiência?
— Isso...— Ele começa, mas para quando ouve um pequeno gemido de dor. — Esse garoto — Ele lança um breve olhar — é o primeiro cativo a chegar?
Ela se aproxima dando um murro forte em seu ombro.
— Ousa ignorar minha pergunta? Acho que se esquece que além de mãe, sou a imperatriz desse reino e sua soberana.
Allen morde os próprios lábios.
— Me senti melhor essa manhã então decidi vir aqui mãe.
— Filho, o imperador está ocupado, você não sabe? Ele tem problemas maiores para resolver, acha mesmo que nós por sermos monarcas somos mais importante do que as questões do império?
Ele aperta firme os punhos.
— Então se tenho um atentado contra a minha vida não posso fazer nada?
Ela arregala os olhos.
— Não seja imaturo Allen, e não diga esse tipo de coisa em voz alta, se um rumor como o que de que houve um atentado contra a sua vida se espalha, imagine só, Waverly pode se aproveitar dessa brecha.
— Eles não estão derrotados o suficiente?
Ele observa o pequeno garoto, as vestes brancas demais coberta do líquido vermelho. O rosto marcado em tons de vermelho e roxo.
De repente a imperatriz agarra o queixo do moreno, virando o seu rosto em sua direção enquanto o fitava desconfiada.
— Acha que eles merecem misericórdia?
Seus olhos tinham um brilho tão cruel que as vezes sentia um pouco de medo. Então fica um pouco paralisado com suas palavras. Ela acerta um tapa no seu rosto.
— Não ouse sentir compaixão por esses miseráveis, tem noção do que eles fazem? De quantos de nós mataram? Estou sendo misericordiosa por não queimá-los vivos, e então você quer salvar esse garoto? Sentiu pena por ele? — Ela indaga enojada.
— Não foi o que eu disse mãe.
— Eu espero que não.
— Eu só estou surpreso — Ele diz cauteloso — Por quê ele está nesse estado?
— Eu estava lhe ensinando uma lição, esse miserável estava ofendendo o nosso reino de formas inimagináveis.
Allen imediatamente olha para o garoto de cabelos prateados mas o mesmo apenas continuava imóvel.
— Isso é verdade?
Quando o jovem não responde ele pergunta novamente:
— Estou falando com você, não poderia ao menos responder?
O mesmo inclina a cabeça com um pouco de dificuldade.
Apesar de incomodado com o seu estado, Allen apenas engole em seco, tentando não sentir pena do mesmo. Ao contrário dele que parecia incomodado, a mulher se aproximou do jovem ajoelhado e lhe deu um chute nas costas.
— Esse pequeno lixo, você não vê que estão falando com você, por acaso só abre essa boca para despejar merda? Quando eu cortar a sua língua será a última coisa que irá dizer. — Asteria diz fazendo um sinal para que seu servo lhe dê o chicote.
Antes que Allen pudesse dizer qualquer coisa, a mulher acerta o menino de cabelos prateados com força uma e outra vez. O mesmo continua sem responder apenas morde com força os lábios contendo os gemidos de dor.
Allen fecha os punhos e dá um suspiro cansado e enquanto observa o cativo atentamente, mas logo desvia o olhar.
Não fazer nada era o melhor.
Ela para um pouco de lhe bater e se volta para Allen.
— Estou de bom mal humor hoje, então termine o que veio dizer e se retire Allen.
O príncipe engole em seco por um momento, pensando seriamente em mudar o motivo de ter ido até ali.
— Eu gostaria de fazer uma investigação da minha tentativa de assassinato vossa majestade.
— Tentativa de assassinato? — Ela indaga erguendo as sobrancelhas — De novo com isso? Allen foi apenas um acidente, não seja sentimental.
A imperatriz observa Allen com uma careta.
— É exatamente como foi, todos estavam lá quando aconteceu, não tinha ninguém para lhe empurrar da escada então não havia como ser uma tentativa de assassinato. — Ela dá um estalo com a língua dando um último chute no garoto — Então como é possível que surjam novas evidências depois de todos terem visto?
— Eu lembro claramente de ter sido envenenado.
— Não estava em sã consciência, a nossa discussão tinha sido muito recente, você não se lembra?
Para ser sincero Allen não se lembrava nenhum pouco o motivo da discussão, na verdade todos os motivos de suas desavenças sempre eram por conta de Adric.
"Pode deixar de ir ao baile essa noite? Não quero que ofusque seu irmão, essa devia ser a noite dele"
"Você é tão imaturo, sei que não foi você quem agrediu aquela mulher, mas não pode assumir a culpa dessa vez? Seu irmão estava apenas irritado"
"Adric me disse que você lhe agrediu, isso é verdade? Bem não importa, Adric não mentiria, fique de joelhos por três dias em frente ao palácio"
— Lembro apenas que não haviamos terminado em um acordo.
Ela acariciava seu longo vestido negro enquanto torcia o nariz com desdém.
— É claro que não, nunca estamos em acordo, você sempre ousa me desafiar, sempre repete essa merda, nem parece que é meu filho, eu originalmente queria entregar esse escravo a você, mas como insiste, eu cuidarei disso.
Isso o lembrava que, sua mãe queria que ele fosse o responsável por puni-los, mas antes não queria se envolver, então abdicou disso. Pensou que ela simplesmente os deixaria onde estavam, mas não imaginou que mataria um por um.
Alguns diziam que era cruel, mas Asteria sempre foi assim, era uma forma de ensinar, que se não estão com ela, então estavam contra, e pequenas decisões podem decidir um destino inteiro.
Em uma tentativa fracassada e idiota de tentar fazer com que ela pare com esse pensamento, Allen furiosamente brigou com a imperatriz mas acabou da pior forma.
Ele olha para o jovem e se pergunta o que poderia fazer para o separar da imperatriz.
Ao ver sua expressão, Asteria sorri.
— Não tem que se preocupar, vou cuidar bem dele, será meu bichinho de estimação favorito.
Allen morde os lábios tentando conter sua reação.
— Vossa majestade não pode libertá-lo?
— Ora, não seja tão ingênuo, tem noção de quantos guardas morreram para capturar esse garoto? Ele não é um cativo qualquer, possui sangue real, o que torna tudo ainda mais divertido. — Ela lhe dá um sorriso cruel — E pode me chamar de mãe, eu lhe disse várias vezes.
O coração de Allen acelera.
— Sendo um príncipe... ele não é perigoso?
— As vezes me pergunto se é mesmo meu filho, você fala sério? Esse escravo perigoso... — Ela pisa nas costas do menino — E qual é o problema se for? Temos capacidade suficiente para lhe domesticar, afinal, o que é um rei sem um povo para governar? O mesmo acontece com um nobre sem riquezas, é descartável. Mas por que está falando tanto? Você não vai lhe querer de todas as formas.
Ele engole em seco.
A mulher olha para ambos entediada antes de ir em direção ao jovem com seu chicote.
— Está na hora de você ir, ele e eu temos um longo caminho pela frente, o deixaria ficar, mas temo que os gritos lhe assustem, esse garoto enfrentará uma dor que nunca vivenciou na vida.
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Atualizado até capítulo 47
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