A casa dos Yong era realmente algo bonito de se ver, possuía um ar charmoso e rústico com belos alpendres e móveis de bambu nas áreas externas. Ao mesmo tempo, era moderna e arrojada em seu interior. “tão bipolar, quanto seu dono”, pensou Ceci. Era um lugar que qualquer um se acostumaria a viver, bonito, elegante, mas ao mesmo tempo frio, como se fosse habitado por fantasmas. Talvez fosse porque quase nunca tinha visitas, mesmo Ceci e May, tinham chegado há pouco tempo e o próprio sr. Yong não passava muito tempo em casa. Se não fossem os empregados, pareceria uma mansão assombrada, com a diferença de ser extremamente limpa.
Dizem que casas são reflexos de seus donos, talvez o sr. Yong também pudesse ser considerado assim, um homem muito bonito por fora, mas sem sentimentos de pertencimento com nenhum ser vivo, sem conexões com esse mundo. Talvez ele fosse mesmo um demônio encarnado. Passando pelos corredores a caminho da sala de jantar, Ceci divagava sobre seu “anfitrião” e não podia deixar de recordar do início.
Ela ainda lembrava de como e do porquê de haver conhecido o famigerado sr. Luke Yong. Não tinha sido há tanto tempo, deveria ter mais ou menos um mês, mas também parecia ser um passado tão distante, como se fosse o passado de outra pessoa.
Ela ainda recordava claramente da angústia ao chegar em casa e ver a prima May tão debilitada, lembrava do desespero ao chegar no hospital e descobrir que os médicos não sabiam o que fazer por ser uma doença rara e que o tratamento estava além de suas condições financeiras. Ceci lembrava vagamente de ter deixado a prima aos cuidados do hospital e de ter virado toda a cidade em busca de ajuda, de um empréstimo, sem, no entanto, conseguir nem mesmo uma fagulha de esperança. O Haras “sortudo” não possuía valor suficiente para uma hipoteca, mesmo que vendessem tudo, mal daria para pagar as dívidas que o “sortudo” tinha deixado.
Depois de uma semana, indo e voltando do hospital, vendo sua única família definhar aos poucos e sem nenhuma expectativa de salvação, ela parou embaixo de uma árvore, respirou fundo e deixou o choro correr desenfreadamente pelo seu rosto. Ela estava tentando ser forte, mas não aguentava mais, a vida era realmente cruel, ela havia perdido os pais, perdido a casa de sua infância, perdido seu curso dos sonhos, uma vez que não teria mais como custear. Ela retirou tudo que tinha no banco para pagar o hospital e estava desempregada, para completar, agora perderia a doce prima May, não restava nada, absolutamente nada, ela estava perdida.
As folhas caídas da árvore, o vento do final de outono, a luz fraca e cores alaranjadas do crepúsculo, tudo parecia cooperar para um cenário triste, empurrando Ceci para a melancolia e depressão. Entretanto, ela sabia que não podia desistir ainda, tinha que haver um meio, tinha que existir um atalho, a vida não podia ser tão escura. Ela enxugou as lágrimas, aprumou os ombros e tomou uma decisão, ela tentaria até o submundo, se isso ajudasse May.
Foi assim que Ceci, que sempre foi resoluta, não se deixou abater. Não podia desistir. Se a vida lhe dava limões, ela os espremeria nos olhos da vida e encararia as consequências. Ela respirou fundo novamente e caminhou em direção ao bar “toca do Diabo” o lugar mais barra pesada da cidade. Todos sabiam que era um local onde rolava transações escusas e até ilegais, ninguém entrava lá se não estivesse desesperado para fazer um trato com o próprio diabo, até Ceci sabia disso, mas isso não a intimidou, agora era tudo ou nada.
Foi lá, no “toca do Diabo”, que ela conheceu o sr. Luke Yong, um homem arrogante, frio e calculista, capaz de arrancar e comer o coração de quem quer que fosse. Era assustador, ela sabia que estava abandonando todos os sonhos, mas valeria a pena. Ela entrou na sala como um corpo sem alma e foi direto para o círculo de homens bebendo, rodeados de jovens mulheres, pedindo para falar com o chefe.
Lembrando de tudo isso agora, Ceci nem acreditava que tivera coragem para tanto. Tudo agora parecia um sonho tão distante. “Essas lembranças lhe perseguiriam para sempre”, constatou Ceci, enquanto caminhava pela casa daquele homem tão singular.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 112
Comments
ivone lima juliace
Nossa coitada 🥺
2023-08-27
0
Salete Godinho
É auge do desespero
2022-07-27
0