Brincando Com A Sorte
“Talvez seja apenas um sonho, só preciso acordar”, pensava Ceci, enquanto as roupas caiam e o vento gelado que vinha da janela aberta fazia a pelugem de seus braços arrepiarem, “não, não era um sonho, infelizmente, era real”, o coração lhe pesava tanto no peito. “Se eu não tivesse atendido ao celular... se eu não tivesse dormido na casa da prima May... se ... se...” sua cabeça atordoada e confusa, só conseguia pensar em sair dali o mais rápido possível. O medo e a vergonha tomavam conta de todo o seu corpo, fazendo-o estremecer a cada lufada fria de vento, ou seria a pressão do olhar gélido que Luke Yong lhe lançava. Mas não adiantava pensar nas possibilidades que poderiam ter sido e não foram, nada garantia que teria sido diferente, a verdade é que o destino de Ceci já estava traçado e ela não tinha como fugir. Ao constatar isso, ela não conseguiu evitar um suspiro lamentoso, chamando a atenção do jovem mestre.
- Algum problema srta. Ceci? Desistiu tão rápido assim? achei que fosse uma pessoa de palavra. - Disse o jovem arrogante olhando fixamente para seus olhos.
- Não, só estou com frio – respondeu timidamente.
- Desculpe o meu descuido, a visão de seu corpo em contrate com o luar que vem da janela é uma visão tão bela que esqueci que hoje era uma noite de inverno. Deixe ajudar- falou Luke Yong, levantando-se elegantemente de sua poltrona ao canto do quarto e caminhando suavemente até onde Ceci estava.
O perfume que emanava do corpo de Luke Yong ficava cada vez mais próximo e a cada passo que ele dava em direção a ela, mais rápido o coração de Ceci batia. Os olhos dele grudados nela, mesmo que ela não ousasse olhar diretamente para ele, não podia deixar de sentir o olhar penetrante, quase como uma navalha a lhe cortar a pele, Ceci deu um passo para trás involuntariamente, segurou os braços contra o corpo, com força quase como uma armadura, mesmo que inútil, sabia ela. Quando o cheiro estava forte o suficiente para ela saber que estava bem a sua frente, ela abriu os olhos e de cabeça baixa, viu os sapatos italianos caros, parados a sua frente. “O que ele estava fazendo?” “Por que parou?”, pensou. Então, ela escutou as janelas se fechando atrás de si. Calmamente, ele retornou para a poltrona, sentou-se como quem estivesse apenas a ver uma cena que lhe era cotidiana, deixando Ceci ainda mais nervosa.
- Continue, agora você não precisa mais se preocupar com vento do inverno – falou em tom rouco.
Ela engoliu a seco, sua mente e seu corpo pareciam nem ser da mesma pessoa, era como se ela pudesse ver a si mesma de fora e não conseguiu parar de sentir pena... “se...”, enquanto terminava de desnudar-se, ela ia lembrando de tudo que havia acontecido para levá-la até aquele extremo.
Tudo começou quando a prima May ficou doente e pediu que ela retornasse para casa, um mês antes. A prima era sua única parente viva e, embora não fosse sua prima de sangue, a tratava como se fossem irmãs, cedeu seu quarto, suas roupas, quando Ceci perdeu seus pais e tudo que possuía em um incêndio. Anos depois, quando os pais de May morreram, elas ficaram ainda mais grudadas. As duas haviam se acostumado uma a outra, já se chamavam de primas antes, no entanto, eram como irmãs.
Elas passaram por tudo juntas, chorando no funeral, abraçando-se nos dias difíceis, aconselhando uma a outra, em cada etapa difícil da vida adulta. Ceci tinha sido adotada pela família de May, e se sentia muito grata por tudo que haviam feito por ela. Mesmo tendo personalidades tão diferentes, elas eram de todo coração, melhores amigas. Enquanto May era cheia de vida e estava sempre pensando positivamente, Ceci era mais calma e tendia ao realismo. May era linda como uma boneca de porcelana, com seus olhos verdes claro e longos cabelos loiros, levemente encaracolados, Ceci, por outro lado, tinha olhos e cabelos escuros e uma beleza mediana, não que fosse feia, mas não se encaixava no padrão de beleza vigente. Ambas tinham em torno de 1,60m, proporções bem distribuídas. Ceci havia saído da cidade, um ano antes para estudar arquitetura na cidade R, May havia ficado na cidade natal para cuidar dos negócios da família, herdado dos pais, mas que iam de mal a pior. Ceci, se sentia culpada por deixar May, mas em seu coração, compensava pensando “vou me formar, ganhar muito dinheiro e vou garantir que o negócio de May fique ainda melhor, mas preciso estudar para isso”.
Então, ao atender o celular naquele dia, ela não teve dúvidas, largou tudo, pediu licença na faculdade e foi ficar com May. Ela não se arrependia de seu amor pela prima, ou de cuidar dela, mas, não conseguia parar de ter pena de si, por não ter como fugir do que agora lhe era imposto, não podia se arrepender de ter atendido ao telefone, de ter voltado, afinal, a prima May era sua única família. Tudo isso que estava acontecendo não era culpa da pobre May. Se tivesse voltado antes, a prima não teria adoecido, “A culpa não é de May, é minha, eu não devia tê-la deixado sozinha para perseguir o sonho de ser arquiteta”. “Será que a prima May está bem?”.
- Venha até mim – a voz ecoou em sua cabeça que devaneava.
- c-certo – respondeu timidamente.
- Não tenha medo, jovem Ceci, eu sou sempre muito gentil com as mulheres que apadrinho – falou Luke Yong em voz rouca, os olhos agora percorrendo e analisando cada centímetro do corpo de Ceci.
Ela caminhou até ele, devagar e relutantemente, como um jovem cordeirinho que sabia que caminhava para seu abate. Ela parou em frente a ele, sem saber bem o que fazer. Ele segurou sua mão suavemente e ficou admirando sua mão, depois seu braço, seus olhos e mãos iam percorrendo o corpo trêmulo de Ceci, suavemente, sem pressão, apenas um toque, como quem quer sentir a textura de um tecido para comprar. Lentamente ele se levanta, segura o queixo da jovem trêmula e olhando em seus olhos diz:
- Por hoje já basta, estou satisfeito com a aquisição, é realmente um produto de qualidade.
Ele soltou-a com desdém e saiu do quarto, deixando Ceci atônita, sem palavras, sem entender nada, mas, ao mesmo tempo, profundamente aliviada, talvez ele não fosse tão ruim como todos haviam dito, talvez houvesse uma escapatória para ela e May. Seu corpo estava tão cansado da tensão, que ela simplesmente deitou na cama e deixou seu corpo adormecer.
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Atualizado até capítulo 112
Comments
Tania Maria
não tô entendendo nada 😕
2023-03-23
1
Elizabeth De Melo Albuquerque
ainda não entendi mas vou seguir lendo
2023-01-21
0
Camila Ponte
não gostei do final
2022-10-13
0