Eu estava surtando internamente com o que acabou de acontecer, vi que Victor virou as costas, colocou as suas mãos no bolso e começou a caminhar em direção a casa dele.
Corri para dentro, precisava me esconder debaixo das minhas cobertas, eu estava sentindo algo quase impossível de controlar, só não entendi o porquê. Aquilo tinha que passar. Aquilo iria passar e eu iria seguir com a minha vida normalmente.
Finalmente, na minha cama, com minha camisola, meus pensamentos não paravam de lembrar do toque dos seus dedos.
Com aquelas lembranças, adormeci.
Acordei disposta e bem cedo, tomei banho, estava animada com o dia e eu nem entendi o porquê. Coloquei os meus tênis e roupas de corrida e parti para rua.
Os meus planos era correr até alguma cafeteria e tomar um ótimo café. Ao sair de casa, virei os meus olhos rapidamente para casa do Victor, mas não tinha nenhuma movimentação, havia certamente dormido bem tarde.
Coloquei os meus fones de ouvido em alguma música aleatória e comecei a correr, tinha poucas pessoas na rua, apenas aquelas pessoas vestidas para o trabalho e sempre com pressa.
Passei pelo parque que havia próximo ao meu condomínio e um senhor estava jogando alguns milhos para pombos.
Avistei de longe uma cafeteria, eu costumava ir lá conversar com Jeni, que já devia estar acordada, com tanto trabalho, parei de correr e comecei apenas a caminhar, peguei o meu celular e mandei bom dia para ela e uma selfie.
A porta da cafeteria era de vidro e tinha uns detalhes em vermelho, com algumas flores. Ao entrar, a primeira coisa que me chamou atenção foi um garoto no balcão conversando com uma atendente... Victor.
Para minha infelicidade, acima da porta havia um sino que fez barulho quando entrei chamando a atenção de todos, inclusive dele.
Ao me ver, abriu um sorriso imediatamente, um sorriso que eu estava começando a achar lindo demais.
— Bom dia, vizinha. Que coincidência.
— Bom dia, Victor. Bom dia. — Eu disse a ele e a atendente. — Por favor, eu gostaria de um expresso e... — apontei para um pão de queijo que estava no balcão. — um desse aqui.
Me sentei ao lado dele.
— E então, dormiu bem? — ele perguntou, tentando puxar assunto.
— Dormi sim, e como foi ontem lá?
— Foi legal, pena que foi embora. Da próxima vez você fica mais.
Apenas dei um leve sorriso.
— Porque você tem medo de mim? — me perguntou depois de alguns minutos.
— Eu não tenho medo de você. Quem disse isso?
— É porque você está sempre tentando fugir de mim e eu nem sei o porquê.
— Acho que é só impressão sua. — Eu disse enquanto pegava os meus pedidos com a atendente. — Obrigada. — me levantei para sair, mas Victor levantou também.
— Então você corre também. — ele perguntou.
— É meio óbvio, não acha?
Foi quando ele segurou os meus braços, estávamos próximo ao parque e o senhor já não estava mais lá.
— O que foi, garoto?
— Você parece brava, fiz alguma coisa?
Seu tom tinha um pouco de inocência.
— Não. — Resolvi baixar a guarda e apontei para um dos bancos que estavam ali no parque. Andamos até lá com ele segurando o meu braço ainda, olhei para o braço depois para ele, mas não desconfiou que devia me soltar.
Sentamos no mesmo banco em que o senhor estava mais cedo ali.
Comecei a comer o meu pão de queijo e ele havia me soltado finalmente, o café estava ótimo também.
— Faz o que da vida? — perguntei, finalmente.
— O que você acha que eu faço? — odeio quem responde uma pergunta com outra pergunta.
— Eu não sei, por isso perguntei. Idiota. — xinguei sem querer e ele sorriu.
— Faço vídeos para o YouTube.
Fiz uma careta indescritível, eu tinha um certo preconceito com essas coisas.
— Calma, é só conteúdo de viagens, além de dar dinheiro ainda consigo viajar e às vezes de graça.
— Entendi.
— E você faz o quê?
Recuei um pouco com aquela pergunta.
— Bem, sou formada em moda, trabalhei com algumas pessoas, mas agora só estou em casa.
O desânimo na minha voz era notável.
— Não acha emprego? Ou o seu marido não deixa você trabalhar?
— Não é nada disso. — Lembro quando me casei, Henry havia dito que eu não precisava mais trabalhar, no momento fiquei empolgada, mas após um ano foi ficando tedioso então resolvi procurar emprego. Quando cheguei em casa naquele dia, tivemos uma briga feia, parando para pensar agora, acho que não era isso que ele queria para mim, mas eu não iria contar isso para Victor, então resolvi mentir.
— Quando nos casamos, Henry disse que não tinha necessidade, mas só se eu quisesse, e é óbvio que eu não quero.
— Então, porque está com esse olhar triste?
— Não estou, não.
— Você se expressa muito pelo olhar, mesmo quando mente, seus olhos te entregam.
— Bem. — confesso que ele conseguiu me deixar desconcertada. — não é bem triste é que as vezes eu fico entediada, mas mesmo assim tenho bastante tempo para fazer o que quero.
— Ah! É mesmo? E o que faz? — Ele ficou com tom provocativo.
— Bom, eu... — realmente a única coisa que eu fazia era ficar em casa, correr, conversar com alguns vizinhos, conversar com Jeni, esperar Henry chegar em casa, ler livro.
— Quer ir ao cinema? — ele interrompeu os meus pensamentos.
— Eu não acho que seja uma boa ideia.
— Porque não? Seriam dois amigos indo ao cinema.
— Eu não sei...
— Faz quanto tempo que você não vai ao cinema?
Pensei por alguns segundos e disse:
— Faz uns seis anos, eu acho.
— Então vamos, por favor.
Eu não vi com maus olhos e Henry iria chegar por volta das cinco, então eu tinha que estar em casa. Então segurei sua mão e disse:
— Só se for matinê.
— Fechado, às uma? — Ele estendeu sua mão para que eu pudesse apertar.
— Fechado. — Segurei sua mão.
Terminei de comer e tomar café.
— Mal educada você. — Ele disse quando eu coloquei o último pedaço de pão de queijo da boca.
— Eu? Por quê?
— Não oferece nem um pedaço.
— Não, mesmo. Comida não. Desculpa. — comecei a rir. Ele não era a primeira pessoa que reclamava isso comigo.
— Entendi, mal educada.
— Pare de me chamar assim. — Empurrei ele com os ombros. Ele conseguia me passar uma certa tranquilidade que há muito tempo não sentia.
— Tudo bem, mal educada. — o sorriso dele era radiante e comecei a sentir novamente as minhas pernas e braços trêmulas e o meu coração acelerou.
Merda.
— Acho melhor eu ir. — consegui dizer enquanto levantava.
— Tá bom, então vamos.
— O quê? Não precisa me seguir.
— Você é lerda, hem! Eu moro praticamente do seu lado.
— Eu não sou lerda! — Eu disse, empurrado-o para o lado enquanto caminhávamos e ele ria.
— Eu fui levar o meu irmão para casa do meu pai e no caminho, o garoto não parava de falar de você.
— Mas porque? Nem falei com ele direito.
— Não que seja difícil se apaixonar por você, eu não julgo ele.
Senti o meu rosto queimar novamente e a casa ainda não estava tão perto, as palavras dele bateram na minha mente com força, mas quis ignorar e perguntar:
— O que a gente vai assistir?
— Sei lá.
— Como assim "sei lá"? Tem que olhar qual filme está passando, tem que comprar ingressos e…
— Para de controlar, só segue. Vamos ao cinema e lá veremos o que está passando. Só relaxe.
— Tudo bem. — Não quis discutir, eu gosto de manter o controle sobre muita coisa minha, a minha casa é bem organizada não porque arrumo, mas, porque dona Marleth já me conhece. Cumpro horários à risca e odeio atrasos. Não gosto de bagunça.
Victor contou um pouco sobre a sua infância e como a sua família era perfeita, até a sua mãe sofrer um acidente e partir. Ela era religiosa e amorosa, todos amavam ela, o pai de Victor se casou alguns meses depois que ela se foi, isso revoltou um pouco aquele pobre adolescente que decidiu correr atrás do seu próprio dinheiro e sair de casa.
— Eu não ligaria se ele conhecesse outra mulher e se casasse, mas cara, menos de um ano ele se casou, o que me leva a crer que já havia traição. Não é possível. Claro que parte da herança de minha mãe, que não era pouca, me ajudou muito nos primeiros vídeos. A minha primeira viagem foi à Irlanda.
Os meus olhos arregalaram.
— O meu sonho é conhecer a Irlanda. — respondi.
— E, porque não vai? Conversa com o seu marido e se organiza para ir, você não vai se arrepender.
Henry sabia desse meu sonho, é algo que eu grito para os quatros cantos, não é uma novidade, porém ele nunca se importou muito com isso e estávamos finalmente na frente da minha casa.
— Eu vou ver. — Disse ao passar a mão em meu pescoço, geralmente eu faço isso quando fico sem respostas ou nervosa.
— Bem, até ás uma!
— Não se atrase. — respondi com um sorriso e entrei em minha casa. A conversa com ele fluia tão fácil, ele era legal, talvez eu tenha mesmo encontrado um novo amigo.
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Atualizado até capítulo 42
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